Escrito por André Ítalo Rocha, o livro "A Bancada da Bíblia" é um estudo contundente sobre uma força cada vez mais consolidada na política brasileira. Em 1890, quando os primeiros deputados protestantes foram eleitos ao Congresso Nacional, os evangélicos compunham 1% da população brasileira. Ao longo do século seguinte, no entanto, os congressistas ligados a igrejas se tornaram uma influente força política, paralelamente ao crescimento demográfico dos fiéis.
Sob a diretriz das denominações históricas, como a batista e a presbiteriana, até os anos 1980 o perfil dos parlamentares protestantes e seu pequeno contingente refletiam o escasso interesse dessas igrejas pela política secular. Naquela década, porém, começou a grande expansão do pentecostalismo no país. O impressionante crescimento da população evangélica, hoje estimada em mais de 30% dos brasileiros, foi impulsionado pelas concessões de rádio e televisão conquistadas pelas novas igrejas. Bispos e pastores se converteram em ricos empresários e cobiçados cabos eleitorais, à frente de multidões de seguidores.
Na Constituinte, a recém-formada “bancada evangélica” ou “da Bíblia” passou a defender os interesses das igrejas com furiosa devoção. Esse grupo multipartidário, com 32 parlamentares na época, atualmente ocupa quase um quinto das cadeiras da Câmara dos Deputados. Evangélica (FPE), fundada em 2003, institucionalizou a atuação política dos crentes. De Sarney a Lula, todos os governos precisam negociar seus projetos com o partido informal dos evangélicos.
Seus membros mais proeminentes se revezam entre os papéis de celebridades midiáticas e caciques partidários, ao mesmo tempo respeitados e temidos por seus oponentes. Através de uma competente mistura de reportagem, ensaio histórico e análise política, André Ítalo Rocha lança um olhar investigativo para a bancada da Bíblia e seus representantes, no passado e no presente, a fim de compreender sua evolução e suas perspectivas de poder. Compre o livro "A Bancada da Bíblia" neste link.
O que disseram sobre "A Bancada da Bíblia"
“Contando a história da bancada que se converteu numa opção real de poder e seduz cada vez mais eleitores, André Ítalo Rocha revela de forma envolvente e esclarecedora como a religião voltou para o coração da política no Brasil.” — Bruno Paes Manso
Trecho de "A Bancada da Bíblia"
O pentecostalismo que se conhece no Brasil nasceu nos Estados Unidos e se diferencia do protestantismo histórico basicamente por acreditar que Deus continua, até os dias de hoje, a se manifestar por meio de atos como a cura de doentes e a expulsão de demônios. O termo é uma referência ao episódio bíblico de Pentecostes, evento que comemora a descida do Espírito Santo sobre os seguidores de Jesus Cristo. É nessa passagem da Bíblia que aparece também o dom de falar em línguas estranhas, uma prática bem comum em igrejas pentecostais.
Essa distinção de crença é capaz de explicar por que as igrejas pentecostais têm cultos mais fervorosos, com milagres e momentos emotivos, enquanto as protestantes históricas são mais tradicionais, com cerimônias mais comedidas. No Brasil, uma parcela dos protestantes históricos, aliás, se incomoda quando o protestantismo histórico é colocado no mesmo balaio dos pentecostais, como se todos fossem um grupo homogêneo — os “evangélicos”.
É um incômodo que vem de certo preconceito de classe, porque os protestantes históricos brasileiros, em geral, fazem parte de segmentos mais abastados da sociedade, com raízes na imigração europeia. Se os históricos se veem como figuras mais intelectualizadas, discretas e que de fato estudam a Bíblia, os pentecostais seriam apenas manipulados por pastores escandalosos. Nesse sentido, até o uso do termo “crente” pode fazer algum protestante histórico olhar torto, porque, em outros tempos, essa palavra costumava ser mais associada aos “alienados” das “seitas” pentecostais.
Recentemente, contudo, a expressão tem sido mais aceita e seu uso já é comum como mais um sinônimo para protestante ou evangélico, como neste livro. Esse distanciamento entre históricos e pentecostais, além disso, tem sido encurtado ao longo das últimas décadas, porque é o crescimento do pentecostalismo que vem dando mais poder para o segmento lutar em favor de pautas que os unem, e também porque igrejas pentecostais mais elitizadas têm surgido, atraindo as classes mais altas, em especial empresários, artistas e atletas. Tanto que, na disputa por fiéis, algumas igrejas protestantes históricas passaram até a adotar práticas pentecostais em seus cultos. E para políticos protestantes históricos, tornou-se conveniente se apresentar de maneira genérica ao povo como evangélico ou crente, de olho nos votos.
Seja como for, o candidato que quiser conquistar esse eleitorado em expansão terá mais chance de sucesso se assumir uma postura em defesa da chamada agenda de costumes, que inclui pautas como aborto, legalização de drogas e homossexualidade, três dos temas mais sensíveis para os eleitores crentes. Isso não significa que o voto evangélico é homogêneo. Ainda que seja uma minoria, uma parcela de crentes se coloca mais à esquerda, inclusive em pautas como reforma agrária, como os evangélicos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Na classe política, a presença de nomes como Henrique Vieira, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), também indica diversidade de pensamento. Mas é fato que os crentes costumam ser mais conservadores que a média dos brasileiros em questões morais. Em pesquisa feita um ano antes da eleição de 2018, 74% dos evangélicos se mostraram contra a liberação do uso de maconha, enquanto a média brasileira é de 66%.
A distância é maior quando o assunto é homossexualidade. Entre os evangélicos, 68% são contra a legalização da união entre pessoas do mesmo sexo, bem acima da taxa registrada para a população como um todo, de 42%, segundo pesquisa de 2016. Políticos evangélicos, portanto, ganham pontos com seus eleitores quando se engajam no combate a iniciativas como a do chamado “kit gay”, termo utilizado de maneira pejorativa por candidatos para se referir à cartilha do programa Escola sem Homofobia.
Encomendada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados ao Ministério da Educação, a cartilha seria distribuída às escolas com o objetivo de orientar professores a lidar com questões LGBTQIAP+ e desestimular entre os estudantes a discriminação por orientação sexual. Cercado de polêmicas, o conteúdo nunca foi distribuído à rede de ensino público, mas o termo “kit gay” pegou e tem sido utilizado até hoje por políticos evangélicos, que afirmam, erroneamente, se tratar de conteúdo produzido para ensinar e incentivar a homossexualidade entre as crianças.
Sobre o autor
André Ítalo Rocha nasceu em 1990, em Fortaleza. É jornalista com especialização em ciência política. Tem passagens por veículos como Diário do Nordeste e Agência Estado, do jornal O Estado de S. Paulo. Atualmente trabalha no Pipeline, coluna de negócios do Valor Econômico. Em 2021, venceu o Prêmio Todavia de Não Ficção. Garanta o seu exemplar de "A Bancada da Bíblia" neste link.
Ficha técnica
"A Bancada da Bíblia" - Não-ficção brasileira | Jornalismo
Autor: André Ítalo Rocha
Editora: Todavia
Páginas: 304
ISBN: 978-65-5692-704-6
E-ISBN: 978-65-5692-708-4
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