segunda-feira, 29 de julho de 2024

.: "Da Próxima Vez, o Fogo" é lançado na semana dos 100 anos de Baldwin


"Não acredite na palavra de ninguém, inclusive na minha, mas confie em sua experiência. Saiba de onde você veio. Se você sabe de onde veio, não há limite para onde poderá ir”
, escreve James Baldwin para o sobrinho, também chamado James, então um adolescente prestes a completar 15 anos. A Companhia das Letras lança "Da Próxima Vez, o Fogo" (compre neste link), livro do autor, que no dia 2 de agosto completa 100 anos de nascimento. Esta edição foi traduzida por Nina Rizzi, tem posfácio de Ronaldo Vitor da Silva, perfil biográfico de Márcio Macedo e capa de Daniel Trench.

Publicado em 1963, o livro se tornou um clássico no debate sobre os direitos civis nos Estados Unidos. É uma reunião de dois textos - uma breve carta seguida por um longo ensaio sobre a formação religiosa do autor - publicados em livro em 1963. "Da Próxima Vez, o Fogo" também é um poderoso depoimento sobre a construção da própria identidade, tendo como ponto de partida a segregação racial que forjou a sociedade norte-americana. Este volume conflagra o pensamento provocativo, questionador e genial de James Baldwin - e atesta que sua voz permanece fundamental até hoje. 


Sobre o autor

James Baldwin nasceu em Nova York em 2 de agosto de 1924 e é um dos maiores nomes da literatura norte-americana do século XX. Entre seus principais temas, sobressaem a luta racial e questões relacionadas à sexualidade e à identidade. É autor de "O Quarto de Giovanni", "Terra Estranha", "Se a Rua Beale Falasse", "Notas de Um Filho Nativo" e "Da Próxima Vez, o Fogo", entre outros títulos. Morreu em Saint-Paul-de-Vence, no sul da França, em 1987. Compre os livros de James Baldwin neste link.


"Da Próxima Vez, o Fogo"
James Baldwin (autor)
Nina Rizzi (tradução)
Daniel Trench (arte de capa)
136 páginas
Companhia das Letras
Compre o livro neste link.


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.: Dossiê James Baldwin 100 anos: escritor, revolucionário e maldito

.: Dossiê James Baldwin 100 anos: autor falava abertamente sobre sexualidade

.: Dossiê James Baldwin 100 anos: escritor, revolucionário e maldito


Nascido em Nova York em 2 de agosto de 1924, James Arthur Baldwin foi um romancista, ensaísta, dramaturgo, poeta e crítico social norte-americano. Foto: Getty Images


Antes de tudo, James Baldwin (compre os livros dele neste link) era um revolucionário. Tudo o que ele fez pelas pautas antirracistas e contra o preconceito contra a intolerância em relação à sexualidade dos outros comprovam isso. Nascido em Nova York em 2 de agosto de 1924, James Arthur Baldwin foi romancista, ensaísta, dramaturgo, poeta e crítico social norte-americano. 

Como escritor, foi aclamado em vários meios, incluindo ensaios, romances, peças de teatro e poemas. O primeiro romance dele, "Go Tell It on the Mountain", foi publicado em 1953. Décadas depois, a revista Time incluiu a obra na lista dos 100 melhores romances de língua inglesa lançados de 1923 a 2005. 

A primeira coleção de ensaios, "Notas de Um Filho Nativo", foi publicada em 1955. O trabalho de Baldwin ficcionaliza questões e dilemas pessoais fundamentais em meio a complexas pressões sociais e psicológicas. Temas como masculinidade, sexualidade, raça e classe se entrelaçam para criar narrativas intrincadas que correm paralelas a alguns dos principais movimentos políticos em direção à mudança social na América de meados do século XX, como o movimento pelos direitos civis e o movimento de liberação gay. 

Os protagonistas de Baldwin são frequentemente, mas não sempre, afro-americanos. Homens gays e bissexuais frequentemente aparecem com destaque na literatura do autor. Esses personagens, muitas vezes, enfrentam obstáculos internos e externos na busca por autoaceitação social. Essa dinâmica é proeminente no segundo romance de Baldwin, "O Quarto de Giovanni", que foi escrito em 1956, bem antes do movimento de liberação gay.

A reputação do escritor perdurou desde que morreu e o trabalho dele foi adaptado para as telas com grande aclamação. Um manuscrito inacabado, "Remember This House", foi expandido e adaptado para o cinema como o documentário "Eu Não Sou Seu Negro" (2016), que foi indicado para Melhor Documentário na cerimônia de entrega do Oscar de 2017. Um de seus romances, "Se a Rua Beale Falasse", foi adaptado para o filme homônimo que venceu o Oscar em 2018, dirigido e produzido por Barry Jenkins. Além de escrever, Baldwin também era uma figura pública e orador conhecido e controverso, especialmente durante o movimento dos direitos civis nos Estados Unidos. Morreu em Saint-Paul-de-Vence, em 1° de dezembro de 1987.

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.: "Da Próxima Vez, o Fogo" é lançado na semana dos 100 anos de Baldwin

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.: MAM apresenta obras do acervo digitalizadas no Google Arts & Culture


Nova coleção digitalizada em alta resolução pelo Google Arts & Culture permite que o público explore desde as raízes históricas até as vozes da arte moderna brasileira. Na imagem, "Tropicália" de Iuri Sarmento: uma releitura do famoso álbum homônimo, relembrado aos sons originais de Gilberto Gil e a sua capa original em zoom de 10% no Google Arts & Culture


O Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM) disponibilizou mais de 70 obras do seu rico acervo, na plataforma Google Arts & Culture. Esta parceria permite que as pessoas acessem e apreciem a herança artística da Bahia, independentemente de onde estejam. O Google Arts & Culture oferece acesso a um vasto conteúdo de mais de 3 mil instituições em 95 países. A plataforma permite explorar arte, história e maravilhas culturais de todo o mundo. O MAM é um museu administrado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), unidade vinculada à Secult. Explore as maravilhas do Museu de Arte Moderna da Bahia em: goo.gle/mambahia ou no aplicativo Google Arts & Culture para Android e iOS.

Marcelo Lemos, diretor geral do IPAC, revela que pretende expandir esse projeto para outros museus. “Nossa pretensão é continuar expandindo essa digitalização, incorporando novas obras e recursos educativos, e firmando parcerias com nossos outros espaços culturais. Estamos comprometidos também com a inovação e com o uso da tecnologia para que a arte esteja ao alcance de todos e possa continuar conectando nossos museus com pessoas ao redor do mundo”, pontua.

Marília Gil, diretora do MAM, apresenta o lançamento com muito entusiasmo: “Acreditamos no potencial desta parceria para inspirar curiosidade e aprendizado, e para conectar pessoas de diferentes culturas e origens através da arte. Convidamos todos a explorar nosso acervo digital, conhecer nossos artistas e se envolver com as histórias que cada obra de arte tem para contar. Esse é um passo importante para conseguirmos tornar a arte e a cultura mais inclusivas e acessíveis para todos”, afirma.

A inclusão do acervo do MAM no Google Arts & Culture também oferece uma oportunidade única para estudantes, pesquisadores e amantes da arte aprofundarem seus conhecimentos sobre a arte moderna brasileira. Com imagens em alta resolução e descrições detalhadas, a plataforma também dispõe de recursos de acessibilidade, como áudios descritivos, compatibilidade com leitores de tela, legendas e transcrições, zoom e visualização de detalhes.

"O trabalho do Google Arts & Culture com o MAM é fundamental para a democratização do acesso a uma das mais importantes obras de arte do Brasil. A ideia é não apenas trazer visibilidade ao nosso rico patrimônio cultural, mas também destacar a relevância dessa coleção para o desenvolvimento cultural, artístico e histórico da Bahia e do Brasil. Além disso, a integração de tecnologia avançada com o acervo vai contribuir para a preservação dos nossos bens históricos e culturais para as futuras gerações. Esse é um bom exemplo de como a tecnologia pode ajudar a reduzir distâncias e fomentar uma apreciação e compreensão mais profundas do nosso patrimônio cultural”, disse Juliana Moura Bueno, gerente de Relações Governamentais e Políticas Públicas do Google Brasil.


Entre as obras disponíveis para visualização, destacam-se:
"O Touro" de Tarsila do Amaral:
uma pintura a óleo de uma das mais importantes artistas do modernismo brasileiro.

"Tropicália" de Iuri Sarmento: uma releitura do famoso álbum homônimo, relembrado aos sons originais de Gilberto Gil e a sua capa original

"Ana Cláudia Lemos Pacheco" de Panmela Castro: uma pintura acrílica retratando Ana Cláudia Lemos Pacheco, pesquisadora negra da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

"Emblemágico 78" de Rubem Valentim: uma obra que mistura elementos geométricos e simbólicos da cultura afro-brasileira.

"Fifó - Lina Bo Bardi" de Bob Wolfenson: uma fotografia em preto e branco capturando a essência da famosa arquiteta.

"Serra do Cupim" de Carybé: uma pintura a óleo do artista radicado na Bahia.


Para enriquecer a experiência do usuário, o Google Arts & Culture destaca três aspectos imperdíveis da coleção do MAM-Bahia:

"De Solar a Museu": conheça a história do Solar do Unhão, desde suas origens no século XVI até sua transformação no atual centro cultural pelas mãos da arquiteta Lina Bo Bardi.

"Zoom na Coleção": aprecie de perto as obras-primas digitalizadas, explorando detalhes ocultos nas pinturas de mestres do modernismo e artistas contemporâneos.

"Destaque para a Arte Negra": descubra as contribuições dos artistas negros da Bahia, cujas obras incorporam influências das religiões e costumes afro-brasileiros.

Situado em um complexo arquitetônico cênico no litoral de Salvador, o MAM-Bahia é uma das mais importantes instituições de arte moderna do Brasil. A parceria com o Google Arts & Culture acentua a possibilidade de preservar digitalmente importantes obras de arte, garantindo que elas possam ser apreciadas por diferentes públicos.


Digitalização em Alta Resolução com a Tecnologia Google Arts & Culture
A digitalização das obras de arte foi realizada utilizando o sistema Art Camera do Google Arts & Culture, uma câmera robótica personalizada que captura imagens digitais em altíssima resolução. Este processo tecnológico, desenvolvido por especialistas do Google, compreende as seguintes etapas:

Iluminação: os fotógrafos asseguram a iluminação perfeita da obra de arte.

Captura: a câmera, após alinhamento e calibração, captura uma série de close-ups extremos, escaneando a obra centímetro por centímetro em menos de uma hora.

Edição: as imagens capturadas são combinadas através do software Art Camera.

Processamento: as imagens editadas são transformadas em uma imagem gigapixel deslumbrante.

Acesso: a imagem finalizada fica disponível para o museu após alguns dias de processamento.

Com estas capacidades de pós-produção, o Google Arts & Culture permite que instituições culturais compartilhem suas coleções em plataformas digitais de maneira eficaz. A correção de cores e a tecnologia de visão computacional alimentada por IA ajudam a preservar as características únicas das coleções, economizando tempo e esforço das instituições.


Captura em Ultra Alta Resolução
O Google Arts & Culture também oferece soluções para capturar coleções culturais em escala e em ultra alta resolução, permitindo que pinturas, vestimentas, tetos frescos, vitrais e materiais de arquivo sejam digitalizados com um nível de detalhe sem precedentes. Esta tecnologia foi desenvolvida em colaboração com diversos museus e galerias e é disponibilizada gratuitamente aos parceiros. Até o momento, centenas de milhares de imagens em alta resolução de coleções ao redor do mundo foram digitalizadas e publicadas on-line.

A plataforma permite que qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, explore coleções de arte e cultura de museus, galerias e instituições culturais em um ambiente digital com recursos de ponta para traduzir a importância cultural e histórica das obras aos visitantes. Explore as maravilhas do Museu de Arte Moderna da Bahia em: goo.gle/mambahia ou no aplicativo Google Arts & Culture para Android e iOS.


Sobre o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia
O IPAC é uma unidade vinculada à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA) e atua de forma integrada e em articulação com a sociedade e os poderes públicos municipais e federais, na salvaguarda de bens culturais tangíveis e intangíveis, na política pública estadual do patrimônio cultural e no fomento de ações para o fortalecimento das identidades culturais da Bahia.

.: Alex Frechette expõe "8 de Janeiro: jamais Fomos Modernos" na Funarte


A exposição “8 de Janeiro: jamais Fomos Modernos”, de Alex Frechette, retorna ao Complexo Cultural Funarte SP e fica em cartaz até o dia 11 de agosto, com visitação de quarta a domingo das 14h00 às 19h00, na Galeria Mario Schenberg. Os trabalhos do artista exploram os acontecimentos do dia 8 de janeiro de 2023, quando indivíduos buscaram promover um golpe de estado contra a democracia brasileira.

Além disso, retrata o ataque aos ícones modernistas, como os danos à tela de Di Cavalcanti, os azulejos e o muro escultórico de Athos Bulcão, a pichação na escultura da Justiça de Alfredo Ceschiatti e a depredação nos prédios projetados por Oscar Niemeyer, questionando o projeto de modernidade e exigindo uma análise da relação entre ação, cultura e contexto histórico. As obras se debruçam sobre as noções tradicionais de progresso ao retratar as cenas de destruição no estilo dos primeiros modernistas. 


Serviço
“8 de Janeiro: jamais Fomos Modernos”, de Alex Frechette
Até dia 11 de agosto de 2024
De quarta a domingo, das 14h00 às 19h00
Sala Mario Schenberg - Complexo Cultural Funarte SP
Entrada franca
Classificação: livre
Galeria Mário Schenberg
Alameda Nothmann, 1058 - São Paulo
Telefone (11) 3662-5177

.: "Alfabeto da Reta", de Edith Derdyk, até 15 de setembro no Centro MariAntonia


Mostra "Alfabeto da Reta", da artista visual Edith Derdyk, problematiza as conjugações entre a atividade fabril e a artesanal no Centro MariAntonia da USP, em São Paulo. Foto: Christiane Hoffrichter


A artista visual Edith Derdyk apresenta a mostra "Alfabeto da Reta" até o dia 15 de setembro no Centro MariAntonia da USP - Prédio Joaquim Nabuco, na Vila Buarque, em São Paulo. A mostra é um projeto expositivo que tem, como ponto de partida, uma pesquisa sobre a Geometria Descritiva desenvolvida por Gaspard Monge, final do século XVIII: um sistema de desenho projetivo que embasou o desenho técnico para efeito da produção industrial, provocando um impacto no desenvolvimento tecnológico na época da Revolução Industrial, por facilitar a visualização de objetos fabricados e sua sistematização. Com ensaio crítico de Sylvia Werneck, o projeto se desdobra em diversas frentes e linguagens.

Edith Derdyk especula sobre os métodos de representação de "operações gráficas maquínicas", frutos da abstração mental calcada na observação do real, facilitando a reprodução massiva de objetos industriais e a produção dos artefatos e suas problematizações  com o tempo da  costura manual e artesanal estabelecendo uma conversa entre a atividade artesanal fabril e atividade industrial febril. A exposição também alude, por decorrência, ao uso das fontes de energia primária que sustentam os modos de produção industrial, refletindo sobre a intensa exploração dos recursos naturais. A presença do carvão - fóssil antigo e fonte de energia não renovável, o motor da produção industrial de nossa história civilizatória -, sinaliza a problemática das fontes de energia naturais.   

O projeto se desdobra na instalação-site specific "Alfabeto da Reta". Tanmbém a série "Épura", conjunto de costuras realizadas industrialmente com intervenções manuais; um objeto escultórico, "Rota de Colisão" que alude ao uso do combustível fóssil (carvão); 1 livro de mesa acompanhado de 3 impressões (60X4 metros) chamado ROTAÇÃO,  um livro de artista, "Linha de Terra", impresso em serigrafia com tiragem de 100 exemplares. A mostra segue em cartaz até 15 de setembro de 2024

"Alfabeto da Reta" terá uma ativação da obra no final da mostra, pelo grupo na qual a artista faz parte – "Bookscapes", junto ao vídeo artista Rodrigo Gontijo e o compositor Dudu Tsuda, contemplando três apresentações ao vivo interagindo com a obra em si, através de ações performativas envolvendo desenho e manipulação de imagens no modo live cinema - cinema ao vivo, dias 13, às 17h00, e 14 setembro de 2024, das 11h00 e às 15h00.

No decorrer da exposição haverá uma roda de conversa e uma visita guiada junto com a curadora Sylvia Werneck e o lançamento do livro “O corpo da Linha”, editada pela Relicário, no dia 17 de agosto de 2024 (sábado), das 11h00 às 15h00. “Quando estava desenvolvendo as peças da série 'Épura' (conjunto de costuras realizadas industrialmente com intervenções manuais), percebi que a máquina não é tão objetiva assim:  a mesma imagem é interpretada  diferentemente em cada máquina, gerando resultados totalmente distintos”, afirma Edith sobre o processo criativo.

Sobre a artista 
Edith Derdyk tem realizado exposições coletivas e individuais desde 1981 no Brasil (Museu de Arte Moderna- SP e RJ; Pinacoteca do Estado de São Paulo, Centro Cultural Banco do Brasil-RJ; Museu de Arte de São Paulo, Centro Cultural São Paulo, Instituto Tomie Ohtake, entre outras) e no exterior (México, EUA, Alemanha, Dinamarca, Colômbia, Espanha, Portugal, França, Suécia).

Prêmios, bolsas, residências: 2023_ Edital ProAC 21/2023_ Literatura /Realização e Publicação de Obra Inédita de Não-Ficção; Edital ProAC nº 12/2023 Exposição Inédita; 2022_ Pollock Krasner Foundation   prêmio de pesquisa; Fun2019. LabVerde_Imersão Artística no Amazonas; 2018. Edital Fundação Marcos Amaro; 2017. Título Doctora Honoris Causa_17,Instituto Estudios Criticos_Cidade do México.México; 2015.Edital ProAC_Incentivo à Literatura_Poesia; 2014. Edital PROAC_Livro de Artista; 2013_Residência_Can Serrat_Espanha; 2012_Prêmio Funarte Artes Visuais; 2007_ Residência_The Banff Centre_Canadá; 2004_Prêmio Revelação Fotografia Porto Seguros;2002_Bolsa Vitae de Artes; 2002_Categoria Tridimensional _APCA; 1999_The Rockefeller Foundation_artista pesquisadora_Bellagio Center, Itália; 1993_Artista residente_MAC-USP/Vermont Studio Center_USA; 1990_ Bolsa Fiat_Artes Visuais.

Autora de livros: "O Corpo da Linha", Edições Relicário (no prelo); "Da Língua e dos Dentes" (Ed.Urutau); "A Pesar, a Pedra" (Ed.Patuá); "Edith Derdyk-1997/2017" (Edições A); "Entre Ser  Um e Ser Mil - O ObjetoLivro e Suas Poéticas" (organizadora pela editora Senac); "Disegno.Desenho.Desígnio"(antologia) (Senac);  "Linhas de Horizonte" (Ed.Escuta); "Linha de Costura" (C/Arte); "Formas de Pensar  o Desenho" (Ed.Panda) entre outros.

Autora /ilustradora de vários livros infantis, como: "Todo Mundo Tem (Ed.Hedra); "Rato" (Cosac&Naify), coleção "Folia de Papel" (Ed.Jujuba), "O Colecionador de Palavras (Ed.34) "Fábulas.Alegorias.Adivinhações" (Ed.SM); "Coisa com Coisa" (Ed.Move) e outros. Letrista de algumas canções do "Palavra Cantada" ("Pomar", "Ora Bolas", "Rato", "O Que É O Que É", "Trilhares" e outras) e parceira do espetáculo "Catopleia - Alegorias Musicais", com Luz Marina (letras e concepção visual).

Atualmente coordena a Pós Graduação Lato Sensu  “Caminhada como Método para Arte e Educação” na A Casa Tombada. Para acessar o trabalho da artista: https://issuu.com/livroedithderdyk/docs/livro_edith_derdyk e http://cargocollective.com/edithderdyk.


Sobre a curadora
Sylvia Werneck é crítica de arte, curadora independente, pesquisadora e professora, especializada em arte contemporânea, sobretudo da América Latina. É membro das Associações Brasileira e Internacional de Críticos de Arte (ABCA e AICA), correspondente da Revista Artnexus e colunista da Revista babEL. Graduada em Artes Plásticas pela Universidade Mackenzie, tem especialização em Estudos de Museus de Arte (MAC-USP, 2004), mestrado em Estética e História da Arte (PGEHA-USP, 2007), doutorado em Integração da América Latina – Comunicação e Cultura (Prolam-USP, 2013).

Faz curadorias em museus e espaços culturais desde 2008, foi professora universitária e parecerista de diferentes editais e projetos de artes visuais, ministra cursos livres e conduz mentorias para artistas em instituições e espaços culturais independentes. Integra o corpo curatorial do Lux Espaço de Arte, escreve independentemente para diferentes publicações e assina textos em catálogos de exposições. Atua como parecerista de revistas acadêmicas e participa de júris de premiações, seminários e congressos. Autora do livro “De Dentro para Fora - A Memória do Local no Mundo Global” (Ed. Zouk, 2011) contemplado pelo I Prêmio para publicações sobre arte em língua estrangeira da Fundação Bienal de São Paulo.


Sobre o espaço
O Centro MariAntonia da USP é uma instituição cultural que atua como espaço de extensão e democratização ao acesso das correntes de pesquisa interdisciplinar da Universidade de São Paulo e que viabiliza o fomento da arte em meio a cena cultural de São Paulo.A programação do MariAntonia oferece cursos de difusão, exposições, palestras, lançamentos de livros e eventos que fomentam o pensamento crítico ao tematizar os direitos humanos, a ciência e a produção do conhecimento.

Além dessas atividades, há, as programações do Teatro da USP (Tusp) e os programas da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP.   A sala de cinema Carlos Reichenbach abriga programação própria de mostras e estreias gratuitas de filmes e, em parceria com o Cinusp, a programação aos finais de semana.

Tombado em 1988 pelo Condephaat e inaugurado como centro de cultura em 1993, esse espaço é um patrimônio histórico que dedica-se à preservação da memória coletiva ao representar os marcos da resistência à ditadura militar brasileira e da luta pela democracia.

Atualmente, o conjunto é formado por dois edifícios localizados na Rua Maria Antônia, bairro Vila Buarque, centro da cidade de São Paulo: o edifício Joaquim Nabuco localizado no número 258 e o edifício Rui Barbosa no número 294, construídos na década de 1930 para abrigar o antigo colégio Liceu Nacional Rio Branco. Em 1949 a Universidade de São Paulo tomou posse de três edifícios do antigo Liceu, esses dois atuais e outro na Rua Dr. Vila Nova, onde passou a funcionar a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) e a Faculdade de Ciências Econômicas e Administração (FCEA), respectivamente.


Serviço
Exposição "Alfabeto da Reta" de Edith Derdyk
Ensaio crítico: Sylvia Werneck
Instalação-site specific, trabalhos costurados, objeto escultórico, livro de artista, impressões fine art. performance videográfica, livro de artista  roda de conversa, visita guiada junto com a curadora Sylvia Werneck e o lançamento do livro “O corpo da Linha” (editada pela Relicário): 17 de agosto de 2024 (sábado), das 11h00 às 15h00

Ativação com grupo Bookscapes (Edith Derdyk, Rodrigo Gontijo e Dudu Tsuda): 13 e 14 setembro de 2024 (sexta-feira e sábado, às 17h00 e às 11h00 e às 15h00, respectivamente)

Visitação até 15 de setembro de 2024
De terça a domingo, e feriados, das 10h00 às 18h00
Centro MariAntonia da USP - Prédio Joaquim Nabuco
Rua Maria Antônia, 258 - Vila Buarque / São Paulo
Telefones: (11) 3123-5200 / 3123-5202
Grátis
Metrô: Higienópolis-Mackenzie (Linha 4–Amarela)
Santa Cecília (L3 - vermelha)



.: Robert Downey Jr. será Doutor Destino em "Vingadores: Doomsday"


O painel da Marvel Studios no Hall H da San Diego Comic-Com trouxe diversas novidades para os fãs do que vem por aí no Universo Cinematográfico da Marvel, incluindo a revelação de que Robert Downey Jr. retorna ao MCU para interpretar o Doutor Destino em "Vingadores: Doomsday". No auge da noite, Robert Downey Jr. e Irmãos Russo apareceram no palco para anunciar seu retorno ao Universo Cinematográfico Marvel

O Hall H estava agitado na noite de 27 de julho para a apresentação da Marvel Studios, trazendo aos fãs animados na San Diego Comic-Com um primeiro olhar no que vem por aí para o Universo Cinematográfico da Marvel – incluindo grandes notícias sobre os próximos dois filmes dos "Vingadores" da Marvel Studios.

Quando o público pensou que o show tinha acabado, Feige disse que tinha uma novidade dos Vingadores para compartilhar: Anthony e Joe Russo – renomados diretores de quatro dos filmes de maior sucesso da Marvel e os diretores de maior bilheteria do estúdio, com mais de US$ 6 bilhões em bilheteria global – retornam para a Marvel Studios para comandar "Vingadores: Guerras Secretas", em maio de 2027, e "Vingadores: Doomsday", em maio de 2026.

Mas a revelação de "Vingadores: Doomsday" deixou uma importante pergunta no ar: quem interpretaria o Doutor Destino? Os diretores destacaram que o Doutor Destino é um dos personagens mais complexos do Universo Marvel e precisa de um ator incrível para trazê-lo à vida. Enquanto Feige e os Russos se preparavam para encerrar a apresentação, figuras encapuzadas e usando a máscara do Doutor Destino tomaram conta do palco e então se separaram para revelar Robert Downey Jr., que retorna ao MCU. O Hall H explodiu, gritando “RDJ!”.

A empresa dos Russos, AGBO, produzirá ambos os filmes com a Marvel Studios. Stephen McFeeley, conhecido por seu trabalho na trilogia "Capitão América" e "Vingadores: Ultimato", cuidará do roteiro. “Poder criar histórias e explorar personagens dentro do Universo Marvel é a realização de um grande sonho, e nós descobrimos uma poderosa conexão com o público em cada filme que fazemos. Estamos entusiasmados em colaborar mais uma vez com Kevin, Lou e toda a equipe da Marvel para levar esta aventura épica em storytelling a novos e surpreendentes lugares, tanto para os fãs quanto para nós mesmos”, disseram os Irmãos Russo.

Após a revolucionária conclusão de "Vingadores: Ultimato", os Irmãos Russo fundaram a AGBO em 2017, visando inovar a narrativa em filmes, TV, jogos e mídia interativa. Como um estúdio independente liderado por um coletivo de artistas experientes, a AGBO alcançou um sucesso sem precedentes, estabelecendo novas referências com 11 estreais globais número um e mais de US$ 7 bilhões em receita de bilheteria.

A produção "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo", da AGBO, ganhou sete Oscars, incluindo Melhor Filme, enquanto a franquia Citadel se tornou o segundo programa mais assistido da história do Prime Video. Seus empreendimentos na Netflix, incluindo Agente Oculto, dirigido pelos Russos e estrelado por Chris Evans, estão entre os conteúdos mais assistidos da plataforma, com Resgate sendo sua franquia de maior sucesso até o momento. Atualmente, a AGBO está na fase de pós-produção de "The Eletric State", da Netflix, dirigido pelos Russos e estrelado por Millie Bobby Brown e Chris Pratt, baseado na aclamada graphic novel.


Assista na Cineflix
Filmes de sucesso como "Deadpool & Wolverine" são exibidos na rede Cineflix CinemasPara acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no Gonzaga. Consulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SANO Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021.

domingo, 28 de julho de 2024

.: Entrevista: Myriam Scotti fala sobre reconexão com a ancestralidade


"Acredito que a literatura tem a capacidade de nos fazer praticar a alteridade, ou seja, a oportunidade de se colocar no lugar do outro", afirma a escritora Myriam Scotti, em entrevista
 


Terra, imigração, laços familiares, ancestralidade e a investigação do feminino. Esses são alguns dos principais temas do romance “Terra Úmida” (compre o livro neste link), lançado pela editora Penalux, de Myriam Scotti , que venceu o Prêmio Literário de Manaus em 2020. Nele, a autora traz a descrição da imigração de judeus para a Amazônia durante o ciclo da borracha a partir da perspectiva de Abner, um dos filhos de uma família marroquina que instala-se na região para fugir da perseguição aos judeus. A partir dessa premissa, a autora desenrola uma trama complexa com temas como relações familiares e o feminino; e que possui personagens apegados à tradição, mas que são intimamente atravessados pela vida e pela cultura novas.

Myriam Scotti nasceu em 1981, em Manaus, no Amazonas. É escritora, crítica literária e mestre em Literatura pela PUC-SP. Ela começou a escrever na infância, porém começou a publicar crônicas em um blog após virar mãe e a escrita passou a ser uma atividade profissional em 2014. Além do romance “Terra Úmida”, a autora possui mais dois livros publicados: “Quem Chamarei de Lar?” (editora Pantograf, um romance juvenil que foi aprovado no PNLD literário e escolhido pelo edital Biblioteca de São Paulo de 2021; e “Receita para Explodir Bolos” (editora Patuá), livro finalista do prêmio Pena de Ouro 2021 na categoria Conto e que ficou em segundo lugar na categoria conto do prêmio Off Flip de 2022.


Quais são os temas centrais do livro? 
Myriam Scotti - Acima de tudo, o romance trata de relações familiares, bem como das dificuldades de uma mulher Imigrante, que abre mão de seus desejos em prol da família e da tradição.


Por que os escolheu?
Myriam Scotti - Primeiramente, senti necessidade de contar a história da chegada dos judeus marroquinos na Amazônia durante o ciclo da borracha, algo que ainda é muito pouco explorado na ficção. Como descendente de judeus sefarditas, eu quis homenagear os meus ancestrais, e, claro, homenagear as mulheres. Não à toa, escrevi uma personagem que pudesse representar um pouco das dificuldades de ser mulher em qualquer época.

O que a motivou a escrever o livro?
Myriam Scotti - O que me motivou a pensar o romance foi o desafio de escrever uma história longa, tendo em vista que estava acostumada a escrever contos e poesia. Isso aconteceu ao participar de uma das oficinas de escrita criativa, eu me senti desafiada a dar continuidade num curso de preparação do romance. 

Por que escolher o gênero adotado?
Myriam Scotti - Ao participar de uma das oficinas de escrita criativa, me senti desafiada a dar continuidade num curso de preparação do romance. Nunca havia escrito uma história longa e achava que não teria fôlego para tanto. Então, decidi que era hora de começar a tentar. Escrevi o romance “Terra Úmida” a partir de um conto chamado “Terra Prometida”, que faz parte de um livro de contos que ainda não foi publicado. Desde então, já escrevi dois romances e estou na escrita do terceiro.


Que tipo de estrutura e escrita você adotou ao escrever a obra?
Myriam Scotti - Não sei dizer se eu tenho um tipo determinado de escrita. “Terra Úmida” foi uma escrita que me fez pensar e repensar a forma do romance diversas vezes até chegar ao formato que foi publicado. Escolhi trabalhar a primeira parte com uma personagem que falava em primeira pessoa e a segunda parte com a escrita de um diário. Foi um grande exercício de escrita e também de paciência. Não é fácil colocar o ponto final em uma obra, sempre achamos que podemos mudar ou melhorar algo.


Quanto tempo durou o processo de produção do livro?
Myriam Scotti - Foram três anos entre pesquisa, escrita e viagem ao Marrocos.

Em sua análise, quais as principais mensagens que podem ser transmitidas pelo livro?
Myriam Scotti - Acredito que a literatura tem a capacidade de nos fazer praticar a alteridade, ou seja, a oportunidade de se colocar no lugar do outro. Dessa forma, desde que lancei o romance tenho recebido muitas devolutivas, inclusive de homens, do quanto refletiram sobre as questões femininas, assim como sobre relações familiares.


Quais são seus planos literários?
Myriam Scotti - Estou às voltas com a escrita de um romance contemporâneo e também já tenho algumas páginas escritas de outro romance histórico. Vamos ver em qual deles vou conseguir me jogar de cabeça.

.: Leo Nunes fala sobre sexualidade, morte, identidade e poesia subversiva


"Eu queria esgotar o tema 'viadagem' para dar lugar a outras pesquisas. Resolvi então aceitar esse tema e tentar explorá-lo ao máximo", afirma Leo Nunes em entrevista. Autor fala sobre os bastidores de seu livro  “está na hora de me tornar um homem sério", publicado pela editora Minimalismos. Foto: divulgação


Inspirado pela contracultura e geração mimeógrafo, o escritor Leo Nunes mergulha nas profundezas da alma humana através de sua poesia íntima e subversiva no livro "está na hora de me tornar um homem sério". Em sua estreia literária pela editora Minimalismos, Leo desafia tabus e explora os percalços da vida moderna, especialmente para um homem gay em um contexto urbano. Nascido em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, o escritor traz consigo uma bagagem multidisciplinar. Formou-se em Comunicação Social - Rádio e TV pela UFRJ e trabalha, desde 2010, em produtoras de TV e Cinema no Rio de Janeiro. 

A obra adota um tom confessional e autoficcional, sendo dividido em três partes. Na primeira, “pequena trajetória de uma bicha da baixada”, acompanhamos a trajetória de se descobrir um homem gay e encarar o mundo conservador de uma região pobre da cidade. Na segunda parte, “a magia está aqui”, o poeta nos apresenta um mundo mais convulso e complexo, das montanhas-russas ao Bate-Bate, das Maratonas ao Sambas, a poesia encontra um espaço urbano complexo de se aprender, cuja aparência é retratada através das entrelinhas da poesia. Por fim, na terceira parte, “a vida no apartamento 1107”, seguimos com este jovem adulto em seu pequeno apartamento e fazemos companhia às aventuras íntimas das noites mal dormidas, dos amores mal passados e das poéticas que atravessam sua vida.


Se pudesse resumir os temas centrais do seu livro, quais seriam?  
Leo Nunes - Para mim, os principais temas do livro são sexualidade, morte, amadurecimento, religião e identidade.


Por que escolher esses temas?
Leo Nunes - Na realidade, não foram escolhas, foram temas que identifiquei nos poemas e que surgiram naturalmente ao longo da escrita. Este livro nasceu de um projeto de exploração pessoal, como estava me propondo a escrever poesia, resolvi resgatar temas e assuntos que me acompanharam ao longo da adolescência e início da vida adulta.


O que motivou a escrita do livro?
Leo Nunes - Comecei o projeto deste livro durante uma oficina organizada pelo poeta Rafael Zacca. Elaborei um projeto que pudesse resolver uma questão: eu queria esgotar o tema "viadagem" para dar lugar a outras pesquisas. Resolvi então aceitar esse tema e tentar explorá-lo ao máximo.


Como foi o processo e quanto tempo você levou para escrever o livro?
Leo Nunes - Escrevi o livro ao longo de três semestres de oficina, fui construindo, através das provocações e exercícios, novos poemas que buscavam formar uma imagem. Com isso, consegui reunir uma quantidade de textos e, a partir dali, trabalhar em um conjunto de poemas que funcionasse. Comecei a escrever no meio de 2021 e terminei em dezembro de 2022, um ano e meio para conseguir elaborar todo o projeto.


Em sua análise, quais as principais mensagens que podem ser transmitidas pelo livro?
Leo Nunes - Procurei trabalhar no livro a jornada de um personagem. Queria poder ler um livro que contasse e trouxesse os desejos e sabores de um ser muito específico: uma bicha da baixada fluminense que vai tentar descobrir o mundo.


Quais são as suas principais influências artísticas e literárias? Quais influenciaram diretamente a obra?
Leo Nunes - Durante minha adolescência fui um consumidor ávido dos livros da Meg Cabot, eles eram um grande escape e muleta para suportar a confusão interna da minha sexualidade. Por isso, eu quis, por muito tempo, seguir a carreira como escritor de livros infantojuvenis e sempre foquei muito mais nos gêneros prosaicos do que na poesia. Além dela, fui muito marcado pela Cecília Vasconcellos e pelos livros paradidáticos que lia na escola. Mais velho, conheci a literatura de Victor Heringer, Cris Lisbôa e Andrea del Fuego, autores que me impactaram e ainda me instigam. Na poesia, meu interesse de pesquisa e consumo tem aumentado, estão em minha lista de leitura Ana Martins Marques, Marília Garcia, Lilian Sais, Rafael Zacca, Angélica Freitas, Pedro Cassel, Ana Cristina Cesar, Leonardo Gandolfi entre outros nomes. Para além da poesia, pensando em cinema, minhas grandes influências são Eduardo Coutinho e Agnès Varda. Durante minha formação acadêmica, me apaixonei pelo documentário e, talvez, eles sejam os maiores influenciadores do livro.


O que esse livro representa para você? 
Leo Nunes - Entendo que este livro é também o resultado de um processo de autoconhecimento. Trabalho nele muitas percepções de sexualidade e de como isso afetou meu processo de amadurecimento. 


Você acredita que a escrita do livro te transformou de alguma forma? 
Leo Nunes - No livro exploro a persona Leonardo Nunes, poeta, gay e morador da baixada fluminense. De certa forma, posso dizer que passei a existir a partir do livro.


Como a bagagem de projetos anteriores ajudou na construção da obra?
Leo Nunes - Eu trabalhei alguns anos em um livro de contos, mas hoje percebo que ele não ficou pronto. Talvez um dia eu o reescreva, ou não, no entanto, entendo que ele contribuiu para o processo de criar pequenas narrativas. Fora isso, vejo que meu projeto final da faculdade, um curta documentário, foi um processo importante para a construção de uma voz. Algo que comecei lá, acabou se aprofundando neste livro.


Por que escolher o gênero adotado?
Leo Nunes - A poesia chegou relativamente tarde na minha vida. Comecei a explorá-la na oficina da Márcia Tiburi em 2017. Desde então fui procurando outras oficinas para tentar aprender mais. Para mim, sempre foi difícil escrever poemas ao mesmo tempo que sempre fui muito curioso sobre esse gênero textual. O que também me motivou foi querer ver na poesia a realidade, as palavras, os sentimentos de um homem gay nos anos 2020, algo que eu não conhecia à época.


Como você definiria seu estilo de escrita? 
Leo Nunes - Não sei definir um estilo, talvez ainda seja cedo para conseguir indicar um caminho pessoal. Hoje, diria que escrevo de forma mais confessional e autoficcional, ao mesmo tempo que procuro elaborar uma narrativa poética.


Que tipo de estrutura você adotou ao escrever a obra?
Leo Nunes - O livro é dividido em três partes, três atos da vida dessa personagem que aparece ao longo do livro. Durante o processo de organização, decidi deixar esses atos em ordem cronológica, justamente para evidenciar o processo acontecendo para quem for ler o livro na ordem.


Como você escolheu a editora para a obra?
Leo Nunes - Com o original pronto em fevereiro de 2023 fui à procura de editoras dispostas a publicar novos autores. Vi uma chamada aberta da Minimalismos e enviei o livro. Gostei muito da proposta da editora, de focar em um estreitamento entre autor e leitor, além do cuidado editorial com o projeto.


Você escreve desde quando?
Leo Nunes - Acho que antes de escrever veio primeiro o desejo. Meu interesse pelos livros começou no interesse pelo objeto. Na escola, nas aulas de literatura, o que mais me atiçava a atenção era saber quais livros leríamos ao longo do ano, como seriam suas capas, quantas páginas etc. Depois foi descobrir as histórias contidas em cada um deles, poder navegar por outros mundos, sair da minha realidade, ler algo além da bíblia. Na quinta ou sexta série li o livro que mais me marcou: "Nas Pernas da Mentira", da Cecília Vasconcellos. Ele foi o divisor, a partir dali eu também queria ser escritor. Porém, do desejo para a realidade, demorei muito. Sempre escrevi pelos cantos, sempre tentei começar projetos e processos, mas nunca tinha conseguido me dedicar de forma concreta. Em 2013 conheci a Go Writers, escola de escrita criativa da Cris Lisbôa, e passei a frequentar os cursos, ali foi o momento em que comecei esse percurso de escrita de maneira consciente.


Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Leo Nunes - Com um trabalho que me toma muito tempo, não consigo me dedicar 100% do tempo à escrita. Então, escrevo quando posso, quando dá, onde dá, do jeito que dá. Por muito tempo idealizei o cenário perfeito, achei que só poderia escrever quando todas as condições estivessem propícias… Hoje, entendo que é mais importante fazer o possível do que esperar pelo momento perfeito.


Quais são os seus projetos atuais de escrita?
Leo Nunes - Estou desenvolvendo um projeto para meu segundo livro de poemas. Dessa vez, focando no corpo, cidade e memória. Quero trazer minha cidade natal, Duque de Caxias, e trabalhar a tensão do encontro com a capital, Rio de Janeiro.

.: Ana Helena Reis, do livro “Conto ou Não Conto?”, e o cotidiano na literatura


"Um pequeno conto é um desafio, pois ele tem que desenvolver em uma lauda ou duas uma narrativa completa: dar personalidade aos personagens, contar uma história, desenvolver o conflito de forma coerente, e isso me atrai", afirma a escritora Ana Helena Reis em entrevista.

A observação do cotidiano por meio de contos sobre relações afetivas, dilemas sociais e conflitos interiores são abordados em “Conto ou Não Conto?” (compre o livro neste link), lançamento da editora Paraquedas, de Ana Helena Reis, por meio da hibridez nos formatos e temas ao longo da obra. A autora intercala os 34 contos, misturando aqueles com assuntos leves e nostálgicos, com outros mais profundos e densos, buscando equilíbrio e fluidez na obra. Alguns dos temas percebidos nos contos são o medo, a indignação, o preconceito, o amor, o envelhecimento, a intolerância e as desigualdades.

Ana Helena Reis tem 73 anos e nasceu em São Paulo, capital. Ela se define como pesquisadora do comportamento humano, investigadora de si mesma, escritora do cotidiano e ilustradora de devaneios. Conta com uma carreira profissional consagrada: formada em administração de empresas pela EAESP/FGV e mestre pela FEA/USP, é empresária, já publicou diversos livros acadêmicos, papers e trabalhos de pesquisa. Também conta com uma extensa vida acadêmica, tendo sido professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) na Faculdade de Economia e Administração durante 15 anos.

Sua área de especialidade em pesquisa é comportamento do consumidor - a observação, investigação e análise do comportamento das pessoas sempre foi um fascínio. Ponto importante para a criação do livro “Conto ou não Nonto?”, pois lhe ajudou a criar um olhar mais crítico e apurado para os acontecimentos diários.

Embora escreva desde sempre, vide seus “diários infindáveis” da adolescência, começou a dedicar-se com mais afinco à literatura em 2019, quando passou a publicar contos, crônicas e resenhas no blog Pincel de Crônica. Foi esse blog, cujo nome faz referência à pintura, sua outra paixão, que deu substância para a criação do livro, também influenciado por autores que consome: cronistas e contistas como Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, Caio Fernando Abreu, Clarice Lispector e Luís Fernando Veríssimo; e, de forma mais ampla, Saramago e García Marquez.

Quais são os temas centrais do livro?
Ana Helena Reis O livro é uma coletânea de contos variados, que tem como fio condutor o meu olhar sobre situações cotidianas que podem despertar memórias afetivas e reflexões. De uma forma às vezes irônica e divertida, outras vezes dramática ou surpreendente, desperta o leitor para os conflitos interiores que enfrentamos, como o medo, a indignação, o preconceito, o amor, o envelhecimento, a intolerância, as desigualdades, entre outros. Se fosse escolher três temas, eles seriam: relações afetivas, dilemas sociais e conflitos interiores.

Por que você escolheu esses temas?
Ana Helena Reis - Escolhi esses temas porque creio que eles fazem parte dos nossos questionamentos, nossos sentimentos muitas vezes inconfessos. A ideia foi criar ficções que permitissem, no subtexto, gerar reflexões importantes para os leitores. Para isso, escolhi contos que pudessem abarcar uma diversidade grande de narrativas, tanto na temática como na forma.

O que motivou a escrita do livro e qual foi o processo de escrita?
Ana Helena Reis - Venho escrevendo contos e crônicas há tempos, diria que em torno de dois anos, e armazenando no meu blog Pincel de Crônica. Chegou uma hora que achei que já tinha um material interessante para um livro de contos (depois pretendo fazer o mesmo com as crônicas), e senti que esse era o momento de dar um passo à frente, com a minha primeira publicação literária. O processo de escrita do livro foi rápido, menos de seis meses. Como já tinha os contos, o trabalho foi de escolha do que caberia nesse livro, uma leitura crítica inicial e depois a contratação da editora. Como sempre, uni o texto à ilustração. Na conversa com a editora decidimos que eu colocaria uma seleção das minhas ilustrações na capa e miolo. Escolhi um formato que me encanta que é o do traço único, trabalhei nas ilustrações e seguimos em frente.


Por que escolher o gênero “conto”?
Ana Helena Reis - Porque alguns motivos - um pequeno conto é um desafio, pois ele tem que desenvolver em uma lauda ou duas uma narrativa completa: dar personalidade aos personagens, contar uma história, desenvolver o conflito de forma coerente, e isso me atrai.

Em sua análise, quais as principais mensagens que podem ser transmitidas pelo livro?
Ana Helena Reis - Acho que uma característica da minha escrita é deixar uma mensagem aberta o suficiente para que cada leitor extraia daquele conto aquilo que despertou em si o sentimento mais forte, a reflexão mais engajada com a sua realidade. Para dar um exemplo, um conto aparentemente singelo como “Looping” envolve questões como o pânico, o sentimento maternal, o companheirismo entre um casal, a capacidade de rir de nós mesmos e de nossas fragilidades…então vai depender de cada leitor qual dessas mensagens ecoa de maneira mais forte.

O que esse livro representa para você?
Ana Helena Reis - O inesperado. Depois de uma longa carreira profissional, com a publicação de livros acadêmicos, papers, enfim, toda uma história de escrita voltada ao trabalho de pesquisa de mercado, não imaginava que a vida me proporcionasse a oportunidade de dar essa guinada para a escrita literária.

Você acredita que a escrita do livro te transformou de alguma forma?
Ana Helena Reis - A escrita de contos está sendo muito transformadora para mim. Criar personagens e situações de ficção é como uma catarse de tudo o que foi sendo acumulado nas minhas lembranças afetivas, porque o escritor, mesmo quando trabalha com a ficção, está colocando uma parte de si naquele texto. Isso acredito que é muito libertador e fez fluir muitos guardados da minha caixa de pandora.


Quais são os seus projetos atuais de escrita?
Ana Helena Reis - Estou começando a coletar as crônicas para uma nova coletânea, e o projeto de 2024 é trabalhar em uma narrativa longa, que já venho estruturando há tempos. É um romance ficcional, baseado na figura da "meiga" (como eram chamadas as bruxas na mitologia da Galícia) e sua atuação como benfeitora para a comunidade de mulheres solteiras que se aventuravam a ter filhos… Estou dando muito spoiler!


.: Edição comemorativa de "Conectadas", romance escrito por Clara Alves


Para comemorar os cinco anos de lançamento do best-seller "Conectadas" (compre o livro neste link), romance de Clara Alves, a editora Seguinte lançou a edição especial da obra com capa dura, guardas ilustradas e laterais coloridas. Inclui, ainda, um capítulo inédito e uma nova entrevista em que a autora responde perguntas feitas pelos leitores. 

No livro, Raíssa e Ayla se conheceram jogando Feéricos, um dos games mais populares do momento, e não se desgrudaram mais - pelo menos não virtualmente. Ayla sente que, com Raíssa, finalmente pode ser ela mesma. Raíssa, por sua vez, encontra em Ayla uma conexão que nunca teve com ninguém. Só tem um “pequeno” problema: Raíssa joga com um avatar masculino, então Ayla não sabe que está conversando com outra garota.

Quanto mais as duas se envolvem, mais culpa Raíssa sente. Só que ela não está pronta para se assumir -  muito menos para perder a garota que ama. Então só vai levando a mentira adiante… Afinal, qual é a chance de as duas se conhecerem pessoalmente, morando em cidades diferentes? Bem alta, já que foi anunciada a primeira feira de Feéricos em São Paulo, o evento perfeito para esse encontro acontecer. Em um fim de semana repleto de cosplays, confidências e corações partidos, será que esse romance on-line conseguirá sobreviver à vida real?

Sobre a autora
Clara Alves sempre foi apaixonada por livros. Estudou jornalismo e trabalhou no mercado editorial por anos, mas largou tudo para viver seu maior sonho: ser escritora em tempo integral. É autora do best-seller LGBTQIAP+ "Conectadas" e de "Romance Real" (2022), que foi traduzido para o inglês com o título "London On My Mind". Mora no Rio de Janeiro, onde passa a maior parte do tempo consumindo e escrevendo romances clichês de aquecer o coração.

Serviço
"Conectadas" (edição comemorativa), Clara Alves
Número de páginas: 464
Editora Seguinte | Grupo Companhia das Letras

.: Solange Ocker explica como as perdas são realidade no trabalho de pescador


"A dor de uma família é a dor de todos": autora reflete sobre ausências na vida de pequenas comunidades. Em entrevista, Solange Ocker explica como as perdas são uma realidade no trabalho de pescador e ressalta o papel das mulheres para combater preconceitos à beira do mar. Foto: divulgação


A escritora Solange Ocker nasceu e cresceu na vila Armação da Piedade, em Santa Catarina, composta por famílias pescadoras. À beira do mar, o local foi primeiro construído por portugueses durante a colonização, mas agora são os trabalhadores da pesca que vivem ali. Esta comunidade, repleta de história, tradições e também perdas, foi retratada no livro "Não se Esqueça de Mim" (compre o livro neste link), escrito pela autora como uma forma de homenagear suas raízes.

Na obra, ela atravessa complexidades presentes na região e que dialogam com os contextos sociais conhecidos por muitas pessoas, principalmente mulheres, em todas as regiões do país. "A essência das experiências vividas aqui, as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores, a força das relações familiares e comunitárias, a luta pela sobrevivência e a constante presença da saudade são temas universais que ressoam com muitas outras comunidades e realidades no Brasil”, explica.

Além de detalhar o sentimento constante de perda presente nesses moradores, também retrata a luta das mulheres por se firmarem em uma profissão majoritariamente exercida por homens. Com uma protagonista responsável por assumir o comando do lar depois do desaparecimento do marido, a autora ficcionaliza a experiência feminina que muito conheceu durante a vida na vila.

Solange Ocker é professora e empreendedora, natural de Governador Celso Ramos, cidade do litoral catarinense. Formada em Língua Portuguesa e Literatura, com pós-graduação em Literatura Infantojuvenil, mergulha no mercado do livro com Não se esqueça de mim!, romance regional que aborda com sensibilidade as vidas perdidas ao longo das décadas, na atividade pesqueira. 


No romance “Não se Esqueça de Mim!”, você retrata não só a vida e os desafios nas pequenas comunidades pesqueiras, mas também as muitas vidas perdidas de trabalhadores no mar e as famílias que ficaram com o fardo da saudade. Por que decidiu abordar esta questão? 
Solange Ocker - Nasci e cresci nessa comunidade pesqueira. Desde cedo testemunhei a dureza da vida no mar, mas o que mais intensificou essa percepção foi ter casado com um pescador. As longas ausências e o medo constante pairavam sob mim e todos aqueles que esperam seus familiares em terra firme.


De que forma esta realidade se conecta com você?
Solange Ocker Certa feita, um acidente marcou profundamente nossa comunidade. Um barco com todos os tripulantes desapareceu. Nenhum deles foram encontrados. Percebi que, em um lugar pequeno, que vivencia as mesmas expectativas e rotinas, a dor de uma família é a dor de todos.


A trama da obra se passa em Santa Catarina, na turística cidade de Governador Celso Ramos - inclusive lugar em que você cresceu com a sua família. Por que decidiu escrever sobre a vila da Armação da Piedade?
Solange Ocker Escrever sobre a Armação da Piedade é uma maneira de homenagear minhas raízes e compartilhar a riqueza cultural desse lugar.


Como o contexto específico da vila consegue se aproximar das realidades de brasileiros de outras regiões e estados?
Solange Ocker A essência das experiências vividas aqui, as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores, a força das relações familiares e comunitárias, a luta pela sobrevivência e a constante presença da saudade, são temas universais que ressoam com muitas outras comunidades e realidades no Brasil.


De que maneira os temas de empoderamento feminino e assédio sexual são abordados através das experiências das personagens Amélia e a mãe, no contexto dos anos 1960 e 70?
Solange Ocker A mãe de Amélia simboliza uma geração de mulheres que tiveram menos oportunidades, pois viveram em um tempo marcado por normas patriarcais rígidas. Mulheres que sofriam em silêncio, carregando as cicatrizes do assédio e da submissão esperada pela sociedade da época. Entretanto, mesmo em meio à opressão silenciosa, as personagens lutaram com coragem em busca de voz e liberdade. Elas personificam a resistência e a determinação, reforçando sobre a importância de combater as injustiças de gênero em todas as suas formas.

A cultura açoriana e os locais emblemáticos de Governador Celso Ramos, como a Igreja Nossa Senhora da Piedade, estão muito presentes na trama. Para você, qual a importância de abordar a presença colonizadora portuguesa na região e como essa herança cultural influencia a identidade dos personagens e a dinâmica da comunidade no romance?
Solange Ocker A abordagem da presença colonizadora portuguesa da herança cultural açoriana é fundamental para contextualizar a identidade dos personagens e a dinâmica da comunidade. O livro ressalta essas heranças diretamente na personalidade e nos valores dos personagens. A fé, a resiliência e a valorização das famílias, por exemplo, são aspectos centrais que derivam dessa cultura.

Qual a importância da preservação da cultura açoriana para o país; e como você acha que a literatura contribui para o processo de proteção dessa memória?
Solange Ocker A cultura açoriana é uma parte fundamental da identidade cultural de muitas comunidades no Brasil, especialmente no litoral sul do país. A literatura tem o poder de documentar e registrar essa herança e manter viva a história e as tradições que moldaram essas regiões.

.: Tropeiros: Jorge Antonio Salem exalta contribuição cultural de trabalhadores


"Todos os livros que contam a história de alguém ou algum lugar levarão os leitores a viverem aquele período histórico", afirma Jorge Antonio Salem, em entrevista. Ele explica como os brasileiros contemporâneos podem aprender com as experiências dos condutores de cargas de séculos atrás. Foto: divulgação


Quando Jorge Antonio Salem decidiu eternizar as lembranças do sogro no livro "Memórias de Um Tropeiro" (compre o livro neste link), ele percebeu que os brasileiros contemporâneos tinham muito a aprender com os trabalhadores anônimos responsáveis por explorar as regiões sul e sudeste do Brasil nos séculos passados. A resiliência perante momentos turbulentos, a crença de que seu ofício contribui positivamente para a vida das pessoas e a busca por uma existência digna para a família são algumas das características que ele descreveu na obra e dialogam com o contexto socioeconômico do mundo atual. 

Além de escritor, Jorge Antônio Salem é farmacêutico-fiscal do Conselho Regional de Farmácia do Paraná desde 1996 e mestre em Ciências da Saúde. Ele também publicou a obra "60 Anos - Uma História de Dedicação ao Conhecimento" e o livro de poemas "Poesias da Vida Cotidiana". Foi casado por 30 anos com Maura Lúcia Azevedo, filha de João Azevedo, personagens que inspiraram a publicação de Memórias de um tropeiro. Nesta entrevista, o autor reforça a importância de conhecer o movimento tropeirista e explicita o valor do ofício para as próximas gerações. Leia:


Você escreveu “Memórias de Um Tropeiro” a partir dos relatos do seu sogro. Como as lembranças dele reforçam a importância da contribuição dos tropeiros para o Brasil?
Jorge Antonio Salem - Assim como os tropeiros do passado distante levavam animais que faziam o transporte de cargas de alimentos para o estado de Minas Gerais, pois o Império proibia essa população de plantar, meu sogro também fazia o transporte de animais para outras regiões. Assim, ele contribuía para o desenvolvimento dessas regiões, fornecendo animais de carga e outros produtos de consumo.


João Boiadeiro era um homem que conhecia diversas regiões do país e citava com riqueza de detalhes alguns lugares por onde passava. Na sua opinião, por que estas memórias devem ser preservadas para a posterioridade?
Jorge Antonio Salem - Hoje, somos pessoas bem formadas pela leitura de livros que foram escritos nos séculos 19 e 20, com histórias inspiradoras. Penso que as experiências vividas pelo João Azevedo e as dificuldades que ele enfrentou durante o transporte de animais para nossas terras podem levar os leitores a refletirem sobre a vida no mundo atual. Não podemos reclamar de qualquer situação um pouco mais difícil, porque é mais fácil viver hoje se compararmos com o passado.

Você acredita que a preservação destas memórias em um livro pode contribuir para a construção de um país que reconhece seu passado? De que maneira?
Jorge Antonio Salem - Todos os livros que contam a história de alguém ou algum lugar levarão os leitores a viverem aquele período histórico. É um prazer poder levar essas histórias aos leitores para fazê-los conhecer uma atividade que pouco ocorre nos dias atuais. No século passado, as viagens dos tropeiros duravam meses, enquanto hoje elas acontecem apenas por alguns quilômetros. Acredito que os leitores, ao verem o amor pela profissão e a luta para cumprir sua missão por parte do João Azevedo, podem ser inspirados a não desistirem do que fazem e a terem a dimensão de como o trabalho deles pode contribuir para um país melhor.

O que os brasileiros de hoje podem aprender com os tropeiros do passado? Qual foi também seu principal aprendizado pessoal?
Jorge Antonio Salem - Muitas de nossas cidades foram fundadas ao longo das estradas que os tropeiros passavam. Por isso, eles deixaram um legado muito grande ao nosso país. Algumas vezes, os tropeiros conheciam alguma jovem e fixavam residência naquele local, logo tornando aquela pequena vila em uma cidade. Esses trabalhadores incansáveis também levavam notícias de muitos lugares para aquelas regiões que tinham dificuldade de acesso a meios de comunicação. Os tropeiros eram unidos, trabalhavam duro e voltavam para seus entes queridos. Esse foi o exemplo que tive na convivência com João Azevedo, que exerceu essa atividade por 30 anos e sempre voltava para sua família.


Qual a mensagem que você pretende transmitir com “Memórias de Um Tropeiro”?
Jorge Antonio Salem - Uma primeira mensagem do livro "Memórias de Um Tropeiro" apresenta o relacionamento do homem com o animal de forma respeitosa, porque os condutores de tropas transportavam os animais de maneira segura e calma. Assim, os trabalhadores tiveram que desenvolver um senso de direção e tranquilidade, para que os animais não se assustassem. Além disso, acredito que a segunda mensagem é mostrar como o país viveu e vive momentos de turbulências, que não se restringe a um período histórico específico. Assim, todos nós devemos aprender a ser tolerantes e resilientes, para atravessarmos situações difíceis de nossas vidas.

Na sua perspectiva, qual foi o papel do tropeirismo para o Brasil, não apenas numa visão macro, mas também para as famílias que garantiam sustento a partir desse trabalho?
Jorge Antonio Salem - Esse emprego ajudou de certa forma a acomodar as pessoas que não conseguiam se manter fixo em uma determinada região e que, por isso, precisavam se mudar com certa frequência. O condutor de tropas ganhou a oportunidade de viajar para diversas regiões e conseguia sustentar sua família, para que todos tivessem uma vida mais dignidade e segura financeiramente. Mas a profissão foi importante também para as pessoas que gostavam de viajar e se sentiam livres nos campos: elas podiam exercer esse ofício alinhadas à vontade delas de conhecer novos lugares.



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