segunda-feira, 22 de julho de 2024

.: Casa de Cultura do Parque inaugura o II Ciclo Expositivo de 2024


Com direção artística de Claudio Cretti, o II Ciclo Expositivo apresenta obras de Carla Chaim, Marcelo Amorim, Nino Cais, Lenora de Barros, Rosângela Rennó, Leda Catunda, Flora Leite e Mano Penalva. Na imagem, Rosângela Rennó apresenta "Nuptias Penelope Dick" (2017). Foto: Gabriela Carrera


No sábado, dia 3 de agosto, a partir das 14h, a Casa de Cultura do Parque convida todo o público para a abertura de três exposições inéditas que trazem artistas de diferentes gerações, apresentando obras em diversas mídias e criadas especificamente para os espaços da Casa. Reunindo nomes como Carla Chaim, Marcelo Amorim, Nino Cais, Lenora de Barros, Rosângela Rennó, Leda Catunda, Flora Leite e Mano Penalva, as mostras marcam o II Ciclo Expositivo de 2024 e ficam em cartaz até o dia 13 de outubro.

A exposição "A Vingança do Arquivo", na Galeria da Casa de Cultura do Parque, é uma convite dos artistas Carla Chaim, Marcelo Amorim e Nino Cais que, como curadores, convidam as artistas Lenora de Barros, Rosângela Rennó e Leda Catunda para um grande diálogo entre suas produções. A mostra é acompanhada por um texto crítico inédito da curadora e pesquisadora Ana Roman. As práticas de Carla Chaim, Marcelo Amorim e Nino Cais, embora diversas em suas trajetórias, compartilham uma sensibilidade comum aos objetos do mundo, unindo-os pela apropriação.

Nesta exposição, o arquivo é o ponto de partida, e cada artista também atua como curador, convidando outro artista para expandir o diálogo. Nino Cais convida Leda Catunda, que ressignifica objetos cotidianos; Carla Chaim convida Lenora de Barros, explorando corpo e escrita; e Marcelo Amorim convida Rosângela Rennó, que recontextualiza imagens. Juntas, suas obras questionam a autoridade documental dos arquivos e expressam a contínua busca dos artistas por ressignificações, iluminando vestígios do passado sob novas perspectivas. 

Ana Roman observa: "'A Vingança dos Arquivos' se apresenta, em certa medida, como uma mistura entre a apropriação e a dobra de elementos inscritos no passado, que se tornam objetos de fabulação de futuro; ou ainda pode ser compreendida como o desaprendizado das práticas e das categorias fundamentais às lógicas de dominação que regem os arquivos. Os artistas reunidos na exposição são, de alguma maneira, desobedientes a essas lógicas e posicionam-se como investigadores da nossa cultura visual. Eles trabalham a partir do desvio". "A Vingança do Arquivo" propõe uma reflexão profunda sobre a memória, o esquecimento e a reinvenção, convidando o público a reconsiderar a natureza dos arquivos e a autoridade das narrativas históricas.

"Sonâmbula” ocupa o Gabinete da Casa de Cultura do Parque e revela a poética singular de Flora Leite através de obras que exploram os limites entre matéria, objeto e a intangibilidade. Com trabalhos que capturam a atenção para o que é aparentemente invisível e efêmero, a individual de Flora Leite inclui obras como "Chaminé", uma torre de cigarros Marlboro empilhados, e "Celeste", um aparelho óptico que projeta a luz atmosférica no chão. Em "Alguma coisa, coisa nenhuma", a artista transforma a poeira recolhida em uma galáxia no piso da Casa, invertendo a célebre frase "Somos Todos Poeira de Estrelas". A mostra também inclui "Núcleo, magma, crosta", onde um pedaço de pão percorre o elevador da casa, em um movimento que reflete a combinação de repouso e deslocamento.

A poeta Julia de Souza, em seu texto crítico que acompanha a mostra, observa que as obras de Flora Leite transitam entre o concreto e o abstrato, provocando reflexões sobre a natureza das coisas e a linguagem. Ela escreve: "O sentido das coisas nunca é estanque - e tampouco são estanques as próprias coisas". "Sonâmbula" é um convite à imersão no universo poético de Flora Leite, que desafía o espectador a olhar para o cotidiano com novos olhos, a perceber a beleza e a poesia nos detalhes mais sutis e a refletir sobre as fronteiras entre o tangível e o intangível.

Inspirado pela memória afetiva de sua avó, que lhe ensinou a fazer flores de papel crepom, Mano Penalva celebra os saberes transmitidos pelo corpo e pelo afeto. A instalação "Crepom", criada especialmente para o “Projeto 280x1020” da Casa de Cultura do Parque,  é composta por uma videoperformance, um canal sonoro e dois grandes murais que lembram lousas, adornados com babados de crepom branco.

Penalva evoca a educação convencional, com elementos que remetem à autoridade do professor e à organização normativa do alfabeto, para, em seguida, questionar essa estrutura. A instalação sugere que o conhecimento é transmitido também pela matéria, desafiando a separação entre intelecto e corpo, arte e artesanato, masculino e feminino, escrita e oralidade. A curadora e pesquisadora Mariana Leme, em seu texto crítico que acompanha a mostra, contextualiza "Crepom" dentro da história da arte ocidental, marcada pela divisão entre natureza e cultura, arte e artesanato.

“Uma educação pela pedra, ou pelas flores, pode significar uma bem-vinda contaminação cultural, para que possamos aprender da matéria, e reconhecer que também somos feitos dela”. Mariana Leme ressalta que a instalação de Penalva busca reparar essa fratura, resgatando uma educação pela materialidade e pela beleza das coisas. Através de suas flores de crepom, Penalva chama a atenção para a importância de uma educação que valoriza o contato com a matéria e a beleza, em contraste com a primazia do intelecto que dominou a história da arte ocidental.

Penalva nos convida a aprender com a matéria, a reconhecer nossa conexão com ela e a valorizar os saberes que atravessam gerações. A exposição é uma oportunidade de refletir sobre nossas próprias práticas educacionais e culturais, promovendo uma contaminação cultural bem-vinda e necessária.

Sobre a Casa de Cultura do Parque
A Casa de Cultura do Parque é um novo centro cultural que busca aprofundar o vínculo das pessoas com a cultura contemporânea através de oportunidades de aprendizado e vivências criativas. A partir das exposições de artes visuais, a Casa promove uma série de atividades educativas. De shows a debates, de visitas escolares a mostras de cinema, a Casa de Cultura do Parque tem como seu propósito contribuir para uma sociedade mais cidadã, mais diversa e mais inclusiva.


Serviço
II Ciclo Expositivo 2024
"A Vingança do Arquivo"
Curadoria: Carla Chaim, Marcelo Amorim e Nino Cais
Artistas: Carla Chaim, Marcelo Amorim, Nino Cais, Leda Catunda, Lenora de Barros e Rosângela Rennó
Texto crítico: Ana Roman

"Sonâmbula"
Artista: Flora Leite
Texto crítico: Julia de Souza

"Crepom"
Artista: Mano Penalva
Texto crítico: Mariana Leme

Aberturas: sábado, 3 de agosto, das 14h00 às 18h00
Visitação: de 3 de agosto a 13 de outubro de 2024
Horário: quarta a domingo, incluindo feriados, das 11h00 às 18h00
Endereço: Casa de Cultura do Parque | Av. Prof. Fonseca Rodrigues, 1300 – Alto de Pinheiros / São Paulo
Realização: Casa de Cultura do Parque
Direção artística: Claudio Cretti

.: Renato Brunello une tradição italiana e cultura brasileira na Arte132 Galeria


Com 22 obras inéditas e curadoria de Laura Rago, a mostra apresenta a versatilidade da madeira e do mármore, incorporando novas abordagens ao seu manuseio. Na imagem, Renato Brunello – Gufo rosa [Coruja rosa] (2024) | Foto: Everton Ballardin


A partir do dia 10 de agosto, a Arte132 Galeria apresenta a exposição "Transmutação e metáforas do inconsciente" do escultor italiano Renato Brunello, com curadoria de Laura Rago. Em sua segunda mostra individual na galeria, a produção de Brunello reflete a fusão entre a tradição escultórica italiana e a cultura brasileira. A mostra com 22 obras, todas inéditas, traz a adaptabilidade dos materiais utilizados, abrangendo novas concepções sobre seu manuseio.

Desde meados dos anos 1970, Renato Brunello, radicado no Brasil, incorporou em sua produção artística as influências da arte e da cultura popular nordestina, como o artesanato e o folclore, além das características da arquitetura vernacular pelo uso de materiais locais e técnicas construtivas tradicionais. Formado na Escola de Artes e Ofícios, em Veneza, Brunello trabalha com mármore e madeira em suas criações, transgredindo a maneira convencional de utilizar esses materiais ao incorporar a força expressiva da técnica e a adequabilidade do trabalhador de ofício. "A escultura deve necessariamente se relacionar com a dinâmica do espaço, articulando volumes de maneira a criar uma interação fluida e expressiva com o ambiente", diz Brunello.

As obras de Brunello rejeitam a classificação tradicional da arte, que se apoia na separação do abstrato versus o figurativo ou engajamento versus "arte pela arte". Nelas, o elemento abstrato evoca o figurativo, ao mesmo tempo que a beleza da forma provoca reflexões. Cada peça conta uma história que se revela a quem observa. A apreciação da arte contemporânea exige essa imersão no universo do artista. "A ocupação do espaço é vital para gerar pontos dinâmicos e dialogar eficazmente com o próprio espaço", afirma o artista, comparando a composição espacial da escultura a um passo de dança.

Nesta exposição, as produções proporcionam leituras para a compreensão da intenção criativa de Brunello, consciente ou não. Essa visão integra a subjetividade do artista à exterioridade do mundo. As esculturas de pequeno porte, como "Gufo Rosa" (2024), carregada de camadas de significado metafórico, trazem à memória a coruja de Minerva, presente na mitologia romana, e evocam a ideia de renovação e transformação constante. A escolha dos materiais, como mármore rosa de Portugal e madeiras massaranduba e garapeira, evidencia a habilidade técnica do artista, ressaltando a ambiguidade das texturas alcançadas.

"Conceitos relativos a uma ampliação do campo da escultura são perceptíveis no eixo da produção axiomática do artista, que passou a abranger novas concepções, flertando com a metáfora e o simbólico", escreve Laura Rago. "O resultado são obras tridimensionais que evocam a fauna e a flora do Brasil, ao mesmo tempo que ressaltam a expertise do artista no manejo da matéria”, completa a curadora.

Renato Brunello continua a explorar a relação entre o vazio e o cheio em suas esculturas, como em "Contorção" (2005) e "Ponto e Contraponto" (2023), criando uma interação entre presença e ausência. Essa interação convoca o espectador ao deslocamento corpóreo e imaginativo, permitindo uma experiência estética que transcende a simples observação visual. Suas esculturas podem ser experimentadas como um sistema de comunicação, que produz e reproduz signos a partir do seu imaginário.


Serviço
Exposição "Transmutação e Metáforas do Inconsciente"
Local: Arte132 Galeria
Endereço: Avenida Juriti, 132, Moema, São Paulo - SP
Abertura: 10 de agosto de 2024
Período expositivo: 10 de agosto a 26 de outubro de 2024
Visitação: segunda a sexta, das 14h00 às 19h00. Sábados, das 11h00 às 17h00
Entrada gratuita

.: Últimos dias da mostra "Spin Machine" do artista Pascal Dombis na Dan Galeria


Em cartaz até 27 de julho, a mostra apresenta um conjunto de 37 obras digitais, com efeitos óticos e cinéticos combinados, incluindo uma instalação inédita inspirada em "Dream Machine" de Brion Gysin. Na imagem "Pascal Dombis – The End of ar its Not the End" (2024)| Foto: acervo do artista


A individual "Spin Machine", do renomado artista francês Pascal Dombis, ficará em exibição na Dan Galeria Contemporânea até o dia 27 de julho. Com curadoria de Franck James Marlot, a mostra reúne um conjunto de 37 obras, incluindo uma instalação inédita, que deu nome à exposição, inspirada na icônica "Dream Machine" (1959), de Brion Gysin

Conhecido por suas formas visuais imprevisíveis e dinâmicas, Dombis desafia convenções sociais e temporais, propondo uma nova visão interativa que incita reflexões sobre o futuro e a memória por meio de colagens digitais provocativas e algoritmos, combinando efeitos óticos e cinéticos em suas produções, ao mesmo tempo, em que proporciona uma experiência hipnótica por meio do movimento giratório de caixotes que refletem tramas lenticulares.

“A exposição 'Spin Machine' é uma proposta de experiências de Pascal Dombis através das quais ele capta os sinais de uma falência futura analisando a proliferação desmedida de sequências transpostas para suas colagens digitais a fim de conferir, por meio de uma densidade estrutural abissal, um eco à sua própria destruição”, explica Franck James Marlot, curador da mostra.

Desde a década de 1990, Pascal Dombis vem capturando a essência das transformações pós-digitais. Sua trajetória artística, que iniciou com a descoberta das possibilidades da informática durante seus estudos em Boston, o levou a explorar algoritmos como ferramentas criativas. Após integrar o grupo de artistas fractalistas, Dombis concentrou-se em experimentar além desse tema, utilizando repetições abundantes para criar formas geométricas e tipográficas por meio de obras digitais multifacetadas.

As obras de Dombis, especialmente as séries "Post Digital Mirror" e "Post Digital Surface", destacam-se pela sua capacidade de criar reflexos digitais vívidos. Sua técnica lenticular, adotada a partir dos anos 2000, oferece uma experiência sensorial única, desafiando o espectador a explorar diferentes pontos de vista.

A instalação interativa "The End of ar its Not the End", uma das mais notáveis de Pascal, encerra a mostra convidando os espectadores a refletir sobre o futuro da arte e da sociedade. Composta por mais de 20.000 imagens retiradas de pesquisas no Google sobre "O fim da arte", a obra cria uma narrativa contínua que adere à parede como uma pele, revelando o invisível através do movimento do espectador. Dombis, como um verdadeiro lançador de alerta, questiona as mudanças estruturais da sociedade, oferecendo uma obra atravessada pela noção do tempo em todas as suas dimensões, debatendo temas como linguagem, saturação de informação e a crescente influência da sociedade digital.


Sobre o artista
Pascal Dombis
formou-se em engenharia pela Universidade de Insa em Lyon, França, antes de optar por seguir uma carreira artística. Sua decisão o levou à Tufts University, onde completou uma série de aulas de arte computação em 1987.

Pascal Dombis é famoso por criar formas visuais imprevisíveis e dinâmicas que exploram as complexidades dos paradoxos visuais por meio do uso de processos tecnológicos "excessivos". Ao longo de sua carreira, Dombis vem utilizando computadores e algoritmos para gerar repetições elaboradas de processos simples, que reproduzem, de forma computacional, sinais geométricos ou tipográficos.

Essas estruturas de desestruturação e ambientes irracionais perturbam, engajam e inspiram o espectador, apresentando paradoxos fascinantes entre o controle mecânico e a aleatoriedade caótica que os produz. Em 1988, Pascal Dombis realizou sua primeira exposição no exterior, nos Estados Unidos. Desde então, o artista está ganhando cada vez mais reconhecimento mundial. Suas exposições individuais ao redor do mundo incluem Claudio Bottello Contemporary na Itália, RAYGUN Art Projects na Austrália e Musée em Herbe na França. A seguir algumas exposições coletivas que participou: Kunstpalast Museum, Dinamarca, Velchev Art Museum na Bulgária, The Page Gallery na Coreia do Sul e na Universidade da Geórgia nos EUA. Notavelmente, Dombis foi contratado para criar obras públicas monumentais para a cidade de Perth, Austrália e no Ministério da Cultura na França. O artista atualmente vive e trabalha em Paris.

Serviço
Exposição "Spin Machine"
Até dia 27 de julho
Dan Galeria Contemporânea - Rua Amauri, 73, Jardim Europa, São Paulo
Horário: das 10h00 às 19h00, de segunda a sexta; das 10h00 às 13h00, aos sábados.
Entrada gratuita
Classificação indicativa: livre
Acesso para pessoas com mobilidade reduzida

.: "Mitos, Contos e Alegorias", exposição de Gabriella Garcia, na Galeria Lume


Na imagem, a obra "Anjo Gabriellico 1" (2024). Foto: Ana Pigosso

Com obras multimateriais que tensionam modelos e narrativas históricas perpetuadas através de símbolos e iconografias, Gabriella questiona não apenas os limites da imagem votiva, mas também o da devoção à imagem enquanto ícone. No sábado, dia 3 de Agosto, acontece a abertura de "Mitos, Contos e Alegorias", individual da artista Gabriella Garcia na Galeria Lume. Com texto curatorial de Igi Ayedun, a exposição ocupa a galeria com 27 obras, que se dividem entre esculturas em concreto, cerâmica, telas em grande formato e pinturas sobre madeira. Garcia também apresenta uma obra da série “Jurei Mentiras” desenvolvida desde 2020.

Na exposição, Gabriella retoma elementos da iconografia greco-romana, recriando-os por meio de inteligência artificial para provocar um desequilíbrio hierárquico. Aqui as imagens são abstraídas de seus contextos originais, editadas, difundidas e finalmente deformadas por processos que as anulam e as modificam. Todas as obras elaboradas através de inteligência artificial são desenvolvidas como esculturas físicas através de materiais históricos e inéditos na produção de Gabriella. Os resultados das execuções de comandos inseridos pela artista incorporam multiplicidades de correntes estilísticas e formam novas figuras estranhas, insólitas e muitas vezes, irreconhecíveis, e é nesse momento em que a imagem, enquanto objeto “desfigurativo”, completa sua realização e se torna dependente de interpretações e não mais de intenções.

Em continuidade ao conceito de farsa abordado em sua última individual na galeria, "Esse sonho pode nunca acontecer" em 2021, na qual exibia obras carregadas de símbolos da história da arte clássica, Gabriella traz agora questionamentos e reflexões a respeito do pensamento hegemônico eurocêntrico, aliado às astúcias das imagens religiosas.

Em alguns trabalhos a artista levanta imagens históricas coloniais, como na obra "Contra-História"  que através de uma gravação a laser sobre pedra de mármore, apresenta a reprodução da pintura “Primeira Missa” de Victor Meirelles a qual foi  financiada pelo império de Pedro ll com  o intuito de perpetuar o que fora uma imagem forjada que encenava de forma pacífica esse processo inicial referente a catequização dos povos originários durante o período colonial. Junto da obra, encontra-se disponível ao espectador uma ferramenta que traz a oportunidade não só de apagar mas também de adicionar à aquela cena o que for de sua vontade, tecendo assim, uma nova história.

Ao adentrar os espaços ocupados por Gabriella, o visitante é confrontado com uma diversidade de peças iconográficas jamais vistas. Ora figurativas, ora abstratas, os novos símbolos instigam uma reavaliação da história: o que é o real? O que determina que uma imagem seja digna de adoração? Onde está a fronteira entre mito, conto e alegoria?


Sobre a artista
Gabriella Garcia, é uma artista autodidata, cuja prática transita entre escultura, pintura e instalação. O trabalho de Gabriella compreende não apenas o lugar onde está como também aquilo de onde deriva. Figuras recortadas tomam o espaço a partir de trabalhos onde diversos materiais dialogam na construção de peças que possuem, em suas composições, relações com o cênico, com arquitetura e que propõe perspectivas de uma nova história a partir de imagens e materiais, muitas das vezes resgatados e restaurados pela artista. Na construção de uma imagem, seja ela bi ou tridimensional, Garcia trabalha em um contínuo esforço de fusão: uma incessante busca de assimilação de materiais que, em suas essências, trazem na sua materialidade dados históricos e novas idéias de representação a partir de uma proposta de descontinuação de farsas históricas. Os trabalhos colocam à prova um exercício vívido de confronto entre gesto e natureza; manipulação vs reestruturação, criando um jogo onde o que se entende como terreno é a possibilidade singular que o gesto artístico possui de reescrever nossa própria história.


Serviço
Exposição "Mitos, Contos e Alegorias", de Gabriella Garcia
Texto curatorial: Igi Ayedun
Local: Galeria Lume
Abertura: 3 de agosto, sábado, das 12h00 às 19h00
Período expositivo: 3 de agosto de 2024 a 7 de setembro de 2024
Horário de visitação: de segunda a sexta-feira, das 10h00 às 19h00; sábados, das 11h00 às 15h00
Endereço: Rua Gumercindo Saraiva, 54 - Jardim Europa, São Paulo - SP
Entrada gratuita 

.: Esther Bonder em "Eterno Retorno", até dia 31, na Galeria Marilia Razuk


Vista geral da mostra de Esther Bonder na Galeria Marilia Razuk. Foto: Filipe Berndt / Divulgação

A pesquisa da artista se dá sobretudo através do olhar para a natureza, e de um questionamento do espaço e tempo, sobre algo etéreo que transcende a matéria. Com um olhar voltado para o sensível, as pinturas idílicas de Esther Bonder que compõem "Eterno Retorno" nos convidam a contemplação ao expor a ciclicidade e a fluidez das águas nas representações de rios, mares, geleiras, e suas esculturas de bolhas de ar que nos induzem a um deslocamento espacial para uma melhor contemplação.

Nas palavras da curadora da exposição Ana Carolina Ralston: “Um movimento circular e repetido de acontecimentos que voltam a ocorrer de forma a perpetuar a existência, como explica a teoria de Friedrich Nietzsche (1844-1900) que dá nome à exposição. Contudo, o questionamento que nos serve de reflexão é também como transformar trechos dessa repetição sistemática para que possamos seguir em direção a novas revoluções”. Esther Bonder apresenta em Eterno retorno cerca de 30 pinturas e algumas esculturas realizadas com malha metálica.

Artista visual Esther Bonder na Galeria Marilia Razuk. Foto:Denise Andrade / Divulgação

Sobre Esther Bonder
A obra da artista plástica carioca Esther Bonder envolve cenas poéticas permeadas por paisagens idílicas repletas de luz e formas botânicas. Seu trabalho deve ser vivenciado pela observação e reflexão. A pintura dela questiona o espaço e tempo da experiência sensível e busca um caminho de introspecção. Utilizando-se de diferentes mídias como objetos, esculturas, instalações e principalmente, pintura e desenho, a partir de 2010, dedica-se à construção de uma narrativa que remete a um universo onírico. Luz e formas fantásticas carregadas de efeitos vibrantes funcionam como um portal para trazer o sonho para dentro da tela. 

Esther produz pinturas pequenas, de médio ou grande formato, a depender da natureza do tema abordado. Na sua série mais recente, “Luz do Sol”, cria pequenas paisagens com cores inesperadas e cítricas que remetem a um lugar iluminado por um sol que faz parte de alguma das milhões de estrelas do universo. As pinturas ilustram com refinamento poético um mundo onde toda a matéria se relaciona. O centro das investigações de sua prática artística consiste em apontar o horizonte, ou a sobreposição de horizontes para extrair do relaxamento do olhar a sensação de perder-se na tela, lidar com o desconhecido, a transcendência do pensar e a imprevisibilidade que permeia o mundo da vida.

Nascida no Rio de Janeiro, em 1963, Esther Bonder trabalhou com Roberto Burle Marx e executou a obra do artista e paisagista nas colunas da sinagoga da Congregação Judaica do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1994. Nos últimos anos participou de diversas coletivas e realizou algumas exposições individuais, com destaque para A vida sensível, realizada em 2023, também com curadoria de Ana Carolina Ralston, no Centro Cultural Correios de São Paulo, e no ano anterior, 2022, realizou a individual Luz do Sol, com curadoria de Dudu Garcia, no Centro Cultural Correios Niterói, RJ.


Serviço
Exposição "Eterno Retorno", de Esther Bonder
Curadoria Ana Carolina Ralston
Exposição: até dia 31 de julho de 2024 (prorrogada)
Local: Galeria Marilia Razuk – Sala 2
Rua Jerônimo da Veiga, 62 – Itaim Bibi, São Paulo
Terça a sexta-feira, das 10h30 às 19h00. Sábado, das 11h00 às 16h00.

domingo, 21 de julho de 2024

.: Entrevista com Adriano Dolph, autor do livro "Fevereiro em Chamas"


"Durante anos uma lenda urbana foi divulgada até por veículos jornalísticos, de que teriam sido encontradas em um elevador, e que os corpos estavam carbonizados. Isso nunca ocorreu", comenta Adriano Dolph em entrevista exclusiva para o portal Resenhando.com.

Por Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com. 

O livro “Fevereiro em Chamas” (compre neste link), do jornalista Adriano Dolph, é dramático e revelador, O autor percorre um longo caminho relembrando as três tragédias que abalaram o Brasil no mês de fevereiro: edifícios Joelma, Grande Avenida e Andraus. Com uma abordagem humana, sensível e jornalística, mostra a dor de familiares; ecos, cicatrizes e consequências dos incêndios. A partir daí, ele conta histórias de força e persistência. Dolph conduziu uma grande investigação sobre o tema, percorrendo arquivos de fóruns, jornais, corporações e até da ditadura militar.

Devido à abordagem documental, a obra literária ganhou uma segunda fase, agora em formato de audiovisual em um canal na internet. O documentário apresentado em série traz uma abordagem ampla e que abre espaço para novos registros, agora em audiovisual vídeos inéditos. “Fevereiro em Chamas” também está disponível no YouTube  (@fevereiroemchamas) e também no Spotify - Edifício Joelma - 50 anos em busca da verdade.

Nascido em 1975 em São Paulo, Adriano Dolph, é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, com Pós-Graduação em Comunicação. A Iniciou em 2004 uma série de pesquisas e entrevistas para o livro “Fevereiro em Chamas”, contribuindo também para um trabalho acadêmico sobre narrativas midiáticas e opinião pública na cobertura dos incêndios do Edifício Joelma e da Boate Kiss. Atualmente, atua como comentarista esportivo na plataforma Brasileirão Play, além de ser apresentador, criador de conteúdo digital e mestre de cerimônias.


Resenhando.com - O que motivou você a escrever o livro "Fevereiro em Chamas"?
Adriano Dolph - Este assunto dos grandes incêndios na cidade de São Paulo sempre me chamou a atenção. Ainda jovem, buscava referências e textos, informações específicas sobre o tema, e era muito difícil encontrar reportagens apuradas e checadas. Como exemplo, cito a questão das 13 vítimas não identificadas que foram sepultadas no cemitério São Pedro. Ou então a questão dos réus que foram julgados. Resolvi arregaçar as mangas e correr atrás das informações. Foram 15 anos de trabalho checando mais de 10 mil páginas de documentos, fotos e arquivos.

Resenhando.com - Em que as tragédias do Edifício Joelma, Grande Avenida e Andraus - e também a tragédia da Boate Kiss, podem dizer a respeito da segurança contra incêndios e nas políticas públicas do Brasil?
Adriano Dolph - 
Importante salientar que nos incêndios do Andraus e Joelma, ainda estava em vigência um Código de Obras datada da década de 1930, ou seja, muito obsolete e que não atendia as demandas do crescimento vertical de uma cidade como São Paulo. Em 1972, por exemplo, não existiam noções de brigada de incêndio e primeiro combate ao fogo nas edificações, o que era um total absurdo para um prédio como o Andraus, com mais de 25 andares. Em 1981 ocorreu o segundo incêndio no Edifício Grande Avenida, onde foram constatadas diversas irregularidades nas obras de reconstrução após o primeiro incêndio, em 1969. Dezessete pessoas perderam a vida em decorrência, justamente, da falta de uma escadas com isolamento para o fogo. Mesmo neste século presenciamos diversas tragédias do relacionadas ao fogo, como na Boate Kiss. Todas tem como coincidência alguns pontos: o desleixo das autoridades ao fiscalizar edificações, ao exigir o cumprimento das regras e da lei. E a imperícia de funcionários ou responsáveis.

Resenhando.com - Essas tragédias poderiam ser evitadas - ou você acredita no poder imutável do destino?
Adriano Dolph - 
Em termos técnicos, de fiscalização e prevenção, com toda certeza. Infelizmente o Poder Público falhou, e obviamente, os responsáveis pelos edifícios, ao designar pessoas inabilitadas para desempenhar funções que exigiam conhecimento prévio.


Resenhando.com - Qual das tragédias pesquisadas por você o impactou mais?
Adriano Dolph - Todas tiveram um impacto muito forte, pois em todos os incêndios ocorreram histórias de dor e sofrimento. Mas é inegável que o incêndio do Edifício Joelma ocorre um impacto maior, especialmente pelo número de perdas elevado, e pela dimensão das imagens, fotos e videos.

 
O que podemos aprender a respeito sobre essas tragédias nacionais e o que fazer para evitá-las?
Adriano Dolph - 
Onde há prevenção, treinamento, e fiscalização, as chances de ocorrerem um grande incêndio diminuem consideravelmente. Seja o Poder Público, seja os responsáveis pelas edificações, fica a lição de que o desleixo pelas normas e regras pôde significar em uma grande tragédia.

 
Realizar as pesquisas para três tragédias arrebatadoras demanda tempo. Quando percebeu que era a hora de parar de pesquisar para começar a escrever o livro?
Adriano Dolph - O livro foi escrito e publicado, mas ainda há outras histórias sendo apuradas e checadas para uma futura edição revisada, ou um novo livro sobre o edifício Joelma. No caso de "Fevereiro em Chamas", o timing foi o marco dos 50 anos do incêndio do edifício Andraus. Costumo falar que o jornalista nunca deve parar de pesquisar e apurar. Essa é a função da profissão.

 
Na investigação sobre o tema, você percorreu arquivos de fóruns, jornais, corporações e até da Ditadura Militar. Como a ditadura militar pôde ajudar a contar essa história?
Adriano Dolph - 
Os três incêndios ocorreram em um período de perseguição a opositores, onde foram cassados direitos políticos, e havia restrição do que poderia ser ou não publicado. E obviamente tive muita atenção desse contexto em relação aos eventos. Na produção do livro descobri documentos sigilosos de que todos os incêndios chegaram a ser investigados como atentados subversivos, sem que nada tenha sido provado. Pessoas foram conduzidas a delegacias e órgãos repressores para depoimentos. Mas ainda há muito a ser desvendado especialmente no incêndio do edifício Joelma.

 
Há alguma informação que encontrou, durante as pesquisas, que o surpreendeu?
Adriano Dolph - 
A informação mais importante foi em relação aos 13 corpos não identificados que foram enterrados em Vila Alpina. Durante anos uma lenda urbana foi divulgada até por veículos jornalísticos, de que teriam sido encontradas em um elevador, e que os corpos estavam carbonizados. Isso nunca ocorreu. Através de uma intensa apuração e pesquisa, descobrir que estas pessoas faleceram em circunstâncias, dias e locais absolutamente diferentes. Jamais foram encontradas em tal elevador. E no livro apresento todos estes dados, com dez possíveis nomes destas pessoas.

 
Você lidou com um tema muito pesado. Logo, essas pesquisas mexeram emocionalmente com você? 
Adriano Dolph - É impossível em todo o processo não se emocionar. Obviamente, trabalhando na apuração, checagem, entrevistando, escrevendo, procurei sempre me distanciar para ser o mais neutro e imparcial possível. Mas em diversos momentos me emocionei. A dor de quem passou por uma tragédia destas é gigantesca. E todo contexto de arquivos, fotos e relatos é muito doloroso.

 
O que a série documental derivada de "Fevereiro em Chamas" complementa o livro, e o que há no livro que não tem na série?
Adriano Dolph - A série contextualiza o livro. Traz imagens inéditas que foram garimpadas nas redes sociais e na internet. E está sempre em apuração e checagem de novas informações. Por isso, considero que seja a primeira websserie de cunho jornalístico, com apuração e checagem, sem o ranço do sensacionalismo e das lendas urbanas.



.: Karine Asth conta detalhes sobre a escrita de "Dentro do Nosso Silêncio"


"S
into que o romance não existe sem a complexidade do ser humano", afirma escritora Karine Ash sobre "Dentro do Nosso Silêncio". Romance publicado pela editora Bestiário mergulha nas emoções intensas de um casal em busca da maternidade e da superação do trauma. Foto: Lucas Soares

No emaranhado de desafios e expectativas que envolvem o caminho para a maternidade, o livro "Dentro do Nosso Silêncio" (compre o livro neste link), lançado pela editora Bestiário, emerge como uma obra marcante, conduzida pela sensibilidade da escritora Karine Asth. Vencedor do Prêmio Jabuti de 2023 na categoria Romance de Entretenimento, o seu primeiro livro narra, através da história de Ana e Samuel, os pormenores emocionais daqueles que se autodenominam tentantes, pessoas que estão em busca do sonho da maternidade. 

"Dentro do Nosso Silêncio" lança luz sobre a dolorosa jornada enfrentada por casais que anseiam pela chegada de um filho, explorando cada reviravolta do processo com uma sinceridade tocante. Desde o primeiro teste negativo até as técnicas mais avançadas para a concepção, os leitores são levados a uma montanha-russa de emoções, onde cada página revela uma nova camada da experiência humana. Nesta entrevista, Karine Asth nos conduz pelos bastidores de sua obra, compartilhando seu processo criativo e o impacto da escrita em sua vida. 


Se você pudesse resumir os temas centrais do livro, quais seriam?
Karine Asth - Os principais temas são o processo de tentar engravidar, o sonho da maternidade, a falta de controle sobre algumas escolhas, a frustração e os recomeços.


O que te motivou a escrever o livro?
Karine Asth - Eu havia passado recentemente pelo processo de tentante. Quando decidi escrever um livro, esse tema ainda estava muito forte na minha vida. Eu precisava falar sobre isso. O processo se deu por meio da escrita e reescrita. Sempre lapidando o texto. Em determinado momento, entendi que muitas vezes menos é mais e, por isso, exclui alguns capítulos inteiros. Por entender, que deixaria a minha narrativa mais forte. Criei uma rotina, e através dela procurei manter a disciplina e o foco, o que me ajudou muito. O processo de escrever o livro durou em torno de dois anos. Depois passei seis meses revisando meu texto. Só então o submeti à leitura crítica e revisão. 


Em sua análise, quais as principais mensagens que podem ser transmitidas pelo livro?
Karine Asth - Acho que o livro pode impactar de duas formas diferentes. Àqueles que nunca tiveram dificuldade para engravidar, gera uma reflexão sobre o quanto é errado e inconveniente a pressão da sociedade sobre os casais para que tenham filhos. Sem respeitar o tempo ou a vontade mesmo do casal. E àqueles que passaram por esse processo, gera uma identificação com a história. 


Por que escolher o gênero adotado? 
Karine Asth - Porque meu desejo era ser escritora de romances ou novelas. Escrevo contos também, mas o que mais me motiva são as histórias longas, cheias de complexidade. Não que o conto não possa ser complexo, mas sinto que o romance não existe sem a complexidade do ser humano. 


O que esse livro representa para você? Você acredita que a escrita do livro te transformou de alguma forma? 
Karine Asth - Esse livro representa a maior decisão na minha vida, que foi me dedicar à escrita e poder dizer que eu sou uma escritora. Não porque ganhei o prêmio ou porque tenho um livro publicado, mas porque foi a partir dele que tudo começou pra mim. Com certeza esse livro me transformou de alguma forma sim. Passei a me sentir mais completa e mais feliz com o que faço. 


Quais são as suas principais influências artísticas e literárias? Quais influenciaram diretamente a obra?
Karine Asth - Tenho grande admiração pela escrita da Carol Bensimon e a do Ian McEwan. Pelo tema que escolhi, não tive influência de nenhuma outra obra. Mas pela escrita em si, volta e meia eu recorria ao livro de ambos para reler algum trecho que se assemelhava com o que eu gostaria de fazer.


Como você definiria seu estilo de escrita? Que tipo de estrutura você adotou ao escrever a obra?
Karine Asth - Acho que meu estilo é de uma escrita mais simples e direta. A estrutura do livro foi através de capítulos alternados entre presente e passado com a narração essencialmente da Ana. Em dois ou três capítulos, dei voz ao Samuel. 


Você escreve desde quando? Como começou a escrever?
Karine Asth - Desde os meus 11 anos, eu costumava escrever cartas. Poucos anos depois, comecei a escrever em diários. A escrita de contos e do romance veio só há poucos anos, quando entrei pela primeira vez numa oficina de escrita com Raimundo Carrero. 


Você tem algum ritual de preparação para a escrita? 
Karine Asth - Posso dizer que meu único ritual é ouvir música enquanto escrevo. Geralmente escuto instrumental. Comecei a ouvir Ludovico Einaudi e ele passou a ser essencialmente minha playlist. Não costumo colocar metas. Posso escrever dois parágrafos ou um capítulo inteiro.


Quais são os seus projetos atuais de escrita? O que vem por aí?
Karine Asth - O projeto do meu segundo romance está pronto. Na verdade, estava definindo ainda alguns detalhes em torno de personagens e história. E agora pretendo me dedicar essencialmente a este projeto.

.: Giuliano Andreoli pela fantasia latino-americana: autor desconstrói narrativa


"Se J.R.R. Tolkien tivesse sido brasileiro, “O Senhor dos Anéis” não contaria com os elementos presentes no livro", afirma Giuliano Andreoli. Escritor de "Crônicas de Ruamu: O Destino de Eneim", Giuliano Andreoli debate sobre temas comuns à população da América do Sul, como escravidão, colonização e ditaduras. Foto: divulgação / Fabio Zambom


Talvez você esteja acostumado a livros de alta fantasia com reinos longínquos e brigas pelo trono porque, de fato, são temas importantes para a população europeia. Mas o que Giuliano Andreoli propõe em "Crônicas de Ruamu: o Destino de Eneim" (compre neste link) é a aproximação dos leitores latino-americanos de seus próprios contextos de vida. Na obra, não existem conflitos para definir quem vai ter a coroa, mas questões como escravidão, colonização, racismo, tensões políticas e ditaduras, - tudo isso em um continente multirracial -, são alguns dos assuntos abordados pelo autor entre as páginas do livro.

Para o escritor e professor universitário, o processo de colonização internalizou a ideia de que o hemisfério Sul, mais especificamente a América e a África, era lar de povos sem cultura antes da chegada dos europeus. “Eu creio que isso tem a ver com o fato de muitas vezes não olharmos para o nosso passado, a nossa mitologia e a nossa cultura como uma fonte também fértil para criarmos histórias de ficção”, explica o autor. 

Giuliano Andreoli é professor universitário, mestre em Educação e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em Pedagogias do Corpo, tem uma formação multiartística nas áreas da dança, teatro, circo e artes marciais. É também pesquisador dessas artes em intersecção com a Educação, e possui diversas publicações de artigos em periódicos científicos na área dos estudos socioculturais.

Na literatura assina o livro “Dança, Gênero e Sexualidade: narrativas e Performances” (2019), pela editora Apris. Na área de ficção, publicou os contos “Os Espíritos do Deserto”, na Antologia “Guardião das Areias” (2023), e “Wendigo”, na Antologia “Sangue e Prata” (2024), ambos pela editora Medusa. Publicou ainda “Horror Noturno”, na Antologia “Chamado das Sombras” (2024), pela editora Dark Books. Nesta entrevista, confira mais reflexões sobre a importância da descentralização de narrativas e da busca por uma identidade latino-americana na literatura.


“Crônicas de Ruamu: O Destino de Eneim” constrói uma fantasia com elementos das mitologias de culturas latino-americanas. Que mitos você abordou com mais profundidade na obra?
Giuliano Andreoli - 
A história não é diretamente sobre os povos indígenas, mas sobre um continente multirracial (como o Brasil), com alguns povos de origem estrangeira e outros nativos, alguns vivendo em grandes cidades e outros em contato com a natureza. Mas a cultura indígena, sobretudo a tupi-guarani, foi a referência para alguns desses povos, com os quais os povos que vivem nas grandes cidades têm que lidar. Assim, primeiramente, o leitor perceberá referências aos mitos das cidades perdidas da Amazônia, que foram uma invenção dos colonizadores espanhóis e portugueses, vistas como fontes de grandes tesouros, mas que, nesta obra, são nações tecnologicamente avançadas que existiram no passado. Primeiramente, os nomes de algumas nações (Eneim, Manoa, Paititi, etc) foram inspirados nos nomes dados ao Eldorado, que eram nomes que os colonizadores tomaram de certas nações indígenas reais. Em segundo, a mitologia indígena aparece na figura dos Kurupis (derivado de Curupira), dos Quinametzins e dos Tupãs, que, na obra, são raças não-humanas, de grande sabedoria e poder, já dadas como extintas, mas cujos remanescentes ainda vivem nas florestas e nas matas.


Para você, qual a importância de aproximar a literatura fantástica dos aspectos culturais da América Meridional? Por que descentralizar essas narrativas eurocêntricas?
Giuliano Andreoli - 
A alta fantasia produzida por autores anglo-saxões bebe das fontes históricas e mitológicas de seus países. E nós, latino-americanos, consumimos muito esse tipo de histórias. Assim, temos o nosso imaginário povoado por elementos mitológicos ou históricos da Europa, mas muito pouco nas nossas próprias culturas e mitos.


Por que descentralizar essas narrativas eurocêntricas?
Giuliano Andreoli - 
Apesar de já haver algumas obras que fogem a essa regra, no geral, na América Latina, a alta fantasia me parece ainda muito referenciada nos autores canônicos europeus. Porém, isso não faz sentido, se pararmos para pensar bem, pois a função básica da fantasia é dar asas à imaginação. Então, por que ficar presa a um modelo? Eu creio que se J.R.R. Tolkien tivesse sido brasileiro, “O Senhor dos Anéis” não contaria com os elementos presentes no livro. Ele desenhou o seu universo dessa forma por ser europeu. Mas continuamos muito presos ao modelo de universo construído por ele. Uma questão que eu acho que influencia nisso é que a colonização impregnou em todos nós a falsa ideia de que, aqui no hemisfério sul (América e África), nós tivemos povos sem cultura e sem história, e que a história da Europa constituía a grande história universal da humanidade. Eu creio que isso tem a ver com o fato de muitas vezes não olharmos para o nosso passado, a nossa mitologia e a nossa cultura como uma fonte também fértil para criarmos histórias de ficção. Daí os Elfos, os Dragões, os Orcs e outros mitos europeus nos parecem sempre mais atrativos. Mas, através da ficção, eu acredito que é possível termos outro tipo de relação com o rico fundo cultural e mitológico latino-americano.


O que os leitores podem entender e aprender ao se aprofundarem nessas histórias que são mais próximas dos contextos em que vivem?
Giuliano Andreoli - 
Histórias de alta fantasia visam o lazer através do escape momentâneo da realidade concreta. Mas elas também representam em suas narrativas questões profundas sobre a vida, a natureza humana, a honra, a guerra etc. E a maneira como isso é feito, na narrativa, pode refletir aspectos do mundo social onde o autor e os leitores vivem. Por exemplo, na alta fantasia anglo-saxã um tema recorrente são as disputas entre linhagens de reis pelo direito ao trono. E isso acontece porque tem a ver com a história nacional dos países europeus. No Brasil, nós não temos uma história política ligada a isso, nem sequer a monarquia tem o mesmo peso para nós. No caso da minha história, eu abordo o tema da colonização, em sua articulação com o racismo, que me parece muito mais relacionado aos conflitos e tensões que constituíram alguns problemas da nossa sociedade atual. Outros temas que abordo são os conflitos políticos e a relação entre os povos que vivem nas cidades e os povos nômades (que são como os nossos indígenas) de Ruamu. E há também a questão da violência contra a mulher, que aparece no arco de uma das personagens secundárias. Essa personagem vive em uma nação que é representada com valores culturais mais retrógrados, e esse problema acaba aparecendo em sua vida. Esses são exemplos de temas bem próximos do contexto em que vivemos. Eles geram alguns dos conflitos que movimentam a trama. E os leitores podem refletir e aprender com os ensinamentos trazidos pelo destino a cada um dos personagens quando eles confrontam esses problemas.


Você utiliza o enredo para tratar sobre temas como violência, racismo e dogmatismo religioso. Como esses assuntos tão atuais podem ser encontrados entre as páginas?
Giuliano Andreoli - 
Nessa obra, eu procuro retomar algo que já foi feito por autores como Robert Howard ("Conan”) e J.R. Tolkien (“O Senhor dos Anéis”): criar mundos fictícios com grandiosas civilizações que existiram no passado longínquo. Assim, na minha obra, a América do Sul está povoada por imensas nações, com cidades e templos grandiosos, como em qualquer uma dessas obras de alta fantasia. E só isso já é importante para desfazer um imaginário que por muito tempo se fixou em nossas mentes: a ideia de que apenas o hemisfério norte teve a capacidade de desenvolver grandes civilizações. Na tradição dos mitos das civilizações perdidas, por exemplo, sempre foi muito comum elas serem representadas apenas como povos de raça branca. Isso aparece na literatura mundial nas histórias sobre Atlântida e outras. A minha história brinca um pouco com a subversão de tudo isso. A exemplo do nome da nação opressora estrangeira, Schwertha, retirada da obra Crônicas de Akakor, que compõe parte desse imaginário colonial que divulgou a ideia de povos de raça branca construindo civilizações avançadas no passado da América do Sul. Na história desse livro, Schwertha está ligada aos invasores do continente de Ruamu que pregam uma doutrina de superioridade racial – em referência ao nazismo. E eles procuram justamente tentar desacreditar que os povos ancestrais de Ruamu produziam tecnologias muito avançadas. O dogmatismo religioso, por outro lado, está ligado a outro eixo da história, que é uma instituição religiosa chamada susejismo, um dos ramos de uma religião milenar que existe no continente de Ruamu. Há muitos pontos de vista divergentes sobre a doutrina. E há debates entre os personagens susejistas mais fanáticos e os susejistas que seguem orientações mais progressistas ou pacifistas. Esses dois eixos constituem, por assim dizer, os principais antagonismos aos personagens centrais da trama e é o que gera os posicionamentos dos heróis e vilões.


Como as trajetórias dos personagens Lagnicté e Narsciti conseguem se aproximar dos contextos de vida dos leitores? O que é possível apreender da história deles?
Giuliano Andreoli - 
Cada personagem tem um arco que traz algum drama. A personagem central, Lagnicté, é uma figura política envolta no dilema de iniciar ou não iniciar uma guerra para tentar libertar o seu país. Dael é um dos melhores guerreiros do seu tempo, mas deseja viver uma vida de paz. Ambos vivem o dilema de terem que cumprir com aquilo que é colocado para eles como um dever, sem que eles tenham pedido ou desejado por essa demanda. Narsciti, por outro lado, é um personagem cujo arco está relacionado ao desejo por vingança. A morte de seus pais, na sua infância, justamente por aqueles contra quem ele agora luta, faz com que ele tenha que lidar com os limites entre a justiça e a vingança. Há personagens que são dotados de grandes poderes e precisam aprender a controlá-los. E há aqueles que são pessoas comuns, mas estão envoltas também em demandas de luta por justiça. Há uma reflexão permanente sobre o tema do poder, sobre como ser mais poderoso não torna alguém necessariamente melhor ou superior. Também há uma reflexão permanente sobre a guerra, de um ponto de vista humanístico.


Como foi o processo de pesquisa para a construção deste universo?
Giuliano Andreoli - 
A construção do universo contou com um amplo processo de pesquisa que envolveu a pesquisa sobre o contexto da pré-história sul-americana e dos mitos da América do Sul colonial. Contou também com a leitura de algumas fontes usualmente utilizadas por obras de ficção, como a teosofia de Helena Blavatsky, o mito tibetano de Agartha, o livro “O Continente de Mu”, de James Churchward, e “Crônicas da Akakor”, de Karl Bruguer, para criar o contexto cultural dos antagonistas. A religiosidade indígena (tupi-guarani), além de nomes indígenas e nomes de deuses compôs o universo dos povos nômades e das principais nações.Já para inspirar as reflexões espirituais e os debates políticos e religiosos entre os personagens, inspirei-me em autores como Gibran Khalil Gibran, Mikhail Naimy, Frantz Fanon, Friedrich Nietzsche e Piotr Kropotkin, além de referências ao cristianismo, budismo e taoísmo. Alguns acontecimentos verídicos serviram de inspiração para alguns acontecimentos do enredo: o incêndio da biblioteca de Alexandria, a perseguição aos heréticos cristãos, os Cavaleiros Templários e a Franco-Maçonaria, as revoluções camponesas na Alemanha, o nazismo e o surgimento da extrema-direita no Brasil. Para criar uma das personagens, eu me referenciei em Malala Yousafzai. Há, na obra, também uma referência a “Macunaíma”, de Oswald de Andrad e a “Crônicas de Atlântida: O Tabuleiro dos Deuses”, de Antônio Luiz M.C. Costa.

.: Escritor Luiz Gustavo Medeiros fala sobre dilemas, complexidades e tensões


"Espero conseguir colocar o leitor diante do contraditório, esticar os limites da sua percepção.", afirma o escritor Luiz Gustavo Medeiros. Foto: divulgação


Paulo é um rapaz de trinta e poucos anos lidando com tensões relacionadas ao emprego, ao passado familiar trágico, à herança negra e, sobretudo, aos impasses amorosos. Esse é o personagem principal do romance de duração “A União das Coreias” (compre neste link), escrito por Luiz Gustavo Medeiros e publicado pela editora Reformatório.

O  livro busca traçar um retrato das complexidades da vida e seus dilemas morais, embora temas como o amor, o sexo, a infidelidade, a política, os abismos sociais, ajudem a compor o cenário existencial por onde os personagem se movem. A obra, contemplada pelo Fundo de Arte e Cultura de Goiás em 2023, conta com orelha assinada por Noemi Jaffe e comentários na quarta capa de André Sant’Anna e Maria Fernanda Elias Maglio.

Luiz Gustavo nasceu no Rio de Janeiro, capital, passou a infância praticamente toda em Curitiba, no Paraná, e se mudou para Goiânia, em Goiás, no ano de 2002, onde vive desde então. Ele é graduado em Ciências Sociais e mestre e doutorando na área de Letras. O primeiro livro “O Corpo Útil” (compre neste link) foi vencedor do Prêmio Hugo de Carvalho Ramos de 2020 e publicado em 2021 pela editora Patuá.


Quais são os temas centrais de “A União das Coreias”?
Luiz Gustavo Medeiros - O romance se passa em um só dia e gira em torno de um personagem que, às vésperas do primeiro turno das eleições de 2018, retoma o passado enquanto avalia o presente e o futuro. À grosso modo, o livro trata de temas comuns como o amor, o sexo, a política, os costumes e os abismos sociais. O título surgiu a partir da leitura de uma tese de doutorado em psicologia chamada "Cartas sobre o Envelhecer", de Luciana de Oliveira Pires Franco. A tese é toda composta de cartas e, em uma delas, é citado um documentário chamado "A Vida em Um Dia", que registra um determinado dia na vida de várias pessoas pelo mundo. Um dos relatos é o de um homem que atravessa a Ásia de bicicleta sonhando com a união das Coreias. Gostei da imagem e achei que ela batizaria bem essa tentativa de captura, que é o livro, do percurso mental de um sujeito atormentado por forças contrárias em duelo constante.


Por que você escolheu esses temas?
Luiz Gustavo Medeiros - Não penso que a escolha dos temas, das tramas e subtramas, tenha uma motivação especial. Os conflitos do romance fazem parte da trajetória de muitas pessoas e podem servir como material pra boa literatura, onde mais importa como dizer do que o que dizer


O que motivou a escrita do livro?
Luiz Gustavo Medeiros - Lembro quando um estudante foi assassinado em Goiânia pelo próprio pai por participar das manifestações contra a PEC do teto de gastos durante o governo Temer. O pai se matou em seguida. Sou servidor do CREA e, pouco depois, acabei atendendo a mãe desse jovem, que foi lá apresentar a certidão de óbito do ex-marido, que era engenheiro, pra que o registro dele fosse cancelado. Lembro também de assistir a apuração das eleições de 2018 em um bar numa região de classe média alta de Goiânia e um homem sacar uma arma, depois que o resultado se confirmou, só pra exibi-la. E o livro começou a ser escrito quando a pandemia estourou e o país parecia ensaiar uma divisão entre os que queriam aderir às recomendações dos órgãos de saúde e os que não aceitavam qualquer mudança de comportamento. Quis examinar essa situação, esse afunilamento da tolerância, tentar me aproximar do convívio entre essas pessoas que não compactuam com as mesmas ideias, num momento em que elas ainda pareciam se suportar.


Como você chegou à escolha do formato narrativo da história?
Luiz Gustavo Medeiros - Eu queria uma narrativa que tentasse simular o ritmo da consciência, cheia de idas e vindas. Ao mesmo tempo, eu queria um narrador em terceira pessoa que fosse uma espécie de voz interior do personagem, exigente e debochada, e que fosse muito próxima dele a ponto dos dois se confundirem.


Como a bagagem do seu livro anterior ajudou na construção da obra?
Luiz Gustavo Medeiros - No meu primeiro livro, de contos, eu já vinha experimentando esse narrador em terceira pessoa muito colado no personagem, além dos diálogos diluídos no texto, em itálico. No mais, são livros bem diferentes.


O que você espera alcançar com a publicação de “A União das Coreias”?
Luiz Gustavo Medeiros - Espero alcançar leitores. Espero conseguir colocar o leitor diante do contraditório, esticar os limites da sua percepção.


E o que a obra significa para você? Ela te mudou de alguma maneira?
Luiz Gustavo Medeiros - É meu primeiro romance. Foi escrito ao longo de quatro anos, quatro anos e meio. Foi um desafio cujo resultado me agradou. Não vejo um poder de transformação imediato na escrita. Mas escrever - e ler - ajuda, pouco a pouco, a ampliar nosso horizonte de percepção, a ampliar o mundo e a fazer com que a gente se encaixe melhor dentro dele.


Quais são os seus projetos atuais?
Luiz Gustavo Medeiros - Tenho uma tese pra escrever, mas venho trabalhando devagar em um livro de contos e no esboço de um futuro romance.

.: Ator Cauã Martins fala sobre jogador prodígio de e-sports em nova série


Conheça "Dr4g0n", a primeira série de ficção do Globoplay ambientada na temática de e-sports. Daniel (Cauã Martins) é o protagonista da série.“Você nunca sabe o próximo passo dele”, afirma o ator em entrevista. Foto: Fabio Rebelo

Em "Dr4g0n", nova série Original Globoplay, o ator Cauã Martins dá vida a dois personagens que são um só. Daniel é o irmão mais novo de Ana Paula (Nanda Marques), e passa boa parte dos seus dias em frente ao computador. Sua família mal sabe que, no mundo virtual, ele é um habilidoso jogador, cujo codinome dá título à trama.  

Geralmente trancado no quarto jogando e esquecido pela família, Daniel acaba sendo elevado ao posto máximo de provedor da casa quando a empresa de seus pais entra em falência e sua irmã decide investir em sua carreira de jogador profissional de e-sports. Com isso, pela primeira vez, seus pais e irmã passam a conhecer sua personalidade manipuladora e um tanto quanto sádica.  

É só depois de conhecer Horang (Gabriel Kim), seu principal rival nos games, que Daniel vai aprender a importância do trabalho em equipe. “Cauã entendeu esse ar completamente blasé do Daniel. Ele se acha melhor que os outros, mas não fala sobre isso. Ele pode ser insuportável, mas todo mundo fica em torno dele: as garotas o desejam e os rapazes querem sua aprovação e amizade”, conta Ana Saki, roteirista da série. 


Daniel, ou "Dr4g0n", é um menino introspectivo e frio. Como você avalia a personalidade do personagem?
Cauã Martins -
Esse lado misterioso do Daniel é a síntese do personagem, você nunca sabe o próximo passo dele. Ele está sempre à frente. E tem muitos momentos na série em que mostramos isso, essa consciência dele, esse mistério. E isso se apresenta nas relações com os outros personagens. As pessoas têm um medo do Daniel, dessa nuvem em volta dele, que elas não conseguem ultrapassar, mas ele está vendo tudo claramente. 


Você já conhecia o universo dos jogos eletrônicos competitivos antes da série? Tinha alguma relação com essa temática?
Cauã Martins - 
Eu já gostava de jogar antes, mas nunca fui uma pessoa aficionada por esse universo, não conhecia tanto. Quando entrei no projeto, precisei pesquisar e estudar, além de jogar mais também. E o legal é que a gente tem dois craques dos e-sports no elenco, o Luigi Montez e o Gabriel Kim. A gente aprendeu muito com o Luigi, ele é uma bíblia do "Counter Strike". Perguntamos muito para ele sobre o que falar e como agir. Então, foi um processo de bastante estudo pré-gravações, mesmo já estando familiarizado com o universo dos games.  


O que você fez para se preparar para dar vida ao personagem?
Cauã Martins - 
Uma das primeiras coisas que comecei a pesquisar, assim que entrei no projeto, foi sobre pro players. Mas eu gosto muito também de buscar referências fora do tema do trabalho. Duas referências que eu busquei foram o Michael Jordan e o Kobe Bryant. No caso do Jordan, eu recém tinha assistido um documentário sobre ele e, pensando no "Dr4g0n", eles têm muito a competitividade super aflorada, ele cobra muito dos colegas e eu achei que ter essa figura em mente funcionaria muito nessa minha construção. Já o Bryant tem um lado mais frio, que combina muito com o Daniel.


Quais foram seus objetos de estudo? 
Cauã Martins - 
No mundo dos e-sports, foi muito legal pesquisar sobre o "FalleN", que é um pro player de "Counter Strike", e o "Coldzera", muito para entender o mundo dos e-sports no Brasil, para saber sobre o estilo de jogo, o comportamento deles ao longo de uma transmissão. Essas foram algumas referências que me ajudaram a construir o Daniel.

Vocês tiveram alguma imersão nesse universo juntos, como um time?
Cauã Martins - 
Durante o período de preparação a gente teve uma experiência muito divertida e que me ajudou muito nessa construção de personagem. Todo mundo foi, junto, para uma lan house, jogar uma partida de "Valorant". E fiquei no time vencedor, o que foi ótimo, pois começar perdendo talvez tivesse sido um balde de água fria nesse processo (risos). Nos bastidores, a gente jogou muita coisa para além desse mundo de e-sports, como jogos de tabuleiro. Isso nos ajudou a criar uma conexão e, claro, isso resulta na cena. 

Quais foram os principais desafios durante todo o processo de fazer "Dr4g0n"?
Cauã Martins - 
O primeiro desafio do projeto, para mim, foi pessoal. Eu já trabalho há bastante tempo, mas esse projeto é o meu primeiro depois de fazer 18 anos. Deixei de ser um ator mirim para ser um ator adulto, o que envolve mais responsabilidades. Mas está sendo muito bacana esse crescimento e esse novo momento. Outro desafio foi manter a concentração para segurar o personagem durante a gravação. O Daniel é um cara muito mais blasé e eu me empolgo, fico feliz, então precisei estar atento a isso, entre um take e outro. 

Você já tinha trabalhado com alguém do elenco antes?
Cauã Martins - 
Eu só tinha trabalhado com a Laura Luz uma vez, mas foi uma coisa rápida, a gente não conversou muito. Em "Dr4g0n", estou cheio de novos amigos. Todos tivemos uma conexão muito boa desde o início. 

Como foi, para você, abordar o abismo geracional entre o Daniel e seus pais?
Cauã Martins - 
Eu acho os personagens dos pais do Daniel incríveis. Desde as primeiras leituras de roteiro, as cenas deles têm o tipo de humor que eu mais gosto. Essa questão geracional entre eles e o filho é bem explícita, mas ela nunca tem um juízo de valor, do que seria certo ou errado. O filho fica isolado no quarto, os pais não fazem ideia do que está acontecendo naquele mundo. A Ana Paula também fica isolada no mundo dela e, mesmo morando dentro de uma mesma casa, eles não convivem nem conversam. 

Quais foram os outros temas tratados na série que você mais gostou de abordar em cena?
Cauã Martins - 
Um dos temas que eu acho mais legais que a gente trabalha na série é sobre como um time se comporta. Não necessariamente um time de e-sports, mas um time, formado por personalidades totalmente diferentes e como elas se comunicam e superam os desafios para chegar no objetivo final. Também tem a relação entre irmãos, da Ana Paula com o Daniel, que são pessoas muito diferentes. Ela, super ansiosa, prestativa; ele, indiferente e blasé. Os dois por tanto tempo não se conectavam e por causa do time se reconectam, numa relação que evolui ao longo da série. 


Criado por Tiago Rezende, o Original Globoplay "Dr4g0n" tem produção de Nora Goulart, da Casa de Cinema de Porto Alegre. A direção da obra é de Ana Luiza Azevedo e Tiago Rezende. A série é escrita por Tiago Rezende, Ana Saki e Tomas Fleck. A supervisão de texto é de Jorge Furtado. A direção de fotografia é de Rafael Duarte e a direção de arte é de Martino Piccinini. A montagem é de Giba Assis Brasil, Joana Bernardes e Jonatas Rubert.

.: TV: no "Provoca", Alessandra Maestrini revela a Marcelo Tas do que tem medo


"Em diversas entrevistas me perguntavam qual é a personagem que eu mais tenho vontade de interpretar e eu sempre digo: ‘eu mesma’. Eu acho que estou caminhando cada vez mais próxima para isso", afirma a atriz em entrevista para Marcelo Tas. Foto: Beatriz Oliveira


Na terça-feira, dia 23 de julho, a atriz, cantora e comediante Alessandra Maestrini estará no "Provoca". Ela relembra com Marcelo Tas o sucesso da personagem em "Toma Lá Da Cá", a empregada Bozena, de Pato Branco; fala sobre "O Som e a Sílaba", comédia dramática musical que conta a história de uma autista que canta ópera e virou série da Disney+; sobre os motivos que a levaram a se declarar bissexual, em 2014; sobre sua busca em ser ela mesma, o que é ser versionista, do que tem medo, e muito mais. Vai ao ar na TV Cultura, às 22h00.

Ela diz quais foram as percepções que o mundo singular do TEA (Transtorno do Espectro Autista) casou nela ao viver a personagem autista Sarah Deighton, no musical "O Som e a Sílaba". “Eu me identifiquei muito, quero dar uma pesquisada para saber se não tenho tracinhos (...) o espectro é grande e as pessoas têm a sua neuroidentidade própria, mas você pode ter traços de uma coisa e de outra (...) eu tenho diagnóstico de TDAH que tem uma intersecção com autismo, eu tenho hiperfoco, tenho hipersensibilidade sensorial de som e de luz”.

"E de escolha de figurino?", pergunta Tas brincando, que explica que a atriz testou alguns figurinos para participar da entrevista. “Isso tem mais a ver com o momento que eu estou vivendo, porque a vida toda, em diversas entrevistas me perguntavam qual é a personagem que eu mais tenho vontade de interpretar e eu sempre digo: ‘eu mesma’. Eu acho que estou caminhando cada vez mais próxima para isso. Eu vim com uma roupa linda que eu ganhei, mas eu falei: ‘não sei se sou eu’ (...) e eu falei para você que quando eu vejo você entrevistando as pessoas, eu acho tão lindo porque eu vejo elas sendo elas mesmas”, conta a atriz.

Sobre ter assumido ser bissexual publicamente em 2014, ela diz: “eu estava sacando tanto fisicamente quanto subjetivamente que eu estava me matando por não estar sendo eu”, explica. Em outro momento da entrevista, Tas fala sobre todas as habilidades de Alessandra, como atriz, cantora, compositora, poeta, diretora, produtora, dramaturga, ativista, tradutora e versionista. E pergunta: o que é uma versionista? “É uma pessoa que traduz para um idioma que não é o seu. Eu versei 10 músicas do Chico Buarque para o Inglês. As palavras deles têm menos sílabas (...) eu mandei para ele por e-mail e eu tenho o e-mail do Vinicius França que é empresário dele, com ele dizendo assim: ‘o Chico mandou dizer que a sua versão tá melhor do que a original’”.

Por fim, Alessandra conta do que tem medo. “Eu vou revelar um medo, de uruca (...) mas eu acho que a uruca é muito da nossa própria cabeça (...) eu vou contar um medo que eu falei uma vez em uma entrevista e que eu achei que se materializou (...) pra mim é importante ter ambientes que não são barulhentos, barulho me tira do sério (...) mas dali pra diante era um tal de obra em tudo quanto é lugar que eu me mudava. Obra, obra, obra, obra, obra (...) não tem um lugar mais de silêncio no planeta Terra. O que eu fiz? Eu materializei!", diz.

.: "O curativo branco na orelha direita se tornou um símbolo", avalia especialista


Professor de Relações Internacionais do CEUB analisa momento político e destaca situação favorável a Trump após atentado. Foto: divulgação


O atentado contra Donald Trump nos Estados Unidos desencadeou impactos na política internacional. Renato Zerbini, professor de Relações Internacionais do Centro Universitário de Brasília (CEUB), analisa o episódio e os desdobramentos para a política internacional após este episódio. O especialista chama atenção aos efeitos deste tipo de violência.


O atentado contra Trump era algo previsível?
Renato Zerbini -
A julgar pelo nutrido histórico de atentados contra candidatos e presidentes estadunidenses, a antropologia política dos EUA nos autorizaria a dizer que a factibilidade desse tipo de atentado sempre está presente em sua realidade eleitoral: Abraham Lincoln (1865); William Mckinley (1901); Theodore Roosevelt (1912); Franklin D. Roosevelt (1933); John F. Kennedy (1963); Robert F. Kennedy (1968); George Wallace (1972); Gerald Ford (1975); e Ronald Reagan (1981). Passados 43 anos desde a consubstanciação do último atentado, trata-se de uma chaga ainda marcante no meio político dessa grande democracia. Contudo, raízes históricas indicam que lá qualquer candidato ou presidente convive com a possibilidade real de atentados. 


Qual é a influência do acesso fácil a armas nos EUA em eventos como o atentado contra Trump?
Renato Zerbini - 
A influência é muito grande. Quanto mais fácil o acesso a armas, mais simples e sem obstáculos será para utilizá-las. Os estudos científicos assim indicam.


Quais foram as reações imediatas dos políticos ao atentado, e como isso pode ter influenciado a percepção pública?
Renato Zerbini - 
O atentado foi imediatamente condenado por todos os políticos. Nos EUA, Republicanos e Democratas, apressaram-se em condená-lo. O que foi muito importante, pois indicou que todos primam pelos pilares de eleições livres, inclusive da violência, em um Estado Democrático de Direito. Isso foi essencial para apaziguar os ânimos do público em geral. 


De que maneira o atentado contra Trump pode afetar a campanha eleitoral e a dinâmica política nos próximos meses?
Renato Zerbini - 
A maioria dos colegas analistas estadunidenses avaliam que Trump o utilizará favoravelmente a seu favor, opacando inclusive os processos e as condenações em seu contra no Judiciário. Trump vender-se-á como aquele que superou um momento de extrema crise, com vitalidade. E isso contrastaria com a imagem de pouca energia de seu oponente Biden. Tendo a concordar com essa avaliação.


Você vê paralelos significativos entre o atentado contra Trump e outros atentados políticos recentes, como o de Bolsonaro no Brasil?
Renato Zerbini - 
O paralelo é o de um atentado no seio de uma disputa eleitoral. No caso de Bolsonaro e de Trump, ambos foram alvejados por armas (facada naquele e rifle nesse). Em ambos os atentados, há uma história de superação eivada de contornos de um milagre divino capaz de sensibilizar o público religiosamente mais fanático. E, no caso de Trump, até de movimentar mais eleitores para as urnas no dia da eleição (nos EUA facultativa). O fato é que lá um grande curativo branco na orelha direita já se tornou um símbolo atualizado da campanha Republicana.


Como a retórica utilizada por Trump contribuiu para o atentado contra ele?
Renato Zerbini - 
Na política, como nas relações sociais em geral, violência tende a gerar mais violência. Logo, a retórica de Trump pode sim ter contribuído para o seu próprio atentado.


Quais podem ser as consequências a longo prazo desse atentado para a segurança dos candidatos presidenciais nos EUA?
Renato Zerbini - 
Falhas nas instituições e sistemas de segurança já foram detectadas. O próprio Presidente Biden já solicitou uma averiguação independente à do FBI sobre o atentado. Ajustes e reformulações nas instituições e sistemas de segurança certamente acontecerão em consequência dessas averiguações ainda em curso. 


Como vê a resposta de Trump ao atentado em termos de seu discurso político e suas possíveis estratégias de campanha?
Renato Zerbini - 
Como um homem de mídia, ex-presidente e um atual candidato com metade dos eleitores a seu favor, Trump aproveitou com muita estratégia esse brutal e fatídico acontecimento tratando de alavancar a sua imagem de candidato da superação e com muita vitalidade. Não à toa, um grande curativo branco na orelha direita já é um símbolo atualizado da campanha Republicana. 


Acredita que esse atentado pode influenciar a polarização e o clima de violência política nos EUA?
Renato Zerbini - 
Dependerá muito de como ambos os candidatos e seus partidos comportar-se-ão a partir de agora. A eleição pôs-se ainda mais incerta. Até agora, Trump e os Republicanos têm um tremendo fato novo a seu favor. Um antídoto para essa novidade pode ser a multicitada possível substituição de Biden por um candidato com vitalidade mais aparente. O cenário de polarização e o clima de violência política nos EUA é observado já a algum tempo. Ninguém, em sã consciência, imaginava uma invasão tão fácil ao Congresso estadunidense após a última eleição. Torcemos para que esse cenário já estabilizado não prospere novamente agora.


Quais são as implicações internacionais do atentado contra Trump, especialmente em termos de como outros países veem a estabilidade política dos EUA?
Renato Zerbini - 
A estabilidade política dos EUA é fundamental para a estabilidade mundial. Especialmente em uma quadra planetária tão conturbada quanto a atual. O reflexo de uma instabilidade no cenário político estadunidense pode significar catalisar as incertezas que pairam por todo o mundo, tornando-o ainda mais perigoso.

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