segunda-feira, 17 de junho de 2024

.: "O Marinheiro", de Fernando Pessoa, estreia dia 18 no Espaço Ateliê Cênico


Encenação de Elias Andreato transforma obra vanguardista em uma experiência intensa. Estreia no dia 18 de junho no Espaço Ateliê Cênico. Foto: Ronaldo Gutierrez 


Escrita em 1913, a peça "O Marinheiro", do poeta e escritor português Fernando Pessoa (1888-1935), é considerada o marco inicial do movimento modernista em Portugal. E essa obra provocadora será dirigida por Elias Andreato e estrelada por Cristina Mutarelli, Michele Matalon e Muriel Matalon. Minimalista e vanguardista, a peça foi escrita pelo poeta lusitano em dois dias, na mesma época em que ele criou seus três principais heterônimos. O espetáculo tem curta temporada no Espaço Ateliê Cênico, entre 18 de junho e 18 de julho, com apresentações às quartas e quintas-feiras, sempre às 20h00. 

Escrita quando ele tinha apenas 23 anos, a obra pré-anuncia o que viria a ser a vida de Fernando Pessoa, seus tormentos e sofrimentos. A trama traz três personagens, que velam uma morta durante toda a madrugada. Seus corpos semi-estáticos nesse ambiente funesto levam seus mais profundos pensamentos a um ambiente onírico no curso dos diálogos. E são nestas conversações que surgem as angústias que as atormentam; conflitos que nascem e se instalam na mente e nos pensamentos das três. 

"O Marinheiro" nos mostra um Pessoa influenciado pelos simbolistas e pelo movimento saudosista português, inspirado pelo dramaturgo, poeta e ensaísta belga Maurice Maeterlinck (1862-1949). No entanto, a partir dessas influências, Pessoa desenvolveu o que ele chamou de "sensacionismo integral", culminando na criação de seus três heterônimos mais conhecidos. 

A presença das três "veladoras" ao lado da morta não é mera coincidência. Elas também representam uma só entidade, embora se apresentem como distintas em alma. Unidas, compartilham a vida e o ofício. Com uma abordagem concisa e meticulosa, Andreato coloca a palavra como protagonista, preservando a pulsação das atrizes e mantendo uma suspensão que intensifica a emoção ao longo de toda a representação. Cada palavra, gesto e o ambiente cênico são cuidadosamente elaborados para proporcionar uma imersão profunda na narrativa. 

O elenco dá vida às personagens com uma entrega visceral, capturando a essência dos conflitos internos e das angústias presentes na obra. Presas na trama de suas próprias existências, as personagens se encontram diante de um cenário composto por mais de 12 mil metros de corda, no qual surgem imagens projetadas, delineando a jornada em busca de seus sonhos e do encontro com "O Marinheiro". A luz, recortada em um jogo de luz e sombras, complementa a atmosfera. 

O drama se desenvolve gradualmente até atingir um momento de terror e dúvida, onde, petrificadas, as três almas que falam anseiam pelo novo dia que está prestes a nascer. Esses elementos combinados criam um ambiente teatral singular, permitindo que o público mergulhe nas profundezas das emoções retratadas por Fernando Pessoa. Compre o livro "O Marinheiro", de Fernando Pessoa, neste link.

Sobre Fernando Pessoa
Fernando António Nogueira Pessoa
(Lisboa, 13 de junho de 1888 - Lisboa, 30 de novembro de 1935) foi um poeta, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, publicitário, astrólogo, inventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário e comentarista político português. Ele é o mais universal poeta português. Por ter sido educado na África do Sul, numa escola católica irlandesa, chegou a ter maior familiaridade com o idioma inglês do que com o português, ao ponto de escrever os seus primeiros poemas nesse idioma. 

O crítico literário Harold Bloom considerou Pessoa como "Whitman Renascido" e o incluiu no seu cânone entre os 26 melhores escritores da civilização ocidental, não apenas da literatura portuguesa, mas também da inglesa. Das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa, além disso traduziu várias obras em inglês (e.g., de Shakespeare e Edgar Allan Poe) para o português, e obras portuguesas (nomeadamente de António Botto e Almada Negreiros) para o inglês. 

Fernando Pessoa criou várias personalidades literárias conhecidas como heterônimos, sendo os mais estudados Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro. Entre suas principais obras estão "Mensagem", "Livro do Desassossego", "Poemas de Alberto Caeiro", "Odes de Ricardo Reis" e "Poemas de Álvaro de Campos". Robert Hass, poeta americano, diz: "outros modernistas como Yeats, Pound, Eliot inventaram máscaras pelas quais falavam ocasionalmente... Pessoa inventava poetas inteiros”


Sinopse
Sem a exata noção das horas no arrastar da noite negra, três figuras velam uma morta, seus corpos quase imóveis neste ambiente funesto. No entanto, suas mentes, libertas das amarras do real, vagam por um reino onírico conduzidas pelo fluxo dos diálogos. Da palavra surgem as angústias que as atormentam; conflitos que nascem e se instalam nas mentes e pensamentos das três. 

Durante a vigília, a segunda irmã narra um sonho sobre um marinheiro perdido em uma ilha deserta, que cria uma vida ilusória para si mesmo, imaginando um mundo inteiro para escapar da solidão e do desespero. Essa metáfora da condição humana reflete sobre o isolamento, a necessidade de criar significados e a fragilidade das percepções. À medida que a noite avança, as reflexões sobre a efemeridade da vida, a natureza dos sonhos e a busca por sentido dominam a conversa.


Ficha técnica 
Direção: Elias Andreato
Atrizes: Cristina Mutarelli, Michele Matalon e Muriel Matalon
Assistência de direção: Roberto Alencar
Cenário e figurino: Simone Mina
Assistente de cenografia: Annick Matalon
Música original: Jhonatan Harold
Direçãovocal interpretativa: Lucia Gayotto
Direção de movimento: Roberto Alencar
Iluminador: Wagner Freire
Projeto gráfico: Ciro Girard
Social mídia: Rafa Américo
Produção: “Muriel Matalon ” e “4 ever produções artísticas”
Direção de produção: Zé Guilherme Bueno

Serviço
"O Marinheiro", de Fernando Pessoa, com direção de Elias Andreato
Temporada: 18 de junho a 18 de julho, às quartas e quintas-feiras, às 20h
Espaço Ateliê Cênico – Rua Fortunato, 241, Vila Buarque
Ingressos: R$ 50,00 (inteira) e R$ 25,00 (meia-entrada)
Classificação: 12 anos
Duração: 50 minutos

.: Álbum: Pato Fu e Orquestra Ouro Preto lançam "Rotorquestra de Liquidificafu"


Gravado ao vivo no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, o disco reúne clássicos da banda mineira em versões orquestradas, Foto: Rapha Garcia


Será lançado no próximo dia 21, em todas as plataformas digitais, o disco "Rotorquestra de Liquidificafu", projeto que reúne a banda Pato Fu e Orquestra Ouro Preto. Criado para celebrar os 30 anos da banda mineira, este trabalho virou álbum e surpreende pelos arranjos assinados por Paulo Malheiros e pela escolha do repertório, que inclui grandes sucessos, além de versões mais inusitadas. O disco, gravado ao vivo no Palácio das Artes, de Belo Horizonte, é uma vibrante viagem pelos sucessos da banda, com uma roupagem toda nova, misturando o pop rock contagiante com a musicalidade da orquestra.

E para comemorar, nada melhor que fazer isso em grande estilo, com um show gratuito na praia de Copacabana, no posto 2, dia 22 de junho, às 19h00, como parte da programação do Orquestra Ouro Preto Vale Festival 2024. O evento é patrocinado pelo Instituto Cultural Vale, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura. As celebrações seguem com apresentação gratuita na cidade mineira de Ouro Preto, no dia 29 de junho.

“A apresentação é um presente para nós e para quem é fã da Orquestra e do Pato. Tocar em Copacabana, com o acesso liberado ao público, vai ser um momento histórico para nossa banda. Mais uma etapa na comemoração de nossos 30 anos. Espero que seja uma noite linda e emocionante, como geralmente são os encontros com a Orquestra Ouro Preto”, afirma Fernanda Takai, vocalista do grupo.

“Rotorquestra de Liquidificafu” é um disco sem rótulos, marcado pela inventividade e ousadia de uma banda que sempre foi fora da caixa e uma orquestra que não tem medo de desafiar os limites da música. Um projeto muito especial, com 17 músicas em arranjos surpreendentes feitos por Paulo Malheiros. “O disco capturou toda a aura que envolveu essa conjunção e transmite toda a excelência, a irreverência e a versatilidade que marcam a trajetória das duas formações”, sintetiza o Maestro Rodrigo Toffolo, regente titular e diretor artístico da Orquestra Ouro Preto.

Gravado ao vivo no Grande Teatro do Palácio das Artes em 2022, o álbum traz toda a vibe de uma noite de gala, com a plateia e os artistas juntos, cantando os grandes sucessos do Pato. Tem de tudo um pouco, desde os hits até aquelas músicas mais escondidinhas dos 13 álbuns da carreira do grupo. Entre elas, “Rotomusic de Liquidificapum”, uma viagem de 7 minutos por um monte de estilos musicais, que já dá o tom ousado dessa parceria. “Eu”, “Perdendo os Dentes”, “Ando Meio Desligado”, “Simplicidade”, “Canção Para Você Viver Mais”, “Água”, “Spoc” e várias outras pérolas integram o repertório.  


Histórico
A “Rotorquestra” estreou em 2022, no Instituto Inhotim, diante de 2.500 pessoas que lotaram o museus e cantavam a plenos pulmões. A apresentação ganhou um lindo registro, exibido na programação do SulAmérica Sessions Festival, e que também deve voltar à tona nos canais de YouTube da Orquestra e do Pato.

O projeto circulou por mais quatro cidades de Minas Gerais – Nova Lima, Caeté, Sabará e Santa Bárbara –, com apresentações gratuitas em praças abarrotadas.  Depois do giro pelo interior mineiro, o concerto chegou a Belo Horizonte, onde foi registrado ao vivo, no Palácio das Artes, em um momento inesquecível para a plateia, músicos e equipes que fizeram o espetáculo acontecer. Em 2023, em um lindo palco montado na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, a Rotorquestra recebeu cerca de 10 mil pessoas em mais um encontro memorável.


Serviço
Rotorquestra de Liquidificafu: Pato Fu e Orquestra Ouro Preto
Lançamento do álbum
Data: 21 de junho de 2024
Em todas as plataformas digitais

.: "O Pai": 300 apresentações e nova temporada no Teatro Fernando Torres


Montada em mais de 30 países, a peça escrita pelo francês Florian Zeller rendeu ao intérprete brasileiro os Prêmios Shell e Bibi Ferreira de melhor ator. Foto: João Caldas F.º 


Vista por 100 mil pessoas desde a sua estreia em 2016, a versão brasileira da premiada peça teatral "O Pai", escrita pelo francês Florian Zeller e protagonizada pelo talentosíssimo Fulvio Stefanini, volta em cartaz em São Paulo para uma temporada em comemoração às 300 apresentações do trabalho. O espetáculo fica em cartaz no Teatro Fernando Torres, de 6 a 28 de julho, com apresentações aos sábados e domingos.

A montagem brasileira, que é dirigida por Léo Stefanini, e ainda celebra os 69 anos de carreira de Fulvio, que ganhou os prêmios Shell e Bibi Ferreira de melhor ator por este trabalho. A produção, que também ganhou a premiação nas categorias de cenografia e espetáculo, ainda traz no elenco Carol Gonzalez, Fulvio Filho, Wilson Gomes, Déo Patrício e Carol Mariottini.

Encenado em mais de 30 países, o texto foi adaptado pelo próprio autor para o cinema em um filme de 2020, estrelado por Anthony Hopkins, que levou o Oscar nas categorias de melhor ator e roteiro adaptado. Recentemente, Florian Zeller estreou outro drama nas telonas, “Um Filho” (2022). A obra ainda ganhou em 2014, na França o famoso Prêmio Molière, nas categorias de melhor espetáculo, ator e atriz. E, na Inglaterra, foi eleita a peça do ano pelo jornal The Guardian.

"O Pai" conta a história de André, um idoso de 80 anos, rabugento, porém muito simpático e divertido. Quando a memória dele começa a falhar, a sua única filha vive um dilema: deve levá-lo para morar com ela e contratar uma enfermeira para ajudá-la a cuidar dele ou deve interná-lo em um asilo – para poder curtir a vida ao lado de seu novo namorado? Com tom poético e um leve humor requintado, a peça trata desse tema comovente com leveza e sensibilidade, e nos convida a pensar sobre questões como a convivência familiar, o envelhecimento e as nossas escolhas na vida.


Sinopse
Fulvio Stefanini interpreta André, um idoso de 80 anos, rabugento, mas muito simpático e divertido. Com sua cabeça começando a falhar, sua filha vive um dilema: cuidar de seu pai, ou interná-lo em um asilo e ir curtir a vida com seu novo namorado.


Ficha técnica
Texto: Florian Zeller
Tradução: Carol Gonzalez e Lenita Aghetoni
Direção: Léo Stefanini
Elenco: Fulvio Stefanini, Carol Gonzalez, Wilson Gomes, Deo Patricio, Carol Mariottini e Fulvio Filho
Luz: Diego Cortez
Som: Raul Teixeira e Renato Navarro
Figurinos: Lelê Barbieri
Técnicos: Diego Cortez e Ronaldo Silva
Design: Giovani Tozi
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Realização: Cora Produções Artísticas


Serviço
"O Pai", de Florian Zeller
Temporada: de 6 a 28 de julho
Aos sábados, às 20h, e aos domingos, às 19h
Teatro Fernando Torres - Rua Padre Estevão Pernent, 588, Tatuapé / São Paulo
Ingressos: aos sábados, R$120 (inteira) e R$60 (meia-entrada) | e aos domingos, R$100 (inteira) e R$50 (meia-entrada)
Venda on-line em https://bileto.sympla.com.br/event/94816/d/260291/s/1777252
Bilheteria (sem taxa de conveniência): de quarta a domingo, das 14h às 19h. E, em dias de espetáculo, das 14h até o início da apresentação.
Classificação: 14 anos
Duração: 90 minutos
Capacidade: 685 lugares
Acessibilidade: o teatro é acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida.

.: "Avassaladoras 2.0": com roteiro de Tony Goes, comédia é para toda a família


Em cartaz rede Cineflix Cinemas, a comédia brasileira "Avassaladoras 2.0" é um spin-off do longa de sucesso de 2002. Protagonizado por dois grandes nomes das redes sociais, Fefe Schneider e Bibi Tatto - acompanhadas de um grande elenco - o filme tem um enredo leve, divertido e para toda a família. Com direção de Mara Mourão e roteiro do saudoso Tony Goes, que escreveu o primeiro filme, o longa-metragem é baseado na história original do sucesso “Avassaladoras” - consagrado como a segunda maior bilheteria de 2002, atrás apenas de “Cidade de Deus” - e tem produção executiva de Marcos Didonet, Vilma Lustosa e Walkiria Barbosa, da Total Filmes. 

“Avassaladoras 2.0” acompanha Bebel (Fefe Schneider), uma adolescente apaixonada pelo influenciador ativista ambiental J-Crush (Murilo Bispo). De sua casa em Hollywood, ela troca mensagens com J se passando por uma atriz em ascensão. Porém, a mãe dela, Laura (Juliana Baroni) decide que elas irão passar férias no Brasil, onde tem a farsa desmascarada e vê os planos com o amor de sua vida escaparem. 

Agora, Bebel vai tentar reconquistá-lo com a ajuda de Lu (Bibi Tatto), sua melhor amiga super sincera, e sua mãe Bebel. Nessa tentativa de recuperar o amor e falar a verdade, segredos vão ser revelados e mãe e filha descobrem que têm muito mais em comum do que podem imaginar. 


Assista na Cineflix
Filmes de sucesso como "Assassino por Acaso" ("Hit Man") são exibidos na rede Cineflix CinemasPara acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no Gonzaga. Consulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SANO Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021.


Ficha técnica
Direção: Mara Mourão
Direção de fotografia: Pedro Iorio
Direção de arte: Walkiria Barbosa
Figurino: Sonia Soares
Maquiagem: Sonia Penna
Produção de elenco: Tate Costa
Som direto: Marcelo Lessa
Edição de som: Gabriel Pinheiro, A3ps
Montagem: Rodrigo Daniel Melo, edt
Coordenação de pós-produção: Daiana Andrade
Roteiro: Tony Goes 
Colaboração de roteiro: Jessica Leite
Direção de produção: Jessica Leite
Produção executiva: Marcos Didonet, Vilma Lustosa e Walkiria Barbosa
Assistente de produção Executiva: Solange Jovino
Produtores: Marcos Didonet, Vilma Lustosa e Walkiria Barbosa
Coprodução: Star Original Productions
Produção: Total International
Distribuição: Star Distribution
Elenco: Fefe Schneider (Bebel), Murilo Bispo (J Crush), Bibi Tatto (Lu), Juliana Baroni (Laura), Raphael Vianna (Miguel), Danielle Winits (Betty), Jeanny Soares (Alessandra), Wellington Nogueira (Marcel), Guta Ruiz (Teresa), Flávia Zaguini (Denise), André Hendges (Tiago), Herbert Richers Jr. (Diretor), Layla Brizola (Kristiana), Silvia Pareja (Produtora da livraria) e Pedro Yudi (Kiko).


Trailer de "Avassaladoras 2.0"

domingo, 16 de junho de 2024

.: Betina González: "Só as mulheres têm a obrigação de ser grandes"


Em entrevista exclusiva, Betina González fala sobre as expectativas para o evento em São Paulo e dá opiniões contundentes sobre a vida, a literatura e de que maneira esses dois temas se misturam. Foto: Fernando de la Orden. Por Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com


Um dos expoentes da literatura contemporânea argentina, Betina González é uma das autoras confirmadas na terceira edição de A Feira do Livro, festival literário organizado pela Associação Quatro Cinco Um que começa no dia 29 de junho, terá nove dias de duração e reunirá alguns dos principais destaques da cena literária brasileira e internacional para debates gratuitos na Praça Charles Miller, Pacaembu, em São Paulo.

Cheia de sensibilidade e acidez, a escrita de Betina reflete a vida e os dilemas reais sem se dissociar da poética do cotidiano. O primeiro romance, "Arte Menor", que conta a história policial de uma filha em busca da memória da figura indescritível do pai falecido – ganhou o Prêmio Clarín e foi elogiado até pelo escritor português José Saramago: "Pode-se dizer que apenas o seu título é arte menor. O que vem depois do título é arte erudita”, afirmou o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura.

Nascida em Villa Ballester,​ na Grande Buenos Aires, Betina González estudou Comunicação Social na universidade da capital argentina, onde mais tarde atuaria como professora e pesquisadora. O reconhecimento internacional veio quando ganhou o Prémio Tusquets com o romance de iniciação "Las Poseídas", escrito em Pittsburgh sobre a “perda da inocência”, quando um grupo de mulheres “descobre com horror o que tinha acontecido no país” com os crimes da Junta Militar.

No Brasil, lançou pela editora Bazar do Tempo o livro "A Obrigação de Ser Genial", que propõe uma série de ensaios para desvendar os mistérios da criação literária."Não basta ser boa: é preciso ser genial", afirma. Nesta entrevista exclusiva, Betina González fala sobre as expectativas para o evento em São Paulo e dá opiniões contundentes sobre a vida, a literatura e de que maneira esses dois temas se misturam. Compre os livros de Betina González neste link.

Resenhando.com - Quais as suas expectativas para o evento A Feira do Livro?
Betina González
Nunca estive em São Paulo, então minhas expectativas são altas, sei que é uma cidade cheia de eventos culturais e estou muito animada para ir à Feira. Ainda não decidi sobre o tema da minha palestra, mas certamente terá a ver com como o patriarcado silenciou a escrita das mulheres e como algumas dessas operações ainda estão em vigor, mas com novos disfarces.


Resenhando.com - Por que entende que as pessoas hoje têm a obrigação de serem geniais?
Betina González - Não é isso que o título do meu livro significa. Só as mulheres têm a obrigação de ser grandes, os homens não. Os homens têm garantidos seus lugares, nas profissões, na literatura, só porque são homens. Podem dar-se ao luxo de ser medíocres, ainda vão chegar. As mulheres, não.


Resenhando.com - Que diferenças e semelhanças você percebe entre as literaturas contemporâneas argentina e brasileira?
Betina González - Não conheço literatura brasileira contemporânea o suficiente para julgar de forma tão enfática. Vejo muitas semelhanças entre autores latino-americanos em geral: um movimento ancorado na autoficção que vem acontecendo há décadas e, em paralelo, autores que seguem o caminho da invenção e do humor. Dito isso, o Brasil sempre se caracterizou por ter seus próprios movimentos. Basta pensar nas três fases do modernismo brasileiro para ver que o país tem uma literatura absolutamente única, com escritores maravilhosos como Machado de Assis, Guimarães Rosa e tantos outros. Dos contemporâneos, admiro muito Andrea del Fuego. "As Miniaturas" foi o primeiro livro que li por ela e me apaixonei por sua imaginação narrativa impressionante!

Resenhando.com - Eleja um autor argentino e um brasileiro que são seus favoritos.
Betina González - Clarice Lispector é, sem dúvida, uma das maiores escritoras não só do Brasil, mas do mundo. Sua escrita, seu universo eram únicos. Assim como Machado de Assis, sobre quem escrevi um dos capítulos de minha tese. Tem que escrever assim, textos que não se assemelham a nada. Se não, por que escrever?


Resenhando.com - No seu romance "Arte Menor" , você  conta a história de uma filha em busca da memória da figura paterna. Que elementos você utiliza da sua vida real para criar histórias?
Betina González - Bem, eu "roubei" essa história de um amigo, cujo pai era artista e tinha muitas amantes. Ocorreu-me que era uma grande história para contar que a filha procura todos os amantes que seu pai tinha de uma pequena estátua que ele fez para todos os seus amantes. Claro, depois coloquei no romance muitas coisas que eram da história argentina e da minha posição como escritora na periferia de Buenos Aires.

Resenhando.com - Qual é a importância da memória para sermos o que nos tornamos?
Betina González - Memória é tudo, não é? Sem memória não somos pessoas nem países. O direito de contar a própria história é muito importante.


Resenhando.com - O título do seu livro "El amor Es Una Catástrofe Natural" faz uma afirmação contundente. Você concorda com isso?
Betina González - Você tem que ler essa história (risos). É mais esperançoso do que parece pelo título. Ainda acredito que o amor verdadeiro é catastrófico, sempre nos transforma. Catástrofe em grego significava algo como um fim imprevisto!

Resenhando.com - O que há de autobiográfico em sua escrita? Em que você se expõe mais, e em que protege mais?
Betina González - Pouco. Não estou interessada em contar a minha vida, não acho que seja um assunto interessante. Infelizmente, a vida ainda se esconde em sorrisos.

Resenhando.com - Quem é Betina González pela própria Betina González?
Betina González - Escrevo desde os oito anos de idade para não ser a Betina González, então, neste momento, posso dizer que não sou ninguém. Na verdade, esse é o nome do meu próximo livro: "Como se Tornar Ninguém".


Serviço
A Feira do Livro
De 29 de junho a 7 de julho de 2024
Local: Praça Charles Miller – Pacaembu / São Paulo
Entrada gratuita

.: Novo livro: com poema ilustrado, Neil Gaiman reverte renda para refugiados


“Às vezes basta que um estranho, num lugar escuro, doe um cachecol mal tricotado. Ofereça uma palavra gentil"
. Em 2019, Neil Gaiman perguntou a seus seguidores no Twitter: Quais são suas memórias de se sentir aquecido? Após mais de mil respostas, ele começou a tecer as contribuições vindas de todo o mundo em um poema que foi doado para a campanha de inverno do Acnur. O poema revelou o desejo compartilhado de nos sentirmos seguros, bem-vindos e aquecidos em um mundo que muitas vezes pode parecer assustador e solitário.

O livro "Do que Você Precisa para se Aquecer", escrito por Neil Gaiman e lindamente ilustrado por 13 artistas, aquece o coração dos leitores e ainda ajuda a manter aquecidas pessoas forçadas a deixar suas casas durante o inverno As vendas do livro apoiam o trabalho do ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, da qual Gaiman embaixador da boa-vontade. Como organização humanitária, o ACNUR trabalha no acolhimento emergencial e integração de pessoas refugiadas em todo o mundo. No Brasil, a agência vem apoiando a resposta às inundações no Rio Grande do Sul. A tradução é de Renata Pettengill.

Em uma edição com capa dura e ilustrado por um grupo de artistas internacionais, "Do que Você Precisa para se Aquecer" aborda o deslocamento forçado e a fuga de situações de conflito ou de desastres climáticos através dos objetos e das memórias de representam o calor físico e humano. O poema fala do direito de nos sentirmos seguros, onde quer que estejamos, independentemente da nossa origem. É sobre estender a mão para dar as boas-vindas àqueles que, de repente, se veem muito longe de casa.

Autor de vários best-sellers publicados ao redor do mundo, Neil Gaiman é autor de "Sandman", uma das HQs mais importantes da história, que virou série de sucesso da Netflix, e de outros livros que foram adaptados para o cinema e para a TV. O livro tem ilustrações inéditas de Chris Riddell, Benji Davies, Yuliya Gwilym, Nadine Kaadan, Daniel Egnéus, Pam Smy, Petr Horácek, Beth Suzanna, Bagram Ibatoulline, Marie-Alice Harel, Majid Adin e Richard Jones, além de uma capa instigante e linda de Oliver Jeffers. As vendas de cada exemplar ajudarão a apoiar o trabalho do ACNUR, que dá assistência a comunidades deslocadas à força e a pessoas apátridas ao redor do globo.

Sobre o autor
Neil Gaiman é um aclamado autor de livros adultos e infantis, ganhador de diversos prêmios, incluindo o Carnegie e a Medalha Newbery. Ele apoia o ACNUR desde 2013 e em 2017 foi nomeado embaixador da boa-vontade. Compre o livro "Do que Você Precisa para se Aquecer", de Neil Gaiman, neste link.

Sobre o ACNUR
O ACNUR (Agência da ONU para Refugiados) é uma organização humanitária internacional que protege e apoia pessoas forçadas a deixar suas casas devido a conflitos, perseguições ou graves e generalizadas violações de direitos humanos. Criada em 1950, a agência está presente em 135 países, fornecendo assistência vital em situações de emergência, como abrigo e educação, e trabalha incansavelmente para garantir que os refugiados possam construir um futuro melhor. Por seu trabalho, a agência já foi reconhecida duas vezes com o Prêmio Nobel da Paz (1954 e 1981).

Sobre os ilustradores
Bagram Ibatoulline
é um ilustrador estadunidense premiado, que ilustrou mais de 30 livros infantis aclamados. Suas obras foram publicadas ao redor do mundo e traduzidas para dezenas de idiomas. Ele é celebrado internacionalmente por best-sellers como "A Extraordinária jornada de Edward Tulane", que ocupou a primeira posição da lista de best-sellers do New York Times; Crossing, que foi eleito Melhor Livro do Ano pela Publishers Weekly; e Great joy, Top 10 dos livros infantis da Time. Seu trabalho é frequentemente exposto em galerias, museus e diversas instituições culturais.

Benji Davies é um ilustrador, autor e diretor de animação. Leo e a baleia, o primeiro livro que ele mesmo escreveu e ilustrou — considerado um clássico moderno — ganhou o primeiro Oscar’s Book Prize e foi o livro ilustrado do ano na Holanda em 2017. Seu segundo livro, A ilha do vovô, recebeu aclamações parecidas, ganhou a categoria de livro infantil da AOI World Illustration Awards e foi coroado o Livro Infantil do Ano na Sainsbury’s Children’s Book Awards. Em 2020, ganhou o Oscar’s Book Prize pela segunda vez com Tad, uma história sobre um girino procurando seu caminho na grande lagoa. Os três livros foram adaptados para o teatro.

Beth Suzanna é uma ilustradora e designer baseada em Bristol e apaixonada por cores vibrantes e formas. Ela é defensora da diversidade nas representações e seu trabalho frequentemente fala sobre problemas recorrentes na sociedade moderna. Beth estava na lista de finalistas do Waterstones Children’s Book Prize por seu livro ilustrado de estreia, The missing piece, com seu co-autor Jordan Stephens e foi uma artista-residente do Hay Festival em 2023.

Chris Riddell é um ilustrador muito amado e cartunista político aclamado. Ele ganhou o Nestlé Gold Award e duas medalhas Kate Greenaway. É co-criador de Crônicas da fímbria, grande sucesso e best-seller do New York Times. Chris também colaborou com diversos autores em livros infantis, como Paul Stewart, Neil Gaiman, Russell Brand e Michael Rosen. 

Daniel Egnéus é um artista prolífico que ilustrou inúmeros livros, inclusive muitos de Neil Gaiman. Ele foi eleito Melhor Ilustrador pela Associação de Ilustradores em 2005, e seu livro ilustrado, Lubna and Pebble, escrito por Wendy Meddour, foi escolhido como um dos 10 Melhores Livros Ilustrados de 2019 pela Time. Ele ilustrou inúmeros títulos para a Bloomsbury, incluindo Be wild, little one, de Olivia Hope, e A raposa, de Isabel Thomas. Ele é baseado em Atenas.

Majid Adin é um artista e animador do Irã, que agora vive em West Hampstead. Ele foi forçado a fugir de seu país natal. Fez uma jornada pela Europa, onde passou vários meses na “selva” de Calais antes de chegar ao Reino Unido no dia 20 de abril de 2016. Seus trabalhos recentes incluem projetos com as instituições Good Chance, Art Refuge UK, Positives Negatives, Help Refugees e House of the Illustration. A animação premiada de Majid para a canção Rocket man, de Elton John, foi exibida no Festival de Cannes de 2018.  

Marie-Alice Harel é uma premiada autora e ilustradora francesa, baseada em Edimburgo, na Escócia. Ela faz o design e ilustra livros para leitores de todas as idades. Seu trabalho, normalmente bem tradicional (aquarela, lápis e tinta), é exposto com regularidade em galerias do Reino Unido, dos Estados Unidos e da França. Ela dá aula de ilustração de livros na Schoolism. Marie-Alice também faz livros de artista, outra maneira divertida de combinar imagens e histórias. Seu trabalho autopublicado é assinado sob o pseudônimo MÄ Harel. Ela era doutora e pesquisadora de geociências antes de se tornar ilustradora em tempo integral em 2016. 

Nadine Kaadan é uma premiada autora e ilustradora de livros infantis da Síria e que vive em Londres. Ela é publicada em diversos países e idiomas e sua missão é advogar a favor de representatividade empoderada e inclusiva em livros infantis, para que toda criança possa se ver em uma história. O trabalho de Nadine para mitigar o trauma pós-conflito com jovens refugiados capturou a atenção da CNN e da BBC, e ambas as emissoras transmitiram matérias especiais sobre os livros Tomorrow e The jasmine sneeze. Ela foi nomeada para uma medalha Kate Greenaway e foi a vencedora do Prêmio para Cultura do Arab British Centre em 2019. Nadine foi selecionada como uma das “100 mulheres mais influentes e inspiradoras” da BBC em 2020 e participou da masterclass de 100 mulheres da BBC. Em 2021, Nadine foi comissionada pelo The Story Museum para escrever Amal meets Alice, um evento em procissão que aconteceu em Oxford e que reuniu mais de 100 artistas e 8000 espectadores. Seu último livro, The kind activity book, ilustrado por Nadine e Axel Scheffler — ilustrador de O Grufalo — foi publicado pela Scholastic e parte de seu lucro vai ser doado para The Three Peas — uma ONG de caridade que ajuda refugiados sírios. 

Oliver Jeffers é um artista visual e autor que trabalha com pinturas, produção de livros, ilustrações, colagens, performances e esculturas. Curiosidade e humor são temas subjacentes na prática de Oliver como artista e contador de histórias. Seu trabalho original já foi exposto no Brooklyn Museum, em Nova York, no Irish Museum of Modern Art, em Dublin, no National Portrait Gallery, em Londres, e no Palais Auersperg, em Viena. Jeffers recebeu vários prêmios, inclusive o New York Times Best Illustrated Children’s Books Award, o Bologna Ragazzi Award, o Irish Book Award, o United Kingdom Literary Association Award e um MBE da Rainha Elizabeth II por seus serviços especiais para as artes. 

Pam Smy é uma ilustradora que se especializou em ficção antiga. Ela ilustrou para autores como John Agard, Penelope Lively, Siobhan Dowd, Linda Newbery e Lucy Strange. Seu primeiro romance, Thornhill, foi um dos finalistas do CILIP Greenaway Prize de 2017. Pam também é uma professora na matéria de ilustração de livros infantis do mestrado de artes da Cambridge School of Art. Ela mora em Suffolk e ama caminhar cedo de manhã com seu cachorro, ler, e escutar histórias na rádio. 

Petr Horáček nasceu em Praga e estudou na Academia de Belas Artes. Depois de se formar em 1994, se mudou para a Inglaterra. Seus dois primeiros livros ilustrados foram publicados em 2001, e com isso ele ganhou o Prêmio de Estreante de Livros Infantis. Desde então, ganhou muitos outros prêmios e honrarias internacionais, e foi finalista do Independent Booksellers Week Book Award em 2016 com o livro The mouse who reached the sky; seu livro Choo choo ganhou a categoria Best Everyday Book for One-year Olds na premiação Myra Robertson Baby Book of the Year; em 2013 ganhou o Parents Best Book of the Year com Animal opposites; foi finalista da medalha Kate Greenaway em 2012 com Puffin Peter; e ganhou o Livro Ilustrado do Ano em 2006 pela edição holandesa de A new house for mouse. Petr faz mentoria com ilustradores aspirantes e workshops para crianças em festivais literários, livrarias e escolas. Ele mora em Worcestershire, no Reino Unido. 

Richard Jones nasceu em Warwickshire e vive e trabalha em Devon há mais de 20 anos. Richard se formou em design gráfico e ilustração com honras e tem um doutorado da Universidade de Plymouth. Ele cria ilustrações que chamam atenção, com uma paleta de cores suave e abrandada e personagens memoráveis. Seus livros ilustrados incluem Sentimentos e Town mouse, country mouse, ambos escritos por Libby Walden e publicados originalmente pela Little Tiger Press. Bird builds a nest e The squirrels’ busy year foram escritos por Martin Jenkins e publicados pela Walker Books, e Marion Dane Bauer foi a autora de Winter dance, publicado pela Houghton Mifflin Harcourt. Seu livro ilustrado The snow lion escrito por Jim Helmore, lançado em 2017 pela Simon and Schuster foi publicado em 20 idiomas. 

Yuliya Gwilym é ilustradora, designer e autora focada em criar para crianças. Nascida e criada em Kiev, Ucrânia, Yuliya mora e trabalha na Holanda com seu parceiro Sam e seus dois filhos. Garanta o seu exemplar de "Do que Você Precisa para se Aquecer", escrito por Neil Gaiman, neste link.


.: "Escola Modelo" propõe diálogo sobre racismo e os desafios da educação


Peça dirigida por Fernando Vilela traz em cena Pedro Granato e Letícia Calvosa refletindo as estruturas sociais sob diferentes perspectivas. Espetáculo estreia em junho no Sesc Ipiranga. Foto: José de Holanda


O espetáculo "Escola Modelo" convida os espectadores a uma jornada e reflexiva sobre os impactos das ações afirmativas e do racismo estrutural na formação escolar. Com direção de Fernando Vilella e dramaturgia de Bruno Lourenço, a está em cartaz no Sesc Ipiranga. A temporada segue até 21 de julho, com sessões sextas-feiras, às 21h30, e aos sábados e domingos, às 18h30. Sessão no feriado de 9 de julho, às 18h30.

Pot meio de experiências pessoais dos performers Pedro Granato e Letícia Calvosa, o projeto propõe uma narrativa que atravessa as fronteiras entre o público e o privado, o político e o pessoal. Calvosa, uma mulher negra que enfrentou dilemas sobre as cotas ao ingressar na universidade, e Granato, um homem branco que foi gestor público de formação, refletem sobre como o racismo moldou suas trajetórias educacionais. 

Como estudante negra, sei que a formação escolar é um momento de muitas descobertas sobre o mundo e sobre si. Um momento delicado que, se não for bem experienciado pelo aluno, pode apagar suas potencialidades e história. O racismo estrutural se apresentou pra mim nesse processo com professores sem letramento racial, com materiais didáticos pensados pela branquitude e para a branquitude, sem referências onde eu me visse representada”, conta a atriz.

Para Granato, que implementou cotas raciais em programas educacionais e levou escolas para as periferias durante sua atuação no poder público, também é preciso questionar sobre a forma que algumas instituições têm inserido alunos em seus espaços. "Incomoda quando essas mesmas escolas que por décadas segregaram agora buscam, à custa de muito dinheiro, se colocar como pioneiras da luta antirracista. Meu foco central é a defesa de uma transformação estrutural, política de nossa desigualdade racial. E que possamos também aprofundar esse debate encontrando as sombras do processo para não se transformar em algo maniqueísta que serve mais para redes sociais que transformações reais", reflete.

A criação do texto partiu de duas forças condutoras, segundo o dramaturgo Bruno Lourenço. “O privado (relatos pessoais, pensamentos, reflexões) e o público (poder público, leis, instituições). Tudo isso permeado pelo discurso de raça e gênero, que atravessa o espetáculo, e a oposição fundamental entre trabalho e sonho (segundo a semiótica discursiva de Greimas), explica. Autores brasileiros importantes como Sílvio de Almeida, Sueli Carneiro, Lívia Sant'anna Vaz e Cida Bento também foram fontes de debates apresentados no texto.

A peça se desenrola em uma ambientação que mescla elementos de sala de aula com a linguagem da contação de histórias, permitindo ao público uma imersão profunda nas reflexões propostas. Através do Teatro Épico de Bertolt Brecht, a encenação busca criar um distanciamento que possibilita o pensamento crítico, convidando os espectadores a questionar as estruturas sociais e educacionais vigentes.

“Se estamos aqui hoje discutindo a desigualdade racial, o plano de ensino nas escolas, a estrutura da educação, uma pergunta que se lança é: qual o modelo educacional que gostaríamos de ter, que fosse comum a todos, para os próximos anos? O público é parte fundamental da discussão. Pois é a partir dele, pela sua identificação, que podemos elaborar juntos novos caminhos a serem tomados, quanto sociedade, quanto país”, diz o diretor Fernando Vilela. 

A cenografia, inspirada no filme "Dogville", de Lars von Trier, utiliza módulos rotativos que lembram lousas escolares, criando um espaço versátil que se transforma em diferentes ambientes conforme a narrativa avança. Cadeiras coloridas infantis dispostas entre o público reforçam a atmosfera escolar, enquanto os elementos cênicos provocam sobre as relações de poder e as dinâmicas sociais presentes no contexto educacional.


Ficha técnica
Elenco: Pedro Granato e Letícia Calvosa | Direção: Fernando Vilela | Dramaturgia: Bruno Lourenço | Assistente de direção: Jota Silva | Desenho de luz: Ariel Rodrigues | Direção de arte: Fernando Vilela | Figurino: Thais Sakuma | Preparação Vocal: Malú Lomando | Técnico de Palco: Victor Moretti l Técnico de Luz: Ariel Rodrigues l Técnico de Som: Jota Silva l Produção Executiva: Carolina Henriques l Assistência de Produção: Rommaní Carvalhol Fotos Divulgação: José de Holanda | Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli l Produção e Realização: Jessica Rodrigues Produções e Pequeno Ato l Direção de Produção: Jessica Rodrigues.


Serviço
Espetáculo Escola Modelo - Estreia dia 14 de junho no Sesc Ipiranga.
Temporada: até dia 21 de julho de 2024 - Sexta-feira, às 21h30. Sábados e domingos, às 18h30.
Terça-feira, 9 de julho, às 18h30.
Classificação etária: Não recomendado para menores de 12 anos.
Duração: 60 minutos.
Sesc Ipiranga – Rua Bom Pastor, 822, Ipiranga
Horário de funcionamento: Terça a sexta, das 7h às 21h30; aos sábados, das 10h às 21h30; domingos e feriados, das 10h às 18h30.
Local: auditório
Capacidade: 30 lugares.
Informações: (11) 3340-2035.
Ingressos: R$50 (inteira), R$25 (meia-entrada) e R$15 (credencial plena)
Vendas pelo site sescsp.org.br/ipiranga e nas unidades do Sesc.

.: "Telepatia": Flavio Venturini e Ricardo Bacelar fazem parceria em EP


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Fruto da primeira colaboração entre o cantor e compositor Flávio Venturini e o multi-instrumentista, cantor e produtor Ricardo Bacelar, o EP "Telepatia" já está disponível nas plataformas digitais pelo selo Jasmin Music. O trabalho une pela primeira vez os dois talentos de nossa MPB, que mostram um resultado acima da média. 

Gravado no Jasmin Studio, em Fortaleza, o EP traz três canções, de ritmos variados, incluindo a inédita “Samba Saudade”, primeira parceria de Venturini e Bacelar, com a colaboração do letrista Murilo Antunes. A convite de Ricardo Bacelar, Flávio Venturini instalou-se em Fortaleza durante a temporada de criação e gravação do EP. O projeto contou ainda com a participação do guitarrista e produtor Torcuato Mariano, convidado por Venturini para dividir a produção com Ricardo Bacelar.

Além da canção inédita já citada, o EP reúne “Telepatia”, parceria de Venturini e Jorge Vercillo, e “Lareira”, saída do baú de composições do mineiro de Belo Horizonte. O EP conta ainda com Robertinho Marçal na bateria, Hoto Júnior na percussão e Nélio Costa no contrabaixo.

Sobre o processo em estúdio, Ricardo Bacelar detalha: “Nós fizemos tudo juntos. Como somos ambos pianistas e tecladistas, houve muita troca de ideias. Dividimos os vocais nas três músicas, também. Pra mim foi uma satisfação receber o Venturini aqui em Fortaleza”.

Para o ouvinte que curte a MPB, a inédita parceria abre um novo horizonte, enquanto que a dupla Venturini e Bacelar apresentam uma nova perspectiva de produção autoral para o futuro. A fusão dos dois talentos mostrou que a união realmente faz a força.

"Lareira"

"Telepatia"

"Samba Saudade"

.: Romance "O Amor e Sua Fome", de Lorena Portela, tem força e delicadeza


Lançado pela editora Todavia, o romance "O Amor e Sua Fome", escrito por Lorena Portela, é um romance de força e delicadeza extraordinária, da autora de "Primeiro eu Tive que Morrer""Em qualquer cidadezinha, enterro é evento pra ir todo mundo, cachorro, pessoas e também crianças, sem distinção nenhuma, conhecidos ou não”. Nessa cidadezinha em particular, o morto é seu Jeremias, e as crianças são Dora e Esmê, duas primas inseparáveis, cuja alegria não é abalada nem pelo defunto ali diante delas. Pelo contrário, as duas se ocupam de um santinho pendendo do bolso de Jeremias, num jogo de cumplicidade e graça. O pequeno episódio, que de alguma forma irá marcar a vida de ambas, é um retrato bem-acabado dessa relação incomum. 

Dora foi criada sem a mãe, e por um pai entregue à solidão e à apatia, um ente silencioso que vive na penumbra. Desse lar fantasmagórico, Dora salta todos os dias para a vida ao lado de Esmê, sua abertura para o mundo lá fora, acompanhada também pelos vizinhos e por Joana, a amiga-desatino. O mundo lá fora é Rio do Miradouro, uma cidade no interior do Ceará, daquelas em que todos sabem da vida de todos e onde cada um tem uma opinião sobre como o outro deve viver. Seria assim com a dupla, se Dora e Esmê fossem de dar satisfação. As meninas navegam Miradouro fazendo troça, criando um planeta próprio. Quando muito, uma rara escapada para as praias de Fortaleza ou uma ida ao supermercado, onde Dora pode fingir que um carrinho de compras cheio não é, paradoxalmente, o retrato de tudo que lhe falta.

Quando a infância vai se afastando no retrovisor, a adolescência traz consigo Jaime e as primeiras descobertas. Dora e Esmê dividem tudo e a cumplicidade de ambas, antes infantil, ganha novos contornos: a dupla vira um trio e a vida adulta chega, enfim, com suas belezas e ausências. Neste romance de extraordinária força e delicadeza, Lorena Portela captura, na passagem do tempo, os movimentos íntimos do amor e do amadurecimento, assim como os efeitos da solidão e do desamparo. O amor e sua fome conduz a protagonista por um caminho de dor e loucura, numa trama surpreendente sobre a natureza da família e as consequências de uma busca silenciosa e desesperada. Compre o livro "O Amor e Sua Fome", de Lorena Portela, neste link.

Sobre a autora
Lorena Portela nasceu em Mombaça, sertão central do Ceará. Jornalista de formação, cresceu em Fortaleza e viveu em Lisboa até se mudar para Londres, onde mora desde 2019. Seu romance de estreia, "Primeiro eu Tive que Morrer" (2020), publicado inicialmente de maneira independente, conquistou o público e foi um sucesso de vendas. Garanta o seu exemplar de "O Amor e Sua Fome", escrito por Lorena Portela, neste link.

.: Comédia "Antes do Ano Que Vem", estrelada por Mariana Xavier, volta a SP


Texto de Gustavo Pinheiro trata com sensibilidade e leveza de um tema preocupante, saúde mental, sob direção de Ana Paula Bouzas e Lázaro Ramos. O espetáculo, que já fez mais de 100 sessões lotadas, é mais uma realização da Trampo Produções e da WB Produções, dos produtores associados Bruna Dornellas, Mariana Xavier e Wesley Telles. Foto: Adriano Dória


Logo depois de uma temporada de grande sucesso no Rio de Janeiro, a comédia "Antes do Ano Que Vem", estrelada pela atriz Mariana Xavier retorna a São Paulo para uma temporada popular no Teatro Itália Bandeirantes, de 19 de julho a 8 de setembro, com ingressos a R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia-entrada). As apresentações acontecem às sextas e aos sábados, às 20h00, e aos domingos, às 18h00. Com texto inédito de Gustavo Pinheiro, o espetáculo trata com leveza e esperança nossas dores emocionais e nossa capacidade de se reinventar para contornar os desafios da vida. A montagem tem direção de Ana Paula Bouzas e Lázaro Ramos e direção de movimento de Márcio Vieira. 

O espetáculo já foi visto por mais de 45 mil pessoas em mais de 100 apresentações. O trabalho também já passou por Manaus (AM), Vitória (ES), Maceió (AL), Brasília (DF), Curitiba (PR), Campinas (SP), Teresina (PI), São José dos Campos (SP), Salvador (BA), Aracaju (SE), Uberlândia (MG), São Luís (MA), Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS), Pelotas (RS), Caxias do Sul (RS), São Francisco do Sul (SC) e São Lourenço D’Oeste (SC).  

A nova temporada é possível graças ao projeto viabilizado através do Programa de Ação Cultural (ProAC), lei de incentivo do Estado de São Paulo, apresentado pela empresa Algar e com patrocínio da Foxconn. Mariana Xavier, a inesquecível Marcelina de "Minha Mãe É Uma Peça", se desdobra para dar vida a sete mulheres, que terão suas histórias conectadas através da Central de Apoio aos Desesperados, referência a atendimentos telefônicos voluntários que existem para tentar reverter situações que podem levar a medidas extremas. São elas:

Dizuite, a faxineira do CAD que só queria terminar o trabalho e passar a Virada com a família. Dra Telma, a terapeuta deprimida. Jussara, a atendente de telemarketing que sonha em voltar para o emprego de cozinheira. Gracinha, a anfitriã cujos convidados não aparecem na festa, mas se esconde na positividade tóxica. Maria de Lourdes, a socialite falida prestes a matar o marido. Michelle, a adolescente carente de atenção dos pais que foi traída pelo namorado e pela melhor amiga. Tia Xinda, a idosa que não sabe como pedir desculpas à sobrinha pela briga no Natal.

É noite de Ano Novo. Dra Telma, a psicóloga plantonista do CAD, não aparece para trabalhar e Dizuite, que não foi preparada para a função, mas administra com sabedoria popular as dores e delícias do próprio cotidiano, é quem acaba auxiliando as pessoas que estão do outro lado da linha em busca de ajuda, de um conselho, de um ombro ou apenas de alguém que as escute. Com sua “psicologia própria”, hilária e impulsiva, Dizuite assume a missão de mostrar a essas mulheres que vale a pena viver e que ainda dá pra ser feliz antes do ano que vem. O espetáculo é mais uma realização da Trampo Produções e da WB Produções, dos produtores associados Bruna Dornellas, Mariana Xavier e Wesley Telles. 

“A peça se passa na noite de Réveillon, quando há um aumento significativo no número de ligações com pedidos de ajuda. Datas como esta, de 'felicidade obrigatória', fazem aflorar ainda mais as emoções de quem não está lá muito satisfeito com a própria vida”, explica a atriz. A peça também se propõe a discutir questões fundamentais para a sociedade contemporânea, como solidão, empatia, solidariedade e a nova ditadura de felicidade imposta pelas interações virtuais. “O humor abre portas para novas percepções do mundo. Vivemos num tempo em que rir é o primeiro remédio para as nossas mazelas. Com este texto e o grande talento de Mariana, damos um salto além no humor atual que fala das mulheres”, afirma o diretor Lázaro Ramos.

Mariana Xavier também confessa: "Um misto de excitação e medo: é o que toma conta de tanta gente na noite de réveillon e também o que eu sinto nesse momento, encarando meu primeiro espetáculo solo. Antes do Ano Que Vem já é o maior desafio da minha carreira e prova que é possível fazer arte popular com qualidade e sensibilidade. Acredito na comédia como ferramenta não só de entretenimento, mas de crítica e reflexão. Acredito também no poder transformador da empatia e é através dela que esperamos que o público saia do teatro leve, afagado e um pouco transformado também".

Para o autor Gustavo Pinheiro, “o riso que propomos à plateia nesta comédia é o de compaixão, nunca do deboche. É o riso da empatia, de quem também tem suas dores e sabe que vivê-las e superá-las faz parte do jogo. Torço para que este espetáculo seja um convite para que cada pessoa na plateia também pense o que pode fazer por si mesmo, pela sua felicidade, o quanto antes. Se possível, antes do ano que vem”.

Sinopse
Hilária e impulsiva, com “psicologia própria”, Dizuite distribui conselhos de esperança por telefone para mulheres com dores emocionais e mostra a capacidade de se reinventar para contornar os desafios da vida e que vale a pena viver, que ainda dá pra ser feliz antes do ano novo chegar.

Ficha técnica
Elenco: Mariana Xavier
Texto: Gustavo Pinheiro
Direção: Ana Paula Bouzas e Lázaro Ramos
Idealização: Mariana Xavier
Direção de produção: Bruna Dornellas e Wesley Telles
Direção de movimento: Márcio Vieira
Produção executiva: Erika Horn
Assistente de produção: Alana Carvalho
Gestão de projetos: Deivid Andrade
Assistente de produção: Lays Mattos
Consultoria terapêutica: Rossandro Klinjey
Criação de arte: Yasmin Campbell
Design gráfico: Jhon Lucas Paes
Design de luz: Adriana Ortiz
Cenário: Natalia Lana
Cenotécnico: André Salles e Equipe
Costureira de Cenário: Nice Tramontin
Figurino: Tereza Nabuco
Costureira Figurino: Adélia Andrade
Preparação vocal: Jorge Maia
Trilha sonora: Jarbas Bittencourt
Operador de Som: Júlio Coelho
Operador de Luz: Matheus Espessoto
Fotos de cena: Adriano Dória
Mídias Sociais: Ismara Cardoso
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Coordenação Administrativa: Vianapole Comunicação
Contabilidade: Gavacon Contabilidade
Assessoria jurídica: Maia, Miranda & Benincá Advocacia
Produtores associados: Bruna Dornellas, Mariana Xavier e Wesley Telles
Apresentado por: Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativa, e Algar
Patrocínio: Foxconn
Realização: WB Produções e Trampo Produções


Serviço
"Antes do Ano Que Vem", com Mariana Xavier
Temporada popular: de 19 de julho a 8 de setembro
Às sextas e aos sábados, às 20h, e aos domingos, às 18h
Teatro Itália-Bandeirantes – Avenida Ipiranga, 344, República
Ingressos: R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia-entrada)
On-line pelo site ou app da Sympla
Na bilheteria do teatro durante a temporada, todos os dias de espetáculo 2h antes.
Classificação: 12 anos
Duração: 60 minutos
Vendas Sympla: https://bileto.sympla.com.br/event/94383
Acessibilidade: Teatro com espaço acessível para cadeirantes e pessoas com dificuldade de locomoção. Intérprete de libras e audiodescrição todos os sábados da temporada.
Informações: wbproducoes.com ou pelo WhatsApp 2799293-7558.
Durante todos os sábados da temporada temos bate-papo após o espetáculo, onde a atriz Mariana Xavier e mais um convidado especial falam sobre o espetáculo e o tema da peça, saúde mental.

.: Elisa Lucinda faz nova temporada da peça “Parem de Falar Mal da Rotina”


Atriz e autora do espetáculo, Elisa Lucinda trata o cotidiano como espaço de estreia e criatividade, e não como uma repetição.Foto: Jonathan Estrella


Livro e peça teatral, "Parem de Falar Mal da Rotina" é um fenômeno. Não se tem notícia, pelo menos no Brasil, de outro monólogo criado e protagonizado por uma mulher negra que tenha arrastado milhares de espectadores pelo país inteiro e fora dele, por 22 anos. O espetáculo de Elisa Lucinda volta em cartaz em São Paulo no Teatro Liberdade no dia 22 de junho para uma curtíssima temporada.

Na peça, dirigida por Geovana Pires, a atriz e autora trata o cotidiano como espaço de estreia e criatividade, e não como uma repetição. Para tanto, desfila sua poesia e suas encantadoras histórias cênicas para revelar ao espectador os nossos óbvios, onde o público se vê. O resultado traz uma experiência na qual, por pouco mais de duas horas, o espectador ouve elogios à rotina, e é convidado a uma auto-observação de nossa dramaturgia diária. 

A chave, da qual parte a autora, é simples, porém fundamental: a rotina é feita de um conjunto de escolhas. Toda geografia de nossos atos cotidianos é desenhada por nossos desejos e decisões diante das opções, portanto, nós somos os responsáveis pelo que chamaremos de rotina e ninguém é culpado deste desenho. Só nós mesmos. Depois de nos levar a rir e chorar de nós mesmos, a sequência de cenas nos leva a crer no poder que temos, cada um, de atuar nessa rotina, de modo a otimizá-la, melhorá-la, trazê-la para mais perto dos nossos sonhos. Em verdade, nós temos o poder da mudança, nós somos os diretores, atores, autores, roteiristas e produtores das nossas próprias vidas.

“A peça nasceu das inúmeras lições que a natureza nos ensina todo dia. A grande lição é a capacidade de estreia que faz tudo na natureza acontecer de forma espetacular di-a-ri-a-men-te: o nascer do sol, o pôr do mesmo sol, o céu, a chuva, as estrelas, os ventos e as tardes. A natureza ensina a toda gente, mas, às vezes, alunos distraídos que somos, não vemos o lindo óbvio que ela nos oferece e as dicas que ela pode nos dar na condução de nossa vida diária”, conta a atriz e autora do espetáculo.

Junto com a Geovana Pires, Elisa Lucinda criou a Companhia da Outra, que assina o espetáculo. A linguagem desenvolvida nesta obra “engana” o público, pois, seu arcabouço de condução coloquial leva o espectador a achar que tudo é improviso, mas com as surpresas cênicas e algumas repetições de cena, acaba-se concluindo que tudo ali é marcado, ensaiado, ainda que muitos improvisos aconteçam realmente, fruto da interação com a plateia que o espetáculo propõe.

Deselitizando a poesia, Elisa fala o texto poético como quem conversa com o público, emociona e diverte com suas palavras gente de zero a cem anos, de todo o tipo e lugar. A experiência assemelha-se a uma espécie de autoajuda inteligente, uma aula de cidadania através da educação emociona.

Comemorando vinte e dois anos de estrada, o espetáculo abraça plateias e admiradores no Brasil e no exterior, com sucesso de público e crítica. A cerimônia de repeti-lo todos os dias especializou sua criadora na arte de estreá-lo diariamente. A escolha dessa linguagem de roteiro aparentemente imprevisível para quem vê, produziu um outro fenômeno que é a repetição do público. 

Ao final, Lucinda pergunta quantas pessoas já viram a peça. Geralmente a resposta positiva vem de 30 a 40% do público, que quer ver de novo uma, duas, três, oito, quinze, trinta vezes. Ele quer ouvir de novo aquilo que não refletiu direito da primeira vez, ou quer experimentar aquela sensação num outro dia. É muita informação. Sem contar que cada qual quer que seu pai, sua irmã, seu primo, seu novo amor, seu amigo que ainda não viu, veja. E não basta só indicar. Cada um quer trazer o amigo pessoalmente, levá-lo, assistir suas reações. 

Talvez o público não espere nunca que essa peça pare, pois está sempre disposto a estar presente nas próximas temporadas lotando os teatros, fazendo confusão de acesso de pessoas na porta. Como o espetáculo já atingiu sua maioridade, não é incomum que apareçam espectadores que foram acompanhados dos pais dentro da barriga, ou bebês ainda, e que hoje, adultos, voltam com esses pais e trazem novos amigos. De alguma maneira, a receita dessa obra leva uma comunicação transversal a toda a população brasileira e, por que não, mundial. Compre o livro "Parem de Falar Mal da Rotina", de Elisa Lucinda, neste link.


Ficha técnica
Texto e Atuação: Elisa Lucinda
Direção: Geovana Pires
Direção de Produção: Rafael Lydio
Cenografia: Gisele Licht
Figurinos: Christina Cordeiro
Iluminação: Djalma Amaral
Operador de Luz: Marcelo Demarchi
Operador de Som: Alessandro Aoyama - JAPA
Camareiro/contrarregra: Eduardo Brandão
Coordenador de Comunicação: Daniel Barboza
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio Assessoria de Imprensa
Realização: Casa Poema
Produção: Paragogí Cultural


Serviço
Espetáculo “Parem de Falar Mal da Rotina”
De 22 de junho a 20 de julho de 2024, em curta temporada
Horários: sábados, às 21h00     
Duração: duas horas
Gênero: teatro
Classificação: 14 anos
Local: Teatro Liberdade – Rua São Joaquim 129 – Bairro: Liberdade

.: Exposição "Calder + Miró" traz mais de 150 obras no Instituto Tomie Ohtake


Jaime Acioli, © 2024 Calder Foundation, New York _ Artists Rights Society (ARS), New York _ AUTVIS, Brasil. Alexander Calder, Hello Allentown, 1976, © 2024 Calder Foundation, New York _ Artists Rights Society (ARS), New York _ AUTVIS, Brasil

Ministério da Cultura, Bradesco e Instituto Tomie Ohtake apresentam a exposição "Calder + Miró", que evidencia a ligação entre os trabalhos do escultor norte-americano Alexander Calder (1898-1976) e do espanhol Joan Miró (1893-1983), assim como os desdobramentos dessa amizade na cena artística brasileira. A presente exposição, que já esteve em cartaz no Instituto Casa Roberto Marinho, no Rio de Janeiro, em 2022, chega a São Paulo com novidades. 

Com curadoria de Max Perlingeiro, acompanhado pelas pesquisas de Paulo Venâncio Filho, Roberta Saraiva e Valéria Lamego, a mostra traz  cerca de 150 peças – entre pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, móbiles, stabiles, maquetes, edições, fotografias e jóias. Ao conjunto originalmente exibido na exposição carioca, soma-se uma obra monumental de Calder, além de trabalhos de Tomie Ohtake entre a seleção de artistas nacionais. A exposição conta com o patrocínio do Bradesco na Cota Apresenta, Aché Laboratórios e Dasa com Patrocínio Institucional, Embaixada e Consulados da Espanha no Brasil e Iguatemi na Cota Apoio, através do Ministério da Cultura, via Lei de Incentivo à Cultura e Governo Federal União e Reconstrução.

Ocupando quase todos os espaços expositivos do Instituto Tomie Ohtake, a mostra contempla a amizade entre um dos principais escultores modernos e um dos mais famosos pintores surrealistas. De origens distintas – Calder era norte-americano e Miró espanhol – os dois desenvolveram uma notável amizade iniciada em 1928, quando ambos viviam em Paris. A relação permaneceu profunda até a morte do escultor, em 1976. “Historicamente, a ligação entre os dois artistas foi objeto de estudo de pesquisadores, com resultados surpreendentes, embora romanceada na maioria das vezes, e, ao longo de décadas, realizaram-se inúmeras mostras e publicações. É o que chamo de 'a estética de uma amizade' ", observa Perlingeiro.

De maneira livre e espontânea, Miró combinava formas orgânicas, cores vibrantes e símbolos enigmáticos, criando uma atmosfera única e intrigante. Esses elementos muito presentes em suas obras, também aparecem no trabalho de Calder, estabelecendo uma relação íntima entre ambas as produções e, por consequência, uma das grandes contribuições para a abstração do século 20. Articulados em pontos de equilíbrio estável, os móbiles de Calder são objetos que fazem um movimento sutil provocado pela passagem de ar. Já os stabiles são esculturas sempre apoiadas no chão. Feitas com o intuito de serem grandiosas e dinâmicas, grande parte das obras públicas do artista são stabiles espalhadas por diversos países.

No Brasil, as obras destes artistas apresentam importantes desdobramentos nos debates estéticos e produções artísticas que, a partir da década de 1940,  passaram a pautar a abstração de maneira mais enfática. A relevância das contribuições de Calder e Miró no contexto nacional se mostra, ainda, na larga presença de seus trabalhos em coleções brasileiras — para esta exposição, todas as obras apresentadas são provenientes de coleções públicas e privadas do Brasil.

À frente do núcleo de artistas brasileiros apresentado na mostra, Paulo Venancio Filho selecionou trabalhos de nomes consagrados e influenciados direta ou indiretamente pelas produções de Calder e Miró, como Abraham Palatnik; Aluísio Carvão; Antonio Bandeira; Arthur Luiz Piza; Franz Weissmann; Hélio Oiticica; Ione Saldanha; Ivan Serpa; Mary Vieira; Milton Dacosta; Mira Schendel; Oscar Niemeyer; Sérvulo Esmeraldo; Tomie Ohtake e Waldemar Cordeiro. Como afirma Venâncio Filho: “ Em ambos, Calder e Miró, a abstração não obedecia a um programa pré-determinado. Estava, antes, fundada na intuição e na imaginação e, portanto, aberta ao instável, ao acaso, ao indeterminado — algumas das características que, não por acaso, vamos encontrar no construtivismo brasileiro a partir dos anos 1950 e que vão estabelecer nossa contribuição original à arte abstrata, particularmente na relação entre forma e cor.”, comenta o curador.

"Viúva Negra" ("Black Widow")
Emprestada pelo Instituto de Arquitetos do Brasil – São Paulo (IAB-SP) especialmente para a exposição paulistana, a obra Viúva Negra (Black Widow), com 3,5 metros de altura e 2 metros de largura, terá uma sala exclusiva. A escultura foi restaurada em 2015 pela Calder Foundation, New York, por ocasião de uma retrospectiva do artista na Tate Modern, em Londres. Criada em 1948, a obra foi exposta no Brasil duas vezes neste mesmo ano. Já em 1954, foi doada pelo artista ao IAB/SP, em agradecimento ao apoio na realização das exposições.

A relação com o Brasil
Calder visitou o Brasil pela primeira vez em 1948, quando foram realizadas exposições individuais no Rio de Janeiro (no atual Edifício Gustavo Capanema) e em São Paulo (MASP).  Intermediada pelos arquitetos Henrique Mindlin (1911–1971) e Rino Levi (1901–1965), a correspondência entre Calder e Pietro Maria Bardi (1900–1999), então diretor do MASP, registrou o interesse deste museu em receber os trabalhos do artista, que naquela época já era uma referência central para a escultura moderna. Para Bardi, a mostra seria o encontro das “equações de cor, forma e equilíbrio” de Calder no país em que “o balão de São João, de cores e formas as mais curiosas, constitui um anseio abstracionista”.

No contexto de suas primeiras mostras no Brasil, a crítica nacional já considerava Calder o “arquiteto das formas móveis”, e as noções de movimento, forma e ritmo presentes em sua obra permearam o pensamento de toda uma geração de arquitetos brasileiros. O artista voltaria ao país mais duas vezes, estabelecendo amizade com artistas, críticos e arquitetos brasileiros. Mário Pedrosa (1900-1981), com quem manteve uma relação mais duradoura, foi um dos críticos que mais escreveu sobre o escultor.

Já Miró, mesmo sem nunca ter visitado o Brasil, estabeleceu vínculo com o país desde que conheceu e tornou-se amigo do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999), que chegou a Barcelona em 1947 para servir como vice-cônsul. A relação do artista espanhol com este e outros poetas ganha destaque na exposição. Uma das salas conta com vitrines e monitores com versão animada de seis obras gráficas de Miró, quatro das quais em colaboração com poetas, como o romeno Tristan Tzara (1896-1963), os franceses René Crevel (1900-1935) e Robert Desnos (1900-1945), além do autor pernambucano.


Programação pública
Acompanhando todo o período expositivo de Calder+Miró, o Instituto Tomie Ohtake oferece uma programação pública inteiramente gratuita e destinada a públicos diversos. Instigadas pelas obras e pelos processos criativos dos artistas, as diferentes atividades incluirão ativações, oficinas práticas – como de desenho de observação em movimento –, uma programação voltada à exploração sonora das obras, bem como cursos e rodas de conversa que exploram temas como a relação entre vanguarda brasileira e a abstração - incluindo um curso de dois dias sobre arte abstrata no Brasil, o encontro entre arquitetura e artes visuais no Brasil, e a produção de artistas contemporâneos.

Ainda, o Instituto promoverá uma série de ações voltadas especialmente à educação, oferecendo uma programação de abertura para professores da rede pública, um ciclo de conversas que discutirá a intersecção entre arte e educação, além das visitas mediadas e visitas ateliês oferecidas à escolas e outras instituições. As datas da programação pública serão divulgadas nas semanas pré-abertura da exposição através do site e das redes sociais do Instituto.


Exposição
"Calder + Miró"
Curadoria: Max Perlingeiro
Abertura: 20 de junho, às 19h (convidados)
Em cartaz até 15 de setembro de 2024
De terça a domingo, das 11h às 19h – entrada franca
Instituto Tomie Ohtake
Av. Faria Lima 201 (Entrada pela Rua Coropé, 88) - Pinheiros SP
Metrô mais próximo - Estação Faria Lima/Linha 4 – amarela
Telefone: (11) 2245-1900

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