terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

.: Resenha: "Zona de Interesse" mexe com imaginação sobre genocídio


Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em fevereiro de 2024


"Zona de Interesse" lança provocações inquietantes ao longo de 1h45 de duração. A produção britânica dirigida pelo cineasta Jonathan Glazer, com cinco indicações ao Oscar 2024, inclusive na categoria "Melhor Filme", apresenta como primeira imagem, uma tela preta -tal qual a cegueira de uma noite escura- com sons confusos. Contudo, após alguns minutos, indicando a passagem de tempo, o canto dos pássaros indica o amanhecer quando uma família se diverte na beira de um lago. Poético? Talvez. "Zona de Interesse" é definitivamente ácido e perturbador. 

O longa que tem como pano de fundo o holocausto, embora nada estampe na telona, fica restrito ao outro lado do muro do campo de concentração, mais precisamente a vida dos sonhos do comandante de Auschwitz, Rudolf Höss (Christian Friedel), junto a esposa Hedwig (Sandra Hüller, "Anatomia de Uma Queda") e os filhos. Numa casa com andares e cheia de cômodos, com espaço para um vasto jardim, estufa e piscina para as crianças, o paraíso dos alemães faz divisa com o inferno de explorados em trabalhos braçais, os que vão para a câmara de gás ou ainda conseguem discutir com seus algozes antes de ter a morte decretada por tiros, por exemplo.

Em meio a bandeirolas com símbolos nazistas e grunhidos humanos abafados, os Höss desfrutam de uma vida de família de comercial de margarina. O marido sai para o trabalho com a roupa engomada, as crianças brincam em seus quartos, tendo a área externa como outra opção de entretenimento, enquanto que, com as amigas, Hedwig ri, conversa e oferta algumas peças de roupas retiradas de judias mortas, além de experimentar um lindo casaco de pele e determinar os acertos necessários para a empregada providenciar.

Circundando a carnificina promovida por Hitler, a vida "paradisíaca" da família é alimentanda exclusivamente pela comodidade da mordomia -mesmo que a base da morte de outras pessoas, sem despertar qualquer sentimento de culpa ou revolta. Tanto é que Hedwig fica à espera de joias e até chocolates com total normalidade. "Zona de Interesse" faz refletir enquanto incute um sentimento de asco e revolta.

Também protagonizado por Sandra Hüller, indicada ao Oscar na categoria "Melhor Atriz" por "Anatomia de Uma Queda" -produção também indicada ao Oscar 2024 na categoria "Melhor Filme"-, é um drama histórico adaptado do romance homônimo escrito pelo autor Martin Amis que precisa ser assistido nos cinemas do Brasil. Vale a pena sentir o amargor e a angústia que "Zona de Interesse" causa. O filme é imperdível!


Em parceria com o Cineflix Cinemas, o Resenhando.com assiste aos filmes em Santos, no primeiro andar do Miramar Shopping. O Cineclube do Cineflix traz uma série de vantagens, entre elas ir ao cinema com acompanhante quantas vezes quiser - um sonho para qualquer cinéfilo. Além disso, o Cinema traz uma série de projetos, que você pode conferir neste link. Compre seus ingressos no Cineflix Cinemas Santos aqui: vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN

* Mary Ellen é editora do site cultural www.resenhando.com, jornalista, professora e roteirista, além de criadora do photonovelas.blogspot.com. Twitter:@maryellenfsm 



"Zona de Interesse" ("The Zone of Interest"). Ingressos on-line neste linkGênero: drama, guerra, crimeClassificação: 14 anos. Duração: 1h45. Ano: 2024. Idioma original: inglês, alemão e polonês. Distribuidora: Diamond Films. Direção: Jonathan Glazer. Roteiro: Jonathan Glazer. Elenco: Christian Friedel, Sandra Hüller, Lilli FalkSinopse: Um complexo caso de amor entre um oficial nazista e a esposa de um comandante do campo de concentração de Auschwitz. Tudo se torna ainda mais complicado quando ele começa a suspeitar da infidelidade de sua esposa.


Trailer de "Zona de Interesse"


Leia+

.: Intrínseca: "Na cozinha" com Juliana Gueiros vai para Livraria da Travessa

Chef carioca que conquistou uma legião de seguidores na pandemia traz mais de 150 receitas e dicas para quem quer enriquecer a própria relação com a comida. Juliana Gueiros realiza sessão de autógrafos em evento de lançamento de Na cozinha no Rio de Janeiro nesta quarta-feira (21/02)


A chef Juliana Gueiros promove uma sessão de autógrafos no lançamento de seu primeiro livro, Na cozinha, nesta quarta-feira, 21 de fevereiro, no Rio de Janeiro. O evento acontecerá na Livraria da Travessa do Shopping Leblon a partir das 19h. Na obra, Juliana compartilha de forma detalhada receitas práticas e deliciosas que a tornaram referência para milhares de seguidores nas redes sociais durante a pandemia.  

Famosa por compartilhar receitas saborosas e descomplicadas com os seus mais de 200 mil seguidores no Instagram, a chef Juliana Gueiros agora alça novos voos com o lançamento de Na cozinha, que chega às livrarias em fevereiro pela Intrínseca. A culinária está na vida de Juliana desde que ela se entende por gente: praticamente criada na bancada da cozinha de casa, Juliana preparou a primeira refeição sozinha aos sete anos. Ao longo das duas décadas seguintes, transformou esse amor pela comida em um propósito de vida e obteve um treinamento de excelência.

Você pode comprar "Na Cozinha" com Juliana Gueiros aqui: amzn.to/3uL4xyE

Formada pela escola Le Cordon Bleu de Paris, e com experiência em cozinhas de restaurantes mundo afora, a chef carioca criou um guia prático e eficiente para quem quer se aventurar no universo da gastronomia. Em mais de 150 receitas, a obra oferece dicas valiosas que mostram como o ato de cozinhar pode ser leve e descomplicado. Pratos com carnes, massas, legumes, folhas, peixes e muitos outros ingredientes famosos na mesa do brasileiro são as estrelas do vasto repertório do livro. Hits do Instagram, como a Cenoura Refogada, que celebra a simplicidade e o sabor, aparecem ao lado de receitas carregadas de memória afetiva — o “Bolo Tia Maria”, preparado sem aeração e feito em um pote só, é sucesso garantido pela sua praticidade e pela variedade de versões apresentada no livro.

Com um passo a passo detalhado, sugestões de variações, dicas e curiosidades, Juliana traz preparos com diferentes níveis de complexidade, contemplando não só quem já tem noções culinárias, mas também quem sempre quis aprender e não sabe por onde começar. Para os iniciantes na arte de cozinhar, Juliana Gueiros emprega seu talento de simplificar o que parece complicado. Entre as muitas orientações, a chef oferece informações importantes sobre como comprar e conservar diversos ingredientes que fazem parte do dia a dia de todos e outros mais nobres.

“A cozinha sempre me trouxe paz, um sentimento de pura alegria. Até hoje recebo mensagens de seguidores que me fazem chorar de emoção e felicidade pelo carinho que demonstram e pela transformação que a cozinha causou em tanta gente. Às vezes, o que pode ser banal e simples para um é revolucionário para outro. Descobrir a autonomia, a independência e a liberdade em saber cozinhar é renovador”, conta Juliana.

Dividido em doze capítulos, Na cozinha oferece técnicas e práticas para que o leitor “ganhe cada vez mais confiança para brincar e saborear esse fantástico mundo que é a gastronomia”.


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Juliana Gueiros é chef de cozinha, formada em 2013 entre os primeiros cinco colocados pelo Le Cordon Bleu Paris em Cuisine e Pâtisserie. Depois de se formar como chef, teve experiências em restaurantes internacionais como a Hart Bageri (do grupo Noma), em Copenhagen, e o Lazare, em Paris, mas se encontrou mesmo na culinária afetiva, saborosa e caseira. Na pandemia, começou a compartilhar pratos no Instagram e se encontrou ao dividir receitas, técnicas e dicas por lá.


"Na Cozinha" com Juliana Gueiros

Páginas: 352

Editora: Intrínseca


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.: Só R$ 12,00: vem aí a #SemanaDoCinema na Cineflix Santos

"No escurinho do cinema. Chupando drops de anis. Longe de qualquer problema. Perto de um final feliz", já cantou Rita Lee para contar a história de um flagra diante da telona. Eis que voltou a Cineflix Cinemas de Santos a imperdível #SEMANADOCINEMA em que qualquer filme em cartaz poderá ser assistido com o ingresso custando apenas R$12,00 cada.

O evento promocional que acontece na semana de 22 a 28 de fevereiro. Garantindo também combos de pipocas e outras delícias no precinho. Programe-se para aproveitar o escurinho das salas de cinema Cineflix! #PartiuCinema

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O Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021. Para acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica no Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no Gonzaga. Consulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN.


Assista na Cineflix

Filmes de sucesso como os indicados os Oscar 2024 são exibidos na rede Cineflix CinemasPara acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no Gonzaga. Consulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SANO Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

.: Romance "Nevada", de Imogen Binnie, é um clássico cult da literatura queer


Lançado pela editora Todavia, o romance "Nevada", escrito por Imogen Binnie, é um clássico cult da literatura queer e acompanha uma mulher trans descontente em uma viagem pelos Estados Unidos. Com tradução de Bianca Baderna, o livro tem capa de Fernanda Abreu.

A história gira em torno de Maria Griffiths, que tem quase 30 anos, vive no Brooklyn, trabalha num sebo no sul de Manhattan, usa uma bicicleta para se locomover e faz o que pode para não se afastar de suas raízes e crenças punk. Ela leva uma vida meticulosamente arquitetada para não precisar pensar ou sentir: evita conversas difíceis, engole pílulas aleatórias que carrega em um saquinho, tem uma rotina matinal orquestrada minuto a minuto, bebe demais e está sempre traçando rotas de fuga.

Além disso, protege-se debaixo de camadas de roupa e maquiagem, na esperança de escapar de diálogos forçadamente simpáticos ou abertamente hostis sobre o fato de ser uma mulher trans. A bolha em que vive estoura com o término do namoro com Steph, e a situação se agrava quando, no dia seguinte, Maria retorna de uma de suas muitas saídas não autorizadas do trabalho e é demitida. Esses dois acontecimentos a levam a uma crise existencial que culmina no roubo do carro de Steph e em uma viagem rumo à Califórnia. Nessa jornada de autodescobrimento, em um Wal-Mart na cidade de Star City, Nevada, ela acaba conhecendo uma pessoa que a faz examinar a própria vida e existência trans.

"Nevada", publicado originalmente em 2013, logo tornou-se um fenômeno entre a comunidade queerImogen Binnie utiliza referências das culturas pop e punk para ilustrar a vivência de uma época — Maria tem um blog e acessa  internet em lan houses —, porém, os dilemas da personagem, seus medos e suas preocupações, reverberam mais de uma década depois. Acompanhamos Maria em suas ponderações sobre a vida adulta, expectativas, memória, transfobia, machismo, carreira e relacionamentos, e seguimos também seu caminho pela estrada tortuosa de amadurecimento em um mundo que não é o que imaginávamos na juventude — e que nos faz sentir sempre aquém do esperado. E ficamos com o impasse entre deixar para trás o que consideramos fundamental para tentar caber em ideais em que não acreditamos, ou agarrar-nos às nossas crenças, vivendo às margens, porém livres. Compre o livro "Nevada", de Imogen Binnie, neste link.

O que disseram sobre o livro
“Nevada entende que, não importa o que a gente faça depois de sair do armário, provavelmente sentiremos que fizemos algo errado... A audácia de Binnie foi dirigir-se a um público — uma comunidade, um nós — que nunca tinha se visto dessa forma antes.” — The New Yorker


Sobre a autora
Imogen Binnie nasceu em Nova Jersey, nos Estados Unidos. É escritora e roteirista. "Nevada", seu livro de estreia, foi finalista do prêmio Lambda para literatura trans em 2014. Ela vive em Vermont com a esposa e os filhos. Garanta o seu exemplar de "Nevada", escrito por Imogen Binnie, neste link.

Trecho do livro
As mulheres trans da vida real não são iguais às mulheres trans da TV. Em primeiro lugar, depois que se tira a mistificação, os mal-entendidos e o mistério, elas são pelo menos tão chatas quanto as outras pessoas. Ah, as minhas neuroses! Ah, os meus traumas! Ah, olha só pra mim, meu passado me traumatizou e eu ainda estou resolvendo isso! Apesar da impressão que se pode ter com base nos programas de televisão e filmes idiotas, não há nada de particularmente interessante nisso. Embora talvez Maria esteja sendo parcial, claro.

Ela queria que as outras pessoas entendessem isso sem ela precisar dizer nada. É sempre impossível saber as suposições das pessoas. Elas tendem a pensar que mulheres trans são drag queens louconas e superengraçadas, ou então homens héteros tristes, patéticos, pervertidos e iludidos, pelo menos até juntarem dinheiro para fazer suas Cirurgias de Mudança de Sexo, quando então passam a ser exatamente iguais a qualquer outra mulher. Ou algo assim? Mas Maria pensa: cara, oi? Ninguém mais me lê como trans. Tiozões héteros flertam comigo quando estou no trabalho, e em todos os meus anos de transição eu não consegui juntar dinheiro nem para comprar um par de botas decente.

Ser uma mulher trans é assim: Maria trabalha num sebo imenso no sul de Manhattan. O lugar é um horror. A dona é uma mulher muito rica e muito má que vive ou ausente ou microgerenciando os funcionários. As pessoas da gerência que trabalham para ela levam todas uma vida miserável sob seu comando há vinte ou trinta (ou quarenta ou cinquenta) anos, ou seja, são todas babacas com Maria ou com qualquer outra pessoa que trabalha abaixo delas. É tipo um sebo famoso das antigas que existe há séculos.

Maria trabalha lá tem uns seis anos. As pessoas vivem pedindo as contas, porque nem todo mundo consegue aguentar o abuso inerente ao emprego. Mas Maria é tão emocionalmente fechada e tem tanta dificuldade de sentir qualquer coisa que pensa: bom, o emprego é sindicalizado, estou ganhando o suficiente pra pagar meu apê, e consigo me safar de quase qualquer situação da qual queira me safar. Só vou embora daqui se me demitirem. Só que quando ela começou a trabalhar lá era tipo: oi, eu sou um cara, e meu nome é o mesmo que consta na minha certidão de nascimento. Então, quando já tinha um ou dois anos de casa, teve a intensa e assustadora revelação de que por muito, muito tempo — por mais que dizer isso seja batido e clichê —, até onde sua memória alcançava, ela estava bem fodida da cabeça.

Então começou a escrever sobre isso. Pôs tudo no papel e foi ligando todos os pontos: o ponto eu às vezes quero usar vestidos, o ponto sou viciada em masturbação, o ponto tenho a sensação de levar um soco no estômago toda vez que vejo uma menina despretensiosamente bonita, o ponto eu chorava muito quando pequena e acho que não chorei nenhuma vez desde a puberdade. Um monte de outros pontos. Uma constelação inteira de pontos. O ponto ai, cara, eu sempre fico mais doida do que pretendia quando começo a beber. O ponto talvez eu odeie transar. Então acabou entendendo que era trans, disse a todo mundo que iria mudar de nome, começou a tomar hormônios, e foi muito difícil e recompensador e doloroso.

Enfim. Foi um Episódio Muito Especial. A questão é que tem pessoas no trabalho que se lembram de quando ela era supostamente um menino, que se lembram de quando ela transicionou, e que podem a qualquer momento contar para qualquer uma das pessoas novas que entrarem no trabalho que ela é trans, e aí ela vai ser obrigada a entrar num modo contenção de danos porque, lembrem-se, como ela pode saber que ideias bizarras essas pessoas têm em relação às mulheres trans?

Tipo, e se a pessoa for liberal e quiser demonstrar sua solidariedade? “Eu tenho uma amiga trans”, em vez de: “Ei, amiga trans, gostei de você, bora ter uma relação humana tridimensional?”. Ser uma mulher trans é assim: nunca ter certeza de quem sabe que você é trans, nem do que essa informação poderia significar para a pessoa. Viver pisando num terreno social movediço e esquisito. E o problema não é que importa alguém saber que você é trans. Dane-se. Você só não quer que a sua personalidade engraçada, encantadora, complicada e esquisitona seja apagada pelas ideias que as pessoas têm na própria cabeça e que foram criadas por roteiristas de tv picaretas, por exemplo, ou então por roteiristas de filmes pornô mais picaretas ainda. Mas é bem uó ter que educar as pessoas. Soa familiar? As mulheres trans precisam lidar exatamente com a mesma merdalhada que todas as outras pessoas do mundo que não são brancas, héteros, machos, com plenas capacidades físicas ou detentoras de algum outro tipo de privilégio. Não tem glamour nem mistério. É um puta saco. Maria está completamente exausta e de saco cheio disso, e se você não está, ela lamenta muito. Lamenta de um jeito profundo, consternado, sarcástico, impotente e inútil.

.: Andréia Nhur apresenta duas sessões do espetáculo "Plasticus Dei" em SP


A obra relaciona religião e capitalismo através da dança, música e performance. Foto: Paola Bertolini


O espetáculo "Plasticus Dei", mais recente produção da artista sorocabana Andréia Nhur junto ao grupo Pró-Posição, e com a colaboração do coreógrafo moçambicano Horácio Macuacuá, faz curta temporada em São Paulo, no Sesc Consolação, dias 20 e 27 de fevereiro, terças-feiras, às 20h00. A entrada é gratuita.

"Plasticus Dei" mistura dança, música e performance em um trabalho que apresenta um corpo em colapso entre a repetição ritualística e o uso poético de objetos descartáveis de consumo, congregando sobreposição de cantos religiosos, respirações, ruídos, vocalizações, gestos, imagens, sons percussivos e fluxos exaustivos de movimento. 

Em diálogo com o solo "Mulher Sem Fim", criado por Andreia em 2017, o espetáculo é uma continuidade da investigação da artista, que agora centraliza a lógica da repetição do acúmulo e do movimento. O solo contou com colaboração do coreógrafo moçambicano Horácio Macuacuá, cujas lógicas trazidas pelas danças tradicionais de Moçambique e de sua pesquisa pessoal colaboraram com as ideias centrais da obra. 

"Ele trouxe provocações sobre a integração do corpo com o som, fazendo com que o movimento alterasse a voz e gerasse modificações na obra", conta Andréia. A artista-produtora Paola Bertolini também contribuiu com a obra, dividindo a direção com Andréia, além da peça contar com colaboração sonorocoreográfica da coreógrafa e musicista Janice Vieira. 

Em sua pesquisa, Andréia estabeleceu uma relação com cantos religiosos. "O repertório sonoro de 'Plasticus Dei' é inteiro religioso, sacro e ligado à uma ideia de espiritualidade e esses estados de rito têm a ver com as duas coisas - corpo e voz", conta. Na obra, estão presentes distorções vocais, drives, sons ingressivos e outras perspectivas sonoras que produzem uma fricção com as vozes trabalhadas na música litúrgica cristã, estabilizadas e mais "limpas". A ideia do plástico, que compõe o cenário e figurino, chega como uma reflexão sobre o excesso do consumo e do lugar do ritual como produto. 

"Plasticus Dei" também dialoga com as provocações do livro "O Desaparecimento dos Rituais: uma Topologia do Presente", do filósofo Byung-Chul Han (2021), que aborda o fim dos rituais como sintoma do atual momento do capitalismo. "Para Han, enquanto o ritual é repetitivo, permanente e compartilhado, o consumo é individual, exaustivo, seriado, apressado e extenuante", conta Andréia. O solo dá continuidade à pesquisa sonorocoreográfica desenvolvida por Andréia e o grupo Pró-Posição em obras anteriores e aprofunda os estudos realizados pela artista junto ao Instituto de Musicologia da Ghent University (Bélgica), entre 2020 e 2021.

Este solo é uma dança em looping ativada pela construção de um ambiente sonoro em tempo real. Um corpo em colapso, entre a repetição ritualística e o uso poético de objetos descartáveis de consumo, transita entre cantos religiosos, respirações, ruídos, distorções vocais, percussão, imagens e fluxos exaustivos de movimento.

O título, um trocadilho com a expressão latina "Agnus Dei", da missa cristã, sugere a adoração ao plástico. Hiperconsumo, ritual, repetição, religião e capitalismo são alguns dos fios que perpassam a obra, num jogo de acumulação de gestos, vocalizações, sacolas plásticas e um dispositivo de repetição sonora.


Ficha técnica
Espetáculo "Plasticus Dei"
Criação e performance: Andréia Nhur
Em colaboração com: Horácio Macuacuá (Moçambique/Espanha) e Paola Bertolini 
Colaboração sonorocoreográfica: Janice Vieira
Produção e fotos: Paola Bertolini 
Iluminação: Roberto Gill Camargo e Paola Bertolini
Operação de luz: Paola Bertolini ou Felipe Fly
Operação de som: Lucas Mercadante ou Jean Menezes
Arte gráfica: Flávio Queiróz 


Serviço
Espetáculo "Plasticus Dei"
Dias 20 e 27 de fevereiro, terças-feiras, às 20h00
Espaço Provisório (3º andar) do Sesc Consolação
R. Dr. Vila Nova, 245 - Vila Buarque/ São Paulo.
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 45 minutos
Capacidade: 40 lugares
Gratuito. Retirada de ingressos on-line em Central de Relacionamento Digital e App Credencial Sesc SP, às 12h, e, presencialmente, nas bilheterias das Unidades do Sesc, às 14h00, no dia de cada apresentação.

.: Tudo sobre "Tomás Nevinson", o último romance escrito por Javier Marías


"Tomás Nevinson"
é o último romance escrito por Javier Marías, aclamado autor de "Os Enamoramentos" e "Coração Tão Branco". O livro questiona o que esperar de alguém quando tudo é volátil e as pessoas mentem, mesmo quando estão convictas de dizer uma verdade imutável? Após um longo período dedicado ao serviço secreto, Tomás Nevinson acredita que seus dias de espionagem chegaram ao fim. O reencontro com Berta Isla, mulher por quem segue apaixonado apesar de uma ausência de anos, faz Nevinson se acomodar a uma vida pacata em Madri, onde não enfrenta grandes dificuldades, exceto ter de lidar com ocasionais fantasmas de seu passado.

Essa aposentadoria, contudo, é interrompida quando um destes espectros pede para vê-lo. Trata-se de seu ex-chefe Bertram Tupra, agente experiente e insondável, aparentemente desprovido de qualquer culpa. Ignorando os males que causou a seu antigo subordinado, Tupra convoca-o para uma nova missão: identificar e matar a pessoa responsável por um ataque terrorista perpetrado pelo ETA anos antes. A contragosto, Nevinson aceita a missão.

A obra dialoga não apenas com seu livro irmão "Berta Isla", mas também com outras obras consagradas como "Coração Tão Branco" e a trilogia "Seu Rosto Amanhã". Caracterizado pela presença de alguns dos temas mais caros ao autor (as fronteiras da identidade, o papel desempenhado pelos segredos e ocultamentos nas relações afetivas) e por seu estilo inconfundível, marcado por longas frases de estrutura intrincada, este livro é o testamento de um dos mais importantes autores de língua espanhola do último século. Compre o livro  "Tomás Nevinson", de Javier Marías, neste link.


Sobre o autor
Javier Marías
nasceu em Madri em 1951. Formado em letras e especializado em filologia, trabalhou como roteirista e tradutor antes de publicar seu primeiro livro, Los dominios del lobo, em 1971. Entre romances, ensaios e coletâneas de contos, escreveu mais de 30 livros. Dele, a Companhia das Letras publicou, entre outros, "Coração Tão Branco", "Os Enamoramentos", "Assim Começa o Mal", além da trilogia "Seu Rosto Amanhã". Morreu em Madri em 2022, em decorrência de uma pneumonia. Garanta o seu exemplar de  "Tomás Nevinson", escrito por Javier Marías, neste link.

.: Gustavo Tubarão revela em novo livro como se curou da depressão


Com mais de 18 milhões de seguidores nas redes sociais, o influenciador Gustavo Tubarão, que viveu por muito tempo com depressão, ansiedade e ataques de pânico, transformou a batalha com a saúde mental em livro para ajudar outras pessoas com os mesmos problemas. No lançamento "O Trem Tá Feio: como me Curei da Depressão", publicado pela Citadel Grupo Editorial, o mineiro compartilha um relato sincero sobre o próprio processo de cura por trás das câmeras. Com uma escrita leve e sem perder o bom-humor, Gustavo confidencia uma tentativa de suicídio e alerta sobre a importância do auxilio psicológico.

Por trás dos vídeos animados na roça, que arrancam boas risadas dos seguidores nas redes sociais, o criador de conteúdo e humorista mineiro, Gustavo Tubarão, travava uma batalha dolorosa com a própria saúde mental. Diagnosticado com depressão e Síndrome de Borderline, ele encontrou na criação de vídeos um refúgio para não desistir da própria vida e enfrentar as crises de ansiedade e ataques de pânico.

O objetivo é auxiliar mais pessoas a identificarem e buscarem ajuda profissional para tratar a depressão e outros problemas psicológicos. No livro, com uma escrita sincera e bem-humorada, Gustavo Tubarão compartilha as próprias experiências para alertar os leitores de que a saúde mental requer cuidado e atenção, antes que seja tarde demais.

"Eu já tentei suicídio, e minha família só soube quando contei isso na internet. Foi a pior sensação que já tive na vida. Mas tinha uma coisa naquele inferno que me tirava a risada, de que sempre gostei, que era fazer vídeos na internet [...] Antes de ser influencer, o meu sentimento era que eu não servia para nada, principalmente porque tudo o que eu pegava para fazer, logo desistia no meio do caminho. Mas, depois que descobri o que realmente fazia sentido na minha vida, não apenas comemorei 1 milhão de seguidores quando estourei no Instagram, como também vi o tanto que cresci e conquistei em todos os anos seguintes, porque eu nunca parei, nunca desisti", revela o autor nas páginas do livro "O Trem Tá Feio".

Para que cada um tenha o controle da própria vida e saiba que ansiedade e depressão não podem pará-lo, o humorista divide, nesta obra publicada pela Citadel Grupo Editorial, insights inspiradores com o leitor. São dicas de como identificar o que o motiva para seguir em frente; a não fugir das responsabilidades; de qual forma desenvolver a perseverança a fim de enfrentar o medo e emoções conflitantes e, até mesmo, saber dizer “não” para impor limites necessários.

Para além de relatos pessoais e dicas de como dar um passo de cada vez, dia após dia, Tubarão compartilha frases acolhedoras, salmos bíblicos e incentiva que as pessoas busquem por ajuda psicológica. Afinal, mesmo cercado por sentimentos negativos, o autor nunca desistiu: seu propósito é auxiliar o maior número possível de brasileiros que enfrentam a mesma doença a persistirem também, mesmo diante de momentos sombrios. Compre o livro "O Trem Tá Feio: como me Curei da Depressão", de Gustavo Tubarão, neste link.

Sobre o autor
Gustavo Tubarão
é um criador de conteúdo que teve sucesso mostrando nas redes sociais o seu dia a dia na roça, na cidade de Cana Verde, no interior de Minas Gerais. Hoje, ele é um símbolo da cultura mineira e faz questão de reforçar por meio dos vídeos, das tatuagens e da forma de se vestir o orgulho que tem da sua região. Além disso, Gustavo se tornou também uma referência quando o assunto é saúde mental, visto que nunca escondeu sua depressão e seus problemas psicológicos e faz questão de usar seu alcance para ajudar pessoas que o acompanham e passam por situações parecidas. Atualmente ele soma, ao todo, mais de 18 milhões de seguidores. Foto: Davi Cardoso. Garanta o seu exemplar de "O Trem Tá Feio: como me Curei da Depressão", escrito por Gustavo Tubarão, , neste link.

.: Pearl Jam anuncia novo álbum, “Dark Matter”, previsto para o dia 19 de abril


Arte da capa do álbum “Dark Matter”: pintura com luz por Alexandr Gnezdilov

O Pearl Jam vai lançar seu décimo segundo álbum de estúdio, “Dark Matter”, via Monkeywrench Records/Republic Records, em19 de abril de 2024, e começar em maio uma turnê mundial com 35 datas. A faixa-título do novo trabalho já está disponível. Produzido por Andrew Watt, ganhador de vários prêmios Grammy®, “Dark Matter” é o primeiro lançamento da banda desde o aclamadíssimo “Gigaton” (2020). A versão física do álbum está disponível em pré-venda na UMusic Store. Saiba mais em: umusicstore.com/pearl-jam.

Em 2023, os integrantes do Pearl Jam—Eddie Vedder [vocais], Jeff Ament [baixo], Stone Gossard [guitarra ritmo], Mike McCready [guitar principal] e Matt Cameron [bateria] —se recolheram nos Shangri-La Studios, em Malibu, onde simplesmente plugaram e saíram tocando, sob a batuta do produtor Andrew Watt. 

Os instrumentistas tocaram cara a cara, reunidos no mesmo espaço, para conseguir se comunicar sonoramente no mais alto nível. Composto e gravado numa explosão criativa, “Dark Matter” nasceu após apenas três semanas de trabalho.

Como resultado, “Dark Matter” canaliza o espírito coletivo de um grupo de irmãos e velhos parceiros criativos reunidos no mesmo espaço, tocando como se suas vidas dependessem disso. Todo o sangue, o suor, as lágrimas e a energia de uma carreira histórica foram renovados e despejados neste trabalho singular.

Os membros da banda apresentaram pessoalmente o disco em uma festa de audição no icônico Troubadour, em West Hollywood, durante a semana do Grammy®. Vedder disse: “Estou arrepiado, porque tenho boas lembranças. Ainda estamos procurando maneiras de nos comunicar. Estamos em um momento de nossas vidas em que podemos fazer isso ou não, mas ainda nos preocupamos em lançar algo que seja significativo e que, esperamos, seja nosso melhor trabalho. Sem exagero, acho que esse é o nosso melhor trabalho”.

Ament acrescentou: “É o que Ed disse sobre a gente se reunir no mesmo espaço a essa altura. Sentimos que estávamos prestes a fazer um disco realmente importante. Muito disso teve a ver com a atmosfera que Andrew criou. Ele tem um conhecimento enciclopédico de nossa história, não apenas enquanto banda e  sobre como escrevemos músicas, mas também como músicos. Ele conseguia identificar coisas que fazíamos em canções antigas a ponto de eu pensar: ‘De que diabos ele está falando?’ Sua empolgação era contagiante. Ele é uma força. Só quero agradecer por nos manter no caminho certo. Eu não poderia estar mais orgulhoso de nós como banda. Eu sou muito grato aos fãs, mas acima de tudo, aos meus brothers, essas pessoas com quem eu fiz música”.

A banda está celebrando as lojas de discos independentes com o lançamento de uma edição especial de “Dark Matter” em 20 de abril. Somente nas lojas participantes do Record Store Day. Mais informações e lista de lojas em  www.recordstoreday.com.

A embalagem do álbum “Dark Matter” contém arte de pintura de luz de Alexandr Gnezdilov. Pintura de luz, ou “light painting”, é uma forma artística de fotografia em que as imagens são criadas ajustando a exposição da câmera por um período prolongado e usando uma fonte de luz, como uma lanterna, para "pintar" no escuro. A arte da capa do álbum foi criada usando um grande caleidoscópio feito por ele mesmo. Cada letra visível na capa foi capturada individualmente e escrita à mão no ar com uma lanterna especialmente projetada para criar o efeito perolado. 


O que disseram sobre o álbum
“‘Gigaton’ surpreendeu muitos fãs e criticos por ser tão hard rock. O novo (‘Dark Matter’) é ainda mais pesado.” - Associated Press

“(Dark Matter)… sob medida para cantar junto com os punhos pra cima.” – “SPIN”


Lista de faixas de “Dark Matter”

1. "Scared of Fear"

2. "React, Respond"

3. "Wreckage"

4. "Dark Matter"

5. "Won’t Tell"

6. "Upper Hand"

7. "Waiting for Stevie"

8. "Running"

9. "Something Special"

10. "Got to Give"

11. "Setting Sun"

domingo, 18 de fevereiro de 2024

.: "Contra Fogo", de Pablo Casella, um romance profundo sobre crise climática


Lançado pela editora Todavia, o livro "Contra Fogo" marca a estreia do analista ambiental Pablo Casella. Com uma linguagem marcada pela oralidade, é um romance profundo sobre o tema urgente da crise climática, com uma prosa bela e original. E de tão natural e cheio de cores locais, parece ter brotado direto do chão da Chapada Diamantina. A capa é assinada por Elisa v. Randow. 

“Fica esperto, contra o fogo não pode ter afobação”, aconselha Deja, o “frente” de um grupo de brigadistas voluntários, para um adolescente em seu primeiro combate contra o dragão, como alguns chamam os incêndios de grandes proporções — muitos causados por ações criminosas — que devoram a fauna, a flora e os rios da Chapada Diamantina, na Bahia.

O grupo liderado por Deja é formado por gente como ele — moradores da região que arriscam a própria vida para deter o avanço descontrolado das chamas. Antes mesmo que as instâncias governamentais adotassem as políticas públicas necessárias, esses brigadistas se lançam a apartar a briga do fogo contra a terra com técnicas criadas instintivamente e sem equipamentos adequados. Sobretudo nos tempos de seca, se enfiam nas matas por dias e dias, sem descanso.

Cunga, Zia, Trote, Jotão, Adobim, Firóso e Abner, mais o cachorro Mutuca, são alguns dos voluntários chefiados por Deja. Cada qual expande ao seu modo esse universo peculiar, mas é a visão do líder, narrador em primeira pessoa, que torna tudo complexo e vivo. Sua linguagem, concisa e marcada pela oralidade, reflete o homem que é: brusco, simples, mas muito sensível à vastidão e aos detalhes de seu mundo — um mundo em que a palavra falada é soberana.

Embrenhado nas serras por longos períodos, Deja padece a aflição de equilibrar sua meta desmedida de combater incêndios com os compromissos cotidianos e familiares, buscando na natureza a mediação entre a realidade prática e uma metafísica de certos fantasmas do passado que só tomam forma na dança das labaredas. Compre o livro "Contra Fogo", de Pablo Casella, neste link.


O que disseram sobre o livro
“Há décadas brigadistas voluntários combatem incêndios na Chapada Diamantina e em outras regiões brasileiras, mas seu empenho continuado é pouco conhecido, mesmo em tempos de emergência climática. Construído com linguajar local perfeitamente calibrado e um profundo conhecimento do tema e do cenário, o romance 'Contra Fogo' mobiliza todos os poderes da prosa de ficção para nos engolfar nesse universo. A narrativa destrói e fecunda, repele e atrai, como o dragão de fogo que insiste em pousar nas serras inóspitas. No centro estão vidas comuns em sua instável busca de afeto e sentido, cativantes e sombrias na mesma medida, ardendo em continuidade com o ambiente em que vivem. Pablo Casella é um talento que estreia na literatura nacional como um ‘vento parido pelo sol’, para usar uma imagem retirada deste livro notável.” – Daniel Galera, escritor.

Sobre o autor
Pablo L. C. Casella nasceu em Guaratinguetá, em São Paulo, em 1978. Formado pela USP - Universidade de São Paulo, atua como analista ambiental no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, o ICMBio, onde, de 2002 a 2022, fez parte da equipe gestora do Parque Nacional da Chapada Diamantina, na Bahia. "Contra Fogo" é o romance de estreia. Garanta o seu exemplar de "Contra Fogo", escrito por Pablo Casella, neste link.


Trecho do livro
Percebi quando Bel afastou a canga que fechava o vão de entrada do quarto, mó dum vento maneiro que triscou minhas costa. Pela demora dos passo, imaginei que tivesse parada me espiando de longe. Mais certo que pensava na nossa conversa de antes.

Dormiu? — pricurei sem precisão, já sabia a resposta.

Principiou uma caminhada de pisada leve, rumando pro meu lado. A cabeça balangava devagar, mesmo que respondendo: “Sim, que bobagem perguntar”. Não entendi aquela marcha dengosa. Mais cedo naquele dia a gente teve um trupelo brabo. Continuei ajeitando minhas roupa na cadeira. As mãos dela seguraram meus ombro e com os dedão ela dava uns apertos na carne da pá. Isso costumava ser o sinal dela pra apaziguar as peleja de casal.

Desceu as mão como se cada dedo fosse a perna dum bichinho caminhando pesado, fundando os pé na minha pele até triscar no vazio do lombo. Torceu meu tronco e me deixou de frente pr’ela. Pelo jeito das venta não era briga. Segurei a cintura dela.

A ponta de uma bota empurrou o calcanhar da outra e o pé ficou nu.

Não tava brava?

Fico, depois. — Ela se achegou pra perto do meu peito. A perna dela contornou a minha e com o dedão do pé ela empurrou minha outra bota pro chão.

Rumei minha mão por dentro da bata, os dedo grosso lixaram a pele das costa dela até os cabelo do cangote. Uns carocinho de arrupio brotaram no braço dela junto com os ombro que arribaram encolhendo o pescoço. Ela dobrou a cabeça pra baixo e deu uma risada com o nariz quando reparou na corda que amarrava minha calça.

— Esse nó vai dar trabalho — ela brincou.

Com a outra mão tirei minha faca da bainha e ofereci, brincando de volta. As boca ainda riam quando a gente se beijou, um puxava o outro até as barriga se amassar, a bata dela se embolava já passando dos peito até que uma zuada de motor a diesel parou na frente de casa.

— ‘Umbora, Deja! — Jotão gritou da rua.

Não duvidei o que significava aquilo. Pela careta, Bel torceu pra não ser o que ela sabia que era. Puxei a mão de dentro da bata e dei um passo de lado pra rumar até a porta, mas a mão aberta e firme de Bel, virada pra minha cara, lembrou que eu tava em dívida e achei melhor concordar. Naquela manhã ela tinha pirado comigo porque eu cancelei uma guiada pra representar a brigada numa reunião importante.

No caminho pra porta ela ajeitou a bata, os cabelo e a raiva. Dava pra ouvir outras voz gritando e batendo as mão na lataria do carro, do jeito mesmo que os guerreiro faz quando farejam fumaça de incêndio.

— Já falei pra não fumar aqui dentro, xibungo! — Conheci Abner pela voz, fingindo que tava bravo.

— Virge Santa, peraí... — Pela fala mansa, era Cunga tragando com saudade o final do último baseado.

— Tá rolando. Vamo! — insistiu uma voz avexada, qu’eu não identifiquei de quem era.

Pelo abrir da porta deu pra sentir a brutice de Bel.

— Tem criança dormindo, porra! — Ela sussurrou um grito. Chega imaginei as mão dela, nervosa, agitando no ar, mandando falar baixo. — E aí, Jotão, tu tá bem? — cumprimentou nosso compadre, com a voz mais calma. A amizade com Jotão não deixava ela ralhar com ele.

Depois é aquela marofa — Abner ainda dava bronca, talvez em Cunga, que devia mesmo tá fumando no carro. — Boa noite, Bel. Foi mal a zuada!

Cadê Anori, Bel? — Jotão pricurou pelo afilhado.

Se vocês não acordaram ele... tá dormindo.

— É foda, a galera não respeita. — Ouvi a zuada da porta do carro abrindo e a voz de Jotão foi aumentando. — Pessoal, fica quieto aí, vai — trovejou com o vozerão corpulento que nem ele. — E Deja, Bel?

— Tá não, Jotão.

Fiquei confuso. Ou indignado. Bel tava mesmo mentindo assim, na caradura? Mentiu pro amigo, prum compadre, tangida no medo d’eu perder o trabalho que já tava agendado pra manhã seguinte?

— Teve que resolver um negócio na casa de Betânia — ela reforçou a mentira, colocando minha irmã no meio!

Fazia uns dia que eu não pegava um serviço e, nas conta dela, umas semanas que a despensa da casa era abastecida só pelo bisaque dela. No quarto, fiquei de pé, agoniado, feito galinha dos pé queimado andando dum lado pro outro. Não tava certo ficar escondido ali. E depois da mentira de Bel, também não era boa ideia aparecer. ideia aparecer.

De cima da caminhonete um dos brigadista deve ter me enxergado através do vidro da janela do quarto, mó de que ele gritou: “Olha lá”, e em seguida veio a gritaria e o meu vexame. Rumei a gandola por riba do ombro, saí descalço mesmo com os coturno na mão. Bel soltou um bufo raivoso quando percebeu que eu tinha chegado perto da porta e esticou os braço pro chão, um sestro que ela costumava fazer nas vez que ficava contrariada.

.: "Bom Dia, Eternidade" reflete sobre o envelhecimento dos corpos negros


Com dramaturgia de Jhonny Salaberg e direção de Luiz Fernando Marques Lubi, a peça estreia 20 de janeiro no Sesc Consolação; em cena, uma banda de quatro músicos 60+ que contracena com o elenco de O Bonde, mesclando histórias de suas vidas e ficções de um futuro outro. Foto: Júlio César Almeida 


O premiado O Bonde apresenta o espetáculo "Bom Dia, Eternidade" no Teatro Anchieta do Sesc Consolação, até dia 25 de fevereiro, às sextas e aos sábados, às 20h00, e, aos domingos, às 18h00. Haverá sessão dia 22 de fevereiro, às 15h00. Com a proposta de aquilombar-se, O Bonde reúne artistas periféricos - Ailton Barros, Filipe Celestino, Jhonny Salaberg e Marina Esteves - que têm investigado, nos últimos trabalhos, as experiências de quase morte do corpo negro. Mais especificamente, a ideia é refletir sobre as heranças do período escravocrata. 

Em "Bom Dia, Eternidade", quatro irmãos idosos que sofreram um despejo quando crianças recebem a restituição do terreno após quase 60 anos e se encontram para decidir o que fazer. O tempo se embaralha em um jogo de cortinas e um mosaico de histórias reais e ficcionais é costurado no quintal da antiga casa acompanhado de um bom café e de um velho samba. Em cena, uma banda de quatro músicos, cada qual com mais de sessenta anos, em um jogo friccional com as narrativas dos atores/atriz d`O Bonde. Um espetáculo que descortina a realidade do passado olhando para o presente.

O espetáculo é a última parte da Trilogia da Morte, iniciada com a peça infantil "Quando Eu Morrer Vou Contar Tudo a Deus", com dramaturgia de Maria Shu e direção de Ícaro Rodrigues; em seguida veio "Desfazenda - Me Enterrem Fora Desse Lugar", com texto de Lucas Moura e direção de Roberta Estrela D’Alva, premiada como Melhor Espetáculo Virtual pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e indicada a Melhor Dramaturgia pelo prêmio Shell, em 2020. 


A encenação
"Bom dia, Eternidade", com dramaturgia de Jhonny Salaberg e direção de Luiz Fernando Marques Lubi, está focada na velhice. Na trama, quatro irmãos idosos que sofreram um despejo na infância recebem a restituição do terreno após quase 60 anos. Resta a eles se encontrar para decidir o que fazer. “Estamos construindo uma grande utopia, em que os negros envelhecem de forma saudável e digna”, comenta o ator Filipe Celestino.  

Aos poucos, conforme interagem com objetos afetivos, os personagens se descortinam para o público. Histórias reais e ficcionais se misturam e o tempo se embaralha em meio às lembranças. Toda a ação acontece no quintal da antiga moradia da família. “O cenário evoca essa atmosfera carinhosa, remetendo a uma casa de vó. Cores como bege e verde estão bastante presentes”, afirma Lubi, que também assina a cenografia e o figurino.    

Para deixar a plateia ainda mais imersa nesse universo das memórias, ainda são projetados vídeos com depoimentos dos integrantes da banda, naquela mistura de real e ficcional que é a marca registrada d’O Bonde. Tradicionalmente, O Bonde se dedica a estudar o poder das palavras e das narratividades. No infantil Quando eu morrer vou contar tudo a Deus, a pesquisa se deu com os griôs. Em "Desfazenda", a poesia falada e as batalhas de rimas foram as duas grandes referências para o espetáculo. Agora, os artistas exploram as potencialidades das histórias que são contadas por gerações e as músicas antigas que dão o tom de toda a narrativa.

A importância da música
Canções de Fernando Alabê, Djavan, Tim Maia, Jorge Aragão, Roberto Mendes Barbosa, Luiz Alfredo Xavier, Jorge Ben Jor, Lupicínio Rodrigues e Johnny Alf norteiam a narrativa. “Nossa banda é formada por Cacau Batera (bateria e voz), Luiz Alfredo Xavier (violão, contrabaixo e voz), Maria Inês (voz) e Roberto Mendes Barbosa (piano e voz), todos com mais de 60 anos e com uma trajetória incrível na área. Quisemos também que eles pudessem compartilhar as suas vivências, sem ninguém falando por eles”, conta Celestino.     

Partindo desse princípio, o coletivo fincou os pés no presente e revisitou as histórias das famílias e das migrações, além dos contos, dos causos, das teses, das lutas e tudo o que constitui a sociabilidade de um corpo negro e velho. Os músicos se transformam em personagens e os atores Ailton Barros, Filipe Celestino, Jhonny Salaberg e Marina Esteves são os duplos deles, em um jogo cênico carregado de simbolismo. A direção musical é assinada por Fernando Alabê.

“Dentro do que foi trazido pelo elenco, pela direção, na dramaturgia e nas encenações, a musicalidade apontou como resgate de cancioneiro e gêneros musicais difundidos entre os anos 1950 e 1980 mais elementos da cultura afrodiaspórica, que intrínsecos aos arranjos se mostram como contornos dos sonhos de antes e de quando se puderem realizar pelos baluartes que compõem a banda e espelham o futuro dos personagens”, explica Fernando Alabê, diretor musical do espetáculo. “Nesse caminho, Iroko (orixá da ancestralidade, das forças e manifestações da natureza) inicia o caminho com seu ritmo e chegança, a ‘hamuya’, transformado em funk para anunciar esse tempo que se molda à história dos quatro irmãos”, completa o percussionista, compositor e educador.

“Quando decidimos falar sobre envelhecimento, lemos muitos livros e assistimos a muitos filmes com essa temática. O que mais nos chamou a atenção foi o longa ‘Bom dia, Eternidade’ (2010), de Rogério de Moura. Criamos uma relação afetiva com essa produção, mas dela só pegamos emprestado o nome. Nossa dramaturgia não se assemelha com o que é contado na obra audiovisual”, detalha Lubi. 

Dentro deste resgate, estão canções como "Eu e a Brisa", de Johnny Alf, "Tenha fé", dos Originais do Samba, "Exemplo”, de Lupicínio Rodrigues, além de homenagem a Henricão, cantor, compositor, ator, primeiro Rei Momo Negro do Carnaval de São Paulo, fundador da Escola de Samba Vai-Vai, autor de gigantescos sucessos como "Está Chegando a Hora”, conhecida no mundo inteiro pelos estádios de futebol.


A dramaturgia
Segundo Jhonny Salaberg, este foi o primeiro trabalho com dramaturgia colaborativa d’O Bonde. “Foi um longo processo, um relicário cheio de detalhes e, a cada ponta, um mergulho. Foi preciso recortar o universo que se apresentava e propor caminhos que desse conta de tanta pesquisa. O jogo entre ficção e realidade, passado e presente, processual e documental brilhou em nossos olhos”, diz o dramaturgo.  

O texto é fragmentado e cabe ao público juntar as peças. “Além dos relatos pessoais, nos debruçamos sobre notícias de jornal, referências audiovisuais e dinâmicas processuais para montar esse quebra-cabeças; e ficcionalizamos em cima de todo esse material reunido. Até porque nossa intenção é coletivizar os sujeitos do espetáculo, não estamos falando somente dessas personagens ou das oito pessoas em cena, estamos ressoando e representando muitas outras, riscando uma denúncia ampla: o não envelhecimento digno da população negra no Brasil”, acrescenta.


O Bonde
Desde 2017, O Bonde é o que nós somos. Nominalmente reverenciados a ajuntamentos negros e periféricos com o objetivo de aquilombar-se, somos também as nossas próprias singularidades em movimento conjunto, podendo nos constituir como um núcleo, um grupo, um coletivo ou um Bonde. Somos artistas negros e periféricos, formados em diferentes períodos na Escola Livre de Teatro de Santo André. Temos como pesquisa de linguagem a palavra e a narratividade como ferramenta de acesso, denúncia e ampliação de discussões afrodiaspóricas e seus desdobramentos. A abordagem épica da palavra como distanciamento dramático e aproximação narrativa é eixo fundante dos nossos pensamentos, desejos e mergulhos na étnica-criação-racial em São Paulo.


Os músicos, por Fernando Alabê, diretor musical
Cacau Batera é um grande instrumentista e intérprete dos mais exímios. Desfilou sua arte do ritmo apoiando artistas como Jerry Adriani, Tim Maia, Johnny Alf e Jamelão. Seu dom expande a arte do cantar ao modo dos "crooners" de antigamente e sua voz tem a excelência e a elegância dos grandes cantores da música popular brasileira.

Luiz Alfredo Xavier é parceiro de Zé Ketti e Jamelão, assim como de tantos outros aos quais emprestou seu conhecimento teórico musical, escrevendo as partituras das letras que lhe chegavam, e assim ajustando a harmonização delas. Revisor da Editora Ricordi, responsável pelo aprendizado musical de muitas gerações ao longo de mais de sessenta anos de música como cantor, compositor, violonista e contrabaixista, sendo, deste modo, integrante da primeira banda que acompanhava os Originais do Samba, quando o grupo ainda se chamava "Os Sete Crioulos da Batucada".

Maria Inês é uma cantora por resistência, pois foi impedida pela família de exercer seu sonho de cantar, como fazia em programas de calouros aos 15 anos.  Abandonando a carreira artística e se dedicando à arte e ser cabeleireira por cinquenta anos, ao se aposentar, ingressou no Coral da USP, onde ficou por dez anos, todavia se ausentando deste por mais dez anos, retornando aos palcos agora para a peça "Bom Dia, Eternidade".

Roberto Mendes Barbosa é maestro, regente de coral, cantor e compositor. Formado pelo Mozarteum, se dedica a corais e liras pela cidade de São Paulo, bem como atua como músico de cena para teatro, deste modo firmando sua participação no elenco musical de "Bom Dia, Eternidade".


Ficha técnica
Espetáculo "Bom Dia, Eternidade".
Idealização: O Bonde.
Elenco: Ailton Barros (Carlos), Filipe Celestino (Everaldo), Jhonny Salaberg (Renato) e Marina Esteves (Mercedes).
Músicos em cena: Cacau Batera (bateria e voz), Luiz Alfredo Xavier (violão, contrabaixo e voz), Maria Inês (voz) e Roberto Mendes Barbosa (piano e voz).
Dramaturgia: Jhonny Salaberg.
Direção: Luiz Fernando Marques Lubi.
Diretora assistente: Gabi Costa.
Direção Musical: Fernando Alabê.
Videografia e operação: Gabriela Miranda.
Desenho de luz: Matheus Brant.
Cenografia e figurino: Luiz Fernando Marques Lubi.
Acompanhamento em dramaturgia: Aiê Antônio.
Música original: “Preta Nina” - Fernando Alabê, Luiz Alfredo Xavier e Roberto Mendes Barbosa.
Técnico de som: Hugo Bispo.
Técnica de videografia: Clara Caramez.
Captação de vídeo: Fernando Solidade.
Costura cenário: Edivaldo Zanotti.
Cenotecnia e contrarregragem: Helen Lucinda.
Fotos: Júlio Cesar Almeida.
Assessoria de imprensa: Canal Aberto - Márcia Marques.
Social media (criação de conteúdo): Erica Ribeiro.
Produção: Jack Santos – Corpo Rastreado.
Agradecimentos: Casa DuNavô, Coletivo Tem Sentimento, Família Barros, Família Celestino, Família Esteves, Família Martins, Família Salaberg, Guilherme Diniz, Grupo XIX de Teatro, Ilu Inã, Mercedes Gonzales Martins (in memoriam), Oficina Cultural Oswald de Andrade, Otávia Cecília (in memoriam), Teatro de Contêiner, Rogério de Moura e Willem Dias. 


Serviço
Espetáculo "Bom Dia, Eternidade".
Até dia 25 de fevereiro de 2024, às sextas-feiras, e aos sábados, às 20h00, e, aos domingos, às 18h00.
Sessão dia 22 de fevereiro, quinta-feira, às 15h00.
Teatro Anchieta – Sesc Consolação – R. Dr. Vila Nova, 245 - Vila Buarque / São Paulo.
Ingresso: R$ 50,00 (inteira), R$ 25,00 (meia-entrada) e R$ 15,00 (credencial plena).
Compre por este link https://centralrelacionamento.sescsp.org.br e no app Credencial Sesc SP e a partir do dia 10 de janeiro na bilheteria das unidades.
Duração: 120 minutos.
Classificação etária indicativa: 14 anos.

.: "Aqui Tem Vida Demais!" faz crianças e adultos refletirem sobre morte


Com texto de Bruno Canabarro e direção de Rodolfo Amorim, o espetáculo de estreia da companhia teatral CASCA cria espaço de troca a partir das experiências de perda, luto, consciência sobre a morte e do medo da finitude da vida. 
Foto: Jonatas Marques


O tabu de falar sobre a morte com crianças é deixado de lado na peça "Aqui Tem Vida Demais!", com dramaturgia de Bruno Canabarro e direção de Rodolfo Amorim. O espetáculo, que fez uma temporada de sucesso no Sesc Ipiranga em 2023, ganha novas apresentações no Sesc Bom Retiro aos domingos, dias 18 e 25 de fevereiro e 3 de março, às 19h00.

A ideia de montar a peça surgiu em 2019, quando os idealizadores Bruna Betito e Bruno Canabarro, que dão aulas para crianças há muitos anos, conversavam sobre seus estudantes e suas surpreendentes histórias. O projeto nasce justamente de um desses casos: um dos alunos de Bruna mandou para ela um áudio falando sobre um infeliz incidente que o fez matar “sem querer” um peixinho ao jogá-lo na privada.

Depois de se divertirem com essa narrativa tragicômica, eles se concentraram em organizar diversos materiais literários e audiovisuais que pudessem ajudar na construção da dramaturgia. Um ano depois, o mundo foi afetado por uma pandemia e o Brasil, sufocado por tantas mortes. Assim, o projeto tomou outros rumos com a impossibilidade de ser montado naquele contexto.

O elenco, além de Betito e Canabarro, conta com a participação de Paula Spinelli. Em cena, ainda estão Gabi Queiroz e Demian Pinto / Clara Kok (stand-in), que interpretam as canções originais da peça ao vivo. "Aqui Tem Vida Demais!" é um espetáculo para todas as idades, todas as infâncias, todas as pessoas vivas que sabem que a morte existe e pode estar por perto. Também permite que se criem espaços de trocas, diálogos, imaginação e fantasias a partir da perda, do luto, da consciência sobre a morte, do medo… sentimentos naturais quando tratamos da finitude da vida.

A trama conta a história dos irmãos Maria e Mário, crianças que precisam lidar com a morte sozinhas, longe de casa. Na tentativa de compreender o porquê se morre, o que acontece quando se morre e por que há tanta morte pela vida, as crianças acabam por ter que encarar a Morte de frente, cara a cara, em diversas faces, até conseguirem elaborar o luto, a perda e a descoberta do fim.

Num jogo entre o seguir-em-frente e o olhar-para-trás, as duas crianças embarcam numa ousada tarefa de buscar pistas que revelem o que é isso de algo ou alguém, puf, desaparecer. Sem partir das questões religiosas que estão coladas socialmente à ideia de morte, o espetáculo propõe que os espectadores criem suas próprias ideias sobre o que é morrer, para onde vai quem morre e as infinitas possibilidades de ressignificação que podemos criar sobre a Terra.

Contudo, "Aqui Tem Vida Demais!" não vai em busca da Morte para desvendá-la ou enfrentá-la, ao contrário, apresenta caminhos para que nos concentremos na vida, no encontro com a novidade e a gravidade que é viver, enxergando que há vida, sim, mesmo no escuro. O espetáculo ganhou o prêmio DeusAteu de Melhor Direção, em 2023.


Ficha técnica
Espetáculo "Aqui Tem Vida Demais!".
Dramaturgia: Bruno Canabarro.
Direção: Rodolfo Amorim.
Elenco: Bruna Betito, Bruno Canabarro e Paula Spinelli.
Música ao vivo: Gabi Queiroz e Demian Pinto / Clara Kok (stand-in).
Música original: Gabi Queiroz e Demian Pinto (música) / Bruno Canabarro (letra).
Cenário: Rodolfo Amorim.
Figurinos, adereços e bordados no cenário: Felipe Cruz.
Flores de tricô: Rodrigo Carvalho e Frida Braustein Taranto.
Iluminação e operação de luz: Daniel Gonzalez.
Identidade visual e animações: Fernanda Zotovici.
Vídeo mapping: Vic Von Poser.
Preparação de elenco: Antônio Januzelli.
Consultoria em psicanálise: Rafael Costa.
Contrarregragem e cenotécnica: Lucas Asseituno.
Bonecos: Edson Gon.
Objetos cênicos: Zé Valdir.
Direção de produção: Andréa Marques.
Produção executiva: Fani Feldman.
Assistente de produção: Bruna Betito.
Fotografia: Camila Rivereto.
Idealização: Bruna Betito e Bruno Canabarro.
Realização:  Sesc SP.


Serviço
Espetáculo "Aqui Tem Vida Demais!".
Temporada: 4 de fevereiro a 3 de março, aos domingos, 12h (não haverá sessão no dia 11 de fevereiro).
Sesc Bom Retiro – Alameda Nothmann, 185, Campos Elíseos / São Paulo.
Ingressos: R$30 (inteira), R$ 15 (meia-entrada) e R$ 10 (credencial plena). Crianças até 12 anos não pagam.
Venda online em sescsp.org.br.
Classificação: livre.
Duração: 60 minutos.
Acessibilidade: teatro acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida.

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