quinta-feira, 30 de novembro de 2023

.: Crítica: "Ó Paí, Ó 2" é para rir, mostrar as belezas de Salvador e conscientizar

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em novembro de 2023


"Ó Paí, Ó 2", é o tipo de filme com astral totalmente no alto que arranca gargalhadas, enquanto faz refletir sobre causas importantes e ainda latentes entre o povo brasileiro: o racismo. O longa protagonizado por Lázaro Ramos, que dá vida ao personagem Roque, revela como estão os personagens e o famoso cortiço (do filme anterior e do seriado) no bairro do Pelourinho, após 15 anos.

Assim, em meio ao enfrentamento da dona do bar, Neuzão (Tânia Toko), que pode perder o local e se tornar um restaurante de comida oriental, além de não ser mais o ponto de encontro dos personagens, há o drama de dona Joana que sofre o luto por Cosme e Damião, com direito a cantoria e as coreografias de Roque, que tenta a carreira musical -enquanto acaba sendo passado para trás-, gritos contra o racismo são dados. Para guiar "Ó Paí, Ó 2"Contudo, há ainda outras relações e situações para complementar a trama, como por exemplo, Maria (Valdineia Soriano) e Reginaldo (Érico Brás) e até os "novos filhos" de Dona Joana. 

Com direção de Viviane Ferreira, o filme nacional mostra as belezas de Salvador com um texto regado de trocadilhos divertidos. O longa garante o encontro de ícones da cultura baiana, refletindo na felicidade que Lázaro Ramos deixa transbordar em seu personagem, além de a produção, distribuída pela H2O Films, entregar uma bela e ensolarada fotografia. Vale a pena conferir!

Em parceria com o Cineflix Cinemas, o Resenhando.com assiste aos filmes em Santos, no primeiro andar do Miramar Shopping. O Cineclube do Cineflix traz uma série de vantagens, entre elas ir ao cinema com acompanhante quantas vezes quiser - um sonho para qualquer cinéfilo. Além disso, o Cinema traz uma série de projetos, que você pode conferir neste link. Compre seus ingressos no Cineflix Cinemas Santos aqui: vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN

* Mary Ellen é editora do site cultural www.resenhando.com, jornalista, professora e roteirista, além de criadora do photonovelas.blogspot.com. Twitter:@maryellenfsm 


Filme: "Ó Pai, Ó - 2" (nacionalIngressos on-line neste link
Gênero: comédia
Classificação: 14 anos
Duração: 1h36
Ano: 2023. Idioma: português
Distribuidora: H2O Films
Direção: Viviane Ferreira
Roteiro: Elísio Lopes Jr., Viviane Ferreira
Elenco: Lázaro Ramos, Luciana Souza, Érico Brás
Sinopse: Dona Joana vive o luto pela perda de Cosme e Damião e segue enfrentando os problemas de convivência com os inquilinos do cortiço no bairro do Pelourinho. O local se prepara para a festa de Iemanjá, enquanto lida com as polêmicas dos vizinhos.

Trailer de "Ó Pai, Ó"


.: Livro "Pagus: ousadas e Insubmissas" será lançado na livraria Gato Sem Rabo


No dia 2 de dezembro, às 16h00, acontece o lançamento do livro "Pagus: ousadas e Insubmissas" na livraria Gato Sem Rabo, na Vila Buarque, em São Paulo. Haverá um bate-papo entre a organizadora do livro, Giuliana Bergamo, e a jornalista Tatiana Vasconcellos. O livro reúne entrevistas com cinco mulheres contemporâneas que, de alguma forma, atualizam questões que foram caras a Pagu (Patricia Galvão) e continuam em pauta.

Amelinha Teles, Berna Reale, Débora Diniz, Ediane Maria e Lola Aronovich conversaram com a jornalista Giuliana Bergamo sobre direitos femininos em geral, sobretudo dos direitos reprodutivos, violência contra mulher, combate ao machismo e à misoginia, luta por direitos das trabalhadoras e por justiça social, arte, militância política e liberdade sexual. Falaram ainda de suas trajetórias pessoais e os desafios que enfrentam por serem, assim como Patrícia Galvão, ousadas e insubmissas. 

Os textos e entrevistas do livro conectam Pagu, as entrevistadas, a entrevistadora e cada uma das operárias da história: mulheres que insistem em ousar para girar a engrenagem com autonomia e de forma coletiva. A livraria Gato Sem Rabo fica na Rua Amaral Gurgel, 352, na Vila Buarque, em São Paulo. Compre o livro "Pagus: ousadas e Insubmissas" neste link.

.: Yan Rego lança o livro "Era Uma Vez Um Mês Seis” nesta quinta-feira

O escritor, professor e roteirista carioca Yan Rego se sentia rancoroso acerca dos acontecimentos de Junho de 2013 - seja pela sua experiência pessoal, seja pelas análises feitas posteriormente do período. E, desse seu sentimento, surge o livro de contos "Era Uma Vez Um Mês Seis”, publicado pela Editora Paraquedas, selo de publicação assistida da editora Claraboia. O livro possui orelha do escritor e jornalista Ronaldo Bressane e quarta capa da escritora Giovana Madalosso.

A obra terá eventos de lançamentos durante o mês de novembro no Rio de Janeiro, na Livraria Da Vinci, no dia 28, às 18h; e em São Paulo, na Ria Livraria, às 19h, nesta quinta-feira, dia 30 de novembro. O lançamento na capital paulista contará com um bate-papo com o escritor e editor Ronaldo Bressane e a escritora e slammer Jéssica Campos.

Já conhecido pelo livro de contos "Agá", que venceu o segundo lugar no Prêmio Biblioteca Digital 2021, o autor conta que as principais motivações de "Era Uma Vez Um Mês Seis" eram a sua própria inquietação com a questão racial (ou, em suas palavras, o "a perdidez do pardo") e com a violência política, esteja ela dentro ou fora das organizações. 

Entretanto, ainda que parta de discussões e acontecimentos reais, a obra apresenta cunho ficcional. "Recorri à ficção porque me parece que há vozes que não foram levadas a sério como deveriam, mas, principalmente, porque há vozes que não foram ridicularizadas e esculachadas como deveriam”, ressalta.

Nesse sentido, ao longo do livro, o leitor é convidado a adentrar uma atmosfera do absurdo, que provoca ao localizá-las dentro de situações como o discurso tendencioso e violento do apresentador de um programa de televisão que relata as manifestações - caso do conto "A Voz de Deus" - ou, até mesmo, de apresenta os atravessamentos desta dentro de contextos mais pessoais, como no conto "V de Viu".

Rego, porém, não traz uma abordagem panfletária. Para ele, "falar de política e raça com respostas prontas e idealizadas me parece uma grande sacanagem intelectual". No entanto, "Era Uma Vez Um Mês Seis" se destaca pela experimentação com a linguagem e construção narrativa, que revelam, por si só, um olhar crítico e que convida à reflexão. Compre o livro "Era Uma Vez Um Mês Seis”, de Yan Rego, neste link.

Professor, roteirista e escritor: conheça os processos de Yan Rego
Nascido em 1993, no Rio de Janeiro, Yan Rego atua no ensino de crianças imigrantes chinesas e taiwanesas. É formado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP). Foi roteirista do longa-metragem "Lulinha, meu Santo!", que foi convidado para o Festival de Roteiro de Porto Alegre 2023.; e do curta "O nariz de Euzébio”, em fase de captação.

Rego conta que começou a escrever aos dezesseis anos, depois de conhecer livros de Rubem Fonseca e “desconfiar que a rua, a fala da rua e as pessoas da rua também dão boa literatura". Frequentou o Sarau do Capão e o Slam Capão, onde aprendeu a mostrar seus escritos publicamente. Foi publicado pela primeira vez na coletânea de poemas "A Favela em Ação: Slam Capão" (Cosmos, 2020). Atualmente, tem textos publicados nas revistas Morel, no Jornal RelevO e nos zines Submarino. Durante a pandemia, publicou seu primeiro livro de contos, "Agá", que foi o segundo colocado na categoria contos do Prêmio Biblioteca Digital 2021 e publicado em e-book (Biblioteca Pública do Paraná, 2021). 

Seu processo criativo se baseia, principalmente, na escuta. "Faço um pouco de pesquisa em livros e álbuns com estilos/temas semelhantes com o que estou escrevendo, mas a maior parte busco na internet e andando na rua. Anoto muitas coisas que escuto. Reviso meus textos em voz alta; paro quando cabem na boca, apertam a cabeça e não sobram no ouvido", conta. Além disso, o escritor coloca como meta a escrita de ao menos nove mil toques semanais.

Suas principais referências literárias são os escritores Rubem Fonseca, Isaac Babel, Gabriel García Márquez, João Antônio, Lima Barreto, Maria Carolina de Jesus e Mano Brown. Durante o processo de escrita de "Era Uma Vez Um Mês Seis", ele comenta ter sido influenciado principalmente pelas obras “O Homem de Fevereiro ou Março”, de Rubem Fonseca; “O Sol na Cabeça”, de Geovani Martins; “Malagueta, Perus e Bacanaço” e “Abraçado ao Meu Rancor”, de João Antônio; “Obras Completas (e outros contos)”, de Augusto Monterroso; “O Exército de Cavalaria”, de Isaac Babel; e “ Dormitório”, de Yoko Ogawa. Garanta o seu exemplar de "Era Uma Vez Um Mês Seis", escrito por Yan Rego, neste link.

O que disseram sobre o livro
“Quem vê pensa. Que tudo o que Yan Rego escreve sai da boca. Mas peixe morre é pela boca, e vale o escrito, ou melhor, o reescrito: o carioca de Vila Isabel trata a língua sem cerimônia,  mas também com cuidado.” - Ronaldo Bressane, escritor e jornalista.

“Descobri Yan Rego em um concurso de contos. Nas primeiras páginas, já sabia que seria premiado. Não é todo dia que encontramos uma voz tão singular e intensa, capaz de extrair beleza até dos cantos mais obscuros da vida.” - Giovana Madalosso, escritora e autora do livro "Suíte Tóquio".

.: "Não te Pareço Vivo?", com grupo Màli Teatro, em paralelo com mito de Electra


Com direção de Marcos de Andrade, novo trabalho do coletivo faz temporada na Casa Livre, em São Paulo, entre 11 de novembro e 17 de dezembro. Foto: Caio Oviedo


"Não te Pareço Vivo?", novo trabalho  do coletivo Màli Teatro, quer estabelecer relações entre as tragédias gregas e o tempo presente.  O espetáculo parte do mito de Electra, em particular na peça de Sófocles, estabelecendo pontes com os percalços e conflitos políticos e civilizatórios vivenciados no Brasil dos últimos anos. A temporada de estreia acontece até o dia 17 de dezembro de 2023 na Casa Livre, na Barra Funda, em São Paulo, com sessões aos sábados, às 20h, e, aos domingos, às 18h.

Na trama do espetáculo, a história milenar é apresentada ao público em paralelo à descrição de uma tragédia que não deixou sobreviventes ocorrida em uma comunidade não tão distante de nós. “Nos dois casos, a morte deixa de ocupar a esfera particular e se torna um evento público, às vezes morbidamente banalizado em praça pública, como vimos aqui no Brasil nos últimos anos. As terríveis e ambíguas relações entre poder e morte são uma condição perene da humanidade”, comenta o diretor Marcos de Andrade.

A peça evoca um ritual de luto para superar um trauma coletivo, além de um chamado por justiça. Dessa forma, os personagens/atores vagueiam pelo espaço imaginário de um território destruído, transitando entre a vida e a morte e dando pistas de um cotidiano que outrora existiu. O grupo segue, como marca herdada do CPT de Antunes Filho, onde os integrantes do coletivo se conheceram,  o desejo de tornar a função dos intérpretes o centro absoluto da cena.

O ator é o rei do palco. A função do ator é quase religiosa e dele, por contiguidade, emana toda e qualquer sensação espetacular de uma apresentação para público. “Limamos tudo aquilo que não consideramos essencial. Pensamos em uma encenação crua, em que a presença viva importa mais do que qualquer outra coisa. Tanto é que nosso cenário é formado por uma mesa, algumas cadeiras e poucos objetos. E o figurino é sóbrio e muito próximo do que usaríamos em ensaios. O que de certa maneira, remete ao modo franciscano de produção, característico do Prêt-à-Porter, outra influência da nossa convivência com Antunes”, conta o diretor.

O público é convidado a participar de uma experiência intimista, na qual um grupo de intérpretes em coro está ansioso para compartilhar histórias, como a de Electra, a mulher que nunca esquece o assassinato de seu pai, o rei Agamêmnon. Na narrativa clássica, cabe ao seu irmão Orestes vingar essa morte.

O trabalho também representa uma declaração de amor ao teatro. “Sofremos muito como classe durante a pandemia. E depois dela, como coletivo, nos acostumamos a conviver intensamente com a ameaça de extinção. Mas essa é a hora de dizer SIM! Apesar dos obstáculos e percalços, falta de apoio e da dificuldade incomensurável que é produzir um espetáculo de teatro de forma independente, a palavra da hora é SIM! Continuamos lutando firmes e fortes pela nossa arte ”, afirma Andrade.

No elenco estão Anísio Serafim, Carol Marques da Costa, Chrystian Roque, Guta Magnani, Marcelo Villas Boas e Maria Clara Strambi. Já a dramaturgia é assinada colaborativamente e contou com a parceria de Rogério Guarapiran na adaptação do texto de Sófocles. Para o Màli Teatro, a tragédia de Sófocles faz um alerta sobre a atual construção dos espaços de diálogo e ação na sociedade, que cada vez mais se firmam na extinção da complexidade e na cega defesa de ideologias herdadas.

Impulsos atávicos típicos do universo trágico se misturam e se confundem com questões urgentes e contemporâneas, e parecem nos perguntar: poderá haver algum sonho coletivo de futuro em que construiremos um novo destino? Assim, o espetáculo pretende ser um espelho, uma catarse, em que as certezas humanas se revelam em crise constante.


Processo criativo
O processo criativo de "Não te Pareço Vivo?" começou em janeiro de 2020, logo no início da pandemia. Ao longo desse tempo, o grupo fez uma ampla pesquisa no universo das tragédias, da filosofia ao contexto histórico das peças. Por meio de encontros virtuais, o coletivo também aprofundou na iconografia estética, tendo como influências não só o mito de Electra como o conteúdo literário relacionado a ele. As principais referências nesse sentido foram a "Oresteia", de Ésquilo, as obras de Eurípedes e Sófocles, escritos e conceitos de Sigmund Freud, Friedrich Nietzsche, Simone Weil e Miguel Rio Branco.

As reuniões presenciais acontecem desde fevereiro de 2022 com o objetivo de manter viva a investigação histórica que culminou com a produção do espetáculo. Nessas ocasiões, o Màli foi construindo uma gramática em comum, composta pelas mais variadas referências, desde a literatura à fotografia, e por um trabalho técnico, vocal, corporal e mental, que pretende solidificar uma base para o trabalho interpretativo.

Parceiros criativos de outras áreas do conhecimento contribuíram para aprofundar as discussões levantadas pela obra teatral. Foram eles o promotor Flávio Farinazzo, a advogada criminalista Eleonora Nacif, a doutora em letras clássicas Karen Amaral Sacconi, a psicanalista lacaniana Camilla Guido,  o ator e diretor Emerson Danesi, o ator Antonio Salvador e o pesquisador e advogado Thiago Britto.


Sobre o Màli Teatro
O Màli Teatro foi fundado em 2017 por artistas que se encontraram no Centro de Pesquisa Teatral, CPT-SESC, dirigido por Antunes Filho, como atores, atrizes, dramaturgo, cenógrafa e pesquisadores. Em 2018, foi contemplado pelo edital Laboratório de Cena para uma ocupação artística na FUNARTE - SP e, em dezembro de 2019, o Màli estreou sua primeira peça no SESC Avenida Paulista: “45 GRAUS”, baseada no novela “A Dócil”, de Dostoiévski, com direção de Marcos de Andrade. Desde então, o Màli se constitui como um grupo de pesquisa continuada, formado por artistas de diversas gerações que mantêm em suas trajetórias larga experiência voltada ao trabalho de pesquisa e se dedicam a aprofundar questionamentos relacionados ao mundo contemporâneo através da arte.

Sinopse de "Não te Pareço Vivo?"
A história milenar da família dos Átridas e o mito de Electra são apresentados ao público em paralelo à descrição de uma tragédia que não deixou sobreviventes ocorrida numa comunidade não tão distante de nós. Os rituais fúnebres deste coro de mortos e a obra clássica de Sófocles se fundem em um chamado por justiça. Orestes retorna do exílio de volta para a casa para vingar a morte do pai, rei Agamêmnon, cujo assassinato é compulsivamente lamentado por sua irmã Electra, aquela que não esquece.

Ficha técnica
Espetáculo "Não te Pareço Vivo?". Texto: baseado em Electra de Sófocles. Direção: Marcos de Andrade. Elenco: Anísio Serafim, Carol Marques da Costa, Chrystian Roque, Guta Magnani, Marcelo Villas Boas e Maria Clara Strambi. Assistência de direção: André Mourão. Dramaturgia: Màli Teatro. Adaptação "Electra" de Sófocles: Rogério Guarapiran. Cenografia e figurino: Lívia Loureiro e Màli Teatro. Desenho de luz: Aline Santini. Operação de luz e som: André Mourão, Ivo Leme e Marcos de Andrade. Fotos: Caio Oviedo, Marcelo Villas Boas e Nicolle Comis. Vídeo: Caio Oviedo e Marcelo Villas Boas. Produção executiva: Carol Marques da Costa e Marcos de Andrade. Produção: Màli Teatro, Ivo Leme e Corpo Rastreado - Lud Picosque. Assessoria de Imprensa: Canal Aberto - Márcia Marques. Arte gráfica: Anísio Serafim. Realização: Màli Teatro.

Serviço
Espetáculo "Não te Pareço Vivo?". Até dia 17 de dezembro, aos sábados, às 20h, e, aos domingos, às 18h. Local: Casa Livre - R. Conselheiro Brotero, 195 - Barra Funda/São Paulo. Valor: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia-entrada). Link para compra de ingresso: www.sympla.com.br/maliteatro | Também é possível adquirir o ingresso direto na bilheteria do teatro. Duração: 90 minutos. Classificação: 14 anos.

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

.: Cineflix estreia "Aventuras de Poliana", "Digimon 02" e "Segredos do Universo"

Quinta-feira, dia 30 de novembro, a unidade Cineflix Santos, localizada no Miramar Shopping, bairro Gonzaga estreia três filmes na telona: "As Aventuras de Poliana - O Filme""Os Segredos do Universo por Aritóteles e Dante" e "Digimon Adventure 02: The Beginning". Programe-se e confira mais detalhes abaixo!

No Cineflix Santos, seguem em cartaz "Napoleão""Ó Pai, Ó - 2""Jogos Vorazes: a Cantiga dos Pássaros e das Serpentes". Compre os ingressos antecipados aqui: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN.

O Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021. Para acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica no Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no Gonzaga. Consulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN.

Estreia da semana no Cineflix Santos


"As Aventuras de Poliana - O Filme" (nacionalIngressos on-line neste linkGênero: aventura, romanceClassificação: 10 anos. Duração: 1h40. Ano: 2023. Idioma: português. Distribuidora: Warner Bros. Pictures. Direção: Cláudio Boeckel. Roteiro: Íris Abravanel, Bruno Garotti. Elenco: Sophia Valverde (Poliana), Pietra Quintela (Lorena D'Ávila), Isabella Moreira (Raquel D'Ávila), Otavio Martins. Sinopse: Poliana é uma garota que sempre soube ver o lado bom da vida. Ela aprendeu com seu pai o "jogo do contente" e com ele encontra algo de positivo até nas situações mais difíceis. Mas desde que o pai Otto Pendleton sumiu no ano anterior, ela não consegue mais entrar na brincadeira. No seu aniversário de 15 anos, Poliana ganha um lindo colar que pertenceu à mãe, e leva o presente para o famoso Campo de Férias. Quando Poliana e seus amigos começam a viver situações estranhas, eles resolvem descobrir os mistérios daquele lugar - e encontram muito mais do que esperavam.

Sala 3 (nacional) - Em cartaz de 30 de novembro a 6 de dezembro16h00 - 18h00 - 20h00


"Os Segredos do Universo por Aritóteles e Dante" ("Aristotle and Dante Discover the Secrets of the Universe") Ingressos on-line neste linkGênero: dramaClassificação: 14 anos. Duração: 1h36. Ano: 2023. Idioma: inglês. Distribuidora: Sony Pictures. Direção: Aitch AlbertotRoteiro: Aitch Alberto. Elenco: Max Pelayo, Reese Gonzales, Eva Longoria. Sinopse: s Segredos do Universo por Aristóteles e Dante é um filme norte-americano dirigido por Aitch Alberto (Hara Kiri, She Kills He) e baseado no livro best-seller Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo, de Benjamin Alire Sáenz. A história - ambientada em 1987 - acompanha os dois personagens-título, os jovens Aristóteles (Max Pelayo) e Dante (Reese Gonzales), que, em um verão qualquer, acabam se conhecendo por acaso e - mesmo com personalidades e vidas bem distintas - iniciam uma amizade especial e duradoura. Juntos, os garotos aprendem a lidar com as frustrações de serem adolescentes mexicano-americanos solitários e exploram os caminhos para a autodescoberta.

Sala 1 (legendado) - Em cartaz de 30 de novembro a 6 de dezembro14h50 - 20h50



"Digimon Adventure 02: O Início" ("Digimon Adventure 02: The Beginning") Ingressos on-line neste linkGênero: aventura, açãoClassificação: livre. Duração: 1h27. Ano: 2023. Idioma: japonês. Distribuidora: Paris Filmes. Direção: Tomohisa Taguchi, Shin'ichirô UedaRoteiro: Akatsuki Yamatoya. Elenco: Rie Kugimiya, Megumi Ogata, Mao Ichimichi, Fukujūrō Katayama, Junya Enoki. Sinopse: Digimon Adventure 02: The Beginning é um filme de animação japonês de 2023, o 10.º filme da franquia Digimon produzido pela Toei Animation e distribuído pela Toei Company, Ltd.. Situado na mesma continuidade das duas primeiras séries de anime de televisão Digimon, serve como o final da série Digimon Adventure 02.

Sala 1 (dublado) - Em cartaz de 30 de novembro a 6 de dezembro17h10
Sala 1 (legendado) - Em cartaz de 30 de novembro a 6 de dezembro19h00

Seguem em cartaz no Cineflix Cinemas


"Napoleão" ("Napoleon") Ingressos on-line neste linkGênero: guerra, açãoClassificação: 16 anos. Duração: 2h38. Ano: 2023. Idioma: inglês. Distribuidora: Sony Pictures. Direção: Ridley ScottRoteiro: David Scarpa. Elenco: Joaquin Phoenix (Napoleon Bonaparte), Vanessa Kirby (Empress Josephine), Tahar Rahim (Paul Barras), Rupert Everett (Arthur). Sinopse: As origens do comandante militar Napoleão e sua rápida ascensão. Uma visão através do prisma de seu relacionamento e muitas vezes volátil com sua esposa e por ser amor verdadeiro, Josephine.

Sala 4 (legendado) - Em cartaz de 30 de novembro a 6 de dezembro14h40 - 17h50 - 21h00

Trailer de "Napoleão"

"Ó Pai, Ó - 2" (nacionalIngressos on-line neste linkGênero: comédiaClassificação: 14 anos. Duração: 1h36. Ano: 2023. Idioma: português. Distribuidora: H2O Films. Direção: Viviane FerreiraRoteiro: Elísio Lopes Jr., Viviane Ferreira. Elenco: Lázaro Ramos, Luciana Souza, Érico Brás. Sinopse: Dona Joana vive o luto pela perda de Cosme e Damião e segue enfrentando os problemas de convivência com os inquilinos do cortiço no bairro do Pelourinho. O local se prepara para a festa de Iemanjá, enquanto lida com as polêmicas dos vizinhos.

Sala 2 (nacional) - Em cartaz de 30 de novembro a 6 de dezembro18h40

Trailer de "Ó Pai, Ó"

"Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e da Serpente" ("The Hunger Games: The Ballad of Songbirds and Snakes") Ingressos on-line neste linkGênero: ficção científica, ação, aventura. Classificação: 12 anos. Duração: 2h38. Ano: 2023. Idioma: inglês. Distribuidora: Paris Filmes. Direção: Francis LawrenceRoteiro: Michael Arndt, Michael Lesslie. Elenco: Tom Blyth, Rachel Zegler, Peter Dinklage. Sinopse: Antes de Katniss Everdeen, sua revolução e o envolvimento do 13 distrito, houve o Presidente Snow, ou melhor, Coriolanus Snow. A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é a história do ditador de Panem antes de chegar ao poder. Anos antes, Coriolanus Snow vivia na capital, nascido na grande casa de Snow, que não anda muito bem em popularidade e financeiramente. Ele se prepara para sua oportunidade de glória como um mentor dos Jogos. O destino de sua Casa depende da pequena chance de Coriolanus ser capaz de encantar, enganar e manipular seus colegas para conseguir mentorar o tributo vencedor. Foi lhe dado a tarefa humilhante de mentorar a garota tributo do Distrito 12. Os destinos dos dois estão agora interligados – toda escolha que Coriolanus fizer terá consequências dentro e fora do Jogo. Na arena, a batalha será mortal e a garota terá que sobreviver a cada segundo. Fora da arena, Coriolanus começa a se apegar a garota, mas terá que ter que qualquer passo que der, fará com que a menina e ele mesmo sofram de alguma maneira.


Sala 2 (legendado) - Em cartaz de 30 de novembro a 6 de dezembro: 15h30 - 20h40


Trailer "Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e da Serpente"

.: Entrevista com Mauro Paz: "A literatura representa possibilidades"


Autor de "Quando os Prédios Começaram a Cair", lançado pela editora Todavia,  Mauro Paz nasceu em Porto Alegre, em 1981. Nesse romance, ele combina mistério, drama pessoal e questões urgentes e atuais ao falar sobre um protagonista que está com a vida acertada até que os prédios ao redor dele começam a cair. A capa, feita por Elisa v. Randow e Laerte Coutinho, ilustra o tema central da obra: a busca pelo outro e por algum significado para as coisas em um mundo em que as estruturas estão ruindo. 

O que há de autobiográfico nisso tudo? Ele próprio responde: "Pouco". E aponta para um amanhã cada vez mais desprovido de sentido e de paz. Mauro Paz  foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura com o romance "Entre Lembrar e Esquecer", e do Prêmio Sesc com o livro de contos "Por Razões Desconhecidas", além de ser autor do livro "CidadExpressa". Nesta entrevista exclusiva, ele fala sobre a vida, o processo de escrita e o que está no meio. Compre o livro "Quando os Prédios Começaram a Cair", de Mauro Paz, neste link.



Resenhando.com - O que há de autobiográfico em "Quando os Prédios Começaram a Cair"?
Mauro Paz - Há muito pouco de autobiográfico no enredo e no protagonista de "Quando os Prédios Começaram a Cair". Uma similaridade minha com o protagonista é o fato de ele sair do interior e tentar a vida em São Paulo. Apesar de ter nascido em Porto Alegre, eu cresci no bairro de Belém Novo, que nos anos 90 era como uma cidade do interior. Lá todos os acontecimentos giravam, e ainda giram, em torno da praça central e da igreja. Eu tinha o Guaíba em frente de casa e muita natureza ao redor. Solano, o protagonista do livro, sai do interior de Minas Gerais, de uma cidade pequena, e também cresceu com liberdade de andar na rua. Outro ponto em comum é que, de forma geral, Solano é atravessado por uma série de questões postas pela crise do modelo tradicional de masculinidade. E muitas dessas tensões também me impactam diariamente.

Resenhando.com - Laerte Coutinho fez a ilustração da capa. O que representa isso para você? Mauro Paz - A ideia de trazer a Laerte para ilustrar a capa do livro foi do André Conti, meu editor. Acredito que existe uma simbologia enorme nessa escolha. Para mim, "Quando os Prédios Começaram a Cair" é um livro que trata do desmoronamento das certezas do masculino neste começo de século XXI. Nesse sentido, vejo a Laerte como um ícone na cultura brasileira. Por volta de 2010, quando ela anunciou abertamente a transição de gênero, a imprensa tradicional não falava tanto sobre o tema. Então surge Laerte, um homem com mais de 60 anos, que namorava uma mulher, dizendo já não se identificar com a performance do sexo biológico. Vejo que essa falta de reconhecimento que a Laerte sentiu, hoje, mais de dez anos depois, ganhou muita força entre os meninos adolescentes, que ou recusam o modelo de masculinidade ou buscam outras formas diferentes de masculinidade.

Resenhando.com - O que representa a literatura em sua vida?
Mauro Paz - 
Na minha vida, a literatura representa possibilidades. A forma com que a gente vive leva a gente a seguir padrões muito estreitos. Leva a gente a aceitar que a péssima condição de trabalho é a única forma de ganhar a vida. Leva a gente a aceitar as horas perdidas no transporte público de má qualidade. Leva a gente a não questionar a forma com que as construtoras atropelam o bem-estar das pessoas para erguerem prédios cada vez mais altos e rentáveis. Nesse mundo de limite e repetição, a literatura aparece para mim como algo mágico. O analógico artefato do livro, com suas páginas de papel e milhares de caracteres ordenados, ainda é uma das possibilidades mais abertas para o pensar.


Resenhando.com - Na sua própria literatura, em que você se expõe mais, e por outro lado, em que você mais se preserva, em seus textos?
Mauro Paz - 
Como comentei, para mim a literatura são possibilidades. Agora quais possibilidades escolher na hora de escrever? Eu, particularmente, tento escolher caminhos que levem o meu leitor ao questionamento sobre o modo como ele vive e a sociedade no entorno dele está organizada. Olhando por essa perspectiva, acredito que me exponho bastante. E, para fazer isso, nem sempre escolho os personagens que seguem a cartilha do politicamente correto. Prefiro personagens que gerem algum desconforto, que a partir da complexidade deles o leitor reflita. Seguir por esse caminho é custoso para mim. No processo de escrita, surgem muitos medos sobre como os personagens serão recebidos. Com Solano, de "Quando os Prédios Começaram a Cair", foi assim. Só agora, com o retorno dos leitores, estou vendo que ele funcionou bem. Quanto ao que mais me preservo no que escrevo, acredito que seja a minha vida particular. Até o momento não senti necessidade de escrever algo que passe perto da autoficção. Eu gosto muito do gênero, acho os livros da Annie Ernaux geniais. Ela consegue tratar de questões íntimas dela, mas sempre dando uma perspectiva do que acontece no mundo ao redor. Talvez algum dia eu me exponha dessa forma. Atualmente, como opto pela ficção, prefiro criar situações mais interessantes do que as que vivo.

Resenhando.com - Que conselhos você dá para as pessoas que pretendem enveredar pelos caminhos da escrita?
Mauro Paz - 
Para quem está começando a escrever, o conselho que posso dar é: conheça o gênero que você quer escrever. Saiba a história do romance moderno, do conto, da poesia. Esses gêneros tiveram uma razão de nascer. E têm uma razão para estarem se transformando. Busque entender isso. Quando você entender, olhe ao redor. Leia os seus contemporâneos. Leia os estrangeiros, mas, principalmente, leia os brasileiros. Aprenda com eles sobre o que fazer ou não fazer. Reflita sobre as tensões do mundo. Depois disso tudo, arrisque escrever o que tem verdade para você, seja no conteúdo ou na forma. Encontre o que soa verdadeiro para você. Um texto escrito com verdade transpira no papel e cria ligações fortes com os leitores.

Resenhando.com - Quais livros foram fundamentais para a sua formação enquanto escritor e leitor?
Mauro Paz - 
Todos que li, os que gosto e os que não gosto. Acredito que aprendo muito lendo textos que não gosto tanto. Eles me ajudam a pensar sobre o que não fazer e recalcular a minha rota de escrita. Porém, entre os que gosto, há dois livros que me despertaram para o escrever: "O Apanhador no Campo de Centeio", do Salinger, e "Feliz Ano Novo", do Rubem Fonseca. Esses dois livros me mostraram que a literatura não precisa ser algo mofado, com uma linguagem distante. Depois deles, comecei a realmente me interessar pela escrita. Há livros que considero nortes para minha escrita: "Pôncia Vivêncio", da Conceição Evaristo, "Iniciantes", do Raymond Carver, "Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister", de Goethe, "Ficciones", do Borges, e tantos outros. Quanto à teoria, acredito que "A Poética", de Aristóteles seja uma influência fundamental. Releio bastante. Boa parte do que aprendi sobre personagem e enredo está lá.

Resenhando.com - Como e quando começou a escrever?
Mauro Paz - 
Comecei a escrever prosa no começo dos anos 2000, quando ainda estava na faculdade de Letras. Durante o ensino médio, eu não lia muito. Entrei no curso de Letras meio por acaso e realmente me encantei com a literatura. Foi uma das paixões mais transformadoras da minha vida, sem dúvida. Foi como se virasse uma chave, "é isso que eu tenho que fazer". Bem naquela época, eu perdi uma amiga de infância de um jeito trágico. Durante a adolescência ela mudou de bairro e nos afastamos. Fazia uns cinco anos que não nos víamos. Então, numa manhã, abri o jornal e vi a foto dela na página policial. A reportagem dizia algo do tipo "Garota de programa é encontrada morta em apartamento. Polícia acredita em caso de suicídio". Na reportagem eu descobri que ela trabalhava há alguns anos em uma famosa boate de Porto Alegre exatamente na mesma quadra em que eu morava. O que mais me incomodou é que a mesma matéria dizia que ela morava com o namorado, ex-policial, e as armas encontradas no apartamento eram dela. Tinha todos os indícios de que ela havia sido assassinada, mas para o jornal era só mais uma garota de programa. Que diferença fazia como ela morreu? O fato de ela estar tão perto e, ao mesmo tempo, em um universo tão distante, somado à forma com que a vida dela se fechou, desencadeou em mim um desejo enorme de pensar numa possibilidade diferente da que estava descrita no jornal. Então escrevi meu primeiro conto.

Resenhando.com - Quais escritores mais influenciaram a sua trajetória artística e pessoal?
Mauro Paz - 
O autor que mais me influenciou foi o J.D. Salinger. Gosto muito da forma despretensiosa com que ele narrava situações complexas. Além da forma de narrar, me atrai muito em "Franny e Zooey", assim como no conto "Teddy", de "Nove Histórias", quando Salinger explora temas mais filosóficos. O universo do mistério sempre me interessou muito. Tento fazer uma literatura realista enevoada por mistério. Acredito que comecei a enxergar melhor esse caminho estético lendo Paul Auster e os contos de Altair Martins no começo dos anos 2000. Uma autora com influência sobre a minha forma de pensar a lógica do romance é a irlandesa Sally Rooney. Usei o romance "Pessoas Normais" como meu objeto de estudo no mestrado. Em uma das entrevistas a que assisti, Sally comenta que não pensa o romance a partir de um personagem. Ela prefere criar a dinâmica entre dois ou mais personagens para então desenvolver o enredo. Acredito que esse é um caminho muito generoso de olhar para a vida. O romance moderno nasce do individualismo burguês lá no século XVIII. Ele evolui em compasso com o liberalismo e o capitalismo. Se você observar a linha evolutiva das personagens do romance, em sua maioria, elas se tornam cada vez mais individualistas e voltadas para si. Pensar um romance a partir de relações é refletir sobre as engrenagens sociais e se abrir para um pensamento fundamental neste século XXI: dependemos uns dos outros. Seja em relação a afeto, a trabalho ou à preservação do planeta, dependemos uns dos outros. Por isso, vejo a perspectiva da Sally Rooney muito alinhada com o atual momento histórico. E certamente contará muito nos meus próximos trabalhos. Independentemente desses autores que comentei acima, a grande influência que sofro na minha trajetória artística e pessoal são os autores-amigos com os quais troco sobre o fazer literário. Tenho muita sorte de ter, perto de mim, pessoas maravilhosas como Vanessa Vascouto, Natália Zuccala, Tobias Carvalho, Samir Machado de Machado, Camila Maccari, Rafael Bassi, Rodrigo Tavares, Carlos André Moreira, Natalia Timerman, Maria Fernanda Maglio, Anita Deak, Liliane Prata, Camilo Gomide, Gael Rodrigues, Tiago Germano, Gabriela Silva, Helena Terra, entre outros.


Resenhando.com - É possível viver de literatura no Brasil? 
Mauro Paz - 
Acredito que é possível, sim, viver de literatura no Brasil. Porém, o ponto principal é você entender que viver de literatura não se limita a ficar trancado em casa, escrever seus livros e esperar que o dinheiro caia do céu. Viver apenas com a venda de livros é difícil não só no Brasil, mas em qualquer lugar do mundo. No entanto, há outras formas de fazer dinheiro com literatura: lecionar, participar de eventos, editar, traduzir. Boa parte dos escritores que conheço que vivem de literatura se dividem entre escrever e alguma outra atividade ligada à literatura.

Resenhando.com - O quanto para você escrever é disciplina? É mais inspiração ou transpiração?
Mauro Paz - 
Penso muito sobre o que planejo escrever. Muito mesmo. Rascunho. Testo possibilidades narrativas. Então, para mim, escrever é transpirar. Porém, também acredito que para escrever algo bom é necessário transpirar inspiração, ser movido por uma ideia que te toque profundamente e crie o movimento da escrita.


Resenhando.com - Quanto tempo por dia você reserva para escrever?
Mauro Paz - 
Não tenho uma regra. Quando estou com o projeto de um livro em andamento, reservo em média duas horas diárias.

Resenhando.com - Você tem um ritual para escrever? 
Mauro Paz - 
Não tenho um ritual para escrever, mas prefiro escrever pela manhã. A minha cabeça está mais fresca e rendo melhor. Há também um tempo para eu me conectar com o texto. Quando volto para casa de uma viagem, levo uns dois dias até me sentir à vontade novamente para escrever. Quando estou fora também, preciso me sentir confortável com o lugar para conseguir escrever.

Resenhando.com - Em um processo de criação, o silêncio e isolamento são primordiais para produzir conteúdo ou o barulho não o atrapalha?
Mauro Paz - 
Eu prefiro escrever com silêncio. Consigo escrever com barulho, mas não acho o ideal.

Resenhando.com - O que há de autobiográfico nos textos que escreve?
Mauro Paz - 
Não há.

Resenhando.com - Como começar a ler Mauro Paz?
Mauro Paz - 
Eu gosto muito de todos os meus três livros, porém acredito que em "Quando os Prédios Começaram a Cair" encontrei alguma maturidade quanto à forma. Então, minha sugestão é começar por ele.

Resenhando.com - Por qual de seus livros - ou personagem - você sente mais carinho?
Mauro Paz - 
Eu sinto um carinho especial pelo narrador do conto que abre o meu livro "Por Razões Desconhecidas". O conto se chama "Minha Mãe, Florence Thompson". É uma história baseada em uma foto famosa da grande depressão americana de uma mãe abraçada a seus filhos. No conto, o menino remonta o dia em que a mãe precisou dar uma das filhas.

Resenhando.com - Que livro você gostaria de ter escrito?
Mauro Paz - 
Eu gostaria de ter escrito "O Jogo da Amarelinha", do Cortázar. Esse livro me fez entender que um romance é um convite a um jogo. Com total domínio da linguagem, leveza e verdade, (Julio) Cortázar constrói nessa obra duas dinâmicas lindas de leitura, seja para quem lê na forma direta ou na ordem indicada pelo autor. É um livro inteligente, com mistério, mas também com paixão e realismo. Demorei um tempo para perceber, mas união entre o mistério e a paixão é algo que busco constantemente no que escrevo desde o primeiro conto.

Resenhando.com - Hoje, quem é Mauro Paz por ele mesmo?
Mauro Paz - 
Mauro Paz é um homem de 42 anos, com um metro e oitenta e três de altura e noventa e seis quilos. Ele tem olhos francos e cabelos castanhos, já com alguns fios brancos. Esses fios brancos também se espalham pela barba e pelo juízo de saber quando ficar calado. Mauro não perde oportunidades de estar com seus pais, nem com suas irmãs. Ele gosta de nadar, mas nem sempre encontra tempo e lugar. Então, ele corre e tenta manter alguma saúde com aulas de funcional. Além de escrever livros, Mauro trabalha com propaganda e desenvolve roteiros. Ele adora viajar e aprender sobre a história dos lugares. Cultiva boas amizades. Acredita na maravilha dos encontros inesperados. Em especial, prefere encontrar os amigos em pequenos grupos ou sozinhos. Apesar de morar em São Paulo há 15 anos, Mauro ainda se considera o mesmo menino que cresceu no bairro de Belém Novo, pertinho do Guaíba, em Porto Alegre. Gosta de sentir o cheiro das árvores e da terra e de escutar o barulho da água correr nas pedras. Detesta a ideia de que algumas poucas pessoas acumulam bilhões, enquanto milhões de outras não têm o que comer ou onde morar. Queria ajudar mais em relação a isso, mas não tem todo o tempo que gostaria porque trabalha bastante. Um dos motivos para trabalhar tanto é o medo de envelhecer e também não ter o que comer ou onde morar. Apesar desse medo e das pessoas com fome e dos massacres promovidos pelos países ricos em nome da liberdade, Mauro acha a vida um verdadeiro milagre. E lamenta muito o dia em que vai dizer adeus. 


Garanta o seu exemplar de "Quando os Prédios Começaram a Cair", escrito por Mauro Paz, neste link.

.: Com Celso Frateschi e Rodolfo Valente, "Pawana" reabre Ágora Teatro


Espectadores são transportados para o universo dos navios baleeiros no único texto dramatúrgico escrito pelo francês J.M.G. Le Clézio, vencedor do Nobel de Literatura de 2008, com atuação de Celso Frateschi, em cena ao lado de Rodolfo Valente. Foto: Lígia Jardim


A peça é baseada em uma história real ocorrida em 1856, durante a colonização da costa da Califórnia, quando o capitão Charles Melville Scammon liderou uma expedição de caça às baleias em busca do óleo que era extraído delas, valiosa matéria-prima do século XIX. Le Clézio conduz o espectador para dentro de um mundo idílico, convertido tragicamente em um mar tingido de sangue.

Depois de quase quatro anos fechado, o Ágora Teatro, dirigido por Celso Frateschi e Sylvia Moreira, foi reaberto com o espetáculo de "Pawana" (1992), texto do escritor francês Jean-Marie Gustave Le Clézio (vencedor do Nobel de Literatura de 2008), traduzido por Leonardo Fróes. A montagem, com direção de José Roberto Jardim, constrói um relato de viagem em que as memórias de belas paisagens da costa da Califórnia e de violentas agressões à natureza são revisitadas pelos dois personagens em cena, em um acerto de contas com o passado.

Importante espaço da cena paulistana, de relevância histórica não somente pelo repertório apresentado, mas também pelos artistas que já passaram por lá, o Ágora estava fechado desde o início de 2020, em decorrência da pandemia de Covid-19 e das obras do Metrô, que interditaram grande parte da rua e fecharam temporariamente uma das salas. As sessões de "Pawana" seguem até dia 11 de dezembro.

"Pawana" traz dois narradores, interpretados respectivamente por Celso Frateschi e Rodolfo Valente, um experiente capitão, Charles Melville Scammon, e o jovem marinheiro John, da cidade de Nantucket, que embarcam em um navio baleeiro rumo a um refúgio idílico onde as baleias-cinzentas vão parir seus filhotes. 

O objetivo é conseguir o valioso óleo desse animal, matéria-prima responsável por sustentar boa parte da economia mundial até o final do século XIX, fornecendo, por exemplo, combustível e iluminação. Assim, guiado não somente pela curiosidade e o espírito aventureiro, mas também pela cobiça (o capitão e sua tripulação não se importam em promover uma enorme matança dos animais), o navio Léonore desce a costa da Califórnia em janeiro de 1856.

Quatro relatos entrecortados - dois de Melville, dois de John - exploram a relação entre os protagonistas, e a relação entre cultura e natureza. “A obra é muito mais trágica do que dramática. Na verdade, não existem grandes dramas e, sim, uma tragédia humana planetária. O capitão Melville tem consciência do mal que pratica, mas também sabe que, se não fosse ele, outro o teria feito. A peça trata da matança das baleias-cinzentas, mas serve de metáfora também para descrever outras situações humanas, como as guerras”, afirma Frateschi.

"Pawana" está filiada às grandes narrativas de aventuras marítimas, como "Moby Dick", mas segue por outro caminho. Enquanto no clássico romance de Herman Melville, o capitão Ahab tenta enfrentar seu próprio monstro, mas falha e perde a batalha contra a natureza, na história de Le Clézio, o protagonista, ao invadir o santuário das baleias-cinzentas, está entrando em um embate maior, com toda a vida do planeta.

O escritor francês inspirou-se em uma história real para escrever o livro. Em 1856, na época em que a costa da Califórnia estava sendo colonizada, o capitão Charles Melville Scammon - que também era naturalista (na acepção que o século XIX reservou ao termo) e publicou dois livros sobre a fauna marinha - empreendeu uma violenta caça às baleias-cinzentas, estimulando a matança indiscriminada desses animais por navios que passaram a ir para lá vindos de várias parte do mundo.

“Le Clézio começa a publicar sua obra a partir dos anos 1960, mas não se deixa influenciar pelas experimentações estéticas típicas do período. Sua literatura tem caráter marcadamente sapiencial, estando filiada à tradição das grandes narrativas de aventura. Ao entrar em contato com os povos originários do México, onde morou por um bom tempo, passou a tratar da necessidade existencial e ética de o ser humano se integrar à natureza e respeitar seus ritmos, em vez de olhá-la como uma fonte inesgotável de recursos", comenta Welington Andrade, responsável por conduzir a pesquisa teórica do espetáculo. Os direitos para a montagem do espetáculo foram conseguidos diretamente com o apoio do Consulado da França.

Sobre a encenação
O trabalho de direção de José Roberto Jardim destaca a essência do aspecto narrativo do texto, explorando as imagens evocadas pelas falas dos dois personagens. A sobriedade dos demais elementos cênicos marca o projeto de encenação. O cenário e o figurino são assinados por Sylvia Moreira, enquanto a iluminação é de Wagner Freire.

“O horror narrado pela evocação da memória dessas duas personagens ocasiona a destruição da ‘possibilidade de beleza no mundo’. No palco, luzes espectrais, faces sombreadas e sons dissonantes e agônicos caracterizam essa atmosfera. O palco converte-se em uma espécie de limbo no qual Celso e Rodolfo verão, gradativamente, esse espaço simbólico se deteriorar até a destruição completa”, conta o diretor.

Reabertura do Ágora
Fundado em 1999, o Ágora Teatro ocupa o local onde antes funcionava o Teatro do Bixiga. Durante mais de vinte anos, o espaço produziu e acolheu inúmeras montagens, sempre orientado pela qualidade do repertório e pelo nível das reflexões suscitadas, implementando ainda uma série de ações pedagógicas e de formação de público, como cursos, palestras e seminários através de seus eixos de atuação: Ágora em Cena, Ágora Formação, Ágora Livre e Ágora Publicações. No início de 2020, em razão da pandemia, o espaço fechou as portas, fez inúmeras atividades online e enfrentou dificuldades com as obras da Linha 6 (Laranja) do Metrô, que interditaram 500m² de sua área.

A reabertura em novembro de 2023 marca uma nova etapa da história do projeto. Que se inicia com a retomada do eixo Ágora em Cena, com a montagem de "Pawana" de J.M.G. Le Clézio, contemplado com o Prêmio Zé Renato da cidade de São Paulo. Em 2024, o Ágora retomará seus outros eixos de ação. Houve uma grande reforma para acolher essas mudanças e atender plenamente ao conforto do público: por enquanto, apenas uma sala está disponível (a outra, maior, permanece interditada até o fim das obras do Metrô).


Sobre o autor
Jean-Marie Gustave Le Clézio
, escritor e ensaísta francês, nasceu em 1940 em Nice. Sua paixão por viagens surgiu durante sua visita às Ilhas Maurício. Em 1963, aos 23 anos, seu romance de estreia, "Le Procès-Verbal," lhe rendeu o Prêmio Renaudot. 3. Em 1980, publicou "Désert," uma de suas obras mais aclamadas, abordando a vida dos tuaregues. Outras obras notáveis incluem "Fièvre," coletânea de contos, e romances como "Le Déluge," "La Quarantaine," e "Poisson d'Or," que exploram a relação entre a humanidade e a morte.

"Désert" reflete sua preocupação com os povos nômades ameaçados, uma temática que ele estudou em ensaios após viver entre os indígenas emberas no Panamá e os berberes de Marrocos. Le Clézio é um autor amplamente traduzido para várias línguas e faz parte do júri do Prêmio Renaudot desde 2002. Em 2008, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura.


Sinopse
Dois narradores, um experiente capitão e um jovem marinheiro, embarcam em um navio baleeiro rumo a um refúgio idílico onde ninguém esteve antes. Durante a viagem, ambos entram em contato com o poder de destruição do ser humano, cujo destino parece sempre o impelir a sacrificar, tragicamente, a vida prodigiosa.

Ficha técnica
Espetáculo "Pawana". Texto: J.M.G. Le Clézio. Tradução: Leonardo Fróes. Direção: José Roberto Jardim. Elenco: Celso Frateschi e Rodolfo Valente. Cenografia e figurino: Sylvia Moreira. Cenotécnico: Zé Valdir Albuquerque. Iluminação: Wagner Freire. Trilha sonora: Piero Damiani. Pesquisa teórica: Welington Andrade. Programação visual: Pedro Becker. Assessoria de imprensa: Canal Aberto - Márcia Marques, Daniele Valério e Flávia Fontes. Produção: Corpo Rastreado - Leo Devitto e Letícia Alves.


Serviço
Espetáculo "Pawana". Temporada até 11 de dezembro. Dias e horários: sextas e segundas, às 20h; sábados, às 21h e domingos, às 19h. Local: Ágora Teatro - Endereço: Rua Rui Barbosa, 664 - Bela Vista/São Paulo. Ingressos: R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia-entrada). Duração: 100 minutos | Classificação indicativa: 12 anos. Acessibilidade total.

.: "Como se Fosse", do grupo Matula Teatro, em cartaz no Sesc Pinheiros


Premiado espetáculo "Como se Fosse", do longevo grupo Matula Teatro, estreia no Sesc Pinheiros após temporadas de sucesso. Dirigida por Verônica Fabrini, a peça aborda a violência doméstica a partir da história de duas mulheres separadas temporal e espacialmente por 18 anos. Foto: Paula Poltronieri


Com destaque para as dramaturgias ibero-americanas, o Grupo Matula de Teatro, de Campinas, encena pela primeira vez na cidade de São Paulo o premiado espetáculo "Como se Fosse", uma adaptação do texto "Como si Fuera Esta Noche", da autora espanhola Gracia Morales.  O trabalho pode ser conferido no Auditório do Sesc Pinheiros até dia 16 de dezembro, de quinta a sábado, às 20h. 

A peça estreou em março de 2020 no Sesc Jundiaí e circulou pelo interior e litoral de São Paulo, pelo Rio Grande do Norte e ainda fez temporadas on-line pelo programa Em Casa com Sesc. Sua bem-sucedida trajetória incluiu as premiações de Melhor Espetáculo, Melhor Direção (Verônica Fabrini), Melhores Atrizes (Alice Possani e Erika Cunha), Melhor Trilha Sonora (Dudu Ferraz), Melhor Iluminação (Eduardo Albergaria), Melhor Texto (Matula Teatro e Gracia Morales) e Melhor Cenografia (Eduardo Albegaria) no FestKaos, mostra competitiva que acontece em Cubatão. O júri do evento é formado por Alexandre Mate, José Cetra Filho e Eliel Ferreira. 

Na trama, duas mulheres da mesma família separadas temporal e espacialmente por 18 anos compartilham histórias de violência doméstica que seriam facilmente encontradas em jornais. Uma delas conversa com a filha, que brinca entre as costuras da mãe, enquanto a outra ensaia com um gravador as palavras que vai dizer para alguém que ainda não chegou. 

“Um ponto interessante do texto de Gracia Morales é o fato dele abordar todo o ciclo da violência doméstica, que passa por palavras rudes, atos de amor e promessas de mudança. Entretanto, sentimos falta de uma abordagem mais social e menos particular do problema. Por isso, como traduzimos a dramaturgia, tomamos a liberdade de fazer algumas alterações no original, incluindo a inserção de dados estatísticos sobre casos de violência doméstica no Brasil, já que o país ocupa o quinto lugar no ranking mundial de feminicídio e o primeiro em transfeminicídio”, comenta a atriz Alice Possani. 

Para o Grupo Matula, foi chocante perceber semelhanças entre um texto ficcional escrito na Espanha no começo dos anos 2000 e a realidade brasileira atual. E, de acordo com as pesquisas do coletivo, há um agravante que faz com que muitas mulheres não consigam se libertar: a violência doméstica muitas vezes acontece nos espaços privados dos “lares”, o que dificulta a mulher pedir ajuda, seja por vergonha, por medo de que algo pior aconteça à ela ou aos seus filhos ou ainda, por falta de recursos financeiros, o que torna a mulher completamente dependente do seu agressor.

Há também uma barreira cultural que impede a prevenção desse tipo de crime: as crenças de que “em briga de marido e mulher não se mete a colher” e de que “roupa suja se lava em casa”. “Como a nossa intenção é criar uma conexão intensa com a plateia, gerando empatia por aquelas personagens, o texto se alterna entre momentos de humor e leveza e situações de tensão. Esse respiro é necessário para não afugentar a plateia”, conta Alice. 


Sobre a encenação
A encenação transita entre os diferentes pontos de vista que compõem as relações dessas personagens: sutilezas entre mãe e filha, encontros e desencontros de um casal, relação de proximidade e de afastamento entre pai e filha e a perspectiva sobre uma experiência vivida que se transforma com o tempo. 

Toda a ação acontece de uma maneira cíclica. E essa sensação é potencializada por diferentes recursos cênicos. Existe, por exemplo, a repetição dos nomes das mulheres da mesma família, uma mãe que sempre perde seu dedal de costura, brigas que acontecem costumeiramente às sextas e dias de amor nas terças.   

As atrizes Alice Possani e Erika Cunha revezam-se nos papéis de mãe e filha. Os espectadores, então, acompanham uma narrativa entrecortada por memórias, capaz de evidenciar as camadas cada vez mais complexas de sentimentos que atravessam essas relações familiares. Na verdade, o público acompanha a luta da personagem mais nova para interromper o ciclo da violência.   

Em relação ao figurino, a proposta da Anna Kühl foi intensificar os aspectos de memória e transgeracionalidade contidos na dramaturgia, através da reutilização e/ou transformação de peças para a composição dos figurinos. Um detalhe significativo são as golas altas presentes nas blusas utilizadas pelas atrizes, remetendo a uma sensação de sufocamento.

A trilha sonora, inédita, foi composta por Dudu Ferraz especialmente para o espetáculo. A partir de um diálogo constante com a atuação, a trilha ora propõe atmosferas e ora estabelece um jogo direto com as atrizes, constituindo uma forte presença na cena. 

A iluminação e a cenotecnia são de Eduardo Albergaria. O caráter minimalista do cenário é reforçado por um jogo de luz e sombras que valoriza os elementos presentes em cena. A iluminação se instaura em um diálogo sutil com a trilha sonora e com os diferentes climas que a dramaturgia sugere. E, para reforçar a dimensão social da temática, o Matula acrescentou um grande varal em que ficam penduradas roupas com os nomes de mulheres vítimas de feminicídio da Região Metropolitana de Campinas, local de origem do grupo. Os nomes bordados nestas roupas são uma homenagem a cada uma delas. 

Sinopse
Duas mulheres, separadas por 18 anos no tempo e espaço, vivem vidas distintas. Enquanto uma delas interage com sua filha enquanto costura, a outra aguarda alguém e grava palavras no silêncio. Com o tempo, uma história de violência se desenrola, com alternâncias entre divergência e carinho, palavras rudes e atos de amor. Esse padrão, aparentemente circular, revela-se, na verdade, uma espiral, com a violência aumentando gradualmente.

Sobre o Grupo Matula de Teatro
O Grupo Matula Teatro é um coletivo de artistas que integra a cena artística de Campinas (SP). Realiza, desde 2000, atividades fundamentadas no trabalho do ator que incluem diversos aspectos do fazer teatral: criação e circulação de espetáculos, ações formativas de curta e média duração e gestão do Espaço Cultural Rosa dos Ventos, sede do grupo.

Para as criações artísticas, o grupo já teve como ponto de partida o diálogo com pessoas em situação de rua de Campinas, mulheres que vivem em assentamentos rurais, famílias de pequenos circos e refugiados saharauis, que resultaram em espetáculos com dramaturgias inéditas. A interface com a literatura também gerou criações que tiveram como ponto de partida a adaptação de contos de Hilda Hilst, Mia Couto, e Júlio Cortázar.

Sobre a Gracia Morales
A dramaturga e poeta Gracia Morales é cofundadora da Remiendo Teatro, um grupo sediado em Granada, na Espanha, que já encenou nove espetáculos a partir de seus textos. Doutora em Filologia Hispânica e professora de literatura na Universidade de Granada, ela publicou mais de 20 peças teatrais traduzidas para diversos idiomas. 

A autora já recebeu diversos prêmios, incluindo o Marqués de Bradomín, dedicado a jovens dramaturgos. Gracia também tem cinco livros de poesia publicados. Participa regularmente de encontros sobre teatro e ministra oficinas de escrita teatral.

Ficha técnica
Espetáculo "Como se Fosse". Atuação: Alice Possani e Erika Cunha. Direção: Verônica Fabrini. Dramaturgia de Grupo Matula Teatro, a partir do texto de Gracia Morales. Trilha sonora: Dudu Ferraz. Técnica de som: Quesia Botelho. Iluminação e cenotecnia: Eduardo Albergaria. Técnico de luz: Presto Kowask. Produção local: Aflorar Cultura. Figurinos: Anna Kühl. Provocações temáticas: Stella Fisher. Fotos: Maycon Soldan e Paula Poltronieri. Assessoria de imprensa: Canal Aberto. Realização: Sesc Pinheiros. Idealização: Grupo Matula Teatro.

Serviço
Espetáculo "Como se Fosse". De 16 de novembro a 16 de dezembro de 2023, de quinta a sábado, às 20h. Local: Auditório do SESC Pinheiros - 3º andar. Endereço: Rua Paes Leme, 195, Pinheiros/São Paulo. Ingressos à venda no site: https://www.sescsp.org.br/programacao/como-se-fosse-3/ ou na bilheteria das unidades Sesc. Valores: R$ 40,00 (inteira), R$ 20,00 (meia-entrada) e R$ 12,00 (credencial plena). Indicação etária: 16 anos. Duração: 60 minutos.

← Postagens mais recentes Postagens mais antigas → Página inicial
Tecnologia do Blogger.