quarta-feira, 29 de novembro de 2023

.: Cineflix estreia "Aventuras de Poliana", "Digimon 02" e "Segredos do Universo"

Quinta-feira, dia 30 de novembro, a unidade Cineflix Santos, localizada no Miramar Shopping, bairro Gonzaga estreia três filmes na telona: "As Aventuras de Poliana - O Filme""Os Segredos do Universo por Aritóteles e Dante" e "Digimon Adventure 02: The Beginning". Programe-se e confira mais detalhes abaixo!

No Cineflix Santos, seguem em cartaz "Napoleão""Ó Pai, Ó - 2""Jogos Vorazes: a Cantiga dos Pássaros e das Serpentes". Compre os ingressos antecipados aqui: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN.

O Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021. Para acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica no Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no Gonzaga. Consulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN.

Estreia da semana no Cineflix Santos


"As Aventuras de Poliana - O Filme" (nacionalIngressos on-line neste linkGênero: aventura, romanceClassificação: 10 anos. Duração: 1h40. Ano: 2023. Idioma: português. Distribuidora: Warner Bros. Pictures. Direção: Cláudio Boeckel. Roteiro: Íris Abravanel, Bruno Garotti. Elenco: Sophia Valverde (Poliana), Pietra Quintela (Lorena D'Ávila), Isabella Moreira (Raquel D'Ávila), Otavio Martins. Sinopse: Poliana é uma garota que sempre soube ver o lado bom da vida. Ela aprendeu com seu pai o "jogo do contente" e com ele encontra algo de positivo até nas situações mais difíceis. Mas desde que o pai Otto Pendleton sumiu no ano anterior, ela não consegue mais entrar na brincadeira. No seu aniversário de 15 anos, Poliana ganha um lindo colar que pertenceu à mãe, e leva o presente para o famoso Campo de Férias. Quando Poliana e seus amigos começam a viver situações estranhas, eles resolvem descobrir os mistérios daquele lugar - e encontram muito mais do que esperavam.

Sala 3 (nacional) - Em cartaz de 30 de novembro a 6 de dezembro16h00 - 18h00 - 20h00


"Os Segredos do Universo por Aritóteles e Dante" ("Aristotle and Dante Discover the Secrets of the Universe") Ingressos on-line neste linkGênero: dramaClassificação: 14 anos. Duração: 1h36. Ano: 2023. Idioma: inglês. Distribuidora: Sony Pictures. Direção: Aitch AlbertotRoteiro: Aitch Alberto. Elenco: Max Pelayo, Reese Gonzales, Eva Longoria. Sinopse: s Segredos do Universo por Aristóteles e Dante é um filme norte-americano dirigido por Aitch Alberto (Hara Kiri, She Kills He) e baseado no livro best-seller Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo, de Benjamin Alire Sáenz. A história - ambientada em 1987 - acompanha os dois personagens-título, os jovens Aristóteles (Max Pelayo) e Dante (Reese Gonzales), que, em um verão qualquer, acabam se conhecendo por acaso e - mesmo com personalidades e vidas bem distintas - iniciam uma amizade especial e duradoura. Juntos, os garotos aprendem a lidar com as frustrações de serem adolescentes mexicano-americanos solitários e exploram os caminhos para a autodescoberta.

Sala 1 (legendado) - Em cartaz de 30 de novembro a 6 de dezembro14h50 - 20h50



"Digimon Adventure 02: O Início" ("Digimon Adventure 02: The Beginning") Ingressos on-line neste linkGênero: aventura, açãoClassificação: livre. Duração: 1h27. Ano: 2023. Idioma: japonês. Distribuidora: Paris Filmes. Direção: Tomohisa Taguchi, Shin'ichirô UedaRoteiro: Akatsuki Yamatoya. Elenco: Rie Kugimiya, Megumi Ogata, Mao Ichimichi, Fukujūrō Katayama, Junya Enoki. Sinopse: Digimon Adventure 02: The Beginning é um filme de animação japonês de 2023, o 10.º filme da franquia Digimon produzido pela Toei Animation e distribuído pela Toei Company, Ltd.. Situado na mesma continuidade das duas primeiras séries de anime de televisão Digimon, serve como o final da série Digimon Adventure 02.

Sala 1 (dublado) - Em cartaz de 30 de novembro a 6 de dezembro17h10
Sala 1 (legendado) - Em cartaz de 30 de novembro a 6 de dezembro19h00

Seguem em cartaz no Cineflix Cinemas


"Napoleão" ("Napoleon") Ingressos on-line neste linkGênero: guerra, açãoClassificação: 16 anos. Duração: 2h38. Ano: 2023. Idioma: inglês. Distribuidora: Sony Pictures. Direção: Ridley ScottRoteiro: David Scarpa. Elenco: Joaquin Phoenix (Napoleon Bonaparte), Vanessa Kirby (Empress Josephine), Tahar Rahim (Paul Barras), Rupert Everett (Arthur). Sinopse: As origens do comandante militar Napoleão e sua rápida ascensão. Uma visão através do prisma de seu relacionamento e muitas vezes volátil com sua esposa e por ser amor verdadeiro, Josephine.

Sala 4 (legendado) - Em cartaz de 30 de novembro a 6 de dezembro14h40 - 17h50 - 21h00

Trailer de "Napoleão"

"Ó Pai, Ó - 2" (nacionalIngressos on-line neste linkGênero: comédiaClassificação: 14 anos. Duração: 1h36. Ano: 2023. Idioma: português. Distribuidora: H2O Films. Direção: Viviane FerreiraRoteiro: Elísio Lopes Jr., Viviane Ferreira. Elenco: Lázaro Ramos, Luciana Souza, Érico Brás. Sinopse: Dona Joana vive o luto pela perda de Cosme e Damião e segue enfrentando os problemas de convivência com os inquilinos do cortiço no bairro do Pelourinho. O local se prepara para a festa de Iemanjá, enquanto lida com as polêmicas dos vizinhos.

Sala 2 (nacional) - Em cartaz de 30 de novembro a 6 de dezembro18h40

Trailer de "Ó Pai, Ó"

"Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e da Serpente" ("The Hunger Games: The Ballad of Songbirds and Snakes") Ingressos on-line neste linkGênero: ficção científica, ação, aventura. Classificação: 12 anos. Duração: 2h38. Ano: 2023. Idioma: inglês. Distribuidora: Paris Filmes. Direção: Francis LawrenceRoteiro: Michael Arndt, Michael Lesslie. Elenco: Tom Blyth, Rachel Zegler, Peter Dinklage. Sinopse: Antes de Katniss Everdeen, sua revolução e o envolvimento do 13 distrito, houve o Presidente Snow, ou melhor, Coriolanus Snow. A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é a história do ditador de Panem antes de chegar ao poder. Anos antes, Coriolanus Snow vivia na capital, nascido na grande casa de Snow, que não anda muito bem em popularidade e financeiramente. Ele se prepara para sua oportunidade de glória como um mentor dos Jogos. O destino de sua Casa depende da pequena chance de Coriolanus ser capaz de encantar, enganar e manipular seus colegas para conseguir mentorar o tributo vencedor. Foi lhe dado a tarefa humilhante de mentorar a garota tributo do Distrito 12. Os destinos dos dois estão agora interligados – toda escolha que Coriolanus fizer terá consequências dentro e fora do Jogo. Na arena, a batalha será mortal e a garota terá que sobreviver a cada segundo. Fora da arena, Coriolanus começa a se apegar a garota, mas terá que ter que qualquer passo que der, fará com que a menina e ele mesmo sofram de alguma maneira.


Sala 2 (legendado) - Em cartaz de 30 de novembro a 6 de dezembro: 15h30 - 20h40


Trailer "Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e da Serpente"

.: Entrevista com Mauro Paz: "A literatura representa possibilidades"


Autor de "Quando os Prédios Começaram a Cair", lançado pela editora Todavia,  Mauro Paz nasceu em Porto Alegre, em 1981. Nesse romance, ele combina mistério, drama pessoal e questões urgentes e atuais ao falar sobre um protagonista que está com a vida acertada até que os prédios ao redor dele começam a cair. A capa, feita por Elisa v. Randow e Laerte Coutinho, ilustra o tema central da obra: a busca pelo outro e por algum significado para as coisas em um mundo em que as estruturas estão ruindo. 

O que há de autobiográfico nisso tudo? Ele próprio responde: "Pouco". E aponta para um amanhã cada vez mais desprovido de sentido e de paz. Mauro Paz  foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura com o romance "Entre Lembrar e Esquecer", e do Prêmio Sesc com o livro de contos "Por Razões Desconhecidas", além de ser autor do livro "CidadExpressa". Nesta entrevista exclusiva, ele fala sobre a vida, o processo de escrita e o que está no meio. Compre o livro "Quando os Prédios Começaram a Cair", de Mauro Paz, neste link.



Resenhando.com - O que há de autobiográfico em "Quando os Prédios Começaram a Cair"?
Mauro Paz - Há muito pouco de autobiográfico no enredo e no protagonista de "Quando os Prédios Começaram a Cair". Uma similaridade minha com o protagonista é o fato de ele sair do interior e tentar a vida em São Paulo. Apesar de ter nascido em Porto Alegre, eu cresci no bairro de Belém Novo, que nos anos 90 era como uma cidade do interior. Lá todos os acontecimentos giravam, e ainda giram, em torno da praça central e da igreja. Eu tinha o Guaíba em frente de casa e muita natureza ao redor. Solano, o protagonista do livro, sai do interior de Minas Gerais, de uma cidade pequena, e também cresceu com liberdade de andar na rua. Outro ponto em comum é que, de forma geral, Solano é atravessado por uma série de questões postas pela crise do modelo tradicional de masculinidade. E muitas dessas tensões também me impactam diariamente.

Resenhando.com - Laerte Coutinho fez a ilustração da capa. O que representa isso para você? Mauro Paz - A ideia de trazer a Laerte para ilustrar a capa do livro foi do André Conti, meu editor. Acredito que existe uma simbologia enorme nessa escolha. Para mim, "Quando os Prédios Começaram a Cair" é um livro que trata do desmoronamento das certezas do masculino neste começo de século XXI. Nesse sentido, vejo a Laerte como um ícone na cultura brasileira. Por volta de 2010, quando ela anunciou abertamente a transição de gênero, a imprensa tradicional não falava tanto sobre o tema. Então surge Laerte, um homem com mais de 60 anos, que namorava uma mulher, dizendo já não se identificar com a performance do sexo biológico. Vejo que essa falta de reconhecimento que a Laerte sentiu, hoje, mais de dez anos depois, ganhou muita força entre os meninos adolescentes, que ou recusam o modelo de masculinidade ou buscam outras formas diferentes de masculinidade.

Resenhando.com - O que representa a literatura em sua vida?
Mauro Paz - 
Na minha vida, a literatura representa possibilidades. A forma com que a gente vive leva a gente a seguir padrões muito estreitos. Leva a gente a aceitar que a péssima condição de trabalho é a única forma de ganhar a vida. Leva a gente a aceitar as horas perdidas no transporte público de má qualidade. Leva a gente a não questionar a forma com que as construtoras atropelam o bem-estar das pessoas para erguerem prédios cada vez mais altos e rentáveis. Nesse mundo de limite e repetição, a literatura aparece para mim como algo mágico. O analógico artefato do livro, com suas páginas de papel e milhares de caracteres ordenados, ainda é uma das possibilidades mais abertas para o pensar.


Resenhando.com - Na sua própria literatura, em que você se expõe mais, e por outro lado, em que você mais se preserva, em seus textos?
Mauro Paz - 
Como comentei, para mim a literatura são possibilidades. Agora quais possibilidades escolher na hora de escrever? Eu, particularmente, tento escolher caminhos que levem o meu leitor ao questionamento sobre o modo como ele vive e a sociedade no entorno dele está organizada. Olhando por essa perspectiva, acredito que me exponho bastante. E, para fazer isso, nem sempre escolho os personagens que seguem a cartilha do politicamente correto. Prefiro personagens que gerem algum desconforto, que a partir da complexidade deles o leitor reflita. Seguir por esse caminho é custoso para mim. No processo de escrita, surgem muitos medos sobre como os personagens serão recebidos. Com Solano, de "Quando os Prédios Começaram a Cair", foi assim. Só agora, com o retorno dos leitores, estou vendo que ele funcionou bem. Quanto ao que mais me preservo no que escrevo, acredito que seja a minha vida particular. Até o momento não senti necessidade de escrever algo que passe perto da autoficção. Eu gosto muito do gênero, acho os livros da Annie Ernaux geniais. Ela consegue tratar de questões íntimas dela, mas sempre dando uma perspectiva do que acontece no mundo ao redor. Talvez algum dia eu me exponha dessa forma. Atualmente, como opto pela ficção, prefiro criar situações mais interessantes do que as que vivo.

Resenhando.com - Que conselhos você dá para as pessoas que pretendem enveredar pelos caminhos da escrita?
Mauro Paz - 
Para quem está começando a escrever, o conselho que posso dar é: conheça o gênero que você quer escrever. Saiba a história do romance moderno, do conto, da poesia. Esses gêneros tiveram uma razão de nascer. E têm uma razão para estarem se transformando. Busque entender isso. Quando você entender, olhe ao redor. Leia os seus contemporâneos. Leia os estrangeiros, mas, principalmente, leia os brasileiros. Aprenda com eles sobre o que fazer ou não fazer. Reflita sobre as tensões do mundo. Depois disso tudo, arrisque escrever o que tem verdade para você, seja no conteúdo ou na forma. Encontre o que soa verdadeiro para você. Um texto escrito com verdade transpira no papel e cria ligações fortes com os leitores.

Resenhando.com - Quais livros foram fundamentais para a sua formação enquanto escritor e leitor?
Mauro Paz - 
Todos que li, os que gosto e os que não gosto. Acredito que aprendo muito lendo textos que não gosto tanto. Eles me ajudam a pensar sobre o que não fazer e recalcular a minha rota de escrita. Porém, entre os que gosto, há dois livros que me despertaram para o escrever: "O Apanhador no Campo de Centeio", do Salinger, e "Feliz Ano Novo", do Rubem Fonseca. Esses dois livros me mostraram que a literatura não precisa ser algo mofado, com uma linguagem distante. Depois deles, comecei a realmente me interessar pela escrita. Há livros que considero nortes para minha escrita: "Pôncia Vivêncio", da Conceição Evaristo, "Iniciantes", do Raymond Carver, "Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister", de Goethe, "Ficciones", do Borges, e tantos outros. Quanto à teoria, acredito que "A Poética", de Aristóteles seja uma influência fundamental. Releio bastante. Boa parte do que aprendi sobre personagem e enredo está lá.

Resenhando.com - Como e quando começou a escrever?
Mauro Paz - 
Comecei a escrever prosa no começo dos anos 2000, quando ainda estava na faculdade de Letras. Durante o ensino médio, eu não lia muito. Entrei no curso de Letras meio por acaso e realmente me encantei com a literatura. Foi uma das paixões mais transformadoras da minha vida, sem dúvida. Foi como se virasse uma chave, "é isso que eu tenho que fazer". Bem naquela época, eu perdi uma amiga de infância de um jeito trágico. Durante a adolescência ela mudou de bairro e nos afastamos. Fazia uns cinco anos que não nos víamos. Então, numa manhã, abri o jornal e vi a foto dela na página policial. A reportagem dizia algo do tipo "Garota de programa é encontrada morta em apartamento. Polícia acredita em caso de suicídio". Na reportagem eu descobri que ela trabalhava há alguns anos em uma famosa boate de Porto Alegre exatamente na mesma quadra em que eu morava. O que mais me incomodou é que a mesma matéria dizia que ela morava com o namorado, ex-policial, e as armas encontradas no apartamento eram dela. Tinha todos os indícios de que ela havia sido assassinada, mas para o jornal era só mais uma garota de programa. Que diferença fazia como ela morreu? O fato de ela estar tão perto e, ao mesmo tempo, em um universo tão distante, somado à forma com que a vida dela se fechou, desencadeou em mim um desejo enorme de pensar numa possibilidade diferente da que estava descrita no jornal. Então escrevi meu primeiro conto.

Resenhando.com - Quais escritores mais influenciaram a sua trajetória artística e pessoal?
Mauro Paz - 
O autor que mais me influenciou foi o J.D. Salinger. Gosto muito da forma despretensiosa com que ele narrava situações complexas. Além da forma de narrar, me atrai muito em "Franny e Zooey", assim como no conto "Teddy", de "Nove Histórias", quando Salinger explora temas mais filosóficos. O universo do mistério sempre me interessou muito. Tento fazer uma literatura realista enevoada por mistério. Acredito que comecei a enxergar melhor esse caminho estético lendo Paul Auster e os contos de Altair Martins no começo dos anos 2000. Uma autora com influência sobre a minha forma de pensar a lógica do romance é a irlandesa Sally Rooney. Usei o romance "Pessoas Normais" como meu objeto de estudo no mestrado. Em uma das entrevistas a que assisti, Sally comenta que não pensa o romance a partir de um personagem. Ela prefere criar a dinâmica entre dois ou mais personagens para então desenvolver o enredo. Acredito que esse é um caminho muito generoso de olhar para a vida. O romance moderno nasce do individualismo burguês lá no século XVIII. Ele evolui em compasso com o liberalismo e o capitalismo. Se você observar a linha evolutiva das personagens do romance, em sua maioria, elas se tornam cada vez mais individualistas e voltadas para si. Pensar um romance a partir de relações é refletir sobre as engrenagens sociais e se abrir para um pensamento fundamental neste século XXI: dependemos uns dos outros. Seja em relação a afeto, a trabalho ou à preservação do planeta, dependemos uns dos outros. Por isso, vejo a perspectiva da Sally Rooney muito alinhada com o atual momento histórico. E certamente contará muito nos meus próximos trabalhos. Independentemente desses autores que comentei acima, a grande influência que sofro na minha trajetória artística e pessoal são os autores-amigos com os quais troco sobre o fazer literário. Tenho muita sorte de ter, perto de mim, pessoas maravilhosas como Vanessa Vascouto, Natália Zuccala, Tobias Carvalho, Samir Machado de Machado, Camila Maccari, Rafael Bassi, Rodrigo Tavares, Carlos André Moreira, Natalia Timerman, Maria Fernanda Maglio, Anita Deak, Liliane Prata, Camilo Gomide, Gael Rodrigues, Tiago Germano, Gabriela Silva, Helena Terra, entre outros.


Resenhando.com - É possível viver de literatura no Brasil? 
Mauro Paz - 
Acredito que é possível, sim, viver de literatura no Brasil. Porém, o ponto principal é você entender que viver de literatura não se limita a ficar trancado em casa, escrever seus livros e esperar que o dinheiro caia do céu. Viver apenas com a venda de livros é difícil não só no Brasil, mas em qualquer lugar do mundo. No entanto, há outras formas de fazer dinheiro com literatura: lecionar, participar de eventos, editar, traduzir. Boa parte dos escritores que conheço que vivem de literatura se dividem entre escrever e alguma outra atividade ligada à literatura.

Resenhando.com - O quanto para você escrever é disciplina? É mais inspiração ou transpiração?
Mauro Paz - 
Penso muito sobre o que planejo escrever. Muito mesmo. Rascunho. Testo possibilidades narrativas. Então, para mim, escrever é transpirar. Porém, também acredito que para escrever algo bom é necessário transpirar inspiração, ser movido por uma ideia que te toque profundamente e crie o movimento da escrita.


Resenhando.com - Quanto tempo por dia você reserva para escrever?
Mauro Paz - 
Não tenho uma regra. Quando estou com o projeto de um livro em andamento, reservo em média duas horas diárias.

Resenhando.com - Você tem um ritual para escrever? 
Mauro Paz - 
Não tenho um ritual para escrever, mas prefiro escrever pela manhã. A minha cabeça está mais fresca e rendo melhor. Há também um tempo para eu me conectar com o texto. Quando volto para casa de uma viagem, levo uns dois dias até me sentir à vontade novamente para escrever. Quando estou fora também, preciso me sentir confortável com o lugar para conseguir escrever.

Resenhando.com - Em um processo de criação, o silêncio e isolamento são primordiais para produzir conteúdo ou o barulho não o atrapalha?
Mauro Paz - 
Eu prefiro escrever com silêncio. Consigo escrever com barulho, mas não acho o ideal.

Resenhando.com - O que há de autobiográfico nos textos que escreve?
Mauro Paz - 
Não há.

Resenhando.com - Como começar a ler Mauro Paz?
Mauro Paz - 
Eu gosto muito de todos os meus três livros, porém acredito que em "Quando os Prédios Começaram a Cair" encontrei alguma maturidade quanto à forma. Então, minha sugestão é começar por ele.

Resenhando.com - Por qual de seus livros - ou personagem - você sente mais carinho?
Mauro Paz - 
Eu sinto um carinho especial pelo narrador do conto que abre o meu livro "Por Razões Desconhecidas". O conto se chama "Minha Mãe, Florence Thompson". É uma história baseada em uma foto famosa da grande depressão americana de uma mãe abraçada a seus filhos. No conto, o menino remonta o dia em que a mãe precisou dar uma das filhas.

Resenhando.com - Que livro você gostaria de ter escrito?
Mauro Paz - 
Eu gostaria de ter escrito "O Jogo da Amarelinha", do Cortázar. Esse livro me fez entender que um romance é um convite a um jogo. Com total domínio da linguagem, leveza e verdade, (Julio) Cortázar constrói nessa obra duas dinâmicas lindas de leitura, seja para quem lê na forma direta ou na ordem indicada pelo autor. É um livro inteligente, com mistério, mas também com paixão e realismo. Demorei um tempo para perceber, mas união entre o mistério e a paixão é algo que busco constantemente no que escrevo desde o primeiro conto.

Resenhando.com - Hoje, quem é Mauro Paz por ele mesmo?
Mauro Paz - 
Mauro Paz é um homem de 42 anos, com um metro e oitenta e três de altura e noventa e seis quilos. Ele tem olhos francos e cabelos castanhos, já com alguns fios brancos. Esses fios brancos também se espalham pela barba e pelo juízo de saber quando ficar calado. Mauro não perde oportunidades de estar com seus pais, nem com suas irmãs. Ele gosta de nadar, mas nem sempre encontra tempo e lugar. Então, ele corre e tenta manter alguma saúde com aulas de funcional. Além de escrever livros, Mauro trabalha com propaganda e desenvolve roteiros. Ele adora viajar e aprender sobre a história dos lugares. Cultiva boas amizades. Acredita na maravilha dos encontros inesperados. Em especial, prefere encontrar os amigos em pequenos grupos ou sozinhos. Apesar de morar em São Paulo há 15 anos, Mauro ainda se considera o mesmo menino que cresceu no bairro de Belém Novo, pertinho do Guaíba, em Porto Alegre. Gosta de sentir o cheiro das árvores e da terra e de escutar o barulho da água correr nas pedras. Detesta a ideia de que algumas poucas pessoas acumulam bilhões, enquanto milhões de outras não têm o que comer ou onde morar. Queria ajudar mais em relação a isso, mas não tem todo o tempo que gostaria porque trabalha bastante. Um dos motivos para trabalhar tanto é o medo de envelhecer e também não ter o que comer ou onde morar. Apesar desse medo e das pessoas com fome e dos massacres promovidos pelos países ricos em nome da liberdade, Mauro acha a vida um verdadeiro milagre. E lamenta muito o dia em que vai dizer adeus. 


Garanta o seu exemplar de "Quando os Prédios Começaram a Cair", escrito por Mauro Paz, neste link.

.: Com Celso Frateschi e Rodolfo Valente, "Pawana" reabre Ágora Teatro


Espectadores são transportados para o universo dos navios baleeiros no único texto dramatúrgico escrito pelo francês J.M.G. Le Clézio, vencedor do Nobel de Literatura de 2008, com atuação de Celso Frateschi, em cena ao lado de Rodolfo Valente. Foto: Lígia Jardim


A peça é baseada em uma história real ocorrida em 1856, durante a colonização da costa da Califórnia, quando o capitão Charles Melville Scammon liderou uma expedição de caça às baleias em busca do óleo que era extraído delas, valiosa matéria-prima do século XIX. Le Clézio conduz o espectador para dentro de um mundo idílico, convertido tragicamente em um mar tingido de sangue.

Depois de quase quatro anos fechado, o Ágora Teatro, dirigido por Celso Frateschi e Sylvia Moreira, foi reaberto com o espetáculo de "Pawana" (1992), texto do escritor francês Jean-Marie Gustave Le Clézio (vencedor do Nobel de Literatura de 2008), traduzido por Leonardo Fróes. A montagem, com direção de José Roberto Jardim, constrói um relato de viagem em que as memórias de belas paisagens da costa da Califórnia e de violentas agressões à natureza são revisitadas pelos dois personagens em cena, em um acerto de contas com o passado.

Importante espaço da cena paulistana, de relevância histórica não somente pelo repertório apresentado, mas também pelos artistas que já passaram por lá, o Ágora estava fechado desde o início de 2020, em decorrência da pandemia de Covid-19 e das obras do Metrô, que interditaram grande parte da rua e fecharam temporariamente uma das salas. As sessões de "Pawana" seguem até dia 11 de dezembro.

"Pawana" traz dois narradores, interpretados respectivamente por Celso Frateschi e Rodolfo Valente, um experiente capitão, Charles Melville Scammon, e o jovem marinheiro John, da cidade de Nantucket, que embarcam em um navio baleeiro rumo a um refúgio idílico onde as baleias-cinzentas vão parir seus filhotes. 

O objetivo é conseguir o valioso óleo desse animal, matéria-prima responsável por sustentar boa parte da economia mundial até o final do século XIX, fornecendo, por exemplo, combustível e iluminação. Assim, guiado não somente pela curiosidade e o espírito aventureiro, mas também pela cobiça (o capitão e sua tripulação não se importam em promover uma enorme matança dos animais), o navio Léonore desce a costa da Califórnia em janeiro de 1856.

Quatro relatos entrecortados - dois de Melville, dois de John - exploram a relação entre os protagonistas, e a relação entre cultura e natureza. “A obra é muito mais trágica do que dramática. Na verdade, não existem grandes dramas e, sim, uma tragédia humana planetária. O capitão Melville tem consciência do mal que pratica, mas também sabe que, se não fosse ele, outro o teria feito. A peça trata da matança das baleias-cinzentas, mas serve de metáfora também para descrever outras situações humanas, como as guerras”, afirma Frateschi.

"Pawana" está filiada às grandes narrativas de aventuras marítimas, como "Moby Dick", mas segue por outro caminho. Enquanto no clássico romance de Herman Melville, o capitão Ahab tenta enfrentar seu próprio monstro, mas falha e perde a batalha contra a natureza, na história de Le Clézio, o protagonista, ao invadir o santuário das baleias-cinzentas, está entrando em um embate maior, com toda a vida do planeta.

O escritor francês inspirou-se em uma história real para escrever o livro. Em 1856, na época em que a costa da Califórnia estava sendo colonizada, o capitão Charles Melville Scammon - que também era naturalista (na acepção que o século XIX reservou ao termo) e publicou dois livros sobre a fauna marinha - empreendeu uma violenta caça às baleias-cinzentas, estimulando a matança indiscriminada desses animais por navios que passaram a ir para lá vindos de várias parte do mundo.

“Le Clézio começa a publicar sua obra a partir dos anos 1960, mas não se deixa influenciar pelas experimentações estéticas típicas do período. Sua literatura tem caráter marcadamente sapiencial, estando filiada à tradição das grandes narrativas de aventura. Ao entrar em contato com os povos originários do México, onde morou por um bom tempo, passou a tratar da necessidade existencial e ética de o ser humano se integrar à natureza e respeitar seus ritmos, em vez de olhá-la como uma fonte inesgotável de recursos", comenta Welington Andrade, responsável por conduzir a pesquisa teórica do espetáculo. Os direitos para a montagem do espetáculo foram conseguidos diretamente com o apoio do Consulado da França.

Sobre a encenação
O trabalho de direção de José Roberto Jardim destaca a essência do aspecto narrativo do texto, explorando as imagens evocadas pelas falas dos dois personagens. A sobriedade dos demais elementos cênicos marca o projeto de encenação. O cenário e o figurino são assinados por Sylvia Moreira, enquanto a iluminação é de Wagner Freire.

“O horror narrado pela evocação da memória dessas duas personagens ocasiona a destruição da ‘possibilidade de beleza no mundo’. No palco, luzes espectrais, faces sombreadas e sons dissonantes e agônicos caracterizam essa atmosfera. O palco converte-se em uma espécie de limbo no qual Celso e Rodolfo verão, gradativamente, esse espaço simbólico se deteriorar até a destruição completa”, conta o diretor.

Reabertura do Ágora
Fundado em 1999, o Ágora Teatro ocupa o local onde antes funcionava o Teatro do Bixiga. Durante mais de vinte anos, o espaço produziu e acolheu inúmeras montagens, sempre orientado pela qualidade do repertório e pelo nível das reflexões suscitadas, implementando ainda uma série de ações pedagógicas e de formação de público, como cursos, palestras e seminários através de seus eixos de atuação: Ágora em Cena, Ágora Formação, Ágora Livre e Ágora Publicações. No início de 2020, em razão da pandemia, o espaço fechou as portas, fez inúmeras atividades online e enfrentou dificuldades com as obras da Linha 6 (Laranja) do Metrô, que interditaram 500m² de sua área.

A reabertura em novembro de 2023 marca uma nova etapa da história do projeto. Que se inicia com a retomada do eixo Ágora em Cena, com a montagem de "Pawana" de J.M.G. Le Clézio, contemplado com o Prêmio Zé Renato da cidade de São Paulo. Em 2024, o Ágora retomará seus outros eixos de ação. Houve uma grande reforma para acolher essas mudanças e atender plenamente ao conforto do público: por enquanto, apenas uma sala está disponível (a outra, maior, permanece interditada até o fim das obras do Metrô).


Sobre o autor
Jean-Marie Gustave Le Clézio
, escritor e ensaísta francês, nasceu em 1940 em Nice. Sua paixão por viagens surgiu durante sua visita às Ilhas Maurício. Em 1963, aos 23 anos, seu romance de estreia, "Le Procès-Verbal," lhe rendeu o Prêmio Renaudot. 3. Em 1980, publicou "Désert," uma de suas obras mais aclamadas, abordando a vida dos tuaregues. Outras obras notáveis incluem "Fièvre," coletânea de contos, e romances como "Le Déluge," "La Quarantaine," e "Poisson d'Or," que exploram a relação entre a humanidade e a morte.

"Désert" reflete sua preocupação com os povos nômades ameaçados, uma temática que ele estudou em ensaios após viver entre os indígenas emberas no Panamá e os berberes de Marrocos. Le Clézio é um autor amplamente traduzido para várias línguas e faz parte do júri do Prêmio Renaudot desde 2002. Em 2008, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura.


Sinopse
Dois narradores, um experiente capitão e um jovem marinheiro, embarcam em um navio baleeiro rumo a um refúgio idílico onde ninguém esteve antes. Durante a viagem, ambos entram em contato com o poder de destruição do ser humano, cujo destino parece sempre o impelir a sacrificar, tragicamente, a vida prodigiosa.

Ficha técnica
Espetáculo "Pawana". Texto: J.M.G. Le Clézio. Tradução: Leonardo Fróes. Direção: José Roberto Jardim. Elenco: Celso Frateschi e Rodolfo Valente. Cenografia e figurino: Sylvia Moreira. Cenotécnico: Zé Valdir Albuquerque. Iluminação: Wagner Freire. Trilha sonora: Piero Damiani. Pesquisa teórica: Welington Andrade. Programação visual: Pedro Becker. Assessoria de imprensa: Canal Aberto - Márcia Marques, Daniele Valério e Flávia Fontes. Produção: Corpo Rastreado - Leo Devitto e Letícia Alves.


Serviço
Espetáculo "Pawana". Temporada até 11 de dezembro. Dias e horários: sextas e segundas, às 20h; sábados, às 21h e domingos, às 19h. Local: Ágora Teatro - Endereço: Rua Rui Barbosa, 664 - Bela Vista/São Paulo. Ingressos: R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia-entrada). Duração: 100 minutos | Classificação indicativa: 12 anos. Acessibilidade total.

.: "Como se Fosse", do grupo Matula Teatro, em cartaz no Sesc Pinheiros


Premiado espetáculo "Como se Fosse", do longevo grupo Matula Teatro, estreia no Sesc Pinheiros após temporadas de sucesso. Dirigida por Verônica Fabrini, a peça aborda a violência doméstica a partir da história de duas mulheres separadas temporal e espacialmente por 18 anos. Foto: Paula Poltronieri


Com destaque para as dramaturgias ibero-americanas, o Grupo Matula de Teatro, de Campinas, encena pela primeira vez na cidade de São Paulo o premiado espetáculo "Como se Fosse", uma adaptação do texto "Como si Fuera Esta Noche", da autora espanhola Gracia Morales.  O trabalho pode ser conferido no Auditório do Sesc Pinheiros até dia 16 de dezembro, de quinta a sábado, às 20h. 

A peça estreou em março de 2020 no Sesc Jundiaí e circulou pelo interior e litoral de São Paulo, pelo Rio Grande do Norte e ainda fez temporadas on-line pelo programa Em Casa com Sesc. Sua bem-sucedida trajetória incluiu as premiações de Melhor Espetáculo, Melhor Direção (Verônica Fabrini), Melhores Atrizes (Alice Possani e Erika Cunha), Melhor Trilha Sonora (Dudu Ferraz), Melhor Iluminação (Eduardo Albergaria), Melhor Texto (Matula Teatro e Gracia Morales) e Melhor Cenografia (Eduardo Albegaria) no FestKaos, mostra competitiva que acontece em Cubatão. O júri do evento é formado por Alexandre Mate, José Cetra Filho e Eliel Ferreira. 

Na trama, duas mulheres da mesma família separadas temporal e espacialmente por 18 anos compartilham histórias de violência doméstica que seriam facilmente encontradas em jornais. Uma delas conversa com a filha, que brinca entre as costuras da mãe, enquanto a outra ensaia com um gravador as palavras que vai dizer para alguém que ainda não chegou. 

“Um ponto interessante do texto de Gracia Morales é o fato dele abordar todo o ciclo da violência doméstica, que passa por palavras rudes, atos de amor e promessas de mudança. Entretanto, sentimos falta de uma abordagem mais social e menos particular do problema. Por isso, como traduzimos a dramaturgia, tomamos a liberdade de fazer algumas alterações no original, incluindo a inserção de dados estatísticos sobre casos de violência doméstica no Brasil, já que o país ocupa o quinto lugar no ranking mundial de feminicídio e o primeiro em transfeminicídio”, comenta a atriz Alice Possani. 

Para o Grupo Matula, foi chocante perceber semelhanças entre um texto ficcional escrito na Espanha no começo dos anos 2000 e a realidade brasileira atual. E, de acordo com as pesquisas do coletivo, há um agravante que faz com que muitas mulheres não consigam se libertar: a violência doméstica muitas vezes acontece nos espaços privados dos “lares”, o que dificulta a mulher pedir ajuda, seja por vergonha, por medo de que algo pior aconteça à ela ou aos seus filhos ou ainda, por falta de recursos financeiros, o que torna a mulher completamente dependente do seu agressor.

Há também uma barreira cultural que impede a prevenção desse tipo de crime: as crenças de que “em briga de marido e mulher não se mete a colher” e de que “roupa suja se lava em casa”. “Como a nossa intenção é criar uma conexão intensa com a plateia, gerando empatia por aquelas personagens, o texto se alterna entre momentos de humor e leveza e situações de tensão. Esse respiro é necessário para não afugentar a plateia”, conta Alice. 


Sobre a encenação
A encenação transita entre os diferentes pontos de vista que compõem as relações dessas personagens: sutilezas entre mãe e filha, encontros e desencontros de um casal, relação de proximidade e de afastamento entre pai e filha e a perspectiva sobre uma experiência vivida que se transforma com o tempo. 

Toda a ação acontece de uma maneira cíclica. E essa sensação é potencializada por diferentes recursos cênicos. Existe, por exemplo, a repetição dos nomes das mulheres da mesma família, uma mãe que sempre perde seu dedal de costura, brigas que acontecem costumeiramente às sextas e dias de amor nas terças.   

As atrizes Alice Possani e Erika Cunha revezam-se nos papéis de mãe e filha. Os espectadores, então, acompanham uma narrativa entrecortada por memórias, capaz de evidenciar as camadas cada vez mais complexas de sentimentos que atravessam essas relações familiares. Na verdade, o público acompanha a luta da personagem mais nova para interromper o ciclo da violência.   

Em relação ao figurino, a proposta da Anna Kühl foi intensificar os aspectos de memória e transgeracionalidade contidos na dramaturgia, através da reutilização e/ou transformação de peças para a composição dos figurinos. Um detalhe significativo são as golas altas presentes nas blusas utilizadas pelas atrizes, remetendo a uma sensação de sufocamento.

A trilha sonora, inédita, foi composta por Dudu Ferraz especialmente para o espetáculo. A partir de um diálogo constante com a atuação, a trilha ora propõe atmosferas e ora estabelece um jogo direto com as atrizes, constituindo uma forte presença na cena. 

A iluminação e a cenotecnia são de Eduardo Albergaria. O caráter minimalista do cenário é reforçado por um jogo de luz e sombras que valoriza os elementos presentes em cena. A iluminação se instaura em um diálogo sutil com a trilha sonora e com os diferentes climas que a dramaturgia sugere. E, para reforçar a dimensão social da temática, o Matula acrescentou um grande varal em que ficam penduradas roupas com os nomes de mulheres vítimas de feminicídio da Região Metropolitana de Campinas, local de origem do grupo. Os nomes bordados nestas roupas são uma homenagem a cada uma delas. 

Sinopse
Duas mulheres, separadas por 18 anos no tempo e espaço, vivem vidas distintas. Enquanto uma delas interage com sua filha enquanto costura, a outra aguarda alguém e grava palavras no silêncio. Com o tempo, uma história de violência se desenrola, com alternâncias entre divergência e carinho, palavras rudes e atos de amor. Esse padrão, aparentemente circular, revela-se, na verdade, uma espiral, com a violência aumentando gradualmente.

Sobre o Grupo Matula de Teatro
O Grupo Matula Teatro é um coletivo de artistas que integra a cena artística de Campinas (SP). Realiza, desde 2000, atividades fundamentadas no trabalho do ator que incluem diversos aspectos do fazer teatral: criação e circulação de espetáculos, ações formativas de curta e média duração e gestão do Espaço Cultural Rosa dos Ventos, sede do grupo.

Para as criações artísticas, o grupo já teve como ponto de partida o diálogo com pessoas em situação de rua de Campinas, mulheres que vivem em assentamentos rurais, famílias de pequenos circos e refugiados saharauis, que resultaram em espetáculos com dramaturgias inéditas. A interface com a literatura também gerou criações que tiveram como ponto de partida a adaptação de contos de Hilda Hilst, Mia Couto, e Júlio Cortázar.

Sobre a Gracia Morales
A dramaturga e poeta Gracia Morales é cofundadora da Remiendo Teatro, um grupo sediado em Granada, na Espanha, que já encenou nove espetáculos a partir de seus textos. Doutora em Filologia Hispânica e professora de literatura na Universidade de Granada, ela publicou mais de 20 peças teatrais traduzidas para diversos idiomas. 

A autora já recebeu diversos prêmios, incluindo o Marqués de Bradomín, dedicado a jovens dramaturgos. Gracia também tem cinco livros de poesia publicados. Participa regularmente de encontros sobre teatro e ministra oficinas de escrita teatral.

Ficha técnica
Espetáculo "Como se Fosse". Atuação: Alice Possani e Erika Cunha. Direção: Verônica Fabrini. Dramaturgia de Grupo Matula Teatro, a partir do texto de Gracia Morales. Trilha sonora: Dudu Ferraz. Técnica de som: Quesia Botelho. Iluminação e cenotecnia: Eduardo Albergaria. Técnico de luz: Presto Kowask. Produção local: Aflorar Cultura. Figurinos: Anna Kühl. Provocações temáticas: Stella Fisher. Fotos: Maycon Soldan e Paula Poltronieri. Assessoria de imprensa: Canal Aberto. Realização: Sesc Pinheiros. Idealização: Grupo Matula Teatro.

Serviço
Espetáculo "Como se Fosse". De 16 de novembro a 16 de dezembro de 2023, de quinta a sábado, às 20h. Local: Auditório do SESC Pinheiros - 3º andar. Endereço: Rua Paes Leme, 195, Pinheiros/São Paulo. Ingressos à venda no site: https://www.sescsp.org.br/programacao/como-se-fosse-3/ ou na bilheteria das unidades Sesc. Valores: R$ 40,00 (inteira), R$ 20,00 (meia-entrada) e R$ 12,00 (credencial plena). Indicação etária: 16 anos. Duração: 60 minutos.

.: "Ainda sobre a Cama", sobre relações afetivas, faz temporada no TUSP


A peça dirigida por Luiz Fernando Marques (Lubi) coloca em cena novas (e velhas) formas de relações afetivas, em uma dramaturgia inédita, provocada a partir da obra Leonce e Lena, do autor alemão Georg Büchner (1813-1837). Foto: Phillip Lavra

Com direção de Luiz Fernando Marques (Lubi) e atuações de Camila Cohen, Duda Machado e Luiz Felipe Bianchini, "Ainda sobre a Cama" tem dramaturgia inédita, provocada a partir da leitura da obra Leonce e Lena, do autor alemão Georg Büchner (1813-1837). Em cena, três personagens questionam as novas – e velhas – formas de relações afetivas. A temporada acontece no TUSP, até dia 17 de dezembro, de quintas a sábados, 20h, e aos domingos, às 18h. 

O espetáculo nasceu do encontro e da parceria entre elenco e direção. A partir da leitura da peça do autor alemão, as memórias pessoais serviram de guia para a construção da dramaturgia: mesmo sem querer, ainda mantemos padrões, ações e palavras do sistema patriarcal e suas complexas engrenagens, apesar das liberdades atuais e outras possibilidades de relacionamentos? 

Há cerca de dois séculos, Büchner usou a ironia para mostrar como estamos enredados nas convenções de nossos tempos. Na sua trama, os protagonistas Leonce e Lena são de famílias nobres e estão prometidos em um casamento de interesses, mesmo sem se conhecerem. No entanto, os dois desejam um futuro diferente. Sem um saber do outro, fogem para a floresta e, num golpe de destino, se encontram por acaso e apaixonam-se. O casal volta e se casa, fazendo a união por interesse coincidir com a celebração por amor. 

Para os criadores de Ainda sobre a cama, o texto de Büchner foi objeto de estudo por apontar um passado que insiste em ser presente e, a partir dele, as cenas do novo trabalho arriscam a criar paralelos entre a atualidade e o passado. “Nossa ideia era falar sobre as relações heteronormativas, sobretudo como essas relações são assombradas por essas normas, modelos que vêm de séculos, patriarcais e eurocentradas, mesmo que hoje em dia isso também apareça na forma de homoafetividade ou mesmo do amor livre”, coloca Lubi.

Ao longo da peça, o ator e as duas atrizes formam diferentes possibilidades de casais. “As cenas são independentes, ligadas entre si pela temática, mas apontam para uma cronologia de um casal. São vários Leônceos e Lenas – eles se chamam assim na peça – e podem ser vistos como um arquétipo de um casal”, diz a atriz Camila Cohen. 

Essa cronologia de acontecimentos ajuda a acompanhar e compreender a relação de um casal. “São diversas situações que revelam como os padrões estão arraigados nas estruturas dos nossos afetos. A encenação passa por alguns momentos emblemáticos como a perda da virgindade; o namoro; a traição, o noivado e o casamento”, diz Lubi.

O espaço cênico é formado por um quarto com uma cama de casal e duas mesinhas de cabeceiras; o público senta-se muito próximo das atrizes e do ator. “A sensação é de que a plateia pode flagrar desde as conversas mais ordinárias, com seus vazios e tédios, passando por brigas até, no limite, a violência que uma relação é capaz de gerar”, coloca o diretor. “Ao longo da peça, os atores também assumem a função de narradores. Esse recurso épico cria um efeito de distanciamento, como se fossem capazes de olhar para o que está acontecendo”, finaliza Lubi. 

Isso aqui é mais uma vez a tentativa de construir uma cama. E essa cama não é ninho, não vai parir ninguém e nem oferecerá o descanso merecido. Ela talvez testemunhe a inércia de sentimentos, palavras e ações que ainda hoje repetimos desde 1837. Uma instalação cênica para uma dramaturgia contemporânea criada a partir da obra Leonce e Lena, de Georg Büchner. Do ócio ao tédio. Do tédio ao sexo. Do sexo à violência. Da violência ao controle.


Ficha técnica
Espetáculo "Até sobre a Cama". Direção: Luiz Fernando Marques (Lubi). Assistência de direção: Erica Montanheiro. Dramaturgia: Duda Machado, Camila Cohen, Erica Montanheiro, Luiz Fernando Marques (Lubi) e Luiz Felipe Bianchini. Elenco: Duda Machado, Camila Cohen e Luiz Felipe Bianchini. Iluminação: Wagner Antônio. Cenário: Luiz Fernando Marques (Lubi). Fotos: Isadora Relvas. Produção: Lud Picosque - Corpo Rastreado. Assessoria de imprensa: Márcia Marques - Canal Aberto. 

Serviço
Espetáculo "Ainda sobre a Cama". Temporada de 16 de novembro a 17 de dezembro de 2023. TUSP - Rua Maria Antônia, 294, Vila Buarque/São Paulo. Quinta a sábado, 20h; domingo, 18h. Ingressos: R$ 40,00 e R$ 20,00 (meia).  Vendas na bilheteria ou pelo Sympla.  Lotação: 60 lugares | Recomendação: 18 anos | Duração: 1h40.

.: Trailer: "John Lennon: Assassinato sem Julgamento" estreia dia 6

Kiefer Sutherland, vencedor do prêmio Emmy, narra a série documental em três episódios, que examina o trágico assassinato do ícone musical e cultural John Lennon, e a investigação e condenação de seu assassino Mark David Chapman


Apple TV+ lança o trailer oficial da nova série documental em três episódios "John Lennon: Assassinato sem Julgamento" ("John Lennon: Murder Without A Trial"), narrada pelo vencedor do prêmio Emmy, Kiefer Sutherland ("24 Horas", "The Caine Mutiny Court-Martial") e com estreia mundial na quarta-feira, 6 de dezembro. A produção apresenta entrevistas exclusivas com testemunhas oculares e fotos inéditas da cena do crime, lançando uma nova luz sobre a vida e o assassinato do ícone musical e cultural John Lennon, e tudo sobre a investigação e condenação de Mark David Chapman, o assassino confesso.

"John Lennon: Assassinato sem Julgamento" é um trabalho minucioso de pesquisa sobre o assassinato de John Lennon ocorrido em 1980, que chocou e entristeceu todo o mundo. A produção recebeu inúmeras informações via Lei de Liberdade de Informação do Departamento de Polícia de Nova York, do Conselho de Liberdade Condicional e do escritório do Promotor Público. A série traz entrevistas exclusivas que revelam detalhes chocantes sobre o trágico assassinato do artista, incluindo Richard Peterson, um motorista de táxi que testemunhou o tiroteio; Jay Hastings, um porteiro do edifício Dakota, onde Lennon residia com a família, que ouviu as últimas palavras do ex-Beatle; David Suggs, advogado de defesa de Mark David Chapman; Elliot Mintz, amigo próximo de Lennon e Yoko Ono; e a Dra. Naomi Goldstein, a psiquiatra que avaliou o assassino Chapman pela primeira vez.

A série é produzida para o Apple TV+ pela equipe vencedora dos prêmios BAFTA e Emmy da 72 Films, dirigida por Nick Holt ("The Murder Trial", "Criança Responsável") e Rob Coldstream ("Jade: The Reality Star Who Changed Britain"), com os produtores executivos David Glover ("Memórias do 11 de Setembro"), Mark Raphael ("Crime and Punishment") e Rob Coldstream, ao lado dos produtores Simon Bunney e Louis Lee Ray.

O Apple TV+ oferece séries de drama e comédia de qualidade, longas-metragens, documentários inéditos, entretenimento infantil e familiar, e está disponível para assistir em todas as suas telas favoritas. Após seu lançamento em 1º de novembro de 2019, o Apple TV+ tornou-se o primeiro serviço de streaming totalmente original a ser lançado em todo o mundo, e estreou mais sucessos originais e recebeu mais reconhecimentos de prêmios mais rapidamente do que qualquer outro serviço de streaming em sua estreia. Até hoje, os filmes, os documentários e as séries Apple Originals receberam mais de 400 prêmios e 1.673 indicações, incluindo a série várias vezes vencedora do Emmy "Ted Lasso" e o histórico vencedor do Oscar de Melhor Filme "No Ritmo do Coração".

Trailer


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