domingo, 15 de outubro de 2023

.: Peça "Aqui Tem Vida Demais" convida público infantil a pensar sobre a morte


Com texto de Bruno Canabarro e direção de Rodolfo Amorim, o espetáculo de estreia da companhia teatral CASCA cria espaço de troca a partir das experiências de perda, luto, consciência sobre a morte e do medo da finitude da vida. Foto:Rodolfo Amorim

O tabu de falar sobre a morte com crianças é deixado de lado na peça "Aqui Tem Vida Demais", com dramaturgia de Bruno Canabarro e direção de Rodolfo Amorim. O espetáculo segue em cartaz até dia 2 de novembro  no Sesc Ipiranga, onde, com apresentações aos domingos e feriados, às 11h (sessões extras para grupos fechados acontecem nos dias 18 e 19 de outubro).

A ideia de montar a peça surgiu em 2019, quando os idealizadores Bruna Betito e Bruno Canabarro, que dão aulas para crianças há muitos anos, conversavam sobre seus estudantes e suas surpreendentes histórias. O projeto nasce justamente de um desses casos: um dos alunos de Bruna mandou para ela um áudio falando sobre um infeliz incidente que o fez matar “sem querer” um peixinho ao jogá-lo na privada.

Depois de se divertirem com essa narrativa tragicômica, eles se concentraram em organizar diversos materiais literários e audiovisuais que pudessem ajudar na construção da dramaturgia. Um ano depois, o mundo foi afetado por uma pandemia e o Brasil, sufocado por tantas mortes. Assim, o projeto tomou outros rumos com a impossibilidade de ser montado naquele contexto.

O elenco, além de Betito e Canabarro, conta com a participação de Paula Spinelli. Em cena, ainda estão Gabi Queiroz e Demian Pinto / Clara Kok (stand-in), que interpretam as canções originais da peça ao vivo.

"Aqui Tem Vida Demais!" é um espetáculo para todas as idades, todas as infâncias, todas as pessoas vivas que sabem que a morte existe e pode estar por perto. Também permite que se criem espaços de trocas, diálogos, imaginação e fantasias a partir da perda, do luto, da consciência sobre a morte, do medo… sentimentos naturais quando tratamos da finitude da vida.

A trama conta a história dos irmãos Maria e Mário, crianças que precisam lidar com a morte sozinhas, longe de casa. Na tentativa de compreender o porquê se morre, o que acontece quando se morre e por que há tanta morte pela vida, as crianças acabam por ter que encarar a Morte de frente, cara a cara, em diversas faces, até conseguirem elaborar o luto, a perda e a descoberta do fim. Num jogo entre o seguir-em-frente e o olhar-para-trás, as duas crianças embarcam numa ousada tarefa de buscar pistas que revelem o que é isso de algo ou alguém, PUF, desaparecer.

Sem partir das questões religiosas que estão coladas socialmente à ideia de morte, o espetáculo propõe que os espectadores criem as próprias ideias sobre o que é morrer, para onde vai quem morre e as infinitas possibilidades de ressignificação que podemos criar sobre a Terra.

Contudo, "Aqui Tem Vida Demais!" não vai em busca da Morte para desvendá-la ou enfrentá-la, ao contrário, apresenta caminhos para que nos concentremos na vida, no encontro com a novidade e a gravidade que é viver, enxergando que há vida, sim, mesmo no escuro.

Ficha técnica
Espetáculo infantil "Aqui Tem Vida Demais!". Dramaturgia: Bruno Canabarro. Direção: Rodolfo Amorim. Elenco: Bruna Betito, Bruno Canabarro e Paula Spinelli. Música ao vivo: Gabi Queiroz e Demian Pinto / Clara Kok (stand-in). Música original: Gabi Queiroz e Demian Pinto (música) / Bruno Canabarro (letra). Cenário: Rodolfo Amorim. Figurinos, adereços e bordados no cenário: Felipe Cruz. Flores de tricô: Rodrigo Carvalho e Frida Braustein Taranto. Iluminação e operação de luz: Daniel Gonzalez. Identidade visual e animações: Fernanda Zotovici.Vídeo mapping: Vic Von Poser. Preparação de elenco: Antônio Januzelli. Consultoria em psicanálise: Rafael Costa. Contrarregragem e cenotécnica: Lucas Asseituno. Bonecos: Edson Gon. Objetos cênicos: Zé Valdir. Direção de produção: Andréa Marques. Produção executiva: Fani Feldman. Assistente de produção: Bruna Betito. Fotografia: Camila Rivereto. Idealização: Bruna Betito e Bruno Canabarro. Realização:  Sesc SP.


Serviço
Espetáculo infantil "Aqui Tem Vida Demais!". Temporada: até dia 2 de novembro, aos domingos e feriado (2 de novembro), às 11h. Apresentações extras acontecem nos dias 18 e 19/10, às 10h e às 15h (apresentação para grupos agendados).Sesc Ipiranga. Rua Bom Pastor, 822, Ipiranga / São Paulo. Ingressos: R$ 25,00 (inteira), R$ 12,50 (meia-entrada) e R$ 8,00 (credencial plena). Crianças até 12 anos não pagam. Venda on-line em sescsp.org.br. Classificação: livre. Duração: 60 minutos. Acessibilidade: teatro acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida.


.: Série "As Travessuras da Menina Má", fenômeno literário, chega ao Globoplay

Baseada na obra homônima escrita por Mario Vargas Llosa, a produção mexicana "As Travessuras da Menina Má" traz a confusa e envolvente história de amor entre Ricardo e Lily. Encontros e desencontros e um amor da adolescência. Na primeira temporada da série mexicana, que chegou ao Globoplay, a vida tranquila e estabelecida do peruano Ricardo (Juan Pablo Di Pace) é rompida ao reencontrar sua grande paixão na adolescência, Lily/Arlette (Macarena Achaga). Com seu espírito aventureiro e rebelde, a jovem recém-chegada de Lima (Peru) promete virar a vida de Ricardo ao avesso.   

Baseada no fenômeno literário, a produção da Televisa acompanha os reencontros de Ricardo e sua amada pelo mundo afora - em cidades como Lima, Paris, Londres, Madrid e Tóquio - entre os anos 1950 e 1980.  "As Travessuras da Menina Má" é um dos títulos que integram o acordo entre Globo e TelevisaUnivision, que visa uma parceria estratégica para distribuição e coprodução de conteúdo. Além desta obra, a parceria também envolve o drama policial "A Mulher do Diabo", ambas produções da ViX+; o serviço de streaming da TelevisaUnivision; e a novela Original Globoplay "Todas as Flores". 

Um novo acordo de licenciamento entre a plataforma e a TelevisaUnivision foi anunciado no início de 2023, ampliando a distribuição pelo Globoplay de conteúdo da mais alta qualidade da maior empresa de mídia e conteúdos em espanhol do mundo. O acordo permite ao Globoplay a estreia no Brasil de produções tanto do canal aberto mexicano LasEstrellas como do ViX+, serviço de streaming da TelevisaUnivision voltado para o mercado hispânico, além de acesso ao conteúdo histórico de grandes sucessos da TV produzidos pela Televisa. Compre o livro "As Travessuras da Menina Má", de Mario Vargas Llosa, neste link.

sábado, 14 de outubro de 2023

.: Crítica: "Uma Família Extraordinária" é comédia dramática que faz refletir

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em outubro de 2023


Um casal neurodivergente e uma filha. A comédia dramática "Uma Família Extraordinária", em cartaz no Cineflix Cinemas, sobre a jovem Bea Johnson (Kiernan Shipka, de "O Mundo Sombrio de Sabrina"), baseada numa história real, começa no hospital, quando a moça batizada pelo nome de Bambi está em coma. Para apresentar a protagonista desde a concepção até o momento crucial que a internou, entram em cena os pais, os avós e todos os membros da extensa família.

Por meio de diversos olhares -dos familiares e vizinhos- para a família atípica que Bea, Derek (Dash Mihok, de "Eu Sou a Lenda") e Sharon (Samantha Hyde, de "O Diário de Uma Adolescente") compõe, os Johnsons, o drama de "Uma Família Extraordinária" é desenhado de modo envolvente. Agradável e com ritmo, o longa emociona a ponto de levar o público para a posição de Bea em várias fases da vida com uma família diferente do habitual enquanto tenta seguir em frente como toda adolescente com direito a namorado também.

"Uma Família Extraordinária" é o tipo de filme que faz refletir sobre o que é ser família enquanto desperta a empatia. Em 1h45, a produção dirigida por Matt Smukler faz rir com as situações até comuns a todos, enquanto que a jovem tenta lidar com as mudanças da fase que transita, antes da vida adulta. Vale muito a pena conferir nos cinemas "Uma Família Extraordinária"!


Em parceria com o Cineflix Cinemas, o Resenhando.com assiste aos filmes em Santos, no primeiro andar do Miramar Shopping. O Cineclube do Cineflix traz uma série de vantagens, entre elas ir ao cinema com acompanhante quantas vezes quiser - um sonho para qualquer cinéfilo. Além disso, o Cinema traz uma série de projetos, que você pode conferir neste link. Compre seus ingressos no Cineflix Cinemas Santos aqui: vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN

* Mary Ellen é editora do site cultural www.resenhando.com, jornalista, professora e roteirista, além de criadora do photonovelas.blogspot.com. Twitter:@maryellenfsm 



"Uma Família Extraordinária" ("Wildflower") Ingressos on-line neste linkGênero: comédia. Classificação: livre. Duração: 1h45. Ano: 2023. Idioma: inglês. Distribuidora: Diamonds Films. Direção: Matt SmuklerRoteiro: Matt Smukler, Jana Savage. Elenco: Kiernan Shipka, Brad Garrett, Jean Smart, Alexandra Daddario. Sinopse: Baseada em uma história real, a trama explora o amadurecimento de Bea Johnson, desde o nascimento até a formatura, enquanto ela navega na vida com dois pais neurodivergentes e uma família extensa que não consegue chegar a um acordo sobre a melhor maneira de ajudar.

Trailer "Uma Família Extraordinária"

.: Entrevista: Bernardo Lobo traz "Bons Ventos" para a MPB


Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

O cantor e compositor Bernardo Lobo, filho do consagrado músico Edu Lobo, lançou o CD "Bons Ventos", oitavo de sua discografia. Gravado em Lisboa, o álbum que leva o nome de uma canção inédita do artista carioca no título, marca os 30 anos de sua carreira. O produtor foi Marcelo Camelo, que participou da seleção do repertório e toca quase todos os instrumentos no álbum: guitarra, piano, baixo, bateria e percussão.Em entrevista para o Resenhando.com, Bernardo Lobo conta como foi o conceito de produção do disco, relembra passagens marcantes de sua carreira e explica como está sendo feita a divulgação desse novo trabalho. “A música é uma parte importante da minha vida”.


Resenhando.com - Como foi seu início na música?
Bernardo Lobo - A música sempre esteve presente em mim. Meu pai tocava as fitas e eu cantava. Mais tarde participei de dois discos dele: o "Jogos de Dança" e o "Grande Circo Místico", no qual participei do coro infantil. Na adolescência gostava de rock, reggae. E um pouco mais tarde comecei a fazer teatro. E foi o teatro que me trouxe de volta a música brasileira. Caetano. Gilberto Gil, Jorge Benjor, Djavan,  Edu (Lobo). Eu me apaixonei por esses mestres. Em uma turnê do meu pai, ele me levou junto como roadie e decidi que queria ser músico. Passei a fazer aulas de violão com a minha mãe e no segundo mês de aula eu já estava fazendo música. Logo depois fiz minha primeira gravação profissional no songbook do meu pai, editado pelo Almir Chediak. Daí em diante passei a fazer shows e não parei mais. Tive projetos com Chico Buarque, Paulinho Moska e quando me vi já estava totalmente envolvido com a música. Em 1998, fiz minha primeira fita demo com as minhas canções. E no ano 2000 lancei meu primeiro disco autoral


Resenhando.com - Quais são as suas principais influências musicais?
Bernardo Lobo - Inicialmente Caetano Veloso. Mais tarde Chico Buarque, Djavan e Milton Nascimento, Gilberto Gil, João Bosco, Ivan Lins, Dori Caymmi. Essas são minhas principais influências da formação musical.


Resenhando.com - Fale sobre a produção do novo disco.
Bernardo Lobo - Tive a ideia de chamar o Marcelo Camelo. E aí passamos a conceituar o que seria o disco. Ele escolheu oito músicas e a lista acabou ficando igual a minha. Queria um disco com as canções mais comunicativas. E acho que conseguimos atingir o nosso objetivo


Resenhando.com - Na sua discografia consta um disco com canções de Marcos Valle.  Como foi essa experiência?
Bernardo Lobo - Foi ótimo. Foi muito importante. Naquela época estava sem fazer nada. E um produtor de São Paulo me procurou depois de uma apresentação, me convidando para gravar esse disco. Quando estava gravando, me mudei para Portugal. E o Marcos Valle apareceu por lá. Desse contato resultou em uma parceria que fizemos e ainda faríamos outra canção. As duas por final para meus filhos. Não estava no script virar parceiro do Marcos, mas acabou acontecendo e foi algo incrível. Uma experiência gratificante da qual me orgulho muito.


Resenhando.com - Como é trabalhar com o Marcelo Camelo na produção?
Bernardo Lobo - Foi fácil demais. O Marcelo Camelo foi um gigante. Tocou vários instrumentos e me obrigou a tocar violão em todas as músicas, coisa que eu nem queria. Tinha intenção de trazer um violonista, mas ele (Camelo) disse que queria eu no violão. Acabei inclusive participando dos arranjos que partiam mesmo do meu violão. Foram dois meses de gravação sem uma única discussão.

Resenhando.com - Há planos para shows no Brasil para divulgar o álbum?
Bernardo Lobo - Sim. Devo me apresentar no Brasil em 2024, logo depois do carnaval. Tenho planos de shows em algumas capitais. Rio e São Paulo, com certeza estarão no roteiro.


"Bons Ventos"

"Na Palma da Mão"

"Arrebentação"

.: Nova versão do livro emocionante que foi vencedor do prêmio SP de Literatura


O corajoso e emocionante "Rebentar", vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2016, ganha nova versão, com redução de trechos, inclusão de um capítulo inédito e novos desdobramentos da história de alguns personagens. O livro, que narra o momento de reconstrução de uma mãe que decide parar de buscar seu filho desaparecido, foi totalmente reescrito por Rafael Gallo. Dono de uma escrita sensível, comovente e para um público diverso, o autor também venceu os prêmios José Saramago 2022 e o Sesc de Literatura 2012. A nova edição de "Rebentar" tem texto de orelha do escritor João Anzanello Carrascoza.

"Rebentar" conta a história de Ângela, uma mãe cujo filho desapareceu aos cinco anos de idade e jamais foi encontrado. Desde então, ela passa a viver em função da procura por Felipe: parou de trabalhar, juntou-se a instituições de busca por crianças desaparecidas, rompeu relações, não teve outros filhos e viveu um luto particular - “alguém que não é reencontrado nunca se perde em definitivo”.

Depois de 30 anos sem resultado, Ângela renuncia à busca, e a narrativa parte do momento em que sua decisão é anunciada. A protagonista, convivendo com os sentimentos de culpa, desamparo e dor causados por essa ausência que, agora, é definitiva, precisará desintegrar a própria casa, literal e metafórica, para reconstruí-la por dentro. “Um filho desaparecido é um filho que morre todos os dias”, escreve.

Publicado pela primeira vez em 2016, "Rebentar" ganha agora uma nova versão. Não se trata apenas de uma nova edição. “Este é um novo tratamento da história. O que faz dela, em algum grau, uma nova história”, explica o autor. A escrita arrebatadora de Rafael Gallo se reencontra consigo mesma para entregar desfecho e descanso definitivos à dolorosa trajetória de Ângela. Compre o livro "Rebentar", de  Rafael Gallo, neste link.


Sobre o livro
“A vida, como o mar e suas ondas, vaza das margens de Rebentar – bela e dolorida história que rebate, em nós, as águas da compaixão.” - João Anzanello Carrascoza, escritor.


Sobre o autor
Rafael Gallo
nasceu em São Paulo em 1981. É autor dos romances "Dor Fantasma" (vencedor do Prêmio José Saramago 2022) e "Rebentar" (vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2016); e, também pela editora Record, do livro de contos "Réveillon e Outros Dias" (vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2012). Tem ainda diversos textos em antologias e coletâneas, incluindo publicações em países como França, Estados Unidos, Cuba, Equador e Moçambique. Garanta o seu exemplar de "Rebentar", escrito por Rafael Gallo, neste link.

.: Discursos de Ruth Cardoso, Zilda Arns e Marielle Franco são destaques de livro


A obra "Ela Fala: Mulheres que Inspiram Mudanças, Transformam Vidas e Marcam a História" - lançada no Brasil pela Primavera Editorial e escrita pela política britânica Yvette Cooper - conta com a inclusão de potentes discursos de mulheres brasileiras: Carlota Pereira de Queirós, Ruth Guimarães, Ruth Cardoso, Zilda Arns, Marielle Franco e Rachel Maia. Um dos lançamentos de destaque da editora em 2023, a obra tem sido procurada como fonte de referência para estudantes, pesquisadores e palestrantes - interessados em acessar o registro histórico de discursos femininos.

O ato de fazer discursos é uma ferramenta poderosa, que permite às mulheres expressarem suas ideias, compartilharem as experiências e inspirarem mudanças significativas. Foi pensando na urgência da questão que a política britânica Yvette Cooper decidiu escrever o livro "Ela Fala: Mulheres que Inspiram Mudanças, Transformam Vidas e Marcam a História". A obra – lançada no Brasil pela Primavera Editorial – conta com a inclusão de potentes discursos de mulheres brasileiras: Carlota Pereira de Queirós, Ruth Guimarães, Ruth Cardoso, Zilda Arns, Marielle Franco e Rachel Maia. Um dos lançamentos de destaque da editora em 2023, a obra tem sido procurada como fonte de referência para estudantes, pesquisadores e palestrantes – interessados em acessar o registro histórico de discursos femininos.

Os discursos destacados por "Ela Fala" são plurais, construídos por mulheres de diversas épocas com a capacidade de inspirar e mobilizar. As histórias pessoais e experiências de vida dessas potências femininas podem ressoar profundamente nas mentes e nos corações, criando conexões e promovendo a solidariedade, além de estimular a reflexão, despertar a empatia e impulsionar a ação coletiva. As autoras dos discursos são: Alexandria Ocasio-Cortez; Alison Drake; Angela Merkel; Audre Lorde; Barbara Castle; Benazir Bhutto Boudicca; Carlota Pereira de Queirós Chimamanda Ngozi Adichie; Diane Abbott; Donna Strickland; Eleanor Rathbone; Ellen DeGeneres; Emma Watson; Emmeline Pankhurst; Eva Mozes Kor; Greta Thunberg; Harriet Harman; Jacinda Ardern; Joanne O’Riordan; Joan O’Connell; Jo Cox; Josephine Butler; Julia Gillard; Kavita Krishnan; Lilit Martirosyan; Marielle Franco; Lupita Nyong’o; Malala Yousafzai; Margaret Thatcher; Maya Angelou; Michelle Obama; Rachel Maia; Rainha Elizabeth I; Ruth Cardoso; Ruth Guimarães; Sojourner Truth; Theresa May; Wangari Maathai; Yvette Cooper; e Zilda Arns.

“Os discursos fazem parte da minha vida profissional há mais de 20 anos, mas quando pesquisei outros deles em busca de inspiração, em antologias ou on-line, fiquei impressionada com a forma como as mulheres desaparecem – a maioria das coleções incluem poucas delas. Seria um equívoco pensar que Elizabeth I foi a única mulher na história a fazer um discurso e, até mesmo, as suas palavras foram registradas mais tarde, por um homem. Hoje, embora haja mais mulheres envolvidas em política, serviços públicos e negócios, ainda é menor a probabilidade de que elas falem ou sejam ouvidas em palcos públicos, conferências ou reuniões”, afirma Yvette Cooper, acrescentando que esse livro chega para revidar. “É uma celebração dos discursos de mulheres de todo o mundo ao longo dos séculos: gritos de guerra geniais, polêmicas apaixonadas e manifestações reflexivas. São discursos de rainhas guerreiras e líderes mundiais; adolescentes; ativistas célebres e líderes comunitárias. E, elas falam sobre tudo: da física à prostituição; da guerra à beleza”, finaliza. Compre o livro "Ela Fala: Mulheres que Inspiram Mudanças, Transformam Vidas e Marcam a História", de Yvette Cooper, neste link.


Edição brasileira
Segundo Larissa Caldin, diretora-executiva e publisher da Primavera Editorial, um dos diferenciais da edição nacional do livro de Yvette Cooper reside na inclusão de discursos de mulheres brasileiras. “Fizemos um trabalho minucioso de pesquisa para identificar falas potentes que pudessem compor a obra. Houve, inclusive, o cuidado de trazer vozes de diferentes épocas, regiões do país, áreas de conhecimento e atuação para compor essa narrativa feminina conduzida por Carlota Pereira de Queirós, Ruth Guimarães, Ruth Cardoso, Zilda Arns, Marielle Franco e Rachel Maia”, afirma.

Na visão de Lu Magalhães, fundadora da Primavera Editorial, o momento da publicação da obra Ela fala: mulheres que inspiram mudanças, transformam vidas e marcam a história é bastante propício por estar alinhado a um posicionamento de diversificação do portfólio, trazendo mais autoras brasileiras e latinas, com conteúdos inéditos e olhares femininos pautados pela diversidade. “Esse lançamento – com o acréscimo dos discursos de mulheres do Brasil – vem ao encontro da estratégia de ampliar o espaço para vozes femininas brasileiras e de outros países da América Latina. Na jornada da Primavera Editorial, construímos um catálogo com obras de escritoras estrangeiras e nacionais com narrativas bastante inovadoras e olhares peculiares para a contemporaneidade. Hoje, o nosso momento passa por aprofundar essa estratégia, abrindo mais espaço para um olhar feminino latino-americano. Unir vozes e perspectivas de mulheres que refletem e falam sobre o próprio território é o que queremos cultivar e compartilhar com as nossas leitoras”, aponta. Garanta o seu exemplar de "Ela Fala: Mulheres que Inspiram Mudanças, Transformam Vidas e Marcam a História", escrito por Yvette Cooper, neste link.

Sobre a autora
Política britânica, Yvette Cooper se destaca pela vasta experiência e pelo compromisso com o serviço público. Nascida em 1969, ela iniciou a carreira no Parlamento Britânico (1997) como membro do Partido Trabalhista. Ao longo dos anos, Cooper ocupou uma série de cargos importantes, incluindo ministra do Gabinete em diferentes pastas, como Saúde, Trabalho e Pensões, além de se envolver ativamente em questões relacionadas à imigração e justiça social.

.: Musical em homenagem a Belchior volta para últimas apresentações em SP


Na história, o ator e cantor Pablo Paleologo vive o cantor cearense, enquanto Bruno Suzano interpreta o “Cidadão Comum”, personagem recorrente nas canções de Belchior e de certa forma seu alter ego. Foto: Ivana Mascarenhas

“Belchior - Ano Passado Eu Morri, Mas Esse Ano Eu Não Morro”, que já fez apresentações em diferentes regiões do país, com enorme sucesso, realiza últimas apresentações do ano neste final de semana, dias 14 e 15 de outubro, no Teatro Bravos. O musical retorna aos palcos com novos textos e músicas para celebrar a poética do compositor cearense Antônio Carlos Belchior. A peça, dirigida por Pedro Cadore, que também assina a dramaturgia ao lado de Cláudia Pinto, realiza sua celebração aos 77 anos do Belchior.

O espetáculo faz um recorte de sua juventude através de uma dramaturgia formada por trechos de entrevistas do próprio cantor. Entrelaçando seus pensamentos acerca de um mundo desconcertado, revive apresentações de seu show em diversas fases da vida. Na história, o ator e cantor Pablo Paleologo vive o cantor cearense, enquanto Bruno Suzano interpreta o “Cidadão Comum”, personagem recorrente nas canções de Belchior e de certa forma seu alter ego. 

"Mais do que sua biografia, a peça pretende mostrar ao espectador a filosofia de um dos ícones mais misteriosos da Música Popular Brasileira. Queremos trazer uma sessão de nostalgia aos fãs e aos que não conhecem sua poesia inigualável", ressalta o diretor Pedro Cadore. Além dos atores, uma banda ao vivo com quatro músicos - Emília B. Rodrigues (bateria), Rico Farias (violão/guitarra), Silvia Autuori (baixo/violino) e Thomas Lenny (teclado). No repertório sucessos como "Alucinação", "Apenas Um Rapaz Latino Americano", "A Palo Seco", "Na Hora do Almoço", "Todo Sujo de Batom", "Coração Selvagem", "Medo de Avião", "Mucuripe", "Como Nossos Pais", "Paralelas", "Velha Roupa Colorida" e "Sujeito de Sorte".

"Com o espetáculo queremos marcar o resgate de Antônio Carlos Belchior, trazendo à tona seu discurso ainda atual em relação a política brasileira. O cantor acreditava na potência transformadora da arte na vida das pessoas e diante de um cenário repleto de insegurança sobre o futuro, a voz desse belíssimo poeta se faz necessária para pensarmos um novo mundo", completa Cadore. A história da peça, produzida pela R+Marketing e Cadore Produções Artísticas, passou pela família do cantor, que deu o aval e ficaram muito felizes com o resultado mostrado no palco.

"Nós nos emocionamos em ver uma produção sobre a obra do nosso pai tão alinhada com a proposta artística dele. O foco nas palavras de Belchior, tanto de músicas quanto de entrevistas, enaltece o compromisso do espetáculo com a sua filosofia. Desejamos vida longa ao musical e que ele alcance o Brasil inteiro. Parabéns a todos pelo lindo trabalho e empenho", celebram Camila e Mikael Henman Belchior, filhos do homenageado.

O espetáculo, que começou sua trajetória em abril de 2019 no Teatro João Caetano (RJ), já foi aplaudido por mais de 20 mil pessoas em importantes teatros do Brasil: Theatro José de Alencar (CE), Theatro Via Sul (CE), Teatro Liberdade (SP), Sala Municipal Baden Powell (RJ), Teatro Rival (RJ), entre outros.


Biografia
O cantor e compositor Belchior nasceu dia 26 de outubro de 1946, em Sobral, norte do Ceará, e já no início da década de 70 veio para o eixo Rio-São Paulo tentar emplacar suas canções em festivais de música. O sucesso inicial aconteceu quando a cantora Elis Regina interpretou duas de suas músicas em seu espetáculo "Falso Brilhante": “Velha Roupa Colorida” e “Como Nossos Pais”. Belchior faleceu há cinco anos, seus últimos dez anos de vida já foram de quase silêncio total para a mídia, com raras notícias, entrevistas ou shows.

Ficha técnica
Musical “Belchior - Ano Passado Eu Morri, Mas Esse Ano Eu Não Morro”. Direção: Pedro Cadore. Direção de produção: Rodrigo Medeiros e Pedro Cadore. Dramaturgia: Cláudia Pinto e Pedro Cadore. Elenco: Bruno Suzano e Pablo Paleologo. Banda: Emília B. Rodrigues (bateria), Rico Farias (violão/guitarra), Silvia Autuori (baixo/violino) e Thomas Lenny (teclado). Direção musical: Pedro Nêgo. Iluminação: Rodrigo Belay. Figurino: José Dias. Gestão de marketing e mídia: Rodrigo Medeiros (R+Marketing). Programação visual: Nós Comunicação. Produção audiovisual: JL Studio. Assessoria de imprensa: MercadoCom (Ribamar Filho). Produção executiva: Well Rianc. Assistente de produção: Rafael Barcellos. Co-produção: Riatti Produçoes. Realização: R+Marketing e Cadore Produções Artísticas.


Serviço
Musical “Belchior - Ano Passado Eu Morri, Mas Esse Ano Eu Não Morro”. Dias: 14 e 15 de outubro. Horários: Sábado, às 21h, e domingo (sessão dupla), às 16h e às 19h. Gênero: musical. Duração: 80 minutos. Classificação: livre. Local: Teatro Bravos. Endereço: Rua Coropé, 88 - Pinheiros / São Paulo. Ingressos: a partir de R$ 40,00. Venda pelo link https://bileto.sympla.com.br/event/76594/d/211692.

.: Realismo fantástico marca espetáculo "Monstros Marinhos" no Cacilda Becker


Primeiro espetáculo do grupo com toda a parte sonora ao vivo, cantada e executada pelos atores com apoio de instrumentos simples, como uma sanfona infantil, um violão e garrafas sopradas, montagem também marca o retorno da Cia. dos Imaginários ao presencial após a pandemia. Foto: Leekyung King


Com uma encenação que mira o realismo fantástico permeada pela tragédia do submarino nuclear Kursk, a Cia. dos Imaginários conta a história de uma família russa em "Monstros Marinhos", em cartaz até dia 22 de outubro no Teatro Cacilda Becker. As sessões são gratuitas e acontecem sempre quinta, sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 19h. A dramaturgia e a direção são de René Piazentin e a direção musical é de Renata Grazzini. O projeto conta com o Prêmio Zé Renato de Apoio ao Teatro para a Cidade de São Paulo.

Na trama, uma menina narra a história da sua família a partir de memórias fantásticas: uma avó que diminui de tamanho, um pai invisível, uma mãe que recolhe garrafas com mensagens do mar, um irmão sempre trancado no quarto, amigas imaginárias, fantasmas e um escafandrista. Enquanto isso, um documentário sobre um submarino russo naufragado passa sem parar na televisão.

“A história do naufrágio do submarino sempre me intrigou. Aquelas pessoas confinadas na água, esperando um socorro que não chegou. Um tripulante foi encontrado com bilhetes como uma espécie de diário com várias mensagens. Essa história serve como pano de fundo desta família que assiste ao documentário. O realismo fantástico guia o espetáculo por meio de um olhar ingênuo de uma criança que aos poucos vai trazendo mais camadas”, conta Piazentin.

O elenco é formado por Aline Baba, Anita Prades, Ariel Rodrigues, Fernanda Gama, Giovana Telles, Leandro Galor, Mateus Pigari e Renata Grazzini. A montagem é o primeiro espetáculo do grupo com toda a parte sonora ao vivo. As canções tradicionais e militares russas são cantadas pelos atores com apoio de instrumentos simples como uma sanfona infantil, um violão e garrafas sopradas.

O espaço da encenação é um quadrado delimitado por luz de chão e um tapete azul, remetendo a um aquário gigante, vazio, onde imagens nascem e morrem a todo momento. Sobre ele, o sofá onde a família se reúne, a cadeira usada pelo Irmão para constantemente observar a rua da janela, um televisor que por vezes se confunde com a própria figura do pai e a caixa da Avó, onde ela passa a morar depois de diminuir. Toda a dinâmica da encenação também traz um visual fantasmagórico por meio dos figurinos e disposição dos elementos em cena.

Em "Monstros Marinhos", a dramaturgia e a direção andam juntas. “A conclusão do texto  vira um processo que é ditado por meio da direção. Muitas cenas são criadas ou transformadas ao longo do processo, a sala de ensaio alimenta diretamente a escrita. Essa é a primeira produção da cia presencial após a pandemia”, enfatiza o diretor.


Cia. dos Imaginários
Fundada em 2007 por René Piazentin e pela atriz Aline Baba, a cia tem nesses anos de história um currículo de pesquisa continuada sobre dramaturgia própria e sua encenação. MONSTROS MARINHOS é o sétimo espetáculo do grupo, depois de "Quixote" (2007), "Niklasstrasse, 36" (2011), "Uma Alice Imaginária" (2012), "Sobre a Tempestade" (2014), "O Taxidermista" (2015) e "A Neve ou Fora de Controle" (2019).


Ficha técnica
Espetáculo "Monstros Marinhos". Dramaturgia e Direção: René Piazentin. Assistência de Direção: Ingrid Taveira. Elenco: Aline Baba, Anita Prades, Ariel Rodrigues, Fernanda Gama, Giovana Telles, Leandro Galor, Mateus Pigari e Renata Grazzini. Concepção do Espaço: René Piazentin. Figurinos: Marichilene Artisevskis. Adereços: Jesus. Iluminação: Ariel Rodrigues. Operação de Luz: Luana Frez. Direção Musical: Renata Grazzini. Acompanhantes de Processo: Camila Brandão, Chrystian Roque, Marina Gabriela e Sarah Graciano. Assessoria de Imprensa: Nossa Senhora da Pauta. Realização: Cia. dos Imaginários. 


Serviço
Espetáculo "Monstros Marinhos". Teatro Cacilda Becker  - Rua Tito 295 - Lapa/São Paulo. Temporada: aré dia 22 de outubro. Quinta, sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 19h. Ingressos: grátis. Distribuição uma hora antes do espetáculo. Duração: 60 minutos. Indicação: 12 anos. As sessões entre 12 e 15 de outubro serão acessíveis com audiodescrição e libras.

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

.: Crítica: "O Exorcista: O Devoto" assusta, peca no ecumenismo e foge da essência

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em outubro de 2023


O terror "O Exorcista: O Devoto", em cartaz no Cineflix Cinemas, garante bons sustos a ponto de deixar a plateia nervosa nas poltronas, porém acaba pecando no excessivo ecumenismo no momento mais aguardado da trama. No fim, investe muito nos ensinamentos religiosos, a ponto de escantear o essencial terror que o clássico "O Exorcista" (1973) entrega -mantendo ainda a coroa- com primor mesmo após 50 anos de lançamento. 

Com uma trama não muito elaborada para duas amigas em plena puberdade, incluindo o protagonismo afro, assim como outras religiões, além do catolicismo"O Exorcista: O Devoto", que prometeu ser uma sequência do filme original, acaba passando longe da essência do clássico. Apesar das falhas, não chega a ser de todo ruim, afinal, acerta ao resgatar a protagonista e a mãe, Reagan (Linda Blair) e Chris (Ellen Burstyn) do primeiro filme.


A produção dirigida por David Gordon Green (do fraquíssimo "Halloween Ends"), começa com a história de amor de um casal que aguarda a chegada de sua primogênita, mas que, por um terremoto, coloca o pai, Victor Fielding (Leslie Odom Jr., "Hamilton"), para decidir entre salvar a mãe ou a filha. Após treze anos, tendo uma adolescente sob seus cuidados, precisa confrontar um demônio possessor em Angela (Lidya Jewett, "Ivy + Bean"), e a amiga da garota, Katherine (Olivia O'Neill).

Embora seja um filme, a cena principal chega a lembrar as vistas por vezes nos episódios mais corriqueiros do seriado "Sobrenatural". Contudo, há a promessa de uma sequência cinematográfica para 2025. Para o público que ama filme de terror, fica a torcida de que a qualidade seja superior. De toda forma, vale a pena conferir "O Exorcista: O Devoto".


Em parceria com o Cineflix Cinemas, o Resenhando.com assiste aos filmes em Santos, no primeiro andar do Miramar Shopping. O Cineclube do Cineflix traz uma série de vantagens, entre elas ir ao cinema com acompanhante quantas vezes quiser - um sonho para qualquer cinéfilo. Além disso, o Cinema traz uma série de projetos, que você pode conferir neste link. Compre seus ingressos no Cineflix Cinemas Santos aqui: vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN

* Mary Ellen é editora do site cultural www.resenhando.com, jornalista, professora e roteirista, além de criadora do photonovelas.blogspot.com. Twitter:@maryellenfsm 


"O Exorcista: O Devoto" ("The Exorcist: DeceiverIngressos on-line neste linkGênero: terror, sobrenatural. Classificação: 16 anos. Duração: 1h51. Ano: 2023. Idioma: inglês. Distribuidora: Universal Studios. Direção: David Gordon GreenRoteiro: David Gordon Green, Peter Sattler. Elenco: Leslie Odom Jr. (Victor Fielding), Ellen Burstyn (Chris MacNeil), Ann Dowd (Ann), Jennifer Nettles (atriz). Sinopse: Victor Fielding decide confrontar o mal quando repara que sua filha, Angela, e a amiga dela, Katherine, mostram sinais de possessão demoníaca.

.: Entrevista: Rafael Martins fala sobre o segredo do thriller "Além das Lantanas"


Natural do interior de São Paulo, Rafael Martins lançou recentemente pela editora Patuá o romance “O Segredo das Lantanas”, que acompanha Humberto, um personagem que, por uma série de motivos, não consegue dormir. Partindo dessa premissa aparentemente banal, o autor, com uma linguagem crua e direta, busca chocar o leitor com acontecimentos inesperados e, ao mesmo tempo, provocá-lo a participar da construção da história, através de um mergulho em suas diversas camadas. O resultado: uma curiosa experiência de retrogosto na pós-leitura.

Rafael nasceu em Campinas, em 1982, no interior do estado, onde desde menino escrevia diários e contos em folhas de fichário. Hábito que permaneceu de alguma forma adormecido até a vida adulta. Já formado em direito e atuando como Procurador na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), resolveu se desafiar e entrar no mundo literário. O autor revela que em 2018 escreveu o romance “Água Turva”, porém não o submeteu a análise de nenhuma editora, pois reconheceu que sua escrita precisaria passar por um processo de maturação.

A partir daí, na busca de refinamento da própria escrita, estudou as obras de Assis Brasil, James Wood e Prose e incorporou à sua rotina de leitura um olhar mais atento às técnicas e construções narrativas. Amparado em um certo repertório, em poucos meses concluiu “O Segredo das Lantanas”, fruto de um progresso técnico e de um meticuloso planejamento prévio. Este processo deu ao autor um novo senso de si como escritor, que já planeja outras obras para um futuro próximo. Leia a entrevista completa com o autor Rafael Martins.


Se você pudesse resumir os temas centrais do livro, quais seriam? 
Rafael Martins - É um livro com muitas camadas de interpretação. Não há só um tema: ele passa por ressentimento, trauma, repetição de comportamento, recalque, abuso sexual. Em suma, diria que toca na complexidade humana. Imaginei que fossem temas que tivessem potencial de chocar, causar desconforto. Era o que eu queria.

O que motivou a escrita do livro?
Rafael Martins - 
Quis, em alguma medida, surpreender e chocar o leitor. Chocar com os temas abordados em suas diversas camadas e surpreender com um final, que exige uma certa perspicácia do leitor. É um livro que foi concebido para desafiar. Já assistiram "Clube da Luta" e "O Sexto Sentido"? O final desses filmes, geralmente, surpreende as pessoas. Fiquei tão boquiaberto que reassisti e tudo fez mais sentido. Quis fazer algo assim: tentei passar a perna no leitor. Alguns relatam que “ruminaram” o livro por dias, outros dizem que fizeram releitura… Enfim, é um livro que deixa um “retrogosto”. Ele fica na cabeça porque eu não entrega tudo. Creio que, até por uma questão neurológica, sei lá, ele persiste porque o leitor fica tentando buscar sentido, ligar as coisas… 

Como foi o processo de escrita?
Rafael Martins - 
Este livro foi todo planejado. Não tem nada por acaso, não é fruto de escrita espontânea, muito pelo contrário: é todo deliberado. Exemplo: quando digo que uma determinada personagem se cortava, usava roupa comprida, parou de jogar vôlei, etc, não é por acaso, tem motivo. O leitor pode perceber ou não, pois não se trata de um livro didático. O livro tem uma linguagem simples e fluida, e foi constituído para que o leitor compreenda, com facilidade, o que foi dito, mas, também, para que ele perceba um certo “não dito”. Ou seja, para que se leia o que não está escrito. As respostas não são dadas, mas sugestionadas.


Quais são as suas principais influências literárias?
Rafael Martins - 
Um pouco de tudo. Gabriel Garcia Márquez, Franz Kafka, Dostoiévski. E de brasileiros, Milton Hatoum, Sérgio Sant’Anna, Machado de Assis, entre muitos outros. Machado que particularmente foi algo que estudei para a escrita de O segredo das Lantanas.

Que livros influenciaram diretamente a obra?
Rafael Martins - 
Nenhum diretamente. Trata-se de uma narrativa ficcional, com arrimo na crueza da vida e nas observações do cotidiano. Mas, na construção do narrador, pensei no Machado de Assis. Tanto é que, com o avançar da leitura, o leitor passa a desconfiar do narrador.

Escreve desde quando? Como começou a escrever?
Rafael Martins - Nem sei precisar desde quando. Fui um menino muito tímido, então a escrita foi uma forma de expressão. Fazia diário, escrevia contos em folhas de fichário, essas coisas… Porém, tinha o péssimo hábito de começar um texto e não terminar. Já deixei muita coisa inacabada. No âmbito profissional, a escrita se tornou minha ferramenta de trabalho. Contudo, a elaboração de peças jurídicas, ao meu ver, se distancia do trabalho com literatura, seja na linguagem, nos mecanismos, nos objetivos… Isso, inclusive, foi uma questão que precisei me atentar. Por volta de 2018/2019 fui perseguido por uma ideia. Comecei a escrever, sem técnica, sem planejamento, sem muito compromisso. Fui até o fim, pela primeira vez, e concluí um romance intitulado Água Turva. Não conhecia nada sobre o mundo literário/editorial, aí recomendaram-me submeter o livro a uma leitura crítica. Foi o que fiz. O leitor fez tantas críticas negativas - e com razão - que abandonei o projeto. Depois desta experiência, senti necessidade de estudar escrita. Não fiz oficina, pois, na época, não encontrei nenhuma em minha cidade, mas li muita coisa, dentre elas, cito Assis Brasil, James Wood, Prose. Assim, o Água Turva foi um livro de transição, diria: transição de um leitor para um escritor e de uma escrita amadora para uma mais técnica. A partir dos apontamentos do leitor crítico, do estudo sobre escrita e da mudança da minha própria leitura (agora mais atenta à construção), consegui desenvolver um trabalho mais técnico, com preocupação com linguagem, enredo e personagens. Assim, em poucos meses, nasceu O Segredo das Lantanas.


Como você definiria seu estilo de escrita?
Rafael Martins - 
Difícil dizer. Mas tento trabalhar com uma linguagem simples, seca, sem excessos e sem censura. É meio paradoxal, mas escrever fácil é muito difícil. Em minha primeira experiência com escrita literária (Água Turva) esse foi um ponto destacado pelo meu leitor crítico. Em alguns momentos o texto ficou rebuscado, complexo, fruto do meu contato diário com o “juridiquês”. Trabalhei bastante isso: desde a escolha semântica até a construção da frase. O resultado foi um livro (O Segredo das Lantanas) complexo, mas com linguagem fácil e corrente. Leitores relatam que leem com muita facilidade, avançam no enredo até com certo prazer, espero que proceda (risos).

Como é o seu processo de escrita?
Rafael Martins - 
Este processo ainda está em desenvolvimento, claro. Mas, após formular a ideia inicial, procuro estabelecer qual será o objetivo do livro: chocar, emocionar, fazer rir? No caso de O Segredo das Lantanas, foi chocar (tenho um original guardado que o objetivo é emocionar, causar reflexão, por exemplo). Tendo o objetivo definido, a construção deverá manter coerência com a finalidade. Passo a desenvolver a ideia ainda numa fase mental, até ter noção do desfecho. Atualmente, nem começo a escrever se não souber aonde quero chegar. Pois, tendo ideia do final, o caminho para se chegar ao resultado fica mais fácil e coerente. Este processo de maturação da ideia não tem prazo determinado. Só quando a ideia está madura, dou início ao processo de escrita. Diria que perco mais tempo no planejamento do que na execução propriamente. Claro que, neste interregno, faço muitas anotações e áudios no celular, para não esquecer. É até uma forma de deixar a ideia sempre viva. Terminada a primeira versão, guardo o arquivo e inicio outro projeto de escrita. Isso gera um distanciamento, quase um “detox”. Após meses sem contato com o texto inicial, faço uma releitura (que não estará mais viciada), realizo correções, ajustes, cortes de excessos… Após a revisão, submeto o texto a uma leitura crítica e a leitores próximos. Se fosse para fazer uma metáfora, diria que parece com o processo de fermentação de pão. Às vezes precisamos ter paciência e deixar a massa crescer, para conseguirmos um resultado satisfatório.

Você tem algum ritual de preparação para a escrita? Tem alguma meta diária de escrita?
Rafael Martins - Sem ritual e sem meta. O que faço é manter a constância. Escrevo todas as manhãs. Acordo muito cedo, às 4h50, vou para a academia e corro. Durante a corrida já vou pensando sobre o que escreverei. Faço, praticamente, uma construção mental. Quando chego em casa, não é raro sentar em frente ao computador (todo suado) com um parágrafo já pronto na cabeça. Aí é só questão de digitar. Meu tempo é curto, algo em torno de 45 minutos, pois logo na sequência vou para o trabalho. À noite não consigo escrever e por uma série de motivos: chego com a cabeça cansada, preciso dar conta das demandas domésticas e familiares: banho nas crianças, jantar, colocar para dormir, são três filhos, a coisa aqui funciona na “força-tarefa” (risos). Então, só tenho a manhã. Tem dia que sai uma página, em outros saem um parágrafo, mas pode ocorrer de não sair nada, no máximo a revisão de parágrafo do dia anterior. E assim vou construindo, aos poucos, mas com constância. Consigno que, em geral, não tenho problema de inspiração: o problema é a falta de tempo mesmo. Porém, acredito que é justamente esta correria que me inspira, que me serve de matéria prima. Talvez se eu tivesse muito tempo disponível a página em branco poderia me assustar.

Quais são os seus projetos atuais de escrita?
Rafael Martins - Tenho um romance engavetado (em processo de descanso e fermentação, aguardando releitura e ajustes), que tratará da relação complexa entre pai e filho. Atualmente, escrevo um livro de contos.

Adquira “O Segredo das Lantanas” através do site da Editora Patuá: https://www.editorapatua.com.br/o-segredo-das-lantanas-de-rafael-martins/p

.: Editora Todavia lança a coleção Todos os Livros de Machado de Assis


A coleção Todos os Livros de Machado de Assis, fruto da parceria entre a editora Todavia e o Itaú Cultural está em pré-venda (neste link). O projeto inédito, idealizado pelo professor Hélio de Seixas Guimarães, reúne em 26 volumes - entre poesia, teatro, conto e romance - tudo o que foi publicado em livro durante o período de vida do grande escritor.

Foram quatro anos de pesquisa e edição com o envolvimento de uma equipe de mais de 20 pessoas, entre leitores críticos, preparadores, consultores, revisores técnicos, editores e designers. A caixa tem tiragem limitada, mas os livros da coleção serão vendidos de forma avulsa a partir do primeiro semestre de 2024.


Um trabalho que amplia as leituras possíveis de uma obra que continua a nos desafiar
Da estreia, em 1861, com a peça "Desencantos", ao último romance, "Memorial de Aires", de 1908, a coleção reúne 25 volumes, em ordem cronológica,  que permitem observar o percurso de Machado até se tornar o autor de alguns dos maiores clássicos brasileiros. 

Há também um volume extra, "Terras", testemunho de seu trabalho como servidor público, função que exerceu por mais de 40 anos, tratando de questões cruciais para o país. Com texto estabelecido a partir de edições revistas pelo autor, apresentações inéditas para cada livro, o leitor poderá acompanhar como aspectos importantes em sua obra (as relações e questões de gênero, classe e raça, por exemplo) se apresentam e se transformam ao longo do tempo e se fazem presentes nos vários gêneros que praticou. Em toda a coleção, as anotações sobre a presença da questão racial nos escritos de Machado de Assis ficaram a cargo de Paulo Dutra, professor na Universidade do Novo México (EUA) e consultor da coleção. Compre a coleção Todos os Livros de Machado de Assis neste link.   


Um resgate da dicção de Machado de Assis
Todos os 26 volumes têm a ortografia atualizada, com indicação, nos aparatos críticos, das variantes ainda admitidas na língua e registradas no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (exemplos: cousas, prescrutador, tacto, subtil). Além disso, a pontuação do escritor foi respeitada, mesmo quando soa estranha para o leitor de hoje. Isso porque ela responde muitas vezes a critérios expressivos (hesitações, ênfases, ironia etc.) e não apenas a critérios lógico-sintáticos, em grande medida estabelecidos depois que o escritor produziu e publicou seus livros. Garanta a a coleção Todos os Livros de Machado de Assis neste link.   


O projeto gráfico e tipográfico
O projeto gráfico, assinado por Daniel Trench, parte da pesquisa e do estudo tipográfico dos originais de Machado de Assis. As letras reproduzidas nas capas de cada livro foram extraídas das páginas de rosto de cada uma das 26 edições que deram origem aos volumes desta coleção. Foi também por meio de investigação e análise da tipografia dessas edições de base que uma nova família tipográfica foi desenvolvida pelo designer de tipo Marconi Lima, e batizada de Machado Serifada. A cor das capas e os símbolos usados em cada uma delas variam de acordo com o gênero de cada livro.


Sobre o autor
Joaquim Maria Machado de Assis
nasceu no Rio de Janeiro em 1839. Filho de mãe açoriana e de pai afrodescendente, publicou poesia, crítica, teatro, tradução, crônica, conto e romance. Ao todo, foram 26 títulos entre 1861 e 1908, ano de sua morte. Há mais de cem anos Machado de Assis está no centro dos debates sobre a literatura, a cultura e a formação social brasileira, envolvendo questões de classe, gênero e raça, bem como os modos de inserção da experiência brasileira nos grandes temas globais e humanos.

A equipe
Aline Valli, Audrey Ludmilla do Nascimento Miasso, Carlos Mesquita, Daniel Trench, Djalma Espedito de Lima, Erika Nogueira Vieira, Félix Abramo Guimarães, Fernando Borsato do Santos, Gabrielly Alice da Silva, Hannah Uesugi, Hélio de Seixas Guimarães, Huendel Viana, Ieda Lebensztayn, Jane Pessoa, Karina Okamoto, Luciana Antonini Schoeps, Manoel Mourivaldo Santiago-Almeida, Marcelo Diego, Marconi Lima, Mario Santin Frugiuele, Nino Andrés, Paulo Dutra, Pedro Botton.

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