quinta-feira, novembro 02, 2017
Observadora dos delírios cotidianos, a artista trabalha a estética do absurdo nos seus textos teatrais e literários. Em processo de finalização do segundo romance, é finalista do Prêmio São Paulo de Literatura com seu primeiro livro, "Peixe Cego".
Dramaturga, roteirista, escritora e mestranda em crítica literária, Priscila Gontijo é uma das finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura com o romance "Peixe Cego", publicado em 2016 pela editora 7Letras.
A escritora concorre na categoria Melhor Livro do Ano de Romance – Autor estreante com mais de 40 anos. Os vencedores das três categorias do prêmio serão anunciados no dia 6 de novembro, segunda-feira, às 20h30, na Biblioteca Villa-Lobos. Antes, Priscila participa de uma conversa junto com outros autores no dia 4 de novembro, sábado, às 11h, na Biblioteca de São Paulo (Av. Cruzeiro do Sul, 2630. Carandiru). A entrada é gratuita.
"Peixe Cego" levou cerca de sete anos para ser finalizado como romance. Uma frase de Nelson Rodrigues serviu como inspiração para a sua elaboração: “O brasileiro vai conquistar a vida. É um peixe cego, que tem luz própria, mas anda babando na gravata”. Priscila passou meses, anos, pensando nessa frase, nesse peixe cego. Assim como o peixe, Irina, a protagonista do romance, não tem lugar no mundo. E o livro é sobre esse não lugar. Essa falta de território. Esse percurso entre o vazio e a desordem, entre o silêncio e a loucura.
Além de escritora, Priscila se dedica ao teatro desde os doze anos, quando iniciou os primeiros cursos na área. Como dramaturga, teve o primeiro texto encenado em 2007. A autora soma seis peças encenadas em oito montagens que circularam por São Paulo e Rio de Janeiro. Seus temas costumam se concentrar na loucura, solidão, família e infância.
Priscila prefere captar a graça e o humor melancólico do cotidiano, ao qual amplia a percepção e insere comportamentos insanos e questões que extrapolam o trivial. Aos 13, já tinha lido toda a obra de Dostoiévski e "O Idiota" se tornou o marco literário predominante. Até hoje, essa é a sua principal referência literária e, claro, Nelson Rodrigues.
“Crio muito a partir de notícias reais que recolho em jornais, revistas de curiosidades e sites. O absurdo que emerge do cotidiano me interessa no momento da criação. Gosto de criar nessa zona íngreme entre a loucura e a sanidade”, diz Priscila.
Outros autores que influenciam diretamente a escritora são a romena Aglaja Veteranyi, a neozelandesa Katherine Mansfield, a americana Miranda July e os brasileiros Clarice Lispector, Ana Cristina César e Rodrigo Souza Leão, entre outros.
Sobre a relação entre escrita literária e escrita teatral
Para Priscila, uma das diferenças fundamentais entre o teatro e o romance é a recepção do público. “Enquanto na literatura esse processo pode levar anos para depurar e você jamais vai saber ao certo qual é a reação de cada leitor, no teatro a recepção é imediata e, por isso, muito autêntica”, avalia a autora.
Quanto à criação, Priscila percebe que ao escrever para o teatro, pode passar meses apenas pensando no assunto da peça, mas ao sentar para escrever, precisa finalizar o trabalho em períodos mais curtos. “Se fico muito tempo escrevendo a peça, me parece que o personagem escapa e perde a motivação”, justifica. Em seguida, submete os textos a muitas edições que acontecem após leituras com atores ou às suas próprias leituras em voz alta – parte obrigatória do seu processo criativo.
Em literatura, o processo é praticamente o contrário. Priscila deixa temas, personagens e assuntos depurarem o quanto for necessário para prosseguir com o material. Com o teatro, aprendeu a ler com afinação os seus textos. “Existem frases ditas pelos atores que parecem ter saído do tom. Quando estou escrevendo um romance, tento perceber essas desafinações durante a minha própria leitura”, diz.
Priscila também defende as digressões, os questionamentos e a ausência de moralidade na literatura. Contrária ao que chama de “tirania da síntese” – uma imposição de que a escrita precisa ser curta, direta e atingir certas finalidades -, prefere a elaboração de uma prosa gaga, inacabada, ensaística.
Sobre "Peixe Cego" e próximos projetos
Publicado em 2016 pela editora 7Letras, "Peixe Cego" acompanha a trajetória de Irina que enquanto enfrenta as dificuldades cotidianas para a sobrevivência na selva urbana de São Paulo, sonha com uma viagem a Moscou, cidade onde seu pai assistiu a uma montagem da peça "As Três Irmãs", de Tchéckhov. Repleto de referências literárias aos maiores autores russos, o romance de estreia de Priscila Gontijo investiga as armadilhas existenciais de nosso tempo, com seus espetáculos e cinismos.
O livro foi finalista do Prêmio Sesc de Literatura e agora é finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, em que concorre na categoria Melhor Livro do Ano de Romance – autor estreante com mais de 40 anos com os livros "Arco de Virar Réu" (Tordesilhas | Alaúde), de Antonio Cestaro; "Céus e Terra" (Record), de Franklin Carvalho; "A Vida Invisível de Eurídice Gusmão" (Companhia das Letras), de Martha Batalha e "Essa Menina" (Alfaguara), de Tina Correia.
Priscila já está em processo de finalização de um novo romance, chamado "Antes da Insânia" e vencedor na tutoria de um projeto sediado na Casa das Rosas de avaliação de originais. Priscila foi orientada pela escritora Verônica Stigger e agora faz os últimos ajustes no romance para utilizá-lo como parte da tese de seu mestrado em crítica literária pela PUC-SP.
"Antes da Insânia" conta a história de uma mulher que passa por situações limítrofes. A narrativa compreende várias fases da vida dessa mulher, como a infância e um momento em que vive uma paixão violenta e alucinatória. Em teatro, tem uma peça inédita com previsão de estreia para janeiro de 2018.
Sobre Priscila Gontijo
Priscila Gontijo é carioca, radicada em São Paulo. É escritora, dramaturga e roteirista. Formada em Letras, atualmente é mestranda em Literatura e Crítica Literária pela PUC/SP. Integrou o Círculo de Dramaturgia do CPT – Centro de Pesquisa Teatral coordenado por Antunes Filho. É também fundadora da Companhia da Mentira, onde encenou textos próprios, como "Soslaio", que ganhou o Prêmio Myriam Muniz da Funarte em 2007, "Os Visitantes", vencedor do Fundo de Apoio ao Teatro do Rio de Janeiro (FATE) em 2009, e Antes do sono, em cartaz em 2010. "Uma Noite Sem o Aspirador de Pó" foi vencedor do ProAC 8/2014, "A Vida Dela" cumpriu duas temporadas. Em 2016, no Sesc Copacabana, e em 2017, no Instituto Cultural Capobianco. Dançando no arame foi vencedor da 5a edição do Prêmio Zé Renato. Seu primeiro romance "Peixe Cego" (7Letras) é um dos finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura 2017 e também foi finalista do Prêmio SESC de Literatura – 2016. Seu segundo romance: "Antes da Insânia" foi selecionado em primeiro lugar da 1° edição do Projeto Tutoria CAE / 2016 da Casa das Rosas. Escreveu os roteiros do telefilme "Irina" e da série "Entre o Céu e a Terra". Atualmente desenvolve roteiro cinematográfico para a Paranoid com direção de Heitor Dhalia e escreve uma coluna às quartas-feiras para o site Ultrajano.
Serviço
Encontro com Escritores
Dia 4 de novembro, às 11h, na Biblioteca de São Paulo.
Endereço: Av. Cruzeiro do Sul, 2630 (Metrô Carandiru). Parque da Juventude – Santana. São Paulo.
Entrada gratuita.
Não é necessária inscrição prévia.
Entrega de Prêmios e Troféus do Prêmio São Paulo de Literatura 2017
Dia 6 de novembro, às 20h30, na Biblioteca Parque Villa-Lobos.
Endereço: Avenida Queiroz Filho, 1205. Alto de Pinheiros. São Paulo.
Entrada gratuita.
Confirmar presença previamente pelo e-mail contato@spleituras.org.