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terça-feira, 8 de janeiro de 2019

.: A capacidade de resistir, pelo jornalista Oscar D’Ambrosio

As ditaduras militares trazem consigo a opressão dos corpos e das mentes. Foi assim em países latino-americanos como Brasil e Argentina. O filme "Uma Noite de 12 Anos", de Alvaro Brechner, enfoca o caso do Uruguai e toma três integrantes do movimento terrorista Tupamaro como eixo central.

O mais famoso deles é José Mujica, que se tornaria presidente, mas os também vítimas da opressão Mauricio Rosencof e Eleuterio Huidobro têm suas trajetórias enfocadas com o mesmo relevo num filme em que o psicológico é muito mais importante que o histórico.

O mérito da direção está justamente em não se ater a biografias, mas a estados de alma. Os detentos, em sua trajetória de prisão de mais de uma década, convivem com humilhações que incluem não poder ir ao banheiro no momento em que precisam, não poder falar em hipótese alguma e não ter o que ler ou papel e caneta para escrever.

Cada um reage à sua maneira. O risco de enlouquecer é muito grande, assim como o de desistir de tudo, caindo em depressão profunda que pode levar ao desejo de dar fim à própria vida. Nesse sentido, a mãe de Mujica desempenha um importante papel no sentido de despertar no filho, nas raras visitas permitidas, a necessidade de resistir sempre. O filme mostra assim como a prisão psicológica é mais dura do que a do corpo. Não deixe de ver para ampliar essa complexa e sempre atual discussão!

Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

.: Artigo: o nascer no Natal, por Oscar D’Ambrosio

A maior metáfora do Natal está na simbologia do nascimento. Se pensarmos na data como um processo que indica o começar de um caminho, as questões que envolvem a data alcançam novas facetas. Afinal, quando pensamos em homenagear alguém, indicamos uma reverência, que está simbolizada no presente.

Afinal, dar algo a alguém significa importar-se com essa pessoa. E esse parece ser o maior ensinamento do Natal, ou seja, transformar o começo de uma jornada terrena num acontecimento magnífico. E todo nascimento poderia ser visto dessa maneira, ou seja, como o ponto de partida do começo de uma trajetória não linear.

Talvez a maior dificuldade de se mergulhar na essência do espírito natalino esteja em levar um nascimento específico a ser visto como modelar. De fato, cada um que nasce é um aventureiro em uma jornada pouco simples, que envolve infinitas varáveis e mistérios a serem desvendados por cada um de maneiras diferentes.

Nessa caminhada, cada um se comporta de uma maneira. Há os que são movidos pela intuição, os racionais, os criativos, os otimistas e os pessimistas. Talvez a melhor jornada seja a daqueles que conseguem conciliar essas vertentes numa síntese que permita tomar as melhores decisões nesse processo de renascer constante que o Natal proporciona. 

Ótimo renascimento para tod@s!           


Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

sábado, 24 de novembro de 2018

.: Artigo: arte como indagação política, por Oscar D’Ambrosio

A 33ª Bienal de Arte de São Paulo tem artistas que nos obrigam a repensar o cotidiano. Talvez o principal deles seja o guatelmateco Aníbal López (1964 – 2014), que assina parte de seus trabalhos como A-1 53167, número de seu documento de identidade. Era uma forma de questionar nossa posição no mundo apenas como seres anônimos de um grande sistema.

Suas performances de cunho político eram sempre ousadas e espantosamente atuais. Talvez a mais melancólica pela sua relevância contemporânea é a ação chamada ‘El préstamo’ (‘O empréstimo’), texto autobiográfico em que narra como assaltou, com uma arma, um senhor na Cidade da Guatemala para financiar a produção de uma exposição.

Discutir, por meio da arte, temas como crise econômica e formas de crime é uma constante no trabalho de López. Nesse sentido, realizou, na Bienal do Mercosul, obras com caixas vazias contrabandeadas do Paraguai para o Brasil e, na Documenta de Kassel, na Alemanha, um dos mais célebres eventos de arte do mundo, entrevistou um sicário. Para manter o anonimato do matador de aluguel, colocou uma tela entre o assassino e o público, que realizou perguntas por cerca de 40 minutos.

Outras ações inesquecíveis foram jogar dez sacos de carvão em via pública antes de um desfile do exército, lembrando o genocídio e a carbonização de camponeses e indígenas por militares; despejar uma tonelada de livros em uma das vias mais movimentadas da capital do país; e, talvez a mais original, inaugurar uma exposição, ‘As pessoas bonitas’, em que os seguranças tinham a liberdade de deixar entrar apenas quem eles julgassem belas.

Em pouco tempo, havia mais gente do lado de fora do que dentro da galeria – e o próprio artista foi impedido de entrar. A ironia do título ganhava sentido, pois mostrava como o concito de beleza está marcado pela subjetividade e pelo relativismo. Por tudo isso, Aníbal López é um artista a ver, rever, pensar e repensar continuamente.

Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

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