PorLuiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: divulgação.
O cantor e compositor Leo Russo está comemorando 15 anos de carreira em um momento mais do que especial: álbum novo, show novo e a espera do primeiro filho com a esposa Isabella. Chega nas plataformas digitais o álbum “A Gente Merece”, título de uma das faixas. A direção musical ficou a cargo de Alessandro Cardozo, que também assina a direção do show de lançamento no Teatro Rival Petrobras, no dia 3 de dezembro.
Afilhado da saudosa cantora Beth Carvalho e do produtor musical Rildo Hora, Leo Russo começou a frequentar as rodas de samba cariocas aos 11 anos, quando ganhou seu primeiro cavaquinho. Foi então que teve os primeiros contatos com alguns de seus ídolos, Ídolos que, mais tarde, seriam seus parceiros, como Xande de Pilares, Monarco e Moacyr Luz, com quem compôs “Isabella”, faixa do novo álbum.
Do novo álbum, já estão disponíveis no streaming “Isabella” e “João do Méier”, em que Leo Russo homenageia um de seus ídolos de infância: João Nogueira. Esta é uma música só de Leo Russo, mas no álbum há várias feitas com outros parceiros além de Moacyr Luz e Léo Peres, como Fagner, Xande de Pilares, Monarco e Rildo Hora, que também fez alguns arranjos, assim como Alessandro Cardozo e Paulão 7 Cordas.
O fato de ter contato com figuras ilustres do samba deve ter influenciado positivamente na sua formação musical. O disco tem composições bem inspiradas na linha do samba tradicional carioca. E Leo Russo é um ótimo intérprete, com aquela malemolência necessária para todo sambista. A gente merece ouvir esse disco.
PorLuiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: divulgação.
A cantora, compositora, multi-instrumentista, arranjadora e produtora Laura Finocchiaro está divulgando seu novo single, “Nossa Parceria”, que chega às plataformas digitais por uma dobradinha do selo Sorte Produções com a distribuidora GRV. A canção nasceu da letra de Jarbas Mariz, enviada para Laura num bilhetinho durante a pandemia da Covid-19, em 2021. O manuscrito só foi resgatado no final do ano passado e, com a colaboração de Jarbas e Daniel Maia, a artista criou a faixa em seu home studio, misturando influências do Sul e do Nordeste do Brasil em uma sonoridade que remete à World Music.
“Eu acredito em parcerias, em sintonia, em trabalho coletivo, em afeto compartilhado. Essa canção tem a ver com esse sentimento pessoal, mas ao mesmo tempo universal. Por isso, essa mistura meio louca de oriente com pegada de reggae”, explica Laura, artista pioneira na combinação da música brasileira com a música eletrônica.
Laura iniciou sua trajetória em Porto Alegre durante os movimentos musicais dos anos 80. Em São Paulo, passou por palcos icônicos como Lira Paulistana e Madame Satã e no programa Fabrica do Som da TV Cultura. Ganhou destaque nacional no Rock in Rio II, abrindo shows de Prince e Santana, quando recebeu o apelido de Rainha do Underground. Atualmente é diretora da Sorte Produções, um selo musical e produtora de áudio.
Se por um lado o momento atual oferece mais perspectivas para quem está iniciando na música, por outro, Laura Finocchiaro acredita que falta mais consistência no que está sendo produzido nos dias atuais. “Sempre tem gente mostrando um trabalho interessante e que merece ser conferido pelo público”.
Esse single marca o início de uma nova fase na sua trajetória artística e serve como uma prévia do relançamento de seu álbum “Ecoglitter” de 1998, que estará disponível digitalmente, pela primeira vez, logo após o lançamento de “Nossa Parceria”. Agora, com o avanço das plataformas digitais, uma nova geração de ouvintes poderá descobrir esse trabalho que marcou o início de sua fase mais experimental. Laura já produziu trilhas sonoras para filmes, documentários e programas de grande audiência, incluindo “TV Colosso”, “Casa dos Artistas” e “A Fazenda”, consolidando sua importância na música e na produção cultural brasileira. “Todas essas experiências foram importantes para mim”.
PorLuiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: José de Hollanda
A cantora e compositora paulistana Luana Bayô está lançando seu mais recente disco, "Abebé", nas plataformas de música. O álbum foi gravado ao vivo com arranjos e direção musical de Liw Ferreira, durante show da artista no Festival Malungo, realizado pela Gravadora Pôr do Som.
A banda que acompanha Luana Bayô é formada por músicos que também tocam no disco - Liw Ferreira (baixo e bandolim), Helô Ferreira (violão), Nichollas Maia (piano), Matheus Marinho (bateria), Lucas Alakofá e Simone Gonçalves (percussões), à exceção de Valber Oliveira (trombone). O show tem direção cênica e de palco de Rubens Oliveira.
Com nove faixas, o álbum traduz a força e beleza da artista, e conduz o ouvinte a uma conexão com a África e toda sua influência na música popular brasileira, refletindo a ancestralidade e a espiritualidade das culturas negras. Inspirada nas simbologias de Oxum e Yemanjá, Luana dedica sua obra à força do feminino, das Águas e das Yabás, mulheres de liderança no panteão da cultura afro-brasileira.
Luana Bayô cita Clementina de Jesus como uma referência importante em sua formação musical, além da cantora Alcione. “Tive muitas influências, mas essas duas estão em um lugar muito especial. Clementina foi uma das primeiras cantoras a tratar da ancestralidade. E Alcione dispensa comentários. É uma intérprete acima da média, em todo os aspectos”.
Segundo a cantora, “Abebé" (espelho de oxum) mergulha no feminino com músicas que falam das diversas águas que nos habitam e das várias facetas de ser mulher, sobretudo, de ser uma mulher negra. “São canções que me revelam, que trouxeram olhares para minhas diversas nuances como mulher, passando pela minha ancestralidade, naturalmente”.
O disco abre com duas canções de domínio público (Cantos para Exu e Bombogira e O Sobrado de Mamãe é debaixo d´água). E depois segue na MPB e suas mais variadas vertentes, passando principalmente pelo samba, ritmo com o qual Luana tem uma forte ligação. Dona de uma voz grave e potente, ela também demonstra um timbre aveludado e singular, que passeia com desenvoltura ao interpretar as canções escolhidas para o disco. "Abebé" é um disco que merece ser descoberto pelo público. O show de lançamento acontece na Comedoria do Sesc Pompeia, na Capital Paulista no dia 21 de novembro, quinta-feira, às 21h30 .
A cantora e compositora Paula Toller lançou o CD "Amorosa Ao Vivo" comemorando seus 40 anos de carreira. Um trabalho que registra um dos shows da turnê revisitando antigos hits com algumas novidades nos arranjos daquele pop radiofônico inspirado no movimento new wave dos anos 80. Não faltaram os hits da época da sua antiga banda, Kid Abelha. Pouco se nota do material que ela lançou em carreira solo, que acabou sendo eclipsado pelos velhos hits. E cá entre nós, era isso que o público queria ouvir mesmo no show.
O repertório incluiu um tributo à Rita Lee, com a interpretação de "Agora Só Falta Você". E uma releitura de Nada Por Mim em ritmo bossa nova com participação do veterano Roberto Menescal. Paula Toller divide o vocal de "Na Rua, na Chuva, na Fazenda" com Fernanda Abreu, e de "Nada Sei", com Luiza Sonza. Sozinha canta canções como "Lágrimas e Chuva", "Educação Sentimental II", "Como Eu Quero" e "Amanhã É 23", entre outros sucessos dos anos 80 e 90.
Um dos melhores momentos é a releitura de "Não Vou Ficar", do síndico Tim Maia, com um arranjo interessante (em ritmo de samba rock) e uma interpretação firme da cantora. O dueto com Fernanda Abreu também ficou ótimo. E é preciso destacar também a competente banda de apoio da cantora, que conta com o experiente produtor musical Liminha no violão acústico e guitarra.
"Amorosa Ao Vivo" pode até parecer algo previsível, sem muitas surpresas para o ouvinte. Mas é fato que ainda tem momentos interessantes para quem deseja relembrar os divertidos anos 80, quando ouvíamos um pop comercial made in Brazil, feito sob medida para tocar nas rádios.
Claudia Schroeder está com novo livro, “Gatos Falando Alemão”, o quarto de sua carreira. A autora gaúcha reuniu 51 poemas que falam do cotidiano, mas o erotismo continua presente, sempre de forma direta, sem rodeios, mostrando os tantos lados das questões humanas. Estão lá temas como a maternidade, a angústia, a felicidade. Os poemas são numerados e o título do livro vem de um dos textos, que conta a história de uma mãe manipulada pela filha. Com uma produção editorial constante e incentivada pelo amigo escritor Pedro Gonzaga - que assina a apresentação -, ela reuniu alguns textos e enviou para o edital da Isto Edições, que já conhecia o seu trabalho e decidiu lançar a obra tendo Claudia como autora convidada. Além de Pedro, o livro conta também com um texto da escritora Martha Medeiros na quarta capa.
Claudia Schroeder nasceu em 1973, em Santo Ângelo, Rio Grande do Sul. Estrategista criativa, cria conversas e palestras sobre temas femininos abordados em sua literatura. Foi premiada com o 2º lugar no Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody com o poema “Jantar”, que acabou sendo publicado na coletânea portuguesa “A Poesia é para Comer” (editora Babel), ao lado de nomes como Hilda Hilst e Chico Buarque de Holanda. Além desse trabalho atual, ela teve outros três livros publicados: “Leia-me toda” (Dublinense, 2010) - que conquistou o terceiro lugar no Prêmio Biblioteca Nacional e, por ter a capa em braille, chegou a ser finalista do Prêmio Açorianos de Literatura -, “As partes nuas” (Francisco Alves, 2021) - finalista do Prêmio Ages e Academia Rio-Grandenses de Letras -; e “As línguas são para outras coisas” (Taverna, 2022).
Em entrevista para o Resenhando, ela conta sobre suas influências no início da carreira e comenta sobre o momento atual do mercado literário. “A rede social ampliou o acesso do público para obras de poesia”.
Resenhando.com – Como foi seu início na Literatura e quais foram suas principais influências?
Claudia Schroeder – Eu comecei muito cedo. Escrevi minha primeira poesia quando tinha nove anos. Nessa época acompanhava meu pai, que recebia os amigos para tocar música em casa. Tive acesso às obras de Cartola, Tom Jobim e outros nomes conhecidos da MPB, além das canções que meu pai e seus amigos compunham e cantavam. Desde então, no início, já adolescente, tive contato com a obra de Mário Quintana e me apaixonei pelo estilo dele. As escritoras Fernanda Young e Adélia Prado foram outras referências importantes para mim. Hoje em dia passei a ter contato com a obra de vários autores internacionais contemporâneos que admiro muito.
Resenhando.com – Nesse seu quarto livro, o erotismo é notado na sua obra. Como foi que você passou a incorporar esse tema nas poesias?
Claudia Schroeder – Na verdade vem desde o início, quando eu decidi ser escritora. Porque achava que o tema (erotismo) ainda era visto como um tabu pela sociedade. Hoje em dia ele já é visto de uma forma diferente. Acho que o fato de minha obra ser objetiva e direta ajudou o público a compreender melhor o tema, sem criar falsas expectativas.
Resenhando.com – Como você avalia o mercado literário na atualidade?
Claudia Schroeder – No campo da poesia ainda há muito o que avançar. Penso que a rede social, de uma certa forma, foi positiva para a poesia. Temos vários autores divulgando seus trabalhos por intermédio da rede social. Facilitou o acesso do público, porque na poesia o texto é mais curto do que o de uma obra de prosa, por exemplo. Mas acho que as redes de ensino poderiam incorporar o tema poesia de uma forma mais efetiva, porque há uma ampla gama de possibilidades que pode ser explorada pelos educadores. Enfim, acho que podemos avançar ainda mais.
Em meio a sua recente turnê no Brasil, Eric Clapton divulgou seu novo trabalho: o álbum "Meanwhile", que além de canções autorais e releituras, conta com participações do veterano Van Morrison e uma gravação de "Moon River" com o falecido guitarrista Jeff Beck. Mas os fãs não devem esperar muitas novidades nesse trabalho, que repete fórmulas de outros álbuns. Ainda assim, tem qualidades para agradar o ouvinte.
Nos últimos anos Clapton tem se dedicado a lançar discos com aquela conhecida sonoridade mais tranquila, com solos comedidos e diversos tributos ao blues, que segue como o estilo fundamental da sua formação musical. O disco novo abre com a canção pop "Pompous Fool", passando depois por uma versão irretocável da clássica "Moon River", de Henry Mancini, com solo de Jeff Beck. De longe, destaco essa como a melhor faixa do disco.
A regravação de "Smile", de Charlie Chaplin, que ele havia registrado em um show ao vivo nos anos 70, foi outro acerto. Agora a canção ganha uma versão de estúdio que não foge muito do arranjo da primeira versão. Ainda na vibe saudosista, Clapton resgata a balada "Always On My Mind", do repertório de Elvis Presley. Essa releitura tem arranjo folk e vocal do cantor country Bradley Walker.
Outros bons momentos são notados nas três faixas cantadas em dueto com o irlandês Van Morrison, que têm arranjos baseados no blues rock. Já as demais faixas caem sempre naquela sonoridade mais tranquila, beirando o pop convencional em alguns momentos
Nunca é demais lembrar que Clapton está beirando os 80 anos. Por isso, só o fato de estar lançando novas canções nessa fase da carreira já merece elogios. Claro que o Mr. Slowhand continua tocando sua fender stratocaster com elegância, apesar dos excessos cometidos na juventude. Então, sempre será muito bem vindo um disco de estúdio dele com material novo. Ainda que seja mais do mesmo.
O músico Tom Schuman, que por mais de 40 anos integrou o grupo Spyro Gyra, está iniciando uma nova fase da carreira solo. Morando atualmente na Espanha, ele acaba de lançar o álbum "I Am Schuman" nas plataformas digitais e começa a divulgar esse novo trabalho autoral, no qual tem o controle total da produção e mixagem e segue a linha do chamado smooth jazz com influência direta do estilo fusion. Destaque para as faixas "Loose Change" e "Set It Off", onde ele demonstra sua habilidade como solista no teclado. Em entrevista para o Resenhando.com, Schuman explica o conceito utilizado para esse trabalho e revela seus planos para o futuro. “Este álbum representa minhas capacidades de produção”.
Resenhando.com - Como você define o conceito musical do seu novo CD," I Am Schumam"? Tom Schuman- O conceito musical para "I Am Schuman" começou como uma série de faixas que criei usando improvisações improvisadas. Eu as executei no meu estúdio e/ou no meu piano em Las Vegas nos últimos 15 anos. Já lancei dois singles com esse conceito em mente. "The Candy Store is Open" e "Syntropy". Esses dois singles também estão sendo relançados neste álbum. Meu título inicial era "I'm Only Schuman". Mas quando Sandeep Chowta concordou em promovê-lo em seu selo Namma Music na Índia, ele o chamou de "I Am..." em vez de "Im Only...". Então, para mim, este álbum representa minhas capacidades de produção, bem como meu trabalho de teclado sozinho no estúdio. Com exceção de dois cortes, ("Comfortable Silences" e "Loose Change"), executei cada parte e mixei o álbum inteiro sozinho. "Comfortable Silences" apresenta o guitarrista indiano, Abhay Nayampally. "Loose Change" incorpora os ritmos ofegantes de Kevin Whalum.
Resenhando.com - Qual é a diferença entre esse trabalho atual e o que você fez no Spyro Gyra? Tom Schuman - Este trabalho atual é um esforço completamente solo. Tenho controle sobre todos os aspectos da música, som, performance e mixagem. Enquanto Spyro Gyra era um ambiente mais democrático, incorporando muitas pessoas que influenciam o resultado final.
Resenhando.com - Como funciona seu processo de criação musical? Tom Schuman- Meu processo de criação geralmente começa com um sentimento inspirado por um solo de piano improvisado ou um groove de um orquestrador de ritmo ou patch de sintetizador. O resto do processo é deixado para a performance improvisada, conforme eu sinto ao longo do tempo. Às vezes, edito muitas improvisações diferentes juntas para criar algo único para mim. Outras vezes, a peça inteira sai de mim em uma tomada. Então, eu a produzo usando patches de baixo, ritmos, pads, cordas ou outros sons para aprimorar a performance básica. Eu chamo isso de método Zawinul. O falecido e grande Joe Zawinul do Weather Report falou sobre esse método de escrita durante uma entrevista. A maioria de suas composições surgiu de uma improvisação básica que ele então escreveu para outros músicos interpretarem. Descobri que essa era a melhor maneira de escrever algo novo e interessante, pelo menos para meus ouvidos.
Resenhando.com - Você tocou com vários nomes atuais do jazz, como Jeff Lorber e Jeff Kashiwa, entre outros. Há planos para novas parcerias musicais no futuro? Tom Schuman- Ainda não há planos, mas estou sempre aberto a trabalhar com qualquer um que queira pensar fora da caixa. Recentemente trabalhei com Paul Brown em algumas faixas. Ele tem uma técnica de mixagem linda que faz tudo soar como uma lufada de ar fresco!
Resenhando.com - Como o novo CD está sendo promovido? Há planos para shows? Tom Schuman- Estou deixando Sandeep Chowta e o consórcio Namma Music liderarem o caminho na promoção e distribuição. Quanto aos shows, tenho algo marcado na Sardenha, Itália, com meu trio de jazz. É para o Culture Fest de 2024 lá. Será no dia 16 de novembro e contará com Ameen Saleem no baixo e Guido May na bateria. O material de "I Am Schuman" exigiria muito mais músicos e ensaios para representá-lo adequadamente ao vivo. Então, espero poder apresentá-lo em um futuro próximo. Fique ligado!
Foi disponibilizado nas plataformas de streaming e em CD o primeiro álbum internacional de Delia Fischer, o "Beyond Bossa", pelo selo Origin Records, com as primeiras gravações de seu repertório autoral assinadas com parceiros como Camila Costa, Carlos Careqa e Claudio Botelho, por exemplo. Nesse trabalho ela canta as canções com letras em inglês em versões recriadas pelo compositor, pianista e jornalista americano Allen Morrison, além de reunir intérpretes brasileiros e internacionais de diferentes gêneros para participar das gravações.
Neste projeto, a pianista, cantora, compositora e diretora musical carioca Delia Fischer - duas vezes indicada ao Grammy Latino e com diversos álbum lançados - comemora 40 anos de carreira e 60 anos de vida dando nova cor à sua trajetória musical expandindo sua música para outras fronteiras, mostrando as diversas formas da música brasileira e a compreensão das letras antes só ouvidas em português pelo público estrangeiro.
“A intenção foi mostrar para o público estrangeiro as canções como elas são. Essas versões ficaram bem próximas das letras originais em português. O Allen Morrison fez um trabalho primoroso, digno de elogios”, explica a cantora. Ela também agradeceu o apoio dado durante a campanha de crowdfunding que viabilizou a gravação do disco. “Se o resultado final ficou bonito, foi porque tivemos pessoas que acreditaram no trabalho que fizemos”.
Delia retrabalhou as bases instrumentais e gravou com artistas convidados para enriquecer seis das 12 faixas do álbum - incluindo a cantora de jazz americana Gretchen Parlato (“My Time”), a cantora brasileira baseada nos Estados Unidos, Luciana Souza (“Almost Paradise”), o mestre da bossa nova e do groove Marcos Valle (“Workaholic”, versão em inglês da canção Garra), o guitarrista Chico Pinheiro e o instrumentista carioca Pretinho da Serrinha (ambos em “The Acupuncture Song”), o cantor Matias Correa (“Song of Self Affirmation”), o cantor e parceiro Marcio Nucci e o violoncelista americano Eugene Friesen (“What Good is Summer”), o grupo vocal New York Voices (“Lemon Jugglers of Rio”) e o cantor de soul italiano Mario Biondi (“Marketplace”).
Em todas as faixas, Délia deixa impressa sua sonoridade que oscila entre a nossa MPB e o jazz. Seu estilo suave e afinado de interpretação conquista o ouvinte logo na primeira audição. E além disso, é uma musicista de primeira linha, principalmente nos teclados. Destaco as faixas "A Little Samba" e a "Workaholic", sendo esta segunda cantada em dueto com o autor, Marcos Valle. A mescla do vocal de Marcos Valle com Delia ficou acima da média.
Enquanto alguns músicos preferem seguir uma linha comercial coerente com o momento que vivenciam, há outros que preferem navegar em um sentido diferente, apostando em uma sonoridade mais peculiar e original, sem se importar muito com tendências ou modismos. Um desses casos é o do jovem Yohan Kisser, filho de Andreas Kisser, da banda Sepultura, que lançou um surpreendente e audacioso álbum que foge dos padrões atuais do pop.
Intitulado "The Rivals Are Fed and Rested", o disco conta com 12 faixas autorais com letras em português e inglês. E arranjos instrumentais que mostram influências das mais diversas. Elas vão desde o rock progressivo ao jazz fusion, passando pela chamada vanguarda paulista representada por Arrigo Barnabé. Sim, também há alguns elementos do pop, mas eles são só detalhes dentro do quebra-cabeça complexo preparado por Yohan para o ouvinte.
"Membro Fantasma", faixa composta em homenagem a sua mãe, que faleceu há dois anos, já foi lançada como single nas plataformas, juntamente com a faixa que deu título ao disco. Essa canção tem um arranjo com influência de Tom Jobim. Até mesmo o coral feminino emula a sonoridade do coral da antiga banda de apoio do nosso maestro soberano. Carina Assencio, Mariana Benassi e Tatiana Abdo formam o coro feminino nessa faixa.
"Flush If You Must" tem um arranjo que lembra o nosso forró tradicional, enquanto que a faixa "Tall Being" já flerta com elementos jazzísticos em seu arranjo. "Loan Shark" tem elementos de soul music em seu arranjo. A faixa "Passou das Seis" funciona como uma vinheta cantada em coro a capela, com letra que lembra as canções do Grupo Rumo, que retratavam o cotidiano que os integrantes viviam nos anos 80.
Toda essa diversidade musical conta com participações do veterano Luiz Carlini (steel guitar na faixa "A Tábua e do Metrô"), Bruno Serroni (violoncelo em "Quantas Línguas") e Sandra Ribeiro (fagote em "Flush if You Must"). Há também o baixista Guto Passos e o baterista William Paiva, que junto com Yohan formam o trio de base da gravação do disco.
Nascido em 1997, Yohan Kisser é compositor e multi-instrumentista graduado em violão pelo conservatório de música da Fundação das Artes de São Caetano do Sul. Sua carreira inclui participação nas bandas Sioux 66, uma banda paulistana de heavy metal autoral formada em 2011, e Kisser Clan, onde toca clássicos do rock e metal ao lado de seu pai, Andreas Kisser, guitarrista da banda de metal Sepultura. Agora, com seu projeto solo, Yohan busca alçar novos horizontes musicais.
Há 50 anos, depois de deixar a banda Mutantes, Arnaldo Baptista se lançava em uma carreira solo com um dos discos mais emblemáticos da nossa MPB. "Loki?" não só é cultuado como uma das obras musicais mais geniais, como até hoje representa uma espécie de cartão solitário de visitas do músico, que depois enfrentaria sérios problemas de saúde.
A produção de Roberto Menescal e Marco Mazzola deixou Arnaldo Baptista à vontade para colocar seu projeto em prática: gravar um disco inteiro sem usar guitarras. Somente piano acústico, teclados, baixo e bateria. Os arranjos orquestrados são do tropicalista Rogério Duprat. Liminha (baixo) e Dinho (bateria), que integravam os Mutantes, participam do disco. E Rita Lee faz backing vocals nas faixas "Não Estou Nem Aí" e "Vou Me Afundar na Lingerie".
O disco abre com uma canção no melhor estilo rock´n roll. A seminal "Será Que Vou Virar Bolor?" mostra Arnaldo tocando furiosamente o piano acústico enquanto Dinho e Liminha preenchem os espaços com uma cozinha rítmica perfeita. O que se ouve depois são canções com um forte ar melancólico, como "Uma Pessoa Só" (da época dos Mutantes), "Desculpe" e "Te Amo Podes Crer". Além de "Cê Tá Pensando que Eu Sou Loki?", com arranjo surpreendente em estilo bossa nova. Em vários momentos há citações indiretas para Rita Lee, que já havia saído dos Mutantes antes de Arnaldo.
A sonoridade também mostra alguma influência do rock progressivo, que estava em alta naquela época e fazia a cabeça de Arnaldo e dos demais músicos dos Mutantes. "Loki?" acabou sendo cultuado bem mais tarde. Na época não chegou a ter impacto nas vendas. Hoje é reconhecido como o melhor momento criativo da carreira solo de Arnaldo. Nos anos seguintes ele enfrentaria problemas provocados pelo consumo de entorpecentes, que culminariam em dezembro de 1981 na sua queda de uma janela do hospital que resultaram em diversas sequelas físicas. Felizmente ele teve uma incrível recuperação ao lado de sua atual companheira, Lucinha permitiu que ele retornasse a atividade na música e na pintura. O documentário Loki retrata todas as fases da sua carreira, inclusive o momento atual.
O cantor e compositor Raimundo Fagner está em plena atividade. Depois de realizar um disco conceitual com canções da época da seresta e trabalhos em parceria com Zeca Baleiro, Elba Ramalho e Renato Teixeira, o cearense lançou um tributo ao amigo Belchior, um novo (e ótimo) disco de canções autorais ("Além do Futuro") e já está finalizando um novo disco com canções de forró pé de serra. Trabalhos esses que mostram não só a sua versatilidade mas também o seu apreço pelo som popular sem perder a força da poética e do romantismo. Em entrevista para o portal Resenhando.com, Fagner conta um pouco do conceito do seu trabalho autoral e seus planos para o futuro, ou melhor, além do futuro. "A música sempre esteve presente na minha vida".
Resenhando.com - Com 50 anos de carreira, você ainda encontra força para lançar álbuns autorais. Qual é o segredo dessa vitalidade criativa? Raimundo Fagner - Acho que muito dessa vitalidade que você citou vem do fato de eu ter muitos parceiros. Fausto Nilo, Caio Silvio, Abel Silva...a lista é bem grande. Tem momentos que estou trabalhando em uma melodia e imagino que determinado parceiro pode acabar gostando e se identificando. Mas não nego que gosto de compor também. A música sempre reinou em minha vida e vai continuar reinando por muito tempo, se depender de mim.
Resenhando.com - Esse seu disco autoral, "Além do Futuro", parece soar saudosista. Isso foi intencional? Raimundo Fagner - A intenção foi ressaltar a força da poética dentro da música. Realmente algumas canções soam nessa toada mais saudosista. Mas não tive essa intenção. Eu deixei a coisa fluir como ela deveria ser. O ponto de partida foi a faixa Noites do Leblon, que canto com o Zeca Baleiro. Logo depois veio a faixa que deu título ao disco (Além do Futuro), com letra de Fausto Nilo. A partir daí já tinha o conceito do disco e tudo fluiu muito bem. Há uma releitura de Onde Deus Possa me Ouvir, do Vander Lee, que eu já queria gravar há algum tempo
Resenhando.com - Há uma bela canção intitulada "Filho Meu", que foi composta para seu filho, que você conheceu mais recentemente. Raimundo Fagner - Foi uma felicidade imensa esse reencontro com meu filho. Essa canção eu fiz com o Caio Silvio, que percebeu a beleza dessa história e fez uma homenagem sutil ao meu filho Bruno. É uma das músicas que mais gosto desse disco. Tenho mostrado para amigos e não tem quem não se emocione.
Resenhando.com - Você já fez discos em parceria com Zeca Baleiro, Renato Teixeira e Elba Ramalho recentemente. De onde vem essa facilidade para fazer essas parcerias? Raimundo Fagner - Como eu disse anteriormente, a lista de parceiros que tenho é bem grande (risos). Eu gosto de trabalhar em parceria porque sempre rende algo positivo musicalmente. Todos esses trabalhos que você citou me deixaram realmente realizado.
Resenhando.com - É verdade que você tem uma relação afetiva com Santos? Raimundo Fagner - Você mora na cidade do clube do Rei Pelé. Então já tem algo muito especial. Eu tive amizade com Pelé e com o Zito, que chegou a ir em shows meus. Sou amigo do filho do eterno capitão santista. Eu estava na arquibancada da Vila Belmiro quando o Pelé se despediu do futebol em 1974. E cheguei a jogar com ele na época em que ele estava no Cosmos de Nova York, que tinha outros jogadores lendários, como o Carlos Alberto Torres, Beckenbauer e outros. Tenho um carinho enorme pela Cidade de Santos, no Litoral Paulista.
Resenhando.com - Você segue fazendo os shows ao vivo? Raimundo Fagner - Com certeza. Estamos acertando apresentações em Minas Gerais. E espero poder levar aí, para Santos. Quem sabe ainda dá tempo para jogar um pouco de futebol na Vila Beimiro? Seria perfeito.
Há 50 anos, um grupo de jovens músicos começava nos Estados Unidos uma incrível jornada pelo jazz instrumental, influenciado pelo estilo fusion que estava em alta na época. E a receita deles trazia um certo tempero pop ao som, que acabou se tornando sua irresistível marca registrada e conquistou centenas de fãs pelo mundo afora. Mundo esse que não se cansou nunca de presenciar o som mágico da banda Spyro Gyra em todos os seus continentes. E mesmo com as mudanças na formação, a sonoridade se manteve intacta.
Líder e fundador do grupo, o saxofonista Jay Beckenstein, continua tocando seu instrumento com a mesma vitalidade do início, contando com Julio Fernandez (guitarra), Scott Ambush (baixo), Lionel Cordew (bateria) e Chris Fisher (teclados) como integrantes fixos atuais. Em entrevista para o Resenhando, Jay Beckenstein conta como foi seu início na música, comenta sobre o panorama atual do jazz e não descarta lançar mais um álbum com canções inéditas. “Espero que a gente crie um conceito para outro disco no futuro”.
Resenhando.com - Como e quando foi que a música chegou até você? Jay Beckenstein - Nasci em 14 de maio de 1951 no Brooklyn, Nova York, e cresci cercado por música. Minha mãe era cantora de ópera e o amor do meu pai pelo jazz me apresentou a Charlie Parker e Lester Young antes que eu pudesse falar. Comecei a tocar piano aos cinco anos de idade, quando minha família se mudou para Farmingdale. Ganhei meu primeiro saxofone por meio do programa de música na escola primária aos sete anos de idade. No meu primeiro ano na faculdade, comecei a trabalhar em clubes em Buffalo e, quando me formei, tinha um trabalho estável nos clubes. Os próximos anos foram gastos tocando em algumas grandes bandas de blues e Rhythm & Blues.
Resenhando.com -Nesses 50 anos, você viu muitas mudanças no mundo da música. Como avalia o momento atual? Jay Beckenstein - Acho que há tanta coisa que foi feita musicalmente que muito do que está acontecendo parece ser uma repetição de ideias antigas. Não parece haver muito espaço para novas descobertas e música agora, mas é claro que ainda há ótima música sendo feita. Mas muito disso parece ser uma repetição do passado.
Resenhando.com - Apesar das mudanças na formação, o som do Spyro Gyra continua intacto. Qual é o segredo da longevidade? Jay Beckenstein - Permanecendo fiéis a nós mesmos. Sabe, nunca perseguimos um estilo. Sempre fizemos o que parecia natural, o que era natural e acho que nosso estilo foi formulado em uma época na música em que havia muita riqueza e ecletismo. Havia tantos tipos diferentes de música dos quais se basear na época. Então, esse amálgama particular de música nos moldou.
Resenhando.com - Em 1992, você tocou na gravação da música "Another Day", com o grupo Dream Theater. Como foi essa experiência? Jay Beckenstein - Primeiro de tudo, eu gostei muito. Eu era dono de um estúdio de gravação, o BearTracks, e o Dream Theater estava gravando lá. Então foi tudo muito, muito casual. Eles estavam lá em cima gravando e alguém disse: "Você quer tentar um solo de sax?" Então eu subi e levou cerca de 15 minutos. Pareceu muito natural, foi ótimo. Essa foi minha introdução inicial a eles. Aquele solo de sax entrou no disco deles e estou orgulhoso disso. É um solo muito legal. Mas então fomos um pouco mais longe com isso e eu me apresentei com eles algumas vezes. E ainda sou amigo de Jordan Rudess (o tecladista do Dream Theater), que mora na minha área.
Resenhando.com - Desde o começo, a influência da música brasileira pode ser notada no som do Spyro Gyra. Fale sobre a relação com a nossa música. Jay Beckenstein - Como um jovem que estava apenas desenvolvendo meu som, eu estava imensamente interessado em Samba. Era simplesmente a música mais bonita, alegre e ainda incrivelmente sofisticada. Acho que fui apresentado a ela pela colaboração de Stan Getz, João Gilberto e Tom Jobim. Mas sim, meu apego à música brasileira remonta a quando eu tinha 14 e 15 anos, com aquelas coisas maravilhosas de jazz samba acontecendo.
Resenhando.com - Qual é a sua opinião sobre o momento atual do jazz? Jay Beckenstein - O jazz é uma forma de arte grande demais para desaparecer. Quer ele permaneça em algum tipo de estado puro ou não, sua influência continuará sendo imensa. Eu sinto que o jazz, junto com a música clássica, são os pináculos da musicalidade. Eles exigem tanta dedicação. Eles exigem tanto trabalho que são realmente uma arte elevada no mundo da música. E esse é o tipo de coisa que não desaparece. Bach não desaparece e nem 'Trane” (apelido dado ao renomado músico de jazz John Coltrane).
Resenhando.com - A banda já está em turnê para comemorar seu 50º aniversário. Há alguma intenção de gravar um novo álbum? Jay Beckenstein - Essa é uma pergunta muito boa. Eu acho que eu consideraria gravar um novo álbum se eu sentisse que tenho algo novo a dizer. Qualquer reticência de que eu teria que não fazê-lo é mais que, agora, eu não tenho uma ideia totalmente nova para onde ir. Não valeria a pena apenas refazer o que fizemos em mais de 30 discos. Por outro lado, no passado, quando começamos a gravar projetos, eles me energizaram e energizaram a banda. Então, espero que a gente crie um conceito para outro álbum no futuro.
É incrível como Milton Nascimento tem o poder de agregar pessoas de várias gerações em torno de sua obra. E agora foi a vez de Esperanza Spalding, com quem já havia trabalhado anteriormente, que gravou um disco com o nosso eterno Bituca, contando com algumas participações especiais e releituras de canções do compositor mineiro, além do material autoral.
A repercussão do disco no exterior foi a melhor possível. O jornal The New York Times, por exemplo, chamou Milton de "Divindade Musical". Lembrando aquela citação feita por Elis Regina, que afirmou que, "se Deus tiver uma voz, seria a do Milton".
Durante anos, Esperanza Spalding sonhou em fazer música com Milton Nascimento. Ela ouviu sua obra pela primeira vez quando era estudante na Berklee College of Music, em Boston, no início dos anos 2000. O álbum "Milton + Esperanza", é o ápice comovente da admiração de longa data de Spalding, que surgiu como um anjo na vida de Bituca. Uma mistura de clássicos do catálogo de Nascimento, novas músicas de Spalding e covers de outros artistas, incluindo The Beatles e Michael Jackson, o álbum é um retrato de seu relacionamento criativo.
Claro que a voz de Milton já não consegue ter a mesma força. Ainda soa afinada, mas hesitante em alguns momentos. Mas isso não diminui o brilho do trabalho, que conta com banda principal de Matthew Stevens (guitarra), Justin Tyson e Eric Doob (bateria), Leo Genovese (piano), Corey D. King (vocais, sintetizadores). Esperanza Spalding e Milton Nascimento juntos revisitaram cinco de suas canções, junto com quatro originais de Spalding, além de alguns covers do Beatles ("A Day In The Life") e de Michael Jackson ("Human Nature").
É emocionante ouvir a voz de Esperanza entoando "Cais" e "Morro Velho" com Milton Nascimento. O contraste das vozes somente reforça o brilho da obra do compositor mineiro do Clube da Esquina. O álbum convida você a passar um tempo com uma pessoa que é um poço de conhecimento - mais de 80 anos de experiência vivida existem em sua mente e voz. "Milton + Esperanza" compartilha esse milagre simples com você. Sem apelar para os recursos do estúdio. Apenas a música tocada hoje, sem truques. Exatamente como ela é, de fato.
Gravado há 50 anos, o álbum "Elis e Tom" se tornou um dos marcos máximos de nossa MPB. A união da maior cantora do Brasil com nosso maestro soberano acabou sendo perfeita, apesar dos contratempos e tensões ocorridos durante a gravação. A ideia do disco foi viabilizada pela Gravadora de Elis Regina na época (Phillps/Phonogram). Ela completava dez anos na casa e escolheu como presente a gravação de um disco com canções de Tom Jobim, com a participação do mesmo.
Para o disco foram recrutados músicos Hélio Delmiro (guitarra), Paulinho Braga (bateria) e Luizão Maia (baixo), além de Cesar Camargo Mariano (teclados), que ficou encarregado pela direção e produção do álbum. O grupo viajou para os Estados Unidos para gravar o álbum juntamente com Tom Jobim, que já morava naquele País. Entretanto o encontro inicial teve momentos de tensão, com Tom questionando o fato de a produção ficar sob responsabilidade de Cesar Camargo Mariano, que na época ainda era um jovem talento.
As desconfianças do Maestro Soberano logo cessaram quando foi finalizada a gravação de Corcovado, com um belo arranjo de cordas e um instrumental que parecia renovar a canção de Jobim, além da voz sempre impecável de Elis. Também foi importante a presença do produtor Aloisio de Oliveira, um amigo de longa data de Jobim, que ajudou a dar um ponto de equilíbrio na produção.
O repertório tem 14 faixas, sendo 12 delas cantadas por Elis e duas em dueto com Tom Jobim ("Águas de Março" e "Soneto da Separação"). Além de "Corcovado", Elis está ótima nas releituras de "Chovendo na Roseira", "Brigas Nunca Mais", "Triste", "Só Tinha que Ser com Você", "Pois É", "Inútil Paisagem", "O que Tinha de Ser", "Modinha" e "Fotografia".
Não há um momento ruim no disco. Essa gravação de "Águas de Março" em dueto é considerada definitiva. Cesar Mariano revelou em uma entrevista que Tom Jobim passou a usar esse arranjo em suas apresentações ao vivo dessa canção. Recentemente o documentário sobre a gravação do álbum trouxe imagens raras desse momento mágico de duas figuras míticas de nossa cultura que se uniram apenas para fazer aquilo que mais gostavam: música.
Veterana na história do rock, Ann Wilson, da banda Heart, surgiu no ano passado com um ótimo projeto solo paralelo com a Tripsetter. Aparentemente buscando obter a essência da sonoridade que fazia nos anos 70. E ela foi ainda mais além. O resultado acabou sendo um tipo de interpretação capaz de emocionar não só os fãs de sua antiga banda. Mas todos que curtem o autêntico rock setentista de raiz.
O disco ao vivo ("Live In Concert") desse projeto reúne parte dessa fértil produção solo com algumas releituras de clássicos do rock como "Isolation" (John Lennon), "Going To California" e "Imigrant Song" (ambas do Led Zeppelin), "Let´s Dance" (David Bowie) e outras do Heart como "Magic Man", "Crazy On You" e "Barracuda".
Chama a atenção a produção autoral com a "Tripsitter". São autênticos petardos sonoros interpretados divinamente por Ann Wilson, contando com uma rica cozinha rítmica. Canções como "This Is Now" e "Ruler Of The Night" atingem em cheio o coração do ouvinte, assim como as releituras, todas cantadas em modo ON, no mais alto grau mesmo. Ann Wilson buscou oxigenar sua criatividade em novas perspectivas dentro da velha e infalível receita do rock setentista. E encontrou na Tripsitter a fórmula ideal para concretizar o seu objetivo.
Recentemente ela anunciou que estava iniciando um tratamento contra um câncer. E que, em função disso, teria que se afastar durante um tempo desse projeto solo e da Heart. Torço para que ela consiga superar esse tratamento o mais breve possível. E possa voltar logo para a estrada e, consequentemente, para os palcos dos shows de rock.
PorLuiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: Tinksi
A cantora austríaca Simone Kopmajer está divulgando o seu mais recente trabalho, o álbum "Hope", que reúne algumas releituras com foco no jazz e em alguns elementos do pop, além de canções autorais compostas em parceria com outros músicos. O disco segue a linha de sonoridade de outros lançamentos, mostrando uma voz suave, madura e bem segura de si como intérprete. Em entrevista para o portal Resenhando.com, ela conta como foi seu início na música e comenta o atual panorama do mercado fonográfico, marcado pela volta do vinil em países da Europa e na América do Norte. “Espero que possamos desacelerar um pouco nesse processo e curtir mais a música em sua essência”.
Resenhando.com - No seu álbum "With Love" você apresenta músicas autorais. Neste álbum mais recente, "Hope", você se mostrou como compositora novamente?
Simone Kopmajer - Sim, eu co-escrevi três músicas: "Black Tattoo", "Hope" e "So Faengt das Leben an".
Resenhando.com - Como você começou na música?
Simone Kopmajer - Cresci em uma família musical e comecei a tocar piano quando tinha oito anos. Mas cantar continuou sendo meu primeiro amor e ainda é.
Resenhando.com - Quais foram as suas referências musicais?
Simone Kopmajer - Quando criança, ouvia os artistas favoritos do meu pai, como Frank Sinatra, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Dean Martin, Herb Alpert, ... e mais tarde fui influenciada por todos os grandes cantores de pop e soul como Aretha Franklin, Stevie Wonder, Whitney Houston, Marvin Gaye, Al Jarreau, entre outros.
Resenhando.com - A indústria musical vem mudando nos últimos anos. Como você vê a situação atual?
Simone Kopmajer - Está mudando rápido e as plataformas de downloads e streaming estão se tornando cada vez mais importantes, mas também está voltando para o vinil e isso é bom. Acho que teremos que desacelerar novamente e selecionar mais.
Resenhando.com - Você conhece a música brasileira?
Simone Kopmajer - Claro, eu adoro música brasileira e também há uma comunidade musical brasileira em Viena que começou anos atrás com Alegre Correa.
Resenhando.com - E quem você mais admira na MPB?
Simone Kopmajer - Eu gosto muito de Elis Regina. Adoro a voz dela, seu fraseado e interpretação de uma música.
Resenhando.com - Quais são os planos para shows de promoção do álbum "Hope"?
Simone Kopmajer - Estamos agora fazendo muitos shows na minha terra natal, Áustria. E faremos uma turnê nos Estados Unidos em fevereiro de 2025.
O que era para ser um encontro de amigos no palco acabou se tornando um espetáculo de música brasileira autêntica. O projeto Vozes do Cerrado Goiano conseguiu unir Juraildes da Cruz, Antônio Pádua e Maria Eugênia, três talentos da região de Goiás, que desenvolvem carreiras solo férteis para mostrar um pouco de sua arte e poesia cantando juntos.
O show sob a direção musical de Luiz Chaffin já chegou em São Paulo e deve se estender para outras localidades, conforme informa Antônio Pádua. “A resposta do público acabou superando nossas expectativas. De uma certa forma, creio que a obra que apresentamos tem um forte apelo popular. Nós três somos artistas do palco”.
Pádua explica que o projeto nasceu inicialmente para comemorar os 50 anos de carreira de Juraildes da Cruz. Mas acabou crescendo e sendo ampliado com a união de Maria Eugênia, que já havia gravado várias canções de Juraildes. Por sua vez, Pádua, que já tinha feito várias parcerias com o homenageado ao longo dos anos, acabou por contribuir para dar forma ao espetáculo. “É uma celebração a obra do Juraildes, que representa muito a nossa autêntica música regional, aquela que atinge o coração do público”.
Juraíldes da Cruz é um ícone da música brasileira que celebra 50 anos de carreira e quase 70 anos de vida dedicados à sua arte. Com composições gravadas por artistas renomados como Xangai, Elomar e Saulo Laranjeira, Juraíldes já foi indicado cinco vezes ao Prêmio da Música Brasileira, vencendo duas vezes. Sua obra abrange uma rica diversidade de ritmos, melodias e temas que vão da natureza ao humor e filosofias de vida, é a base deste espetáculo.
Pádua, nome artístico de Antônio de Pádua da Silva, é um cantor e compositor de voz marcante. Com 40 anos de carreira e diversas premiações em festivais, é conhecido por sua habilidade em mesclar sonoridades e criar músicas que refletem a simplicidade e a riqueza cultural de sua terra. Em "Vozes do Cerrado Goiano", ele apresenta composições próprias e parcerias com Juraíldes da Cruz, Paulinho Pedra Azul e outros grandes nomes da MPB.
Maria Eugênia celebra 30 anos de carreira fonográfica com uma trajetória dedicada à diversidade da música brasileira. Sua voz já deu vida à abertura da novela Araguaia e foi destaque no programa Som Brasil em homenagem a Chico Buarque. Com uma carreira internacional que inclui turnês por mais de 20 países, Maria Eugênia traz ao palco sua interpretação única das composições de Juraíldes da Cruz e outros clássicos da MPB. Juntos, os três com seus estilos próprios, encontram um ponto comum na música de Juraíldes, criando uma homenagem singular a este artista ímpar.
O novo álbum “Estrela é o Samba” (distribuição Tratore) traz Roberto Riberti de volta, como um bem guardado segredo de São Paulo. Após um hiato de 38 anos, o compositor apresenta sambas feitos em parceria com grandes nomes do gênero, como Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho e Paulo Vanzolini, gravados entre 2012 e 2023.
Entre 1977 e 1986, Riberti lançou quatro discos, foi gravado por gente como MPB4, Elza Soares, Beth Carvalho, Quarteto em Cy, Marcia, Eliete Negreiros e Leila Pinheiro, e teve música até em novela das oito da TV Globo (“Passageiro”, na trilha sonora de “Os gigantes”). Sua produção como compositor e letrista abrange da MPB mais clássica - como “Passageiro” e “Apenas mais um” - até duas correntes aparentemente antagônicas que em sua obra se harmonizam perfeitamente: o samba e o choro de um lado, e de outro a vanguarda paulista (é parceiro de Arrigo Barnabé em clássicos como “Cidade Oculta”, “Lenda”, “A Serpente”, e “Mística”, do “Tubarões Voadores”).
Nesses 38 anos, Riberti se afastou da música, mas não da composição. Foi aos poucos gravando um álbum de seus sambas, o primeiro só com esse gênero, recheado de participações especiais de velhos ídolos e parceiros (muitos dos quais foram nos deixando). “Estrela é o Samba” é, na verdade, uma procura do samba feita por Riberti dentro de sua obra e por sua cidade, São Paulo.
Há no álbum músicas e gravações inéditas, entre elas três sambas fruto da parceria com Elton Medeiros, o clássico “Estrela” (letra de Riberti e melodia de Elton e Eduardo Gudin) até então nunca gravado por Riberti, e “Imensidade” e “Pobre Amor” (melodias de Elton Medeiros e letras de Riberti), sendo dois deles com a participação de Elton Medeiros; “Túmulo do Samba”, com participação do saudoso Germano Mathias; “Todo Mundo Me Diz” (melodia de Riberti e letra de Paulo Vanzolini escrita na década de 40), com participação do MPB4; e Euforia (letra de Riberti e melodia de Nelson Cavaquinho e Eduardo Gudin), pela primeira vez gravada pelo autor.
Trata-se de um disco bem produzido que se encaixaria na rica e tradicional produção da década de 70, o que por si só já merece uma atenta audição do ouvinte. Porque trata-se de uma seleção de sambas que não possui prazo de validade. Tão atemporal como aquele conhecido clássico "Velho Ateu" (1978), composto em parceria com Eduardo Gudin, tão presente nas rodas de sambas do país.
Algumas bandas seguem seu caminho na música atravessando décadas e superando os percalços e mudanças em sua formação. Um desses casos é o Deep Purple, que acaba de lançar "=1" um novo e ótimo álbum com canções autorais e uma sonoridade que resgata os tempos dos anos 70.
A formação atual conta com Ian Gillan (vocal), Ian Paice (bateria), Roger Glover (baixo), Don Airey (teclados) e Simon McBride (guitarra), que entrou no lugar de Steve Morse. E a mudança acabou sendo benéfica, pois Simon se integrou perfeitamente com a banda, priorizando a criação de riffs e fazendo aqueles conhecidos duelos de solos de guitarra com os teclados. Algo bastante notado nos discos dos anos 70.
Claro que a voz de Ian Gillan sente os efeitos do tempo. Não consegue mais gritar aqueles agudos como no passado. Porém as canções escolhidas para esse disco se adequaram com perfeição na sua voz atual, que ainda é capaz de mostrar um feeling irresistível para quem curte um hard rock clássico.
E é preciso destacar a cozinha rítmica formada pelo baixo de Roger Glover e a bateria de Ian Paice. É de se admirar o perfeito entrosamento deles com o novato Simon McBride, que se revelou um ótimo criador de riffs. Ele até parece uma mistura de Ritchie Blackmore com Steve Morse.
O disco tem nas cinco primeiras faixas, "Show Me", "A Bit On The Side", "Sharp Shooter", "Portable Door" e "Old Fangled Thing" um início envolvente, com aquele som característico dos anos 70, recheados de riffs poderosos e solos precisos.
E o ouvinte não se decepciona nas faixas seguintes. Tem o single de divulgação ("Lazy Sod") que é um petardo sonoro com um show de Don Airey, acompanhado pelos riffs de Simon McBride. E o peso roqueiro de Now You're Talkin', No Money To Burn e Bleeding Obvious. Há momentos mais introspectivos nas faixas If I Were You e I'll Catch You, que não comprometem o conjunto da obra. O novo álbum do Deep Purple pode até não estar no nível de outros clássicos, como Machine Head e Fireball. Mas tem elementos suficientes para agradar seus fãs e admiradores. Vale a pena a audição.
O músico e compositor Yohan Kisser vem mostrando um trabalho original, fora dos padrões estabelecidos pelo pop e rock convencional. Ele já lançou um elogiado EP e vem divulgando dois singles de seu próximo trabalho, que terá 12 canções autorais e deve ser concluído em breve. Filho do músico Andreas Kisser, integrante do grupo Sepultura, Yohan desenvolve um trabalho por uma linha diferente do seu pai, mesclando influências do rock progressivo e até da chamada vanguarda paulista, representada por nomes como Arrigo Barnabé. Em entrevista para o portal Resenhando.com, ele conta como foi seu início na música e explica o conceito de seu trabalho. "O álbum é uma mistura de inglês e português, e a ideia por trás do título é uma reflexão sobre a vida, a competição e a harmonia na natureza e na sociedade".
Resenhando.com - Fale como foi seu início na música. Os pais te incentivaram? Yohan Kisser - Meu início começou ainda na infância. Tive aulas de bateria e violão, que me deram uma base para formar a primeira banda que tocava rock progressivo. Mais tarde me formei em violão clássico e a partir daí passei a buscar uma identidade musical mais definida. Mais precisamente a partir de 2017 passei a compor canções nesse tipo de formato atual, já com muita influência de Frank Zappa e até Arrigo Barnabé, que são dois nomes que curto muito.
Resenhando.com - À primeira vista, quem não te conhece imaginaria que você produziria um trabalho com foco no metal. Yohan Kisser - Pois é. Eu também curto muito o trabalho que meu pai (Andreas Kisser) desenvolve no Sepultura. Mas o fato é que sempre tive a liberdade para seguir o meu próprio caminho, que buscava ir mais além, em novos horizontes.
Resenhando.com - Em um de seus singles recentes, o "Membro Fantasma", você presta uma homenagem a mãe. Como foi a repercussão? Yohan Kisser - Essa música foi muito especial. Eu a compus em um piano que minha mãe (Patricia Kisser, que faleceu em 2022) me deu. Passei a abrir novas perspectivas ao tocar e compor nesse instrumento. Então veio a ideia de compor algo sobre ela, sobre a falta que ela faz para mim e toda a família. Recentemente o neto do Tom Jobim, Daniel Jobim, disse ter gostado muito da canção e observou que o coral que canta a melodia lembrava o grupo vocal que o Tom Jobim tinha na banda quando tocava ao vivo. Não foi algo intencional, mas de certa forma reflete a influência que recebi. Tom Jobim e Chico Buarque sempre foram referências importantes, além das que citei antes, do rock.
Resenhando.com - Como está a produção de seu novo trabalho? Yohan Kisser - Finalizamos duas faixas que já foram lançadas como singles: “Membro Fantasma” e "The Rivals are Fed and Rested", sendo que esta última será a faixa título do disco. As demais devem estar concluídas até o final de agosto. O álbum é uma mistura de inglês e português, e a ideia por trás do título é uma reflexão sobre a vida, a competição e a harmonia na natureza e na sociedade. Há influências que vão desde Frank Zappa até Beatles e Queen, buscando capturar a diversidade e a surpresa que encontramos na música.
Resenhando.com - E como está preparando os shows para divulgar? Yohan Kisser - Com certeza estaremos na estrada para mostrar esse trabalho, assim que o disco for concluído. Estamos ansiosos para subir no palco e tocar essas canções. E espero conseguir levar o show aí, para Santos, que guardo com carinho na memória. Minha família frequentava bastante a Cidade. Andei bastante pelo Canal 1 (Avenida Pinheiro Machado), próximo da praia. É uma cidade muito acolhedora.