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sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

.: Legião Urbana: há 40 anos, a estreia em disco


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Há 40 anos era lançado o primeiro disco da banda Legião Urbana. Um trabalho que foi fortemente influenciado pelos movimentos do punk e do rock britânico dos anos 70 e 80, que contava com canções com temática crítica contra a sociedade da época e mensagens poéticas direcionadas principalmente ao público jovem.

O grupo originário de Brasília inicialmente era formado pelo trio Renato Russo (vocal), Dado Villa-Lobos (guitarra) e Marcelo Bonfá (bateria). Para a gravação do álbum, foi chamado Renato Rocha, o Negrete, que ficou com o baixo e acabou complementando a formação inicial da banda que duraria até o terceiro disco.

Vale destacar que o álbum acabou sendo lançado quase na mesma época da primeira edição do Rock In Rio, que abriu portas para várias bandas nacionais, incluindo Os Paralamas do Sucesso, que também vieram de Brasília.

Já no primeiro disco, ficou claro que a produção das canções estava concentrada em Renato Russo. O primeiro hit foi "Será", a faixa que abre o disco. E o fato curioso foi que, no início, parte do público acreditava ser a voz do cantor Jerry Adriani, que realmente tinha um timbre de voz bem parecido com o de Renato Russo.

Além desse single, faixas como "Ainda É Cedo", "Soldados" e "Geração Coca-Cola" também foram bem executadas pelas rádios, mostrando o potencial radiofônico da Legião. Até mesmo a balada "Por Enquanto", que encerra o disco, teve seu espaço nas rádios. Esta última inclusive seria regravada com destaque no disco de estreia de Cássia Eller.

Renato Russo gostava de colocar citações de outras bandas em suas letras. Em "Será", por exemplo, os primeiros versos (“Tire suas mãos de mim/Eu não pertenço a você...) são idênticos aos do refrão de “Say Hello Wave Goodbye” da banda Soft Cell (“Take your hands out of me / I don’t belong to you, you see”).

A sonoridade do grupo nesse primeiro disco passa um sentimento de urgência, não só pelas criticas feitas a sociedade, mas em especial nos arranjos com guitarras e uma batida sempre forte na percussão. Funcionaria como uma espécie de cartão de visitas da banda para as rádios, que se repetiria no ano seguinte com mais força no segundo álbum.

O grupo se manteve como quarteto até o terceiro álbum ("Que País É Este"). A partir do quarto disco ("As Quatro Estações") passou a contar somente com o trio, sem Renato Rocha. E essa formação durou até 1996, quando ocorre o falecimento de Renato Russo, fato que motivou os músicos remanescentes a encerrar as atividades da banda.

"Será"

"Ainda É Cedo"

"Por Enquanto"

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

.: Crítica musical: Tom Jobim, o lado crooner do maestro soberano


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Está disponível nas plataformas de streaming o álbum "Minha Alma Canta", que só havia sido editado no formato físico, há 15 anos. Trata-se de uma coletânea de canções gravadas por Tom Jobim para a série de Songbooks criada e produzida por Almir Chediak.

A ideia de organizar a compilação, produzida pelo próprio Chediak, foi de Ana Jobim, para reunir em um só álbum versões de Tom para clássicos de outros compositores. Além de cinco parcerias de Jobim com Vinicius de Moraes, Minha alma canta traz as favoritas do Maestro dos cancioneiros de Noel Rosa (“Três apitos” e “João Ninguém”), Dorival Caymmi (“Milagre” e “O Bem do Mar”), Ary Barroso (“Na Batucada da Vida” e “Pra Machucar Meu Coração”), Chico Buarque e Edu Lobo ("Choro Bandido” e "Valsa Brasileira”), Carlos Lyra e Vinícius de Moraes ("Samba do Carioca").

Em algumas das faixas, originalmente lançadas nos Songbooks de seus respectivos compositores, Tom Jobim recebe convidados como Edu Lobo, Chico Buarque, Gal Costa, Leila Pinheiro, Ana Jobim, Paula e Jaques Morelenbaum. Claro que cantar nunca foi o ponto forte do maestro soberano. Mesmo assim, ouvi-lo cantando canções que marcaram várias fases de nossa MPB acaba sendo um registro de rara beleza. Repare o arranjo de Três Apitos, clássico de Noel Rosa, que ganhou uma deliciosa roupagem jazzística bem ao estilo Jobiniano. Vale a pena conferir.

"Três Apitos"

"Janelas Abertas"

"Na Batucada da Vida"




sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

.: Rita Lee eterna: disco ao vivo resgata apresentação na Argentina em 2002


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Lançado de forma póstuma, o álbum "Rita e Roberto - Uma Noite no Luna Park" resgata uma apresentação antológica de Rita Lee na Argentina, no ano de 2002. Mais do que um registro histórico, a gravação mostra a eterna rainha do rock nacional ainda em forma, cantando versões de músicas dos Beatles e de seus próprios hits. A banda contava com Roberto de Carvalho na guitarra e direção musical, além de outros músicos experientes, como Ary Dias (percussão), Dadi Carvalho (baixo), Marco da Costa (bateria) e Rafael Castilhol (teclados).

O repertório mesclava as canções dos Beatles que Rita havia gravado no álbum "Aqui, Ali em Qualquer Lugar", com outras bem conhecidas de seu próprio repertório, como "Baila Comigo", "Doce Vampiro" e "Ovelha Negra", entre outras. Há uma versão de "Alô, Alô, Marciano", canção gravada originalmente por Elis Regina. E ela resgata também "Panis Et Circensis", da época dos Mutantes. Há ainda a participação marcante do músico argentino Charly Garcia, que canta com Rita duas canções dos Beatles – "Love me Do" e "Help".

Ouvir Rita Lee cantando Beatles é como se ela mostrasse para todos a matéria-prima, o diamante bruto que ajudou a despertar a sua genialidade musical. Mas é ao ouvir ela cantando as suas próprias pérolas musicais, boa parte delas composta com o marido e parceiro Roberto de Carvalho, que bate aquele sentimento de saudade daquela voz anárquica e polêmica da nossa eterna "Ovelha Negra", que infelizmente não mais está entre nós.

"Doce Vampiro"

"Lança Perfume"

"Love Me Do e Help"

sábado, 21 de dezembro de 2024

.: Crítica musical: Juliane Gamboa, quando o jazz encontra a MPB


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: Isabela Espindola.

Já está nas plataformas de streaming o álbum  "Jazzwoman"  (Biscoito Fino), que marca a estreia da cantora e compositora Juliane Gamboa. Fortemente influenciada por grandes intérpretes e compositores do samba, da MPB e do jazz, Juliane mistura e atualiza referências, reverberando um pouco de tudo que lhe interessa com um toque jazzístico irresistível.

Em 2022, a cantora e compositora integrou a residência artística MARES, no Oi Futuro. Em 2023, estreou o projeto "Jazzwoman": no ano seguinte, em 2024, foi selecionada para o programa internacional OneBeat (EUA). Seu trabalho vem ganhando o reconhecimento de artistas como Chico César, Angela Ro Ro e Teresa Cristina, além da cantora de blues norte-americana JJ Thames, e segue reverberando nas redes sociais.

Juliane já participou do projeto "Um Café Lá em Casa", do músico Nelson Faria, e foi selecionada para participar da residência "Stop Over 3", em Berlim, em janeiro de 2025, ao lado de grandes artistas da cena do jazz internacional, como Natalie Greffel, Tonina Saputo, Tara Sarter e Kayla Briët.

Por ser filha de pai percussionista, o samba e o pagode foram a trilha sonora da sua primeira infância. Com o passar dos anos, novas informações musicais foram chegando do universo pop e, mais tarde, do jazz. O resultado dessa mescla de influências pode ser conferido nesse álbum Jazzwoman

A narrativa musical reflete sobre a ancestralidade em “Banzo” (Marcos Valle e Odilon Olynto),  com citação de “All Africa”, e “Herança”, de Rômulo Fróes e Alice Coutinho; esbarra na melancolia de “20 anos blues”, clássico de Vitor Martins e Sueli Costa; reafirma a sensualidade em “Eu sou mulher” (Filó Machado e Judith de Souza) e “Paracaê” (Thati Dias); inspira liberdade em “Vozes-mulheres” (Conceição Evaristo) e “Transeunte”, e louva o poder da imaginação radical das mulheres negras em “Sonho Juvenil” (Almir Sant’anna e Guará) e “Solitude (Reimaginada)”(Duke Ellington, Eddie Delange, Irving Mills), homenageando Jovelina Pérola Negra e Billie Holliday,  duas fortes referências para Juliane Gamboa. "Jazzwoman" é um disco para ser ouvido com atenção, pois Juliane Gamboa demonstra um talento raro de interpretação, que expande os horizontes da nossa MPB. 

 "20 Anos Blue"

"Sonho Juvenil"

"Herança"


sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

.: Entrevista com Flavia Couri, da banda The Courettes: um rock pop retrô


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: divulgação.

Um som com uma certa roupagem retrô ambientada nos anos 50 e 60, mas que soa ao mesmo tempo contemporâneo no pop atual. Essa é a primeira impressão para quem ouve o som do duo The Courettes, formado por Flavia Couri (guitarras, teclados e vocal) e Martin Couri (bateria e percussão). A dupla mostra influência dos grupos produzidos pelo mítico Phil Spector, o criador do chamado Wall Of Sound, efeito no estúdio que criava uma espécie de muro sonoro preenchendo todos os espaços da gravação. 

Flavia é brasileira e integrou a banda Autoramas antes de se mudar para a Dinamarca e se casar com Martin em sua terra natal (sim, ele é dinamarquês). E a formação do duo acabou acontecendo de uma forma natural, pois ambos tinham o mesmo gosto musical e muita disposição para produzir um som que se identificava com os dois. O resultado disso são os mais de 100 shows por ano pela Europa, Estados Unidos e Japão, cativando um público cada vez maior em várias partes do mundo. Em entrevista para o Resenhando, Flavia conta um pouco sobre a trajetória do duo e como eles encaram o momento atual para o rock. “A cena alternativa é muito grande pelo mundo”.


Resenhando.com - Como foi o inicio de vocês na música?
Flavia Couri - A música sempre me tocou de uma forma muito forte, desde os meus sete anos. Meu primeiro instrumento foi um xilofone de brinquedo, eu tocava o dia inteiro. Eu chorava muitas vezes nas aulas de música na escola, algumas canções me emocionavam tanto, eu nem sabia explicar. Nessa época eu assisti aquelas reprises do show da Tina Turner no Rio na televisão e eu fiquei obcecada com a Tina, penteava o meu cabelo ao contrário para dar volume e ir pra escola parecendo ela. A minha mãe era muito fã da Rita Lee, ela escutava muito lá em casa, e a Rita foi uma das minhas primeiras heroínas roqueiras e role model. Eu comecei a comprar fitas cassete sozinha com uns nove anos e me apaixonei pelos Beatles aos 11. Eu comecei a tocar violão também aos 11 anos, com aquelas revistinhas. Eu achei um violão no armário, meu pai tinha dado de presente à minha mãe, mas ela nunca aprendeu. Logo depois comecei a tocar baixo também, comprei um baixo Finch cópia de Rickenbacker de um primo de uma amiga do colégio, com o dinheiro do lanche que minha mãe me dava e que eu fui juntando por meses. Quando eu cheguei em casa com o baixo (surpresa!), minha mãe achou tão legal a minha dedicação que deu-me um amplificador. Eu nasci nos anos 80, uma época fantástica pro rock no Brasil, explodindo nas rádios FM, a Rádio Fluminense… A MTV chegou ao Brasil quando eu tinha 9 anos, e eu amava tudo e assistia por horas a fio, principalmente o programa Lado B que me apresentou a bandas como The Cramps e Ramones. Eu lembro da primeira vez que eu ouvi “Smells Like Teen Spirit” e pirei, ainda pre-teen. Eu fui no show do Nirvana aos 12 anos no Hollywood Rock e os Ramones aos 13, no Circo Voador. O grunge e depois o movimento riot grrrl e as guitar bands influenciaram muito minha formação, ao mesmo tempo que o meu amor pela música dos anos 60 ia crescendo enquanto eu ouvia e pesquisava muito bandas como o Velvet Underground, Byrds, Troggs, Sonics e Seeds. Comecei a tocar baixo em muitas bandas a partir dos 15 anos, e o The Courettes é a segunda banda onde eu toco guitarra. Apesar de ter começado autodidata, eu estudei música também, anos depois, e fiz um mestrado em baixo na Dinamarca e uma pós em composição. 


Resenhando.com - Como funciona o processo criativo musical do The Courettes? 
Flavia Couri
 - Nos nossos primeiros discos, eu compus todas as músicas sozinha, mas o Martin sempre teve um papel importante dizendo quais idéias eram boas e mereciam ser trabalhadas e quais eu deveria jogar fora. A partir do nosso segundo disco, “We Are The Courettes”, começamos uma parceria com o Søren Christensen, da banda dinamarquesa The Blue Van (que é maravilhosa, por sinal). Ele é um músico incrível e escreveu umas duas músicas conosco nesse disco, no disco seguinte, “Back in Mono”, 12 das 14 músicas. Ele é nosso produtor e parceiro de composição nos álbuns “Back in mono”, “Back in Mono B-Sides & Outtakes” e “The Soul Of… The Fabulous Courettes”.


Resenhando.com - A melodia vem primeiro ou a letra surge antes?
Flavia Couri
 - Sobre o que vem antes, melodia ou letra, não há regra, na verdade. Às vezes a parte musical fica pronta antes, inteira, com acordes e melodia, às vezes até o arranjo, e a gente luta pra escrever uma letra… Outras vezes tenho o conceito da letra, dois ou três versos prontos e a música só vem depois.


Resenhando.com - Como vocês têm avaliado o mercado fonográfico na Europa? As plataformas de streaming realmente estão em evidência ou ainda há mercado para o disco físico?
Flavia Couri
 - Ainda há um mercado bem grande para vinil, e só tem crescido nos últimos anos. Acho que depende muito do tipo de música que o artista faz. Na música pop e no público adolescente creio que o streaming domina quase totalmente. 


Resenhando.com - As plataformas de streaming realmente estão em evidência ou ainda há mercado para o disco físico?
Flavia Couri - No nosso nicho (rock / indie rock / garage rock / Wall of Sound) o público adora vinil, coleciona e compra muito. E compram CDs também, principalmente na Alemanha e no Reino Unido. O The Courettes vende muitos discos, somos a segunda banda que mais vende discos na nossa gravadora, a britânica Damaged Goods Records, com quem assinamos em 2020. Só ficamos atrás do lendário Billy Childish. Com ele não dá pra concorrer!


Resenhando.com - Nos shows ao vivo se apresentam somente os dois integrantes ou vocês contam com mais músicos de apoio?
Flavia Couri
 - Estamos há dez anos tocando ao vivo só nós dois no palco, e foi um longo processo para desenvolver um show eficiente em duo, não só musicalmente mas também o lado da performance, para envolver e entreter o público. Muitos duos tendem a cair na monotonia se o set é longo, então finalmente podemos dizer que criamos um show só com duas pessoas que enche um palco de festival não só a nível sonoro, mas de performance também, e não foi fácil, deu muito trabalho e custou muitos shows para amadurecer, estamos quase chegando na marca de mil shows como The Courettes. Alguns dos truques incluem usar um oitavador e separar o som da guitarra em dois canais ou em dois amplificadores. Temos muito orgulho do show que conseguimos criar através dos anos, só como duo. Dito isso, em 2024 começamos a experimentar com outras formações, para expandir o universo sonoro. Usamos um baixista em alguns shows, e, a partir do lançamento do álbum novo “The Soul Of… The Fabulous Courettes” em setembro, estamos usando backing tracks. Tudo isso agora é uma opção, não uma necessidade. No futuro, estamos abertos a experimentar mais, com backing tracks ou outros músicos, porque a gente sente que não precisa provar nada pra ninguém, a gente se vira como duo, como trio, ou como a gente quiser.

Resenhando.com - O cenário indie rock atual tem aberto espaço para muitas bandas alternativas. Vocês tem conseguido encontrar seu espaço ou ainda há dificuldades?
Flavia Couri
 - O The Courettes encontrou seu espaço e faz cerca de 125 - 150 shows por ano, tocamos por toda a Europa, Reino Unido, Estados Unidos e Japão. A cena alternativa é muito grande pelo mundo, ela sobreviveu a pandemia e ainda há muitos clubes de tamanho médio e um público interessado. Isso é o mais importante, ter um público interessado. Enquanto houver gente interessada em ir a shows, que paga bilhete e compra merchandising, as casas de shows e os festivais vão continuar existindo, vai ter uma cena alternativa paralela ao Live Nation e afins.


Resenhando.com - Vocês citam o lendário produtor Phil Spector como referência. Como o trabalho dele ajudou a nortear a sua proposta de conceito musical?
Flavia Couri
 - O Martin e eu somos muito fãs dos girl groups dos anos 60, até no nome da banda a influência é óbvia. Quando nos conhecemos há 11 anos atrás, no Brasil, e começamos a conversar sobre música, o Martin me disse que ficou ainda mais apaixonado por mim quando eu disse que eu tinha o box set “Back To Mono”, com a obra do Phil Spector. Então a obra de Phil Spector sempre esteve presente. Musicalmente, a influência de Spector no nosso trabalho de estúdio ficou mais nítida no nosso terceiro álbum, “Back in Mono”, onde a proposta foi emular as técnicas de gravação e produção spectorianas para criar o nosso próprio Wall of Sound, o The Courettes´ Wall of Sound. A gente foi bem fundo nessa proposta, construímos nosso próprio estúdio, uma câmara de eco, e gravamos muitos overdubs no álbum. Algumas faixas têm 17 tracks só de guitarras, mais baixo, piano, órgão, violão de 12 cordas, guitarra de 12 cordas, tímpanos, castanholas… Foi uma evolução musical enorme pra gente. Na gravação do primeiro disco, nós queríamos evitar overdubs e gravar o mais orgânico e cru possível, para que não ficasse diferente ao vivo. A partir do segundo álbum, “We Are The Courettes”, eu comecei a gravar também órgão e piano, além de côros e harmonias vocais, mas sempre tendo em vista a versão ao vivo, como as músicas soariam sem os overdubs. Foi com “Back in Mono” que nos permitimos experimentar no estúdio, sem limites e sem preocupações. Decidimos não frear nossa criatividade limitando os arranjos ao que poderíamos tocar ao vivo como duo. Eu tive uma revelação: uma música boa é uma música boa, independente de ser tocada por uma orquestra de 20 músicos ou só no piano ou no violão. Então desde “Back in Mono”, e graças ao Phil Spector, que dividimos o trabalho de estúdio e o ao vivo como duas coisas diferentes, que a gente ama igual. Nosso foco agora é a composição, é escrever músicas cada vez melhores. E depois vemos como essas músicas vão funcionar ao vivo. Às vezes sentimos que é um pouco como se os Beatles tocassem os arranjos de “Sgt. Pepper´ s” ao vivo no Cavern Club, com aquela energia cru e só com os quatro músicos. (Sem querer nos comparam com os Beatles, é claro). E vale repetir que nossa admiração pelo Phil Spector é limitada ao seu trabalho como compositor e produtor, separamos bem o artista da sua vida pessoal. 


Resenhando.com - Como está sendo feita a divulgação do mais recente trabalho de vocês?
Flavia Couri
 - O disco recebeu resenhas incríveis no Reino Unido e na Europa, nas principais revistas de música como Rolling Stone (França), Vive Le Rock, Record Collector, Louder Than War, Shindig!, Vintage Rock e Clash (Reino Unido), Ox (Alemanha)… teve até um artigo no britânico The Guardian. Nós fizemos uma Live Session na lendária Rádio BBC, e também na Radio 3, a maior rádio espanhola. “The Soul Of…” entrou em muitas listas de melhor álbum de 2024, incluindo o site da Rough Trade, Shindig! e Louder than War. A turnê de divulgação começou em setembro, passou pelo Reino Unido, Dinamarca, Espanha e França, non stop, foi uma loucura total, 33 shows em um més e meio! Só agora estamos curtindo umas férias merecidas depois de 124 shows em 2024. Em 2025 vamos voltar à estrada e tocar em muitos festivais pela Europa, EUA e Reino Unido, como o Rebellion (UK), SXSW e Evolution (USA), Kilkenny Roots Festival (Irlanda), Zwarte Cross (Holanda), Folk & Fæstival (Dinamarca), além de shows na Alemanha, Suécia, Finlândia e França. Espero que a turnê passe também no Brasil, estou com muita vontade e saudade de tocar por aí! 

The Courettes - "Want You! Like a Cigarette"

The Courettes - "California"

The Courettes - "Shake!"

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

.: Yohan Kisser deixa a Sioux 66 para seguir na carreira solo


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: divulgação.

Seis anos depois de ingressar na Sioux 66, o músico Yohan Kisser anunciou recentemente sua saída do grupo, para se dedicar integralmente a sua carreira solo e outros projetos. Ele segue na divulgação do seu primeiro álbum solo, o elogiado "The Rivals Are Fed and Rested", em que desenvolve uma sonoridade multi-facetada, com influências até da chamada vanguarda paulista, entre outras vertentes musicais.

Por intermédio de sua rede social, Yohan Kisser agradeceu pelos momentos com os membros e amigos do grupo e desejou sucesso a todos. O Sioux 66 segue na finalização do seu quarto álbum, que teve o primeiro single divulgado recentemente, a canção Drive. O projeto, assim como o novo single, terá músicas em inglês, reforçando a proposta de expandir suas fronteiras musicais, explorando novos horizontes.

domingo, 8 de dezembro de 2024

.: Crítica: Bacelar e Morelembaum celebram parceria no CD "Aracati"


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: divulgação.

Chegou nas plataformas “Aracati”, álbum que reúne o músico, compositor e arranjador Jaques Morelenbaum e o multi-instrumentista, compositor e produtor Ricardo Bacelar. O trabalho na linha instrumental oferece momentos agradáveis para o ouvinte, com resultado acima da média na produção.

Jaques e Ricardo se conheceram em 2022, na gravação do álbum “Andar com Gil”, do qual o músico carioca participou na faixa “Prece”, ao lado de Gilberto Gil. Em novembro do ano passado, gravaram juntos “O meio do mundo”, tema de Bacelar lançado como single. Recentemente, Jaques participou como convidado do álbum “Donato”, de Leila Pinheiro e Ricardo Bacelar.

Arranjador de artistas como Tom Jobim, Caetano Veloso, Marisa Monte, Ryuichi Sakamoto e Sting, entre tantos outros, Jaques Morelenbaum é uma referência internacional em seu instrumento. Ricardo, por sua vez, além de multi instrumentista, cantor e arranjador, vem produzindo, à frente do selo Jasmin Music e do Jasmin Studio, um catálogo com singles e álbuns de artistas como Flávio Ventunini, Leila Pinheiro, Toninho Horta, Roberto Menescal, Fagner, Flora Purim e Airto Moreira, Delia Fischer e Gilberto Gil, Ednardo e Amelinha, privilegiando a boa música brasileira

Além das três parcerias que fizeram juntos em Aracati, o novo álbum traz músicas como “Quando a Noite Vem”, a única cantada do disco (Ricardo Bacelar/Giuliano Eriston); “Falésias” (Ricardo Bacelar /Luciano Raulino), além de temas que Ricardo Bacelar e Jaques Morelenbaum já haviam composto, sozinhos. Para quem curte música instrumental, Aracati é uma ótima pedida. Vale a pena conferir o resultado dessa parceria musical.

"Fogueira"

"Caminhos de Areia"

"Ar Livre"

.: Crítica musical: Boogarins, o rock psicodélico encontra a MPB




Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: divulgação.

Formada em 2013 por Benke Ferraz (guitarra e voz), Dinho Almeida (guitarra e voz), Raphael Vaz (baixo, moog e voz) e Ynaiã Benthroldo (bateria e voz), a banda de rock psicodélico Boogarins vem sendo apontada como um dos expoentes do estilo, mesclando elementos de MPB em sua sonoridade.

Cinco anos depois do último disco de inéditas, a banda goiana traz ao mundo seu quinto álbum, “Bacuri”. Concebido entre 2021 e 2024, o trabalho marca um retorno às raízes criativas por ser o primeiro gravado inteiramente em casa desde o primogênito “As Plantas que Curam” (2013). Ao mesmo tempo, é o mais “hi-fi” da discografia do grupo: com texturas, camadas e ideias mais nítidas, traz uma versão lapidada da interessante linguagem que a banda construiu em dez anos de caminhada.

Com produção assinada pela banda e pela engenheira de áudio Alejandra Luciani, o disco foi gravado na casa em que ela, Raphael Vaz e Dinho Almeida moram em São Paulo. Ao optarem por gravar o disco “em casa e com calma”, apresentaram canções e ideias individuais para serem lapidadas de forma coletiva. Dessa vez, os exercícios de experimentação se afastaram dos improvisos lisérgicos para dar lugar a uma estruturação de arranjos focada na energia dos quatro tocando juntos.

O resultado são dez faixas assinadas e compostas por todos os integrantes que unem a força das apresentações ao vivo à inventividade das texturas de pós-produção predominantes nos discos anteriores. Seu primeiro álbum, “As Plantas que Curam” (2013) sintetizou a onda neo-psicodélica e de gravações lo-fi que ganhou fãs por todo o mundo. Gravado de forma totalmente caseira, em 2012, e compartilhado pela própria banda na internet, 

“As Plantas que Curam” floresceu de forma espontânea, fazendo com que a música do grupo alcançasse lugares e pessoas inesperadas e o disco fosse descoberto (e lançado oficialmente) pelo selo nova-iorquino Other Music em outubro de 2013. Em 2014, com pouquíssimas apresentações em solo brasileiro, a banda já saía em uma turnê de mais de 100 shows pela Europa e Estados Unidos, tocando em festivais como SXSW, Primavera Sound e Les Ardentes. "Bacuri" é um daqueles discos que merece ser descoberto pelo grande público.

"Corpo Asa"

"Crescer"

"Chuva dos Olhos"


sábado, 30 de novembro de 2024

.: Crítica musical: Casuarina faz samba de qualidade no álbum "Retrato"


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: divulgação.

O grupo Casuarina está divulgando o álbum “Retrato”, que está disponível nas plataformas digitais. O trabalho resgata a boa e velha prática da pesquisa de repertório, redescobrindo sucessos esquecidos e pérolas pouco exploradas por seus intérpretes e autores originais.  Agora na formação de trio, o grupo carioca reuniu sambas que marcaram época e foram importantes para cada um  de seus integrantes.

O grupo nasceu em 2001, em meio ao processo de revitalização do bairro da Lapa, no Rio de Janeiro. Foi ali, nos bailes da vida, que o projeto Casuarina teve início, revirando o baú da música popular brasileira. O começo de carreira culminou na gravação do primeiro disco do grupo, “Casuarina” (2005), indicado ao Prêmio da Música Brasileira e ganhador do extinto Prêmio Rival, concedido pela tradicional casa de shows carioca.

Décimo primeiro na discografia do grupo, “Retrato” conta a participação de três convidados: Marina Iris, Péricles e Zeca Pagodinho.  A cantora carioca e o mestre Zeca gravaram dois sambas garimpados pelo trio: “Cataclisma” e “Velhos Tempos”, respectivamente.

 Ícone do samba de São Paulo, Péricles imprimiu o vozeirão e a elegância característicos na versão de “Coração Feliz”, do repertório de Beth Carvalho. “Malandro Sou Eu”, outro clássico gravado pela madrinha do samba, entrou na lista de Rafael Freire e permaneceu no álbum: “Essa música me remete ao final da década de 1990, quando o pagode invadiu a Zona Sul. Passei a frequentar as rodas de samba da região ainda moleque, com 16 anos, ao lado de amigos de colégio que viriam a ser colegas de ofício. Sempre tive vontade de gravá-la”.

 Outro achado de “Retrato” é “Amarguras”, parceria de Zeca Pagodinho e Cláudio Camunguelo, originalmente gravada pelo Fundo de Quintal. “Cem Anos de Liberdade”, clássico samba-enredo da Mangueira, ganhou arranjo delicado, que foge da estética habitual do estilo. Bebendo na fonte de Jovelina Pérola Negra, o Casuarina foi buscar o samba “Catatau”, de aguçada crítica social, além de extremamente atual. Produzido pelo grupo Casuarina, o disco foi gravado, mixado e masterizado por Lucas Ariel nos estúdios da Biscoito Fino. Vai agradar bastante quem curte o samba tradicional.

"Coração Feliz"


"Cataclisma"

"Malandro Sou Eu"

.: Crítica musical: Sioux 66 com o DNA do rock nas veias


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: divulgação.

Todos ainda se lembram da icônica participação da banda mineira de Heavy Metal no final do show dos Titãs no Hollywood Rock de 1994, cantando uma versão punk de “Polícia”. Mas quem poderia imaginar que dois filhos de integrantes dessas bandas uniriam forças em um outro grupo de rock paulistano? Pois foi o que aconteceu no caso do Sioux 66, que acaba de divulgar o primeiro single de um álbum que está sendo preparado para ser lançado em 2025.

Os integrantes da Sioux 66 são: Igor Godoi (vocal), Bento Mello (baixo), Yohan Kisser (guitarra) e Gabriel Haddad (bateria). Bento é filho de Branco Mello, membro original dos Titãs, enquanto que Yohan é filho de Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura. Formada em 2011, a Sioux 66 vem conquistando seu espaço nos grandes palcos, incluindo uma performance no Rock in Rio 2022 e já lançou três álbuns de estúdio. Yohan ingressou na banda a partir de 2018, substituindo Mikka Jaxx, que se mudou para os Estados Unidos. Em 2021 eles gravaram uma elogiada versão de O Calibre, dos Paralamas do Sucesso, que acabou entrando na trilha sonora da novela Um Lugar Ao Sol, da TV Globo.

“Drive” é uma parceria com a distribuidora AWAL, do grupo Sony Music. A arte da capa do single é assinada por Gabriel Pow, trazendo uma estética que reflete a intensidade e energia características do som da banda, que de uma certa forma, demonstra uma relação direta com o som das bandas Sepultura e Titãs. No que se refere as mensagens diretas e no som pesado, eles mostram que têm o DNA do rock.

Este lançamento é o primeiro reflexo do que está por vir em seu quarto álbum de estúdio, que contará com composições em inglês e tem previsão de lançamento para janeiro de 2025. Vamos aguardar os próximos passos da Sioux 66.

"Nobody Knows You"

"O Calibre"


sexta-feira, 22 de novembro de 2024

.: Renato Teixeira e Fagner: quando os destinos se encontram


Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: divulgação.

Raimundo Fagner e Renato Teixeira retomam a parceria no álbum "Destinos", que também está disponível nas plataformas de streaming. Depois de "Naturezas", disco lançado em 2022, a dupla volta a apresentar novas canções e releituras, desta vez, com participações especiais. E o resultado ficou acima da média.

A atriz Isabel Teixeira (filha de Renato Teixeira) interpreta "Magia e Precisão", enquanto Zeca Baleiro empresta sua voz para o tema "O Prazer de Lembrar de Mim". Também participam do disco a cantora Roberta Campos (em "Quando for Amor"), Chico Teixeira, filho de Renato ("Travesseiro e Cafuné"), Evandro Mesquita ("Blues 73") e Roberta Spindel (em "Arde Mas Cura").

Destaques para "Dominguinhos" (um belo tema em homenagem ao saudoso mestre sanfoneiro) e para a canção que abre o disco, "Romaria", clássico de Renato na voz de Fagner. Assinalaria ainda a já citada "Quando For Amor", uma balada no estilo folk, com Fagner e Renato Teixeira unindo forças com a voz doce de Roberta Campos.

A produção musical e os arranjos são assinados por Maurício Novaes. A capa e a arte do disco são de Bento Andreato. Ao final da audição, o ouvinte fica na torcida para a dupla voltar a se reunir para lançar mais um disco.

"Quando For Amor"

"Amor Amar"

"Magia e Precisão"


quarta-feira, 20 de novembro de 2024

.: Crítica musical: Leo Russo, a gente merece escutar


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: divulgação.

O cantor e compositor Leo Russo está comemorando 15 anos de carreira em um momento mais do que especial: álbum novo, show novo e a espera do primeiro filho com a esposa Isabella. Chega nas plataformas digitais o álbum “A Gente Merece”, título de uma das faixas. A direção musical ficou a cargo de Alessandro Cardozo, que também assina a direção do show de lançamento no Teatro Rival Petrobras, no dia 3 de dezembro.

Afilhado da saudosa cantora Beth Carvalho e do produtor musical Rildo Hora, Leo Russo começou a frequentar as rodas de samba cariocas aos 11 anos, quando ganhou seu primeiro cavaquinho. Foi então que teve os primeiros contatos com alguns de seus ídolos, Ídolos que, mais tarde, seriam seus parceiros, como Xande de Pilares, Monarco e Moacyr Luz, com quem compôs “Isabella”, faixa do novo álbum.

Do novo álbum, já estão disponíveis no streaming “Isabella” e “João do Méier”, em que Leo Russo homenageia um de seus ídolos de infância: João Nogueira. Esta é uma música só de Leo Russo, mas no álbum há várias feitas com outros parceiros além de Moacyr Luz e Léo Peres, como Fagner, Xande de Pilares, Monarco e Rildo Hora, que também fez alguns arranjos, assim como Alessandro Cardozo e Paulão 7 Cordas.

O fato de ter contato com figuras ilustres do samba deve ter influenciado positivamente na sua formação musical. O disco tem composições bem inspiradas na linha do samba tradicional carioca. E Leo Russo é um ótimo intérprete, com aquela malemolência necessária para todo sambista. A gente merece ouvir esse disco.

"Isabela"

"João do Meier"

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

.: Crítica musical: Laura Finocchiaro, a rainha do underground, está de volta


Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: divulgação.

A cantora, compositora, multi-instrumentista, arranjadora e produtora Laura Finocchiaro está divulgando seu novo single, “Nossa Parceria”, que chega às plataformas digitais por uma dobradinha do selo Sorte Produções com a distribuidora GRV. A canção nasceu da letra de Jarbas Mariz, enviada para Laura num bilhetinho durante a pandemia da Covid-19, em 2021. O manuscrito só foi resgatado no final do ano passado e, com a colaboração de Jarbas e Daniel Maia, a artista criou a faixa em seu home studio, misturando influências do Sul e do Nordeste do Brasil em uma sonoridade que remete à World Music.

“Eu acredito em parcerias, em sintonia, em trabalho coletivo, em afeto compartilhado. Essa canção tem a ver com esse sentimento pessoal, mas ao mesmo tempo universal. Por isso, essa mistura meio louca de oriente com pegada de reggae”, explica Laura, artista pioneira na combinação da música brasileira com a música eletrônica.

Laura iniciou sua trajetória em Porto Alegre durante os movimentos musicais dos anos 80. Em São Paulo, passou por palcos icônicos como Lira Paulistana e Madame Satã e no programa Fabrica do Som da TV Cultura. Ganhou destaque nacional no Rock in Rio II, abrindo shows de Prince e Santana, quando recebeu o apelido de Rainha do Underground. Atualmente é diretora da Sorte Produções, um selo musical e produtora de áudio.

Se por um lado o momento atual oferece mais perspectivas para quem está iniciando na música, por outro, Laura Finocchiaro acredita que falta mais consistência no que está sendo produzido nos dias atuais. “Sempre tem gente mostrando um trabalho interessante e que merece ser conferido pelo público”.

Esse single marca o início de uma nova fase na sua trajetória artística e serve como uma prévia do relançamento de seu álbum “Ecoglitter” de 1998, que estará disponível digitalmente, pela primeira vez, logo após o lançamento de “Nossa Parceria”.  Agora, com o avanço das plataformas digitais, uma nova geração de ouvintes poderá descobrir esse trabalho que marcou o início de sua fase mais experimental. Laura já produziu trilhas sonoras para filmes, documentários e programas de grande audiência, incluindo “TV Colosso”, “Casa dos Artistas” e “A Fazenda”, consolidando sua importância na música e na produção cultural brasileira. “Todas essas experiências foram importantes para mim”.

"Nossa Parceria"

"Tudo É Amor"



"Vírus"

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

.: Crítica musical: Luana Bayô mostra a força de sua arte com CD "Abebé"


Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: José de Hollanda

A cantora e compositora paulistana Luana Bayô está lançando seu mais recente disco, "Abebé", nas plataformas de música. O álbum foi gravado ao vivo com arranjos e direção musical de Liw Ferreira, durante show da artista no Festival Malungo, realizado pela Gravadora Pôr do Som.

 A banda que acompanha Luana Bayô é formada por músicos que também tocam no disco - Liw Ferreira (baixo e bandolim), Helô Ferreira (violão), Nichollas Maia (piano), Matheus Marinho (bateria), Lucas Alakofá e Simone Gonçalves (percussões), à exceção de Valber Oliveira (trombone). O show tem direção cênica e de palco de Rubens Oliveira.

Com nove faixas, o álbum traduz a força e beleza da artista, e conduz o ouvinte a uma conexão com a África e toda sua influência na música popular brasileira, refletindo a ancestralidade e a espiritualidade das culturas negras. Inspirada nas simbologias de Oxum e Yemanjá, Luana dedica sua obra à força do feminino, das Águas e das Yabás, mulheres de liderança no panteão da cultura afro-brasileira.

Luana Bayô cita Clementina de Jesus como uma referência importante em sua formação musical, além da cantora Alcione. “Tive muitas influências, mas essas duas estão em um lugar muito especial. Clementina foi uma das primeiras cantoras a tratar da ancestralidade. E Alcione dispensa comentários. É uma intérprete acima da média, em todo os aspectos”.

Segundo a cantora, “Abebé" (espelho de oxum) mergulha no feminino com músicas que falam das diversas águas que nos habitam e das várias facetas de ser mulher, sobretudo, de ser uma mulher negra. “São canções que me revelam, que trouxeram olhares para minhas diversas nuances como mulher, passando pela minha ancestralidade, naturalmente”.

 O disco abre com duas canções de domínio público (Cantos para Exu e Bombogira e O Sobrado de Mamãe é debaixo d´água). E depois segue na MPB e suas mais variadas vertentes, passando principalmente pelo samba, ritmo com o qual Luana tem uma forte ligação. Dona de uma voz grave e potente, ela também demonstra um timbre aveludado e singular, que passeia com desenvoltura ao interpretar as canções escolhidas para o disco. "Abebé" é um disco que merece ser descoberto pelo público. O show de lançamento acontece na Comedoria do Sesc Pompeia, na Capital Paulista no dia 21 de novembro, quinta-feira, às 21h30 .

"Vento Norte"

"Porto dos Desejos"

"Água Quando Cai do Céu"


sexta-feira, 1 de novembro de 2024

.: Crítica musical: "Amorosa" mostra Paula Toller ao vivo e sem surpresas


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

A cantora e compositora Paula Toller lançou o CD "Amorosa Ao Vivo" comemorando seus 40 anos de carreira. Um trabalho que registra um dos shows da turnê revisitando antigos hits com algumas novidades nos arranjos daquele pop radiofônico inspirado no movimento new wave dos anos 80. Não faltaram os hits da época da sua antiga banda, Kid Abelha. Pouco se nota do material que ela lançou em carreira solo, que acabou sendo eclipsado pelos velhos hits. E cá entre nós, era isso que o público queria ouvir mesmo no show.

O repertório incluiu um tributo à Rita Lee, com a interpretação de "Agora Só Falta Você". E uma releitura de Nada Por Mim em ritmo bossa nova com participação do veterano Roberto Menescal. Paula Toller divide o vocal de "Na Rua, na Chuva, na Fazenda" com Fernanda Abreu, e de "Nada Sei", com Luiza Sonza. Sozinha canta canções como "Lágrimas e Chuva", "Educação Sentimental II", "Como Eu Quero" e "Amanhã É 23", entre outros sucessos dos anos 80 e 90.

Um dos melhores momentos é a releitura de "Não Vou Ficar", do síndico Tim Maia, com um arranjo interessante (em ritmo de samba rock) e uma interpretação firme da cantora. O dueto com Fernanda Abreu também ficou ótimo. E é preciso destacar também a  competente banda de apoio da cantora, que conta com o experiente produtor musical Liminha no violão acústico e guitarra.

"Amorosa Ao Vivo" pode até parecer algo previsível, sem muitas surpresas para o ouvinte. Mas é fato que ainda tem momentos interessantes para quem deseja relembrar os divertidos anos 80, quando ouvíamos um pop comercial made in Brazil, feito sob medida para tocar nas rádios.

"Educação Sentimental"

"Não Vou Ficar"

"Agora Só Falta Você"

"Na Rua, na Chuva, na Fazenda"

sábado, 26 de outubro de 2024

.: Entrevista com a escritora Claudia Schroeder, a poesia que veio do Sul

Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Claudia Schroeder está com novo livro, “Gatos Falando Alemão”, o quarto de sua carreira. A autora gaúcha reuniu 51 poemas que falam do cotidiano, mas o erotismo continua presente, sempre de forma direta, sem rodeios, mostrando os tantos lados das questões humanas. Estão lá temas como a maternidade, a angústia, a felicidade. Os poemas são numerados e o título do livro vem de um dos textos, que conta a história de uma mãe manipulada pela filha. Com uma produção editorial constante e incentivada pelo amigo escritor Pedro Gonzaga - que assina a apresentação -, ela reuniu alguns textos e enviou para o edital da Isto Edições, que já conhecia o seu trabalho e decidiu lançar a obra tendo Claudia como autora convidada.  Além de Pedro, o livro conta também com um texto da escritora Martha Medeiros na quarta capa.

Claudia Schroeder nasceu em 1973, em Santo Ângelo, Rio Grande do Sul. Estrategista criativa, cria conversas e palestras sobre temas femininos abordados em sua literatura. Foi premiada com o 2º lugar no Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody com o poema “Jantar”, que acabou sendo publicado na coletânea portuguesa “A Poesia é para Comer” (editora Babel), ao lado de nomes como Hilda Hilst e Chico Buarque de Holanda. Além desse trabalho atual, ela teve outros três livros publicados: “Leia-me toda” (Dublinense, 2010) - que conquistou o terceiro lugar no Prêmio Biblioteca Nacional e, por ter a capa em braille, chegou a ser finalista do Prêmio Açorianos de Literatura -, “As partes nuas” (Francisco Alves, 2021) - finalista do Prêmio Ages e Academia Rio-Grandenses de Letras -; e “As línguas são para outras coisas” (Taverna, 2022).

Em entrevista para o Resenhando, ela conta sobre suas influências no início da carreira e comenta sobre o momento atual do mercado literário. “A rede social ampliou o acesso do público para obras de poesia”.


Resenhando.com – Como foi seu início na Literatura e quais foram suas principais influências?

Claudia Schroeder – Eu comecei muito cedo. Escrevi minha primeira poesia quando tinha nove anos. Nessa época acompanhava meu pai, que recebia os amigos para tocar música em casa. Tive acesso às obras de Cartola, Tom Jobim e outros nomes conhecidos da MPB, além das canções que meu pai e seus amigos compunham e cantavam. Desde então, no início, já adolescente, tive contato com a obra de Mário Quintana e me apaixonei pelo estilo dele. As escritoras Fernanda Young e Adélia Prado foram outras referências importantes para mim. Hoje em dia passei a ter contato com a obra de vários autores internacionais contemporâneos que admiro muito.


Resenhando.com – Nesse seu quarto livro, o erotismo é notado na sua obra. Como foi que você passou a incorporar esse tema nas poesias?

Claudia Schroeder – Na verdade vem desde o início, quando eu decidi ser escritora. Porque achava que o tema (erotismo) ainda era visto como um tabu pela sociedade. Hoje em dia ele já é visto de uma forma diferente. Acho que o fato de minha obra ser objetiva e direta ajudou o público a compreender melhor o tema, sem criar falsas expectativas.


Resenhando.com – Como você avalia o mercado literário na atualidade?

Claudia Schroeder – No campo da poesia ainda há muito o que avançar. Penso que a rede social, de uma certa forma, foi positiva para a poesia. Temos vários autores divulgando seus trabalhos por intermédio da rede social. Facilitou o acesso do público, porque na poesia o texto é mais curto do que o de uma obra de prosa, por exemplo. Mas acho que as redes de ensino poderiam incorporar o tema poesia de uma forma mais efetiva, porque há uma ampla gama de possibilidades que pode ser explorada pelos educadores. Enfim, acho que podemos avançar ainda mais.

livro, “Gatos falando alemão”, de Claudia Schroeder está disponível aqui: https://amzn.to/4fnvAC1

As línguas são para outras coisas


Poema do livro "As línguas são para outras coisas" por Ana Beatriz Nogueira



sábado, 19 de outubro de 2024

.: Eric Clapton entre acordes e solos que são mais do mesmo


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Em meio a sua recente turnê no Brasil, Eric Clapton divulgou seu novo trabalho: o álbum "Meanwhile", que além de canções autorais e releituras, conta com participações do veterano Van Morrison e uma gravação de "Moon River" com o falecido guitarrista Jeff Beck. Mas os fãs não devem esperar muitas novidades nesse trabalho, que repete fórmulas de outros álbuns. Ainda assim, tem qualidades para agradar o ouvinte.

Nos últimos anos Clapton tem se dedicado a lançar discos com aquela conhecida sonoridade mais tranquila, com solos comedidos e diversos tributos ao blues, que segue como o estilo fundamental da sua formação musical. O disco novo abre com a canção pop "Pompous Fool", passando depois por uma versão irretocável da clássica "Moon River", de Henry Mancini, com solo de Jeff Beck. De longe, destaco essa como a melhor faixa do disco.

A regravação de "Smile", de Charlie Chaplin, que ele havia registrado em um show ao vivo nos anos 70, foi outro acerto. Agora a canção ganha uma versão de estúdio que não foge muito do arranjo da primeira versão. Ainda na vibe saudosista, Clapton resgata a balada "Always On My Mind", do repertório de Elvis Presley. Essa releitura tem arranjo folk e vocal do cantor country Bradley Walker.

Outros bons momentos são notados nas três faixas cantadas em dueto com o irlandês Van Morrison, que têm arranjos baseados no blues rock. Já as demais faixas caem sempre naquela sonoridade mais tranquila, beirando o pop convencional em alguns momentos

Nunca é demais lembrar que Clapton está beirando os 80 anos. Por isso, só o fato de estar lançando novas canções nessa fase da carreira já merece elogios. Claro que o Mr. Slowhand continua tocando sua fender stratocaster com elegância, apesar dos excessos cometidos na juventude. Então, sempre será muito bem vindo um disco de estúdio dele com material novo. Ainda que seja mais do mesmo.

"Moon River"

"Smile"

"Stand and Deliver"

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

.: Entrevista: Tom Schuman entra em nova fase com disco solo


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

O músico Tom Schuman, que por mais de 40 anos integrou o grupo Spyro Gyra, está iniciando uma nova fase da carreira solo. Morando atualmente na Espanha, ele acaba de lançar o álbum "I Am Schuman" nas plataformas digitais e começa a divulgar esse novo trabalho autoral, no qual tem o controle total da produção e mixagem e segue a linha do chamado smooth jazz com influência direta do estilo fusion. Destaque para as faixas "Loose Change" e "Set It Off", onde ele demonstra sua habilidade como solista no teclado. Em entrevista para o Resenhando.com, Schuman explica o conceito utilizado para esse trabalho e revela seus planos para o futuro. “Este álbum representa minhas capacidades de produção”.


Resenhando.com - Como você define o conceito musical do seu novo CD," I Am Schumam"?
Tom Schuman - O conceito musical para "I Am Schuman" começou como uma série de faixas que criei usando improvisações improvisadas. Eu as executei no meu estúdio e/ou no meu piano em Las Vegas nos últimos 15 anos. Já lancei dois singles com esse conceito em mente. "The Candy Store is Open" e "Syntropy". Esses dois singles também estão sendo relançados neste álbum. Meu título inicial era "I'm Only Schuman". Mas quando Sandeep Chowta concordou em promovê-lo em seu selo Namma Music na Índia, ele o chamou de "I Am..." em vez de "Im Only...". Então, para mim, este álbum representa minhas capacidades de produção, bem como meu trabalho de teclado sozinho no estúdio. Com exceção de dois cortes, ("Comfortable Silences" e "Loose Change"), executei cada parte e mixei o álbum inteiro sozinho. "Comfortable Silences" apresenta o guitarrista indiano, Abhay Nayampally. "Loose Change" incorpora os ritmos ofegantes de Kevin Whalum.

Resenhando.com - Qual é a diferença entre esse trabalho atual e o que você fez no Spyro Gyra?
Tom Schuman - Este trabalho atual é um esforço completamente solo. Tenho controle sobre todos os aspectos da música, som, performance e mixagem. Enquanto Spyro Gyra era um ambiente mais democrático, incorporando muitas pessoas que influenciam o resultado final.

Resenhando.com - Como funciona seu processo de criação musical?
Tom Schuman Meu processo de criação geralmente começa com um sentimento inspirado por um solo de piano improvisado ou um groove de um orquestrador de ritmo ou patch de sintetizador. O resto do processo é deixado para a performance improvisada, conforme eu sinto ao longo do tempo. Às vezes, edito muitas improvisações diferentes juntas para criar algo único para mim. Outras vezes, a peça inteira sai de mim em uma tomada. Então, eu a produzo usando patches de baixo, ritmos, pads, cordas ou outros sons para aprimorar a performance básica. Eu chamo isso de método Zawinul. O falecido e grande Joe Zawinul do Weather Report falou sobre esse método de escrita durante uma entrevista. A maioria de suas composições surgiu de uma improvisação básica que ele então escreveu para outros músicos interpretarem. Descobri que essa era a melhor maneira de escrever algo novo e interessante, pelo menos para meus ouvidos.


Resenhando.com - Você tocou com vários nomes atuais do jazz, como Jeff Lorber e Jeff Kashiwa, entre outros. Há planos para novas parcerias musicais no futuro?
Tom Schuman Ainda não há planos, mas estou sempre aberto a trabalhar com qualquer um que queira pensar fora da caixa. Recentemente trabalhei com Paul Brown em algumas faixas. Ele tem uma técnica de mixagem linda que faz tudo soar como uma lufada de ar fresco!


Resenhando.com - Como o novo CD está sendo promovido? Há planos para shows?
Tom Schuman Estou deixando Sandeep Chowta e o consórcio Namma Music liderarem o caminho na promoção e distribuição. Quanto aos shows, tenho algo marcado na Sardenha, Itália, com meu trio de jazz. É para o Culture Fest de 2024 lá. Será no dia 16 de novembro e contará com Ameen Saleem no baixo e Guido May na bateria. O material de "I Am Schuman" exigiria muito mais músicos e ensaios para representá-lo adequadamente ao vivo. Então, espero poder apresentá-lo em um futuro próximo. Fique ligado!


"Set It Off"

"Loose Change"

"How Sensitive"

domingo, 6 de outubro de 2024

.: Crítica musical: Delia Fisher canta o Brasil em "Beyond Bossa"


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Foi disponibilizado nas plataformas de streaming e em CD o primeiro álbum internacional de Delia Fischer, o "Beyond Bossa", pelo selo Origin Records, com as primeiras gravações de seu repertório autoral assinadas com parceiros como Camila Costa, Carlos Careqa e Claudio Botelho, por exemplo. Nesse trabalho ela canta as canções com letras em inglês em versões recriadas pelo compositor, pianista e jornalista americano Allen Morrison, além de reunir intérpretes brasileiros e internacionais de diferentes gêneros para participar das gravações.

Neste projeto, a pianista, cantora, compositora e diretora musical carioca Delia Fischer - duas vezes indicada ao Grammy Latino e com diversos álbum lançados - comemora 40 anos de carreira e 60 anos de vida dando nova cor à sua trajetória musical expandindo sua música para outras fronteiras, mostrando as diversas formas da música brasileira e a compreensão das letras antes só ouvidas em português pelo público estrangeiro.

“A intenção foi mostrar para o público estrangeiro as canções como elas são. Essas versões ficaram bem próximas das letras originais em português. O Allen Morrison fez um trabalho primoroso, digno de elogios”, explica a cantora. Ela também agradeceu o apoio dado durante a campanha de crowdfunding que viabilizou a gravação do disco. “Se o resultado final ficou bonito, foi porque tivemos pessoas que acreditaram no trabalho que fizemos”.

Delia retrabalhou as bases instrumentais e gravou com artistas convidados para enriquecer seis das 12 faixas do álbum - incluindo a cantora de jazz americana Gretchen Parlato (“My Time”), a cantora brasileira baseada nos Estados Unidos, Luciana Souza (“Almost Paradise”), o mestre da bossa nova e do groove Marcos Valle (“Workaholic”, versão em inglês da canção Garra), o guitarrista Chico Pinheiro e o instrumentista carioca Pretinho da Serrinha (ambos em “The Acupuncture Song”), o cantor Matias Correa (“Song of Self Affirmation”), o cantor e parceiro Marcio Nucci e o violoncelista americano Eugene Friesen (“What Good is Summer”), o grupo vocal New York Voices (“Lemon Jugglers of Rio”) e o cantor de soul italiano Mario Biondi (“Marketplace”).

Em todas as faixas, Délia deixa impressa sua sonoridade que oscila entre a nossa MPB e o jazz. Seu estilo suave e afinado de interpretação conquista o ouvinte logo na primeira audição. E além disso, é uma musicista de primeira linha, principalmente nos teclados. Destaco as faixas "A Little Samba" e a "Workaholic", sendo esta segunda cantada em dueto com o autor, Marcos Valle. A mescla do vocal de Marcos Valle com Delia ficou acima da média.


"A Little Samba"

"Workaholic"

"Marketplace"

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

.: Crítica musical: Yohan Kisser, um som surpreendente


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Enquanto alguns músicos preferem seguir uma linha comercial coerente com o momento que vivenciam, há outros que preferem navegar em um sentido diferente, apostando em uma sonoridade mais peculiar e original, sem se importar muito com tendências ou modismos. Um desses casos é o do jovem Yohan Kisser, filho de Andreas Kisser, da banda Sepultura, que lançou um surpreendente e audacioso álbum que foge dos padrões atuais do pop.

Intitulado "The Rivals Are Fed and Rested", o disco conta com 12 faixas autorais com letras em português e inglês. E arranjos instrumentais que mostram influências das mais diversas. Elas vão desde o rock progressivo ao jazz fusion, passando pela chamada vanguarda paulista representada por Arrigo Barnabé. Sim, também há alguns elementos do pop, mas eles são só detalhes dentro do quebra-cabeça complexo preparado por Yohan para o ouvinte.

"Membro Fantasma", faixa composta em homenagem a sua mãe, que faleceu há dois anos, já foi lançada como single nas plataformas, juntamente com a faixa que deu título ao disco. Essa canção tem um arranjo com influência de Tom Jobim. Até mesmo o coral feminino emula a sonoridade do coral da antiga banda de apoio do nosso maestro soberano. Carina Assencio, Mariana Benassi e Tatiana Abdo formam o coro feminino nessa faixa.

"Flush If You Must" tem um arranjo que lembra o nosso forró tradicional, enquanto que a faixa "Tall Being" já flerta com elementos jazzísticos em seu arranjo. "Loan Shark" tem elementos de soul music em seu arranjo. A faixa "Passou das Seis" funciona como uma vinheta cantada em coro a capela, com letra que lembra as canções do Grupo Rumo, que retratavam o cotidiano que os integrantes viviam nos anos 80.

Toda essa diversidade musical conta com participações do veterano Luiz Carlini (steel guitar na faixa "A Tábua e do Metrô"), Bruno Serroni (violoncelo em "Quantas Línguas") e Sandra Ribeiro (fagote em "Flush if You Must"). Há também o baixista Guto Passos e o baterista William Paiva, que junto com Yohan formam o trio de base da gravação do disco.

Nascido em 1997, Yohan Kisser é compositor e multi-instrumentista graduado em violão pelo conservatório de música da Fundação das Artes de São Caetano do Sul. Sua carreira inclui participação nas bandas Sioux 66, uma banda paulistana de heavy metal autoral formada em 2011, e Kisser Clan, onde toca clássicos do rock e metal ao lado de seu pai, Andreas Kisser, guitarrista da banda de metal Sepultura. Agora, com seu projeto solo, Yohan  busca alçar novos horizontes musicais.

"The Rivals Are Fed and Rested"


"Membro Fantasma"

"Não Encontros"

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