Mostrando postagens com marcador Literatura. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Literatura. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

.: Orquestra Ouro Preto estreia "Hilda Furacão, a Ópera", em São Paulo


Sob a regência do Maestro Rodrigo Toffolo, a montagem promete capturar a intensidade dos sentimentos e a complexidade dos dilemas da personagem que desafiou as convenções sociais de uma conservadora Belo Horizonte dos anos 60. Foto: Rapha Garcia

Uma das personagens mais icônicas da literatura e da teledramaturgia brasileira ganha uma versão operística inédita com adaptação e música original de Tim Rescala; a estreia acontece nos dias 5 e 6 de novembro no Theatro Municipal de São Paulo, e seguirá para apresentações em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. A Orquestra Ouro Preto estreará nos dias 5 e 6 de novembro, em São Paulo, "Hilda Furacão, a Ópera", uma adaptação de "Hilda Furacão", o aclamado romance de Roberto Drummond, imortalizado na célebre minissérie dos anos 90. 

Sob a regência do Maestro Rodrigo Toffolo, a montagem promete capturar a intensidade dos sentimentos e a complexidade dos dilemas da personagem que desafiou as convenções sociais de uma conservadora Belo Horizonte dos anos 60. O elenco conta com renomados cantores líricos brasileiros, prometendo emocionar o público com uma montagem impactante: Carla Rizzi interpreta Hilda, Jabez Lima é Frei Malthus, Marília Vargas é Loló Ventura, Marcelo Coutinho encarna Nelson Sarmento, Johnny França é Aramel, e Fernando Portari representa o narrador e autor Roberto Drummond.

As apresentações na capital paulista serão realizadas no Theatro Municipal de São Paulo, e os ingressos já estão à venda no site e na bilheteria da casa. Na sequência, a produção será apresentada em Belo Horizonte, nos dias 21 e 22 de novembro, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes, e no Rio de Janeiro, nos dias 24 e 25 do mesmo mês. Com música original de Tim Rescala e direção de cena de Julliano Mendes, "Hilda Furacão, a Ópera" celebra a riqueza da cultura brasileira em uma produção cantada em português. Dividido em dois atos, o espetáculo explora os dilemas éticos, sociais e religiosos da época.

Com uma sólida trajetória na cena operística brasileira, a mezzo-soprano Carla Rizzi possui vasta experiência como atriz, emprestando à personagem toda a força dramática que ela demanda. A cantora repete a parceria com a Orquestra Ouro Preto, cujo último trabalho foi a bem-sucedida montagem "Auto da Compadecida, a Ópera", assim como Jabez Lima, tenor que interpreta Frei Malthus.

Uma das vozes mais proeminentes da ópera nacional, Jabez Lima empresta seu talento ao jovem frei que vive os dilemas entre o desejo da santidade e a tentação de seus sentimentos. O tenor, que interpretou João Grilo na versão mineira da obra de Suassuna, mostra toda a sua versatilidade e excelência agora em uma faceta dramática.

O romance do escritor mineiro Roberto Drummond conta a história de Hilda, uma jovem bela e rebelde que rompe com as expectativas ao abandonar sua vida de prestígio e refugiar-se na zona boêmia da capital mineira. Sua jornada se entrelaça com a de Frei Malthus, um jovem religioso determinado a transformar a vida dos habitantes da região. Esse encontro desencadeia uma série de conflitos éticos e sociais, em um confronto entre desejo e dever, liberdade e moralidade. Uma narrativa que encontra na ópera a linguagem perfeita para seu desenvolvimento dramático, somando-se ao panteão de grandes heroínas do gênero, como Carmen e Aida, consolidando o caminho para a criação de uma ópera nacional que dialoga com nossa história, cores e sons. Compre o livro neste link.

“Hilda tem tudo que a gente procura em um libreto, sob o ponto de vista operístico, para levar uma história para o palco. É rica nos conflitos, nas reflexões, na dramaturgia e nesse equilíbrio entre o drama e os momentos cômicos. Além disso, Hilda é uma personagem feminina muito importante da nossa literatura, que carrega fortes reflexões sobre liberdade, imposições sociais e sobre traçar seu próprio destino. Tudo isso faz dela uma protagonista perfeita para esse ciclo de óperas que a Orquestra Ouro Preto vem desenvolvendo”, explica o maestro Rodrigo Toffolo.

Tim Rescala, que repete a parceria operística com a formação mineira após a bem-sucedida montagem de "Auto da Compadecida, a Ópera", reforça as qualidades da narrativa que agora chega aos palcos. “Hilda tem todos os elementos para se tornar uma ópera: uma trama instigante e trágica, talvez até tragicômica, personagens fortes, carismáticos e uma grande carga emocional”, enumera.

Para as composições originais, Tim Rescala incorporou elementos da música popular da época, sobretudo o que se ouvia pelo rádio, ao discurso operístico. “Não só a música brasileira, mas também a norte-americana, incluindo os boleros que tanto sucesso fizeram no mundo todo neste período. Esse cancioneiro marcou muito essa época e procurei incorporar esse universo sonoro à partitura para criar algo híbrido, em uma ópera com ares de musical”, avalia o compositor.

Com a estreia de “Hilda Furacão, a Ópera”, a Orquestra Ouro Preto reafirma sua busca pela criação de um repertório operístico brasileiro e convida o público a mergulhar em uma jornada de amor, fé e desafio às normas estabelecidas.


Serviço
Orquestra Ouro Preto estreia “Hilda Furacão, a Ópera”
São Paulo
Datas: 5 e 6 de novembro de 2024
Horário: às 20h00
Local: Theatro Municipal de São Paulo (praça Ramos de Azevedo, s/n, República. SP)
Ingressos: No site e na bilheteria do Theatro

Belo Horizonte
Datas: 21 e 22 de novembro de 2024
Horário: às 20h00
Local: Grande Teatro Cemig Palácio das Artes (avenida Afonso Pena, 1537, centro. BH)
Ingressos: No site e na bilheteria do Theatro

Rio de Janeiro
Datas: 24 e 25 de novembro de 2024
Horário: domingo, às 18h00, e segunda, às 20h00
Local: Cidade das Artes (avenida das Américas, 5.300, Barra da Tijuca. RJ)
Ingressos: No site e na bilheteria do Theatro

terça-feira, 22 de outubro de 2024

.: "A falecida": MIS debate filme baseado em obra de Nelson Rodrigues

Com presença da escritora Aline Bei, MIS realiza debate sobre filme baseado em obra de Nelson Rodrigues. “A falecida”, adaptação para as telas da peça homônima do escritor, é tema da edição de outubro do Clube do Filme do Livro

Cena do filme "A falecida". Imagem: reprodução


No dia 31 de outubro, o MIS realiza mais uma edição do Clube do Filme do Livro, programa mensal que reúne cinema e literatura. Desta vez, o tema é o filme “A falecida”, longa-metragem baseado na peça homônima de Nelson Rodrigues. A escolha do título é da escritora Aline Bei, autora de “O peso do pássaro morto”, que participará do debate com o público após a sessão.

Lançado em 1965, o filme, dirigido por Leon Hirszman, acompanha a vida de Zulmira (Fernanda Montenegro), uma mulher de classe média baixa que, obcecada com a ideia de sua própria morte, decide planejar seu funeral de maneira grandiosa, enfrentando as limitações de sua realidade e os conflitos com seu marido e conhecidos. O filme carrega a atmosfera eternizada por Nelson Rodrigues no teatro nacional, integrando a lista de cem melhores filmes brasileiros de todos os tempos da ABRACINE. O longa também marca a estreia da atriz Fernanda Montenegro no cinema. 


Cena do filme "A falecida". Imagem: reprodução


A produção de Hirszman é baseada na peça homônima, escrita por Nelson Rodrigues em 1953. A obra retrata a obsessão de uma mulher da classe média baixa do Rio de Janeiro pela ideia de uma morte iminente e um enterro luxuoso. Marcada pelo humor ácido e pela crítica social, a obra expõe a hipocrisia e o desejo de ascensão social na sociedade brasileira da época. Nelson Rodrigues, conhecido por sua abordagem ousada de temas tabus e por sua linguagem crua, reforça sua reputação de explorador das tragédias cotidianas suburbanas. “A falecida” é a primeira peça da chamada série “tragédias cariocas”, formada por oito títulos, escritos até 1978. 

Você sabia?

“A falecida” inovou na interação dos atores com o cenário. Na primeira montagem da peça, os próprios intérpretes moviam cadeiras e outros acessórios pelo palco, o que chamou a atenção da crítica e do público.


Sobre o Clube do Filme do Livro: Clube do Filme do Livro é o programa mensal do MIS que reúne cinema e literatura. A cada mês, um convidado elege um filme baseado em um livro, e o museu exibe a produção, seguida de um bate-papo. A ideia é tratar do filme sob a ótica da adaptação, sobretudo a partir de impressões, reflexões e abordagens do convidado de cada edição. O público poderá participar com perguntas e comentários ao longo da conversa. 

Sobre a convidada:  Aline Bei nasceu em São Paulo, em 9 outubro de 1987. É formada em Letras pela PUC-SP, em Artes Cênicas pelo Teatro Escola Célia-Helena e pós-graduada em Escritas Performáticas pela PUC-Rio. “O peso do pássaro morto” (Editora Nós, 2017), finalista do prêmio Rio de Literatura e vencedor do prêmio São Paulo de Literatura e do prêmio Toca, é o seu primeiro livro. Em 2021, lançou o segundo, “Pequena coreografia do adeus”, pela Companhia das Letras. O romance foi finalista do prêmio Jabuti e do prêmio São Paulo de Literatura e já vendeu mais de 120 mil cópias. Os dois livros estão publicados em Portugal pela Particular Editora e têm seus direitos reservados para o cinema. 


Serviço | Clube do Filme do Livro – “A falecida”

Data: 31.10, às 19h

Local: Auditório MIS

Avenida Europa, 158 - Jd. Europa - São Paulo

Ingresso: gratuito (retirada com uma hora de antecedência na bilheteria física do MIS)

Classificação: 10 anos

 A programação é uma realização do Ministério da Cultura, Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas de São Paulo e Museu da Imagem e do Som, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. O MIS tem patrocínio institucional das empresas Livelo, B3, John Deere, NTT Data, Vivo, TozziniFreire Advogados, Grupo Comolatti e Sabesp e apoio institucional das empresas Grupo Travelex Confidence, PWC, Colégio Albert Sabin, Unipar e Telium. O apoio operacional é Kaspersky, Pestana Hotel Group, Quality Faria Lima, Hilton Garden Inn São Paulo Rebouças, Renaissance São Paulo Hotel, Pipo Restaurante, illycaffè, Sorvetes Los Los e Água Mineral São Lourenço. 

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

.: "Cem Anos de Solidão": primeiros episódios da série chegam à Netflix


A Netflix anunciou a data de estreia dos primeiros oito episódios de "Cem Anos de Solidão", adaptação da obra-prima de Gabriel Garcia Marquez. A primeira parte chega à Netflix em 11 de dezembro de 2024. Com direção de Laura Mora e Alex García López, "Cem Anos de Solidão" representa um dos projetos audiovisuais mais ambiciosos da história da América Latina. A série foi inteiramente filmada em espanhol e na Colômbia, com o apoio da família de Gabriel García Márquez. A segunda parte da série também conta com oito episódios e chega à Netflix em breve.  

No livro e no seriado, após se casarem contra a vontade dos pais, os primos José Arcadio Buendía e Úrsula Iguarán abandonam o vilarejo onde moram para embarcar em uma jornada em busca de um novo lar. Acompanhados por amigos e aventureiros, o casal chega às margens de um rio de pedras pré-históricas, onde fundam uma cidade utópica que batizam de Macondo. Diversas gerações da linhagem dos Buendía marcarão o futuro dessa cidade mítica, atormentada pela loucura, amores impossíveis, uma guerra sangrenta e absurda, e o medo de que uma terrível maldição os condene, inevitavelmente, a cem anos de solidão.

Publicado em 1967, "Cem Anos de Solidão" é um dos livros mais emblemáticos de Gabriel García Márquez, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1982. Considerado uma obra-prima das literaturas hispano-americana e universal, o romance aclamado pelo público já teve mais de 50 milhões de exemplares vendidos e foi traduzido para mais de 40 idiomas. Compre o livro "Cem Anos de Solidão" neste link.


Nas palavras dos diretores: 

“Como cineasta e como colombiana, tem sido uma honra e um enorme desafio trabalhar em um projeto tão complexo e que carrega tanta responsabilidade como Cem Anos de Solidão, sempre buscando entender a diferença entre a linguagem literária e a audiovisual, e poder construir imagens que contenham a beleza, a poesia e a profundidade de uma obra que impactou o mundo inteiro. Fizemos isso com amor e respeito pelo livro, com o apoio de uma equipe técnica e humana excepcional.” – Laura Mora

“Dirigir este projeto foi um desafio e uma aventura; afinal, na vida, correr riscos é necessário para dar sentido ao que fazemos. Ao mergulhar na adaptação de Cem Anos de Solidão, minha intenção era criar algo autêntico que carregasse a estatura de uma produção internacional, porque a história merece.” – Alex García López

A edição especial de "Cem Anos de Solidão"
Em janeiro de 2018, a editora Record lançou uma edição especial do romance "Cem Anos de Solidão", com tradução de Eric Nepomuceno. Edição comemorativa em capa dura da principal obra de Gabriel Garcia Marquez, em homenagem aos 50 anos de publicação. Romance fundamental na história da literatura,  Cem anos de solidão apresenta uma das mais fascinantes aventuras literárias do século XX. Vencedora do Prêmio Nobel de Literatura, uma obra que todos devíamos ter em nossas estantes.

Em "Cem Anos de Solidão" , um dos maiores clássicos da literatura, o prestigiado autor narra a incrível e triste história dos Buendía - a estirpe de solitários para a qual não será dada “uma segunda oportunidade sobre a terra” e apresenta o maravilhoso universo da fictícia Macondo, onde se passa o romance. É lá que acompanhamos diversas gerações dessa família, assim como a ascensão e a queda do vilarejo. Para além dos artifícios técnicos e das influências literárias que transbordam do livro, ainda vemos em suas páginas o que por muitos é considerado uma autêntica enciclopédia do imaginário, num estilo que consagrou o colombiano como um dos maiores autores do século XX.

Em nenhum outro livro García Márquez empenhou-se tanto para alcançar o tom com que sua avó materna lhe contava os episódios mais fantásticos sem alterar um só traço do rosto. Assim, ao mesmo tempo em que a incrível e triste história dos Buendía pode ser entendida como uma autêntica enciclopédia do imaginário, ela é narrada de modo a parecer que tudo faz parte da mais banal das realidades.

Gabo, apelido de Gabriel García Márquez, costumava dizer que todo grande escritor está sempre escrevendo o mesmo livro. “E qual seria o seu?”, perguntaram-lhe. “O livro da solidão”, foi a resposta. Apesar disso, ele não considerava Cem anos sua melhor obra (gostava demais de "O Outono do Patriarca"). O que importa? O certo é que nenhum outro romance resume tão completamente o formidável talento deste contador de histórias de solitários - que se espalham e se espalharão por muito mais de cem anos pelas Macondos de todo o mundo. "Cem Anos de Solidão" é uma obra grandiosa e atemporal, sobre a qual é possível construir diversos paralelos com a nossa própria existência. Garanta a edição especial de "Cem Anos de Solidão" neste link.


Ficha técnica
"Cem Anos de Solidão" - Parte 1 e Parte 2
Episódios: 8 episódios (Parte 1) 8 episódios (Parte 2)
Direção - Parte 1: Alex García López (E. 1, 2, 3, 7, e 8) e Laura Mora (E. 4, 5, e 6)
Produtores Executivos: Diego Ramírez Schrempp, Juliana Flórez Luna, Andrés Calderón, Josep Amorós, Carolina Caicedo, Alex García López, Laura Mora, José Rivera, Rodrigo García, Gonzalo García Barcha
Produtora: Dynamo
Roteiro: José Rivera, Natalia Santa, Camila Brugés, e Albatros González
Consultora de roteiro: Maria Camila Arias
Direção de fotografia: Paulo Pérez e María Sarasvati
Design de produção: Bárbara Enríquez e Eugenio Caballero
Figurino: Catherine Rodríguez
Direção de elenco: Yolanda Serrano e Eva Leira
Trilha sonora: Camilo Sanabria e Juancho Valencia
Edição: Irene Blecua e Miguel Schverdfinger
Cabelo e maquiagem: Helmuth Karpf
Supervisão de Efeitos Especiais: Jose Luis Orozco
Assistentes de direção: Jeiver Pinto Vargas e Nataly Valdivieso Gómez
Locações: regiões de La Guajira, Magdalena, Cesar, Cundinamarca e Tolima, na Colômbia

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

.: Espetáculo explora poéticas de Abdias Nascimento e Augusto Boal


Trabalho metalinguístico com direção de Eugênio Lima, que estreia no Sesc 14 Bis, busca um novo futuro para a negritude. Foto: Pérola Dutra

Partindo da ideia de que negritude é construir outros futuros, o Coletivo Legítima Defesa estreia o espetáculo Exílio: notas de um mal-estar que não passa. A temporada acontece entre 18 de outubro e 10 de novembro, com sessões de quinta a sábado, às 20h, e, aos domingos, às 18h, no Sesc 14 Bis. No dia 27 de outubro não haverá apresentação e, em 8 de novembro, haverá uma sessão às 15h e outra às 20h.

O trabalho é definido pelo grupo como uma "transcriação da poética" do período de exílio vivido por Abdias Nascimento (1914-2011) e a sua relação com Augusto Boal (1931-2009). Por isso, para a construção dramatúrgica, Eugênio Lima e Claudia Schapira se inspiraram livremente nas peças escritas pelos dois autores, além de utilizarem vários materiais de pesquisa do acervo do TEN – Teatro Experimental do Negro. 

"A peça é fundamentada na ideia de que existe uma relação entre o Abdias Nascimento e o Augusto Boal que não foi contada. Nosso principal argumento é que o início do Teatro Experimental do Negro se funde com o começo da carreira dramatúrgica do Boal, já que o primeiro texto que ele escreveu foi para o TEN", comenta Lima, que também assina a direção de Exílio. 

Segundo as pesquisas do grupo, a dupla defendia que a hybris trágica negra estava no candomblé e, por isso, Boal escreveu quatro textos para o TEN cujo cenário era o terreiro: O Logro (1953), O Cavalo e o Santo (1954), Filha Moça (1956) e Laio se Matou (1958). "Eles lutavam contra um pensamento comum nas primeiras décadas do século 20 de que as atrizes e atores negros só podiam fazer comédias, pois não tinham profundidade para fazer papeis trágicos ou dramáticos", acrescenta.  

Por esse motivo, Abdias também se interessa pela obra do dramaturgo estadunidense Eugene O'Neill (1888-1953). "Com esses autores, seu objeto de investigação é a crença de que a grande tragédia do negro no Brasil é o processo de embranquecimento, porque ou ele deixa de ser negro e morre ou permanece negro e é morto. Assim, as peças encenadas por ele não têm praticamente nenhuma redenção e apesar da centralidade das personagens negras, elas  partem do princípio de que o negro é um ser trágico", afirma o diretor.


Sobre a encenação
Na narrativa de Exílio: notas de um mal-estar que não passa, um grupo de atores e atrizes investiga todas essas relações enquanto tenta montar trechos de várias dessas peças. O que os bloqueia é um sentimento de impossibilidade, pois o elenco não quer vivenciar essas tragédias. "Nosso espetáculo, então, constitui-se como um sample de textos em que tudo é documento", define Eugênio.

A montagem é composta de samples dramatúrgicos que abordam o Protagonismo Negro, centrada no texto O Imperador Jones (Eugene O'Neill); o Drama, focado em Todos os Filhos de Deus Têm Asas (Eugene O'Neill); a Tragédia, inspirada em O Logro (Augusto Boal); o Sacrifício, baseado e em Sortilégio – Mistério Negro (Abdias Nascimento) e o Exílio composto samples da peça Murro em Ponta de faca (Augusto Boal) .

"Para Abdias, que passou 13 anos exilado nos Estados Unidos e na Nigéria, todo negro fora da África é um autoexilado, já que não tem mais nenhuma possibilidade de retorno ao seu real local de origem e sofre racismo no seu país natal. Dessa forma, o conceito de autoexílio permeia todo o espetáculo", explica Eugênio Lima. A estreia do Coletivo Legítima Defesa faz uso de metalinguagem, ou seja, a equipe técnica está em cena devidamente iluminada. Ao mesmo tempo, Eugênio age como se estivesse dirigindo um ensaio. 

No palco existe um grande "tapete da memória",  criado pela projeção,  por onde transitam seis performers negres: Walter Balthazar, Luz Ribeiro, Jhonas Araújo, Gilberto Costa, Fernando Lufer e Thaís Peixoto (atriz convidada). Ainda há a participação da atriz Luaa Gabanini (em vídeo). Por convenção, o grupo estabeleceu que quem não estiver no "tapete" está fora de cena, entretanto, como eles nunca abandonam o espaço, os espectadores sempre os veem.  

Ainda compõem o cenário uma série de projeções de documentos históricos, como cartas, filmes, fotos e materiais pesquisados no IPEAFRO – Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros e Instituto Boal. Bianca Turner assina a videografia. E o desenho de Luz é de Matheus Brant. Do ponto de vista sonoro, Exílio: notas de um mal-estar que não passa utiliza diversos recursos. Existem depoimentos de Léa Garcia (1933-2023), Ruth de Souza (1921-2019) e do próprio Abdias do Nascimento, e trechos de obras de autores como Frantz Fanon.

Já a parte musical explora diversos ritmos. "Selecionamos muito Hip Hop dos anos 1980 e 1990, mas também canções de Philip Glass, Racionais MC's, tambores de candomblé, Billie Holiday e Marvin Gaye", comenta Lima, que assina a direção musical, música e desenho de som. A ação acontece em um local indefinido, em diversos países, mas perpassa as décadas de 1940, 1950, 1960 e 1970.

O figurino de Claudia Schapira, sem traçar uma linha cronológica linear, contorna e situa as personagens trazidas à cena pelos atores e atrizes, utilizando de determinadas peças chaves da indumentária, que pautaram décadas. Os atores e atrizes, por sua vez, aparentam estar sempre com "roupa de ensaio". Em termos de cores, a ideia é trabalhar a paleta PB a partir de um conceito do diretor. "Quisemos voltar para o preto e branco, como na nossa primeira peça, que somado ainda a elementos históricos bem concretos, nos colocam também em cena como documentos", acrescenta Eugênio.


Sinopse
"Exílio: notas de Um Mal-estar que Não Passa" é uma "transcriação da poética" do período de exílio vivido por Abdias Nascimento e a sua relação com Augusto Boal, criada a partir de uma livre inspiração nos textos de Abdias Nascimento, nas peças escritas por Augusto Boal e diversos materiais de pesquisa do acervo do TEN – Teatro Experimental do Negro.

Seis performers negres estão sempre em cena e existe um tapete no chão, o grande tapete da memória. "Por convenção, quando os atores/atrizes estão fora do tapete, estão fora de cena. Porém, não devem sair nunca: devem ser vistos sempre pelos espectadores. A ação passa-se em muitos países, em muitas épocas, em muitas circunstâncias. Quando um ator/atriz representa outro personagem, que não o seu, ele deve fazê-lo tranquilamente, sem muitas explicações". Citação de Augusto Boal, em "Murro em Ponta de Faca".


Ficha técnica
Espetáculo "Exílio: notas de Um Mal-estar que Não Passa"
Direção, direção musical, música e desenho de som: Eugênio Lima
Dramaturgia: Eugênio Lima e Claudia Schapira
Intervenção dramatúrgica: Coletivo Legítima Defesa
Com samplers dramatúrgicos de: Frantz Fanon, Racionais MC's, Augusto Boal, Abdias Nascimento, Maurinete Lima, Eugene O'Neill, Nelson Rodrigues, Agnaldo Camargo, Ruth de Souza, Léa Garcia, Túlio Custódio, Guilherme Diniz, Gianfrancesco Guarnieri, Molefi Kete Asante e Iná Camargo Costa
Elenco do Legítima Defesa: Walter Balthazar, Luz Ribeiro, Jhonas Araújo, Gilberto Costa, Fernando Lufer e  Eugênio Lima
Atrizes convidadas: Thaís Peixoto e Luaa Gabanini (em vídeo)
Produção: Iramaia Gongora Umbabarauma Produções Artísticas
Videografia: Bianca Turner
Iluminação: Matheus Brant
Figurino: Claudia Schapira
Direção de gesto e coreografia: Luaa Gabanini
Assistência de direção: Fernando Lufer
Fotografia: Cristina Maranhão
Design: Sato do Brasil
Consultoria vocal: Roberta Estrela D´Alva
Assessoria de imprensa: Canal Aberto - Márcia Marques, Carol Zeferino e  Daniele Valério
Cenotécnico: Wanderley Wagner
Vídeo: Matheus Brant
Engenharia de som: João Souza Neto e Clevinho Souza
Costureira: Cleusa Amaro da Silva Barbosa
Parceiros: Casa do Povo, Ipeafro, Instituto Boal, Editora 34 e Editora Perspectiva

Serviço
Espetáculo "Exílio: notas de Um Mal-estar que Não Passa"
Data: 18 de outubro a 10 de novembro, de quinta a sábado, às 20h, e, aos domingos, às 18h
Atenção: no dia 27 de outubro não haverá espetáculo e, no dia 8 de novembro, haverá uma sessão às 15h e outra às 20h
Local: Sesc 14 Bis - Rua Dr. Plínio Barreto, 285, Bela Vista - São Paulo
Ingresso: R$ 60,00 (inteira), R$ 30,00 (meia-entrada) e 18 (credencial plena) | Ingressos disponíveis nas bilheterias das unidades do Sesc São Paulo, pelo aplicativo Credencial Sesc ou pelo site centralrelacionamento.sescsp.org.br
Tel: (11) 3016-7700
Duração: 90 minutos
Classificação: 16 anos

sábado, 5 de outubro de 2024

.: Em novembro, a edição especial de "Torto Arado" chega repleta de extras


Lançada pela editora Todavia, a edição especial de "Torto Arado" em capa dura é a celebração coletiva de um feito raro: Itamar Vieira Junior e seus mais de um milhão de livros vendidos no Brasil. Boa parte dos - agora podemos cravar - milhões de leitores de Itamar Vieira Junior pedia há tempos: "Quando afinal vocês vão trazer Torto arado em capa dura?".  O lançamento da edição comemorativa deste que se tornou, em apenas cinco anos, um legítimo clássico do nosso tempo. Em novembro, chega às livrarias de todo o país e em todos os marketplaces este volume especial, com capa dura serigrafada, texto revisto pelo autor, texto dos editores da Todavia, reprodução de 18 capas estrangeiras no miolo e fitilho para marcar as páginas.

A capa é novamente uma obra de Aline Bispo, autora das imagens que estampam as edições de "Salvar o Fogo" e "Doramar: uma Odisseia", e mais uma vez em dupla com a designer Elisa v. Randow, que assina o projeto gráfico. A direção gráfica é de Aline Valli. Uma edição luxuosa à altura de um livro decisivo da literatura brasileira de hoje. Viva a literatura brasileira, viva as Belonísias, Bibianas, Doramares, Luzias e todos os leitores de Itamar Vieira Junior! Um clássico do nosso tempo.

Vencedor dos prêmios Leya, Oceanos e Jabuti, Itamar Vieira Junior nasceu em Salvador, na Bahia, em 1979. É geógrafo e doutor em estudos étnicos e africanos pela UFBA. "Torto Arado", juntamente com "Salvar o Fogo" (2023) e um romance a ser publicado, compõe uma trilogia sobre a terra, com alguns dos temas e personagens atravessando cada um dos títulos. Itamar é também autor de "Doramar ou a Odisseia" (2021) e "Chupim" (Baião, 2024), sua primeira obra voltada para as infâncias. redes foi recebida com muito entusiasmo. Compre a edição especial de "Torto Arado" neste link.


terça-feira, 1 de outubro de 2024

.: Holly Jackson: "O reaparecimento de Rachel Price" traz espiral de segredos

Em novo thriller da autora do best-seller "Manual de assassinato para boas garotas", jovem investiga o desaparecimento da mãe e descobre espiral de segredos terríveis


Após o sucesso avassalador de "Manual de assassinato para boas garotas", cuja adaptação audiovisual lançada pela Netflix em agosto se tornou uma das séries mais vistas do ano, a rainha dos thrillers Holly Jackson está de volta com mais uma trama eletrizante. Em "O reaparecimento de Rachel Price", a autora apresenta uma história na qual nada é o que parece. O livro, que rapidamente alcançou a primeira posição na lista de mais vendidos do New York Times, chega ao Brasil em outubro pela Intrínseca e promete deixar os leitores, assim como a protagonista, desconfiados de tudo e todos.

Aos 18 anos, Bel vive à sombra de um acontecimento que marcou a história de sua família para sempre. Quando ela ainda era bebê, sua mãe, Rachel Price, desapareceu sem deixar rastros. Desde então, a jovem sofre com a atenção indesejada que a gerou. Enquanto isso, seu pai, que chegou a ser preso e absolvido por falta de provas, continua a ser visto pela população da cidade como o responsável pelo desaparecimento de Rachel. Para piorar, os Price passam a ser acompanhados de perto por uma equipe de filmagem que está produzindo um documentário de true crime sobre o caso. A família precisa do dinheiro, mas Bel gostaria apenas que todos esquecessem essa história e seguissem em frente.

O documentário ganha um enorme plot twist quando Rachel retorna inesperadamente e vira a vida de Bel de cabeça para baixo. A jovem sabe que deveria ficar feliz pela volta da mãe, mas sente que há algo errado e não consegue se acostumar com uma estranha em sua casa. Conforme percebe inconsistências nas histórias da mãe sobre os anos que passou desaparecida e vê o pai se afastar cada vez mais, Bel decide fazer seu próprio documentário. Com a ajuda de Ash, o peculiar assistente de câmera, ela registra sua jornada em busca da verdade e descobre que todos na família parecem esconder algo. Mas sua investigação do caso Rachel Price pode acabar se tornando um filme de terror.

Com dinâmicas familiares intrincadas, revelações arrepiantes e um mistério de tirar o fôlego, "O reaparecimento de Rachel Price" e mostra a potência de Holly Jackson como escritora de suspenses contemporâneos e a consolida como um dos maiores nomes do gênero. Na nova história, cada segredo desvendado deixa o leitor mais perto da verdade. Para Bel, as revelações podem ter um preço alto demais. Mas, para os amantes de uma boa reviravolta, a obra traz acontecimentos impactantes e um desfecho recompensador.

Compre "O reaparecimento de Rachel Price", de Holly Jackson aqui amzn.to/3zGVBwM


Holly Jackson se tornou autora best-seller do New York Times com a série Manual de assassinato para boas garotas, que vendeu milhões de exemplares em todo o mundo e foi adaptada em uma série de sucesso da BBC, distribuída pela Netflix. É for­mada na Universidade de Nottingham, onde es­tudou Linguística Literária e Escrita Criativa, e tem um mestrado em Língua Inglesa. Holly gosta de jogar videogames e assistir a documentários sobre crimes reais para fingir que é uma detetive. Atualmente, mora em Londres. Pela Intrínseca, também publicou Os cinco sobreviventes.


"O reaparecimento de Rachel Price", de Holly Jackson

Tradução: Karoline Melo

Páginas: 544

Editora: Intrínseca 

Livro impresso: R$ 69,90 

E-book: R$ 46,90

Compre "O reaparecimento de Rachel Price", de Holly Jackson aqui amzn.to/3zGVBwM

domingo, 29 de setembro de 2024

.: “Memória da Poesia Brasileira” recebe Viviane Mosé, na Biblioteca Nacional


A poeta, filósofa, psicóloga, psicanalista e especialista em elaboração e implementação de políticas públicas, Viviane Mosé será a próxima convidada da série “Memória da Poesia Brasileia”, na próxima segunda-feira, dia 30 de setembro, a partir das 15h00, na Biblioteca Nacional. Viviane será entrevistada pelos poetas Sérgio Cohn - curador da série - e Heyk Pimenta. O evento é gratuito e será transmitido pelo YouTube (@fundacaobibiotecanacional).

Nascida em Vitória (ES), 16 de janeiro de 1964, Viviane Mosé é mestre e doutora em Filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Publicou sua tese de doutorado, “Nietzsche e a Grande Política da Linguagem”, em 2005, pela editora Civilização Brasileira. Membro da Academia Brasileira de Cultura, tem diversos livros de poesia, filosofia e psicanálise publicados. Entre os livros de poesia estão “Imagem Escrita” (1999), “Desato (2006)” e “Calor” (2017).


Memória da Poesia Brasileira
A iniciativa da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) – entidade vinculada ao Ministério da Cultura MinC) - objetiva o registro e a divulgação gratuita da poesia brasileira contemporânea para o público em geral. A curadoria e a apresentação ficam por conta do poeta e editor Sergio Cohn - atualmente responsável pela edição da revista Poesia Sempre, da FBN. Já foram entrevistados os poetas Guilherme Zarvos (27/05), Claudia Roquette-Pinto (24/06), Antônio Cícero (30/07) e Salgado Maranhão (29/08).

Os eventos são divididos em duas partes: a partir das 13h, de forma privada, é realizada uma gravação do(a) poeta recitando seus textos, em registro audiovisual; às 15h, é realizado um depoimento público, com cerca de duas horas de duração, sobre a trajetória pessoal e poética do(a) autor(a). Os registros sonoros serão convertidos em álbuns digitais de poesia. Ao final de cada ano, os depoimentos transcritos e editados serão reunidos e publicados em livro.


Serviço
“Memória da Poesia Brasileira” - Viviane Mosé
Segunda-feira, dia 30 de setembro de 2024.
Horário: 15h00 às 17h00.
Local: Auditório Machado de Assis, Biblioteca Nacional.
Endereço: Rua México, s/nº - Centro (entrada pelo jardim).
Link de transmissão: https://youtu.be/Cgy3T7WZ8Js
*Entrada franca.

terça-feira, 24 de setembro de 2024

.: Entrevista: Bruno Haulfermet traz representatividade gorda, LGBT+ e racial


"Que a gente não se permita viver uma vida pela metade, sem plenitude"
, defende o autor Bruno Haulfermet integra uma nova geração de escritores nacionais que lutam para trazer representatividade real na literatura brasileira. Autor gay, ele escreveu a romantasia young adult "Depois das Cinco", publicada pela Buzz Editora, para abordar a pluralidade de existências brasileiras por meio de protagonismo gordo, racial e LGBTQIAPN+. Em entrevista, ele fala sobre a importância da real representatividade na literatura brasileira.

Romance, fantasia, uma boa dose de mistério e muita diversidade: essa é a premissa de "Depois das Cinco", que narra a jornada de Ivana, uma adolescente que deixa de existir todas as tardes, quando o relógio marca seis horas em ponto, e ressurge somente depois das cinco da manhã do dia seguinte.  Enquanto tenta esconder esse segredo a sete chaves, a garota acaba se apaixonando por Dario, um menino desconhecido por todos na província onde moram. O rapaz vive a mesma condição corporal, mas de forma oposta: sempre que ela retorna ao mundo físico, ele desaparece. Com encontros limitados a breves minutos diários, quando seus corpos estão translúcidos, os dois iniciam uma busca para descobrir como driblar o impasse temporal e viver essa paixão. Mas se deparam com uma teia de mentiras capaz de colocar seus destinos em risco.  

Em entrevista, Bruno Haulfermet revela as inspirações por trás do enredo e as reflexões humanas presentes na obra, além da relação com quadrinhos e o gênero de terror. O autor destaca principalmente a importância da representatividade na literatura jovem brasileira, por meio de personagens que dão voz à pluralidade de existências. Ele sempre foi ligado à arte. Seu amor precoce pela leitura se deu graças aos quadrinhos da "Turma da Mônica" e, com o passar dos anos, foi se estendendo aos livros. Ainda na adolescência, começou a escrever contos de terror e fantasia baseados nos volumes de "Goosebumps". Entusiasta da cultura pop, sobretudo a dos anos 1990, Bruno é designer por formação, já foi colunista do blog Plugcitários e embaixador do Wattpad, onde se tornou líder de curadoria de conteúdo. É fã de animes e filmes hollywoodianos, adora frappuccinos e generosas fatias de bolo caseiro. Depois das cinco é o romance de estreia do autor. Leia a entrevista na íntegra. Compre o livro "Depois das Cinco" neste link.


Ivana e Dario vivem um amor quase impossível em "Depois das Cinco", por causa da diferença temporal que dificulta a convivência entre o casal. Como surgiu a ideia de criar um romance no qual os protagonistas estão em tempos opostos, e qual lição de vida os leitores podem levar dessa leitura?
Bruno Haulfermet - A inspiração veio do filme "A Casa do Lago", com a Sandra Bullock e o Keanu Reeves, onde eles ficavam nessa casa, mas cada um em um dado ponto do tempo. Havia uma diferença de dois anos entre eles. Eles começam a se corresponder, se apaixonam e tentam encontrar uma forma de viverem esse amor, apesar da questão do tempo. Daí veio a ideia de a Ivana só existir em um período do dia e do Dario em outro. O livro traz um alerta sobre o quão incompletos a gente pode se sentir ao longo da vida, à medida que nos conformamos com os acontecimentos que nos chegam. E carrega uma mensagem de que a gente fique atento e não se permita viver uma vida pela metade, sem plenitude. Temos o direito de ser quem quisermos e lutar por isso.  


A pluralidade é um aspecto muito presente na obra, a partir de personagens gordas, com diversidade racial e que se identificam como LGBTQIAPN+. Como escritor e homem gay, de que forma você enxerga hoje a importância da representatividade na literatura nacional?
Bruno Haulfermet - Obrigatória, não apenas na literatura nacional, mas em todos os veículos artísticos. Cresci nos anos 90 e não tive oportunidade de me ver representado em personagens. E, não vendo personagens gays, foi mais difícil me sentir parte do mundo. E como você – ainda muito jovem, com uma personalidade em formação – faz quando simplesmente percebe que não se encaixa em nada? Por ter vivido isso diretamente, assumi o compromisso de não ter essas “ausências” nas minhas obras. É de extrema importância apresentar personagens diversos, não apenas em situações pouco/não-convencionais, mas também dar voz e relevância a eles. É assim que, a meu ver, o leitor vai se sentir visto, respeitado e vai vislumbrar para o seu futuro um milhão de possibilidades. 


Província de Rosedário, com as rosas de caule rosado e seus mistérios, pode ser considerada até mesmo uma personagem secundária do livro. O que inspirou a criação desse cenário e como ele reflete os temas abordados?
Bruno Haulfermet - As próprias rosas são tão protagonistas quanto Ivana e Dario, na mesma medida. Eu quis criar um cenário que fosse bastante visual e que conseguisse transmitir a atmosfera intimista de forma bem fácil. Me inspirei em cidadezinhas da Itália e da França, rústicas e pequenas, para que a Província de Rosedário pudesse encantar pela beleza e, ao ser revelado o plot, tivesse um contraste bem grande com a coisa terrível que acontece por lá. Ser um lugar de poucos habitantes também reforçou o quesito “fofoca”, onde todo mundo se conhece e qualquer passo errado pode e vai repercutir em todos os cantos de lá, o que, por si só, já é bem assustador.  


Como designer por formação, de que maneira sua bagagem profissional influenciou a forma como você descreve cenários, personagens e as cenas no livro?
Bruno Haulfermet - Carrego comigo a máxima de que quando algo é bem-conceituado, absolutamente tudo pode encantar. Então sempre fiquei atento para que o conceito do livro não se perdesse. É muito importante ver – e não esquecer – que o livro é um produto. E como tal, precisa estar lapidado para o leitor/consumidor. Capítulos objetivos, descrições claras e sem delongas, diálogos interessantes e reais, entre tantos outros aspectos que precisam ser levados em conta para, ao mesmo tempo, não frustrar o leitor e proporcionar uma experiência de imersão inesquecível. Da parte visual: capa e todo material de apoio, impresso ou digital, também vai conversar com esse conceito. E, como designer, fica bem mais fácil conduzir esses alinhamentos de forma que se crie uma identidade sólida, porque eu sei o que vai funcionar ou não diante daquele contexto.  


O seu amor pela leitura começou com quadrinhos e evoluiu para livros de terror e fantasia. Como essas influências moldaram seu estilo de escrita no young adult "Depois das Cinco", em que você mistura romance, fantasia e suspense?
Bruno Haulfermet - Os quadrinhos tiveram um papel fundamental no desenvolvimento do meu vocabulário, antes dos livros, além de ter esse “elemento fantástico” bem visual. Embora eu escreva/assista romance e fantasia, meu gênero da vida é o terror. É o que mais consumo desde sempre, e é o gênero que mais me traz inspirações. Por conta disso, é inevitável que as minhas obras tenham elementos de mistério, suspense e até uma dose macabra. Em "Depois das Cinco" não foi diferente: apesar do romance e da fantasia, a obra não é totalmente água-com-açúcar e tem momentos de prender o fôlego.


Antes de ser publicado pela Buzz Editora, "Depois das Cinco" foi um sucesso no Wattpad. Agora, você lança a obra com exclusividade durante a Bienal de São Paulo. Como essa transição do digital para a publicação tradicional impactou sua carreira enquanto autor estreante?
Bruno Haulfermet - "Depois das Cinco" teve uma grande aceitação no Wattpad, tendo inclusive sido shortlist no The Wattys (premiação interna e oficial da plataforma) e semifinalista em um concurso da Galera Record. O impacto do digital para o físico é enorme: a primeira coisa – a mais legal e também a mais clássica – é poder ver o resultado do seu trabalho literalmente na palma da sua mão. O livro físico ainda tem uma força muito grande e isso facilita a aproximação com o leitor, em uma sessão de autógrafos, por exemplo. Aprendi muito com o processo em si, desde a assinatura do contrato até a distribuição. Conheci profissionais incríveis. O próprio convite para a publicação foi um reconhecimento muito gratificante e que mostra que meu trabalho está sendo bem-visto.

domingo, 1 de setembro de 2024

.: Entrevista: escritora gaúcha Marina Monteiro fala sobre o livro “Açougueira”


Marina Monteiro leva o leitor a assumir o lugar da acusada e oferecer-lhe o benefício da dúvida, criando uma reflexão sobre a culpabilização feminina. Fotos: Manu Deça

A violência doméstica e as opressões sofridas pelas mulheres, bem como a discussão das posições sociais dos gêneros são alguns dos assuntos que a autora e dramaturga Marina Monteiro escolheu abordar no romance de estreia “Açougueira”, publicado pela editora Claraboia. O enredo deste romance provocativo acompanha as investigações do assassinato e esquartejamento de um homem e é narrado por meio dos depoimentos dos moradores da cidade, uma cidadezinha interiorana onde todos se conhecem.

A principal suspeita de ter cometido o crime é a esposa do assassinado, que detalha em seus depoimentos a história da vida do casal, desde seu enlace até a decadência da relação. Por meio deste formato narrativo, a autora leva o leitor a assumir o lugar da acusada e oferecer-lhe o benefício da dúvida, criando uma reflexão sobre a culpabilização feminina. Marina Monteiro é atriz, arte-educadora, produtora e gestora cultural, possui licenciatura em teatro pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), e ainda o título de bacharela em filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela nasceu em Porto Alegre, em 1982, e vive atualmente entre as capitais Rio de Janeiro (RJ) e Florianópolis (SC). A autora é vencedora na categoria de narrativas curtas do Prêmio da Associação Gaúcha de Escritoras (AGES) de 2020 com o livro “Em Nossa Cidade Amarelinha Era Sapata”, e do Prêmio Minuano de 2022, na categoria contos com o  livro “Contos de Vista Pontos de Queda”, obra que também foi indicada na mesma categoria ao Prêmio Açorianos de 2023. Compre o livro "Açougueira", de Marina Monteiro, neste link.


Por que você escolheu abordar temas referentes à justiça em sua obra?
Marina Monteiro - O tema da justiça é algo que me inquieta desde muito nova. É uma temática que me move bastante. O papel da justiça, seu ideal de imparcialidade, sua realidade muitas vezes parcial em uma sociedade tão desigual quanto a nossa. Os embates morais e éticos que advém quando refletimos sobre os processos da justiça me inquietam. Quando li a peça "Antígona" na faculdade de teatro já fiquei atenta e anos depois na faculdade de filosofia a revisitei com diversas matérias e debates sobre ética, moral, justiça e as relações com as realidades sociais, e sempre fiquei muito motivada. 


De onde veio a ideia do romance?
Marina Monteiro - 
A ideia do romance surgiu de uma dramaturgia que finalizei em março de 2020, chamada “Carne de Segunda”. Esta dramaturgia surgiu de uma prática de escrita coletiva, de um trio de atrizes escritoras que eu participava junto com Érida Castello Branco e Sônia Alves, no Rio de Janeiro. Fizemos uma determinada dinâmica que funcionava assim: escrevíamos nossos nomes em papéis e dobrávamos, escrevíamos situações em outros papéis e dobrávamos. Depois cada uma sorteava um nome e uma situação. A ideia era escrevermos textos teatrais para a outra atuar. Meus papéis foram Sônia e júri. Lembro que fui pra casa e joguei no google as palavras júri e mulher e a quantidade de matéria sobre violência doméstica foi absurda. O que me fez querer ir mais a fundo. Fiquei pesquisando casos de violência doméstica e feminicídio e o papel da justiça nesses casos, em muitos a mulher saía perdendo, condenada mesmo sendo vítima e de ter perdido a própria vida. Tem um fato estranho no meio disso tudo que é o seguinte: eu juro que achei uma reportagem sobre uma mulher, moradora de uma cidade do interior, que toda a cidade era testemunha de que o marido corria atrás dela com um machado em volta da casa, e ninguém fazia nada. Um belo dia este homem aparece morto, esquartejado, e toda a cidade se volta contra a mulher, ela é tratada como o monstro, mas nem um pio sobre o cara cercar ela com um machado. Lembro de um vizinho dizer a frase absurdamente clássica “em briga de marido e mulher não meto a colher”, só que para condená-la estava metendo. O fato curioso é que esta reportagem me fez começar a pensar na história da dramaturgia que depois foi semente para o romance, desapareceu, eu não salvei o link e nunca mais consegui encontrar. Este embate moral me interessa, dessa mulher da reportagem, ela era perseguida e violentada diariamente, o marido aparece morto e é ela acusada por todos, e mesmo sendo ela a responsável pelo crime, ainda assim, onde estavam todos quando essa mulher precisou de ajuda? E como a justiça prontamente já coloca essa mulher no centro do palco de acusação, sem nem pestanejar, porque claro, matar alguém é um crime sem desculpas, mas violentar uma mulher também deveria ser.


E como foi o processo de escrita da obra?
Marina Monteiro - Eu terminei essa dramaturgia um pouco antes da pandemia, daí veio o isolamento e todo o horror que começamos a viver e essa personagem não saía da minha cabeça. Em determinado momento comecei a fazer uma oficina que o escritor Robertson Frizero estava oferecendo gratuitamente no Instagram, era sobre a escrita do romance, e pra aproveitar melhor a oficina, seria legal eu ter um projeto pra me exercitar, então pensei: “ah, já que essa personagem não sai da minha cabeça, quem sabe não brinco de adaptar a peça para um romance.” Mas zero pretensão de publicar ou de que aquilo viraria um livro, era mais uma distração do horror do que um compromisso sério. Tanto que comecei a escrever o romance todo em caderno de papel com caneta vermelha, acho que pra fugir das telas, para reafirmar uma vida menos virtual naquele momento. Aí a brincadeira foi me tomando: comecei repetindo a dramaturgia e fui vendo que me limitava, ao mesmo tempo em que o texto ia ganhando vida e mudando o rumo da prosa. Quando terminei a primeira parte tive uma trava, porque sentia que mudava a forma e a linguagem mas não achava qual, e também porque eu tinha cismado que queria me distanciar do teatro, fazer apenas literatura. Superei isso e descobri que podia sim beber no teatro, na dramaturgia para fazer nascer esse romance e foi aí que voltei pros meus livros de tragédia, estudei o coro, fui mergulhando nesse universo e consegui encontrar a linguagem da segunda parte e aí o restante do livro foi se fazendo junto.


Você conta que encontrar a linguagem para a narrativa demandou muita experimentação. Como esse processo aparece no livro?
Marina Monteiro - 
Eu tento trabalhar forma, linguagem e conteúdo muito em consonância. Com uma experimentação de uma linguagem que se cola muito a sonoridade da voz da personagem, que tenta trazer o corpo pra página de alguma maneira. Também experimento muito em “Açougueira” as estruturas narrativas, variando as formas de contar esta história e de apresentar estas vozes. O livro é dividido em cinco partes, compostas de capítulos curtos. Em cada uma das partes há uma experimentação de forma diferente, que tenta dar conta da polifonia e do entrecruzamento dessas vozes para movimentar a narrativa. Todas as partes são em primeira pessoa.


Além dos capítulos com diferentes narradores, você traz a questão da fofoca para compor a polifonia. Qual era sua intenção em apresentar tantas opiniões e versões dos fatos ao leitor?
Marina Monteiro - A coisa da fofoca surge nessas vozes preconceituosas e repressoras dos vizinhos dessa personagem, que a julgam o tempo todo, com rara exceção. Aqui brinquei um pouco com a ideia de coro grego só que pensado como um grupo de fofoca, um grupo de Whatsapp de bairro, onde o julgamento e os conservadorismos rolam soltos, no livro eles estão depondo contra ela, mas tem esse tom de fofoca, de invenção. Eu brinco com isso também, de deixar a pessoa leitora tentar decidir que lado ela vai tomar na história. Viver seu próprio embate moral ali. Decidir quem é culpado, quem é inocente e até mesmo se existem culpados e inocentes num caso como o do livro. Ouvir todas aquelas vozes e se movimentar a partir delas.

Quais são as suas influências literárias? Teve alguma que influenciou diretamente o “Açougueira”?
Marina Monteiro - Meus primeiros escritos emulavam muito do estilo de Clarice Lispector e do Fernando Pessoa, autores que me fizeram perceber que literatura podia ser mais que contar uma história, que tinha um mistério ali no como contar, que era fascinante. Outras influências que eu posso citar aqui são Saramago, Lygia Fagundes Telles, Hilda Hilst, Guimarães Rosa, Faulkner, Natalia Borges Polesso, Marcela Dantés, Carola Saavedra, Érico Veríssimo, entre muitos outros. “Açougueira” não teve influência de nenhuma obra ou escritor específico, talvez um pouco da “Antígona”, porque eu tinha acabado de vir de um semestre debatendo ela a partir da República de Platão e as noções de justiça inclusas na peça, além de uma influência do estudo do coro grego.


A escrita do livro te transformou de alguma maneira?
Marina Monteiro - Esse livro pra mim é um marco no meu amadurecimento enquanto escritora. Através dele eu pude entender melhor meu movimento literário, minha pesquisa, meus próprios desejos e também assumir mais minhas obsessões estéticas. Esse livro representa pra mim um amadurecimento como artista. Os desafios que ele me exigiu, as escolhas que ele me exigiu. Um assumir uma relação com a linguagem, a forma e conteúdo que nele eu faço com mais consciência e coragem. Mas o melhor de escrever é o movimento, então não tem jogo ganho, é uma maturidade em relação aos meus processos, com minha própria régua, mas cada novo projeto pode me colocar em movimento noutras direções e exigir novas performances.


Quais são seus projetos atuais de escrita?
Marina Monteiro - Eu tenho um livro de contos com uma primeira versão pronta, descansando há um ano na nuvem, e estou escrevendo um novo romance. O livro de contos traz a temática da presença da infância no espaço urbano e as reverberações dessa presença. São contos mais curtos dos que costumo escrever e brincam muito com as fronteiras da dramaturgia e da literatura. O romance ainda é muito cedo pra falar, estou muito no processo ainda de escrever e descobrir, tenho tido o prazer de fazer isso em coletivo também, no curso "Levantando a Casa" com a Euler Lopes e uma turma muito maravilhosa. Escrever trocando é bom demais. Eu estava precisando desse movimento de troca que um curso proporciona. Já tinha o projeto iniciado, e com os encontros com a turma e com a Euler a coisa tem deslanchado bem. É um romance que vai falar um pouco sobre masculinidade, crise de identidade na adolescência, internet, política de armas, e tudo pode mudar até a hora dele virar um livro publicado. Tenho também me aventurado nos roteiros de audiovisual. Já escrevi uns episódios de uma websérie para uma produtora cultural de Florianópolis, tenho um curta metragem finalizado, um outro em processo e um projeto de longa metragem com protagonismo LGBTQIA+ que um dia há de virar roteiro.

domingo, 25 de agosto de 2024

.: Entrevista com Walter Medeiros: "Vivo sabendo que não estarei mais aqui"


Autor de "Cancelas do Tempo", Walter Medeiros reflete sobre a importância de escrever poemas e cultivar memórias para encontrar felicidade nos momentos simples. Foto: divulgação

Escritor, poeta, jornalista e advogado, Walter Medeiros transformou 70 anos de experiências em versos que contemplam a transitoriedade da vida. Observador atento e sensível, o autor reúne em "Cancelas do Tempo" uma coletânea de 80 poemas que capturam a simplicidade dos detalhes, os sentimentos marcantes e a riqueza das lembranças para a construção humana. Em entrevista, ele destaca a importância da escrita poética para fazer as pazes com o tempo e reflete sobre como encontrar a felicidade nos momentos simples.

Os primeiros raios de sol do dia, a tristeza de quando Plutão deixou de ser um planeta, o cheiro de café feito pela avó e a leveza de uma viagem de trem. As memórias corriqueiras de Walter Medeiros são cuidadas, guardadas e apreciadas por ele em uma busca para contemplar a beleza da vida em sua simplicidade. Além de serem uma maneira de celebrar a existência, essas lembranças também são as inspirações para os poemas do livro "Cancelas do Tempo". 

Na contramão de uma sociedade que parece cada vez mais acelerada, o autor reforça a importância de parar para admirar o mundo e as experiências. Ele explica os motivos que o levaram a publicar uma obra em homenagem à transitoriedade da vida e à nostalgia: “o tempo sempre remete a lembranças, e é bom quando traz memórias boas. As adversidades, enfrentam-se e podem ser registradas até com lirismo. As mudanças têm, cada uma, sua profundidade, que vem desde um momento de saudade, até o dia da aposentadoria”. Confira a entrevista completa abaixo. Compre o livro "Cancelas do Tempo" neste link. 

O livro é descrito como uma ode à nostalgia, sobre poemas que ajudam fazer as pazes com o tempo. Dada a sua experiência, como você enxerga a transitoriedade da vida?  
Walter Medeiros - Vivo, sabendo que algum dia não estarei mais aqui. Não tenho maiores preocupações com o fim; mas lembro que na juventude a impressão que tinha era de que a vida poderia ser mais longa. Agora, lembro do meu sogro, seu Sebastião, que faleceu em 2022, com 106 anos. Se tiver a sorte de chegar mais uns bons anos para a frente, aí talvez venha a refletir mais sobre o assunto. 

Em “Cancelas do tempo”, você menciona algumas experiências pessoais e lugares, como Natal, Lisboa e a Floresta Negra. Como essas vivências influenciaram sua escrita? 
Walter Medeiros - Natal é a cidade onde nasci, e sempre procurei valorizá-la profundamente. Trata-se de uma cidade encantadora, com suas praias, seu povo amável. Passei seis anos fora e, quando voltei, com nove anos, comecei a cativar cada canto da cidade. Em Lisboa, vivi belos momentos por lá e escrevi poemas sobre ela. E a Floresta Negra tem sua beleza ímpar, mágica, que vale a pena conhecer. 


Entre a efemeridade do tempo, as adversidades e mudanças ao longo da vida, como você enxerga o papel da poesia para explorar a profundidade das experiências e emoções dos leitores? 
Walter Medeiros - A poesia tem o poder de sensibilizar as pessoas. Ao poeta, pode caber escolher a forma mais tocante de a apresentar. O tempo sempre remete a lembranças, e é bom quando traz memórias boas. As adversidades, enfrentam-se e podem ser registradas até com lirismo. As mudanças têm, cada uma, sua profundidade, que vem desde um momento de saudade, até o dia da aposentadoria. Quando contada com bom jeito, pode agradar e envolver o leitor. 

É possível dizer que este livro se conecta com suas outras atividades, como jornalista, pai e avô? Há influências mútuas entre essas diferentes facetas de sua vida? 
Walter Medeiros - 
Sim. Em muitos momentos podemos encontrar algum traço que reflete a veia do jornalista, a visão do pai e do avô. No entanto, essa conexão está bem mais explícita em outros poemas que não entraram no livro. Possivelmente, em um novo volume, outros poemas mostrarão mais esta parte do autor. 


“Cancelas do tempo” aborda um misto de sensibilidade e otimismo, alegrias e tristezas, liberdade e sensualidade. Como foi mesclar essas diversas temáticas? Tem alguma que mais lhe impactou ao retratar?  
Walter Medeiros - Tem. Poema que fala sobre o lugar onde morei. Refere-se ao bairro do Alecrim, onde vivi por 23 anos. A começar pela rua Campo Santo, onde passamos os belos tempos da Jovem Guarda. Ali, tínhamos uma convivência inesquecível, que mantemos até os dias atuais. Uma rua que tem uma vista magnífica para o rio Potengi, o porto e o mar. Costumo dizer que a formação geográfica da barra de Natal tem semelhança com Tróia, em Portugal. 


Qual mensagem ou sentimento você espera que os leitores levem consigo após lerem a obra? 
Walter Medeiros - Uma sensação de vida, natureza, amor, dedicação e sensibilidade. Que sintam a verdade expressa em cada verso, cada poema, como algo que podem usar, incorporar e propagar. Talvez venha a ter influência nos leitores para a forma como observam ambientes semelhantes aos que são apresentados no livro. Espero que cada um rememore momentos idênticos àqueles mostrados na obra. 



Sobre o autor
Walter Medeiros 
é jornalista, advogado, escritor e poeta, natural de Natal, no Rio Grande do Norte. Formou-se em Direito na UFRN, em 1977, mas sua vida profissional foi quase toda guiada pelo jornalismo. Começou jovem e enveredou nas redações de rádio e jornais da capital. Também atuou como professor e assessor de imprensa. Foi correspondente da Folha de S.Paulo e chefe de pauta da TV Cabugi, além de vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RN. Em 2012, recebeu título de Cidadão Matagrandense pela Câmara Municipal de Mata Grande – Alagoas. Na literatura, estreia no gênero de poesia com Cancelas do tempo, mas tem outros quatro livros publicados; dentre eles, o romance Abelardo, o alcoólatra, de 1990 e republicado em 2024, e obras técnicas voltadas a áreas de estudo da saúde e comunicação. Walter Medeiros é casado, tem cinco filhos e nove netos. Instagram do autor: @walterbmedeiros. Garanta o seu exemplar de "Cancelas do Tempo" neste link. 

sábado, 10 de agosto de 2024

.: Romance de Genki Kawamura é tema do Clube de Leitura Japan House SP


"Se os Gatos Desaparecessem do Mundo" (compre neste link)
,  romance de estreia do cineasta japonês Genki Kawamura, que vendeu mais de 2 milhões de exemplares ao redor do globo, é o tema do Clube de Leitura Japan House São Paulo + Quatro Cinco Um, que ocorre na quinta-feira, dia 29 de agosto, às 19h00 de forma on-line. Lançado pela editora Bertrand Brasil, a obra conta a história de um jovem carteiro, que vive apenas com seu gato. Ele recebe o diagnóstico de que sofre de uma doença em estágio terminal e tem apenas algumas semanas ou meses de vida. Ele então recebe uma visita do Diabo que lhe faz uma proposta: para cada coisa que ele estiver disposto a fazer desaparecer do mundo, ele ganhará um dia extra de vida. Sua existência ganha uma nova dinâmica a partir desse dilema cruel.

A convidada especial desta edição é a tradutora e criadora do canal Komorebi Translations, Anna Ligia Pozzetti. A conversa terá como mediadores Natasha Barzaghi Geenen, diretora cultural da JHSP, e Paulo Werneck, editor da revista Quatro Cinco Um. Neste best-seller internacional, o autor presenteia o público com um romance sensível e fascinante que traz à tona a importância da vida e de preservar nosso mundo, permeado por reflexões morais e contundentes. Como decidir o que faz a vida valer a pena? Como distinguir o que é dispensável daquilo que se ama? Essas são algumas das reflexões que o livro instiga.

Genki Kawamura é um diretor, roteirista, produtor e escritor japonês nascido na cidade de Yokohama. Seu filme "Mirai", estreou na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cinema de Cannes e foi vencedor do Annie Award de Melhor Longa-Metragem Independente de Animação, e indicado para a categoria de Melhor Longa-metragem de Animação no Oscar. Kawamura também foi um dos produtores de "Your Name", um sucesso global que ganhou o prêmio de Melhor Filme de Animação da Associação de Críticos de Cinema de Los Angeles e o Prêmio de Melhor Filme de Animação do Sitges Film Festival. Seu romance de estreia, "Se os Gatos Desaparecessem do Mundo" vendeu mais de 2 milhões de exemplares no mundo e foi traduzido para 18 línguas. Garanta o seu exemplar de "Se os Gatos Desaparecessem do Mundo" neste link.


Sobre o Clube de leitura Japan House São Paulo + Quatro Cinco Um
Com a mediação de Natasha Barzaghi Geenen, Diretora Cultural da JHSP, e Paulo Werneck, diretor de redação da revista Quatro Cinco Um, o Clube discute livros de autores nipônicos traduzidos diretamente do japonês para o português, com o objetivo de ampliar o acesso dos brasileiros a este universo literário. Todo mês, o encontro de caráter informal conta também com a presença de um leitor convidado, e já recebeu grandes profissionais da tradução japonesa no Brasil, autores brasileiros contemporâneos, editores, críticos, jornalistas e personalidades da cultura.


Serviço
Clube de Leitura JHSP + Quatro Cinco Um
"Se os Gatos Desaparecessem do Mundo"
Quando: quinta-feira, dia 29 de agosto
Horário: 19h00
Convidada: Anna Ligia Pozzetti
Duração: cerca de 90 minutos
Custo: participação gratuita, mediante inscrição prévia (vagas limitadas)
Inscrição: https://clubedeleitura.japanhousesp.com.br/
Acesso: on-line, via plataforma Zoom. O link de acesso é enviado aos inscritos por e-mail.
Participantes do clube terão 30% de desconto na compra pelo site da Bertrand Brasil, basta aplicar o cupom JHSP451 diretamente no site da editora. O cupom fica vigente entre 25 de julho e 31 de agosto, válido para um uso único por CPF.
Compre o livro neste link.

.: Exposição inspirada na obra de Clarice Lispector pode ser vista até terça


Com sua personalidade enigmática e uma linguagem poética e inovadora, Clarice Lispector (1920-1977) é, merecidamente, cultuada em todo o mundo como um dos maiores nomes da nossa literatura. Inspirado pelas obras da escritora, o Caminhão de Histórias, um caminhão-baú de 15 metros, adaptado para receber mostras culturais interativas, apresenta a exposição “A Casa que Anda. Que Mistérios tem Clarice?” baseada nos livros "A Vida Íntima de Laura", "O Mistério do Coelho Pensante" e "A Mulher que Matou os Peixes"

O projeto fica no Parque Linear Bruno Covas até terça-feira, dia 13 de agosto, com entrada gratuita, tendo passado pelo Parque Horto Florestal entre os dias 22 de julho e 4 de agosto, e visa a atender ao público circulante, bem como um amplo programa para escolas públicas e privadas do Estado. Com o patrocínio do Instituto CCR, a entidade do Grupo CCR responsável pelos investimentos socioculturais que busca democratizar o acesso à cultura e à educação, o projeto visa incentivar a formação de novos jovens leitores.

Com curadoria de Eucanaã Ferraz, poeta, consultor de literatura do Instituto Moreira Salles (IMS) e professor de literatura brasileira na Faculdade de Letras da UFRJ, e com direção artística e cenografia de Daniela Thomas, cineasta, diretora teatral, dramaturga e cenógrafa, e intervenções artísticas dos artistas plásticos Maria Klabin, Marcela Cantuária, Raul Mourão e Mariana Valente, “A Casa que Anda” apresentará atividades e reflexões sobre o universo infantojuvenil da criação de Clarice de Lispector a partir de histórias que dialogam com seus jovens leitores, despertando curiosidades sobre sentimentos e emoções, que evocam inúmeras reflexões.

Um projeto de educação gratuito, inclusivo e democrático, “A Casa que Anda” sucede o exitoso projeto Busão das Artes, que trouxe “O Mundo Invisível”, concebido no pós-pandemia, e que abordava de forma lúdica o mundo dos fungos, vírus e bactérias, e é uma realização de Renata Lima, que dirige a Das Lima Produções, e da dupla Lilian Pieroni e Luciana Levacov, da Carioca DNA. “Um caminhão-baú transformado em espaço expositivo, que percorre praças e parques do Brasil, ‘O Busão das Artes’ nasceu da nossa vontade de educar, humanizar e sensibilizar o público em relação a temas importantes, sempre permeando questões ambientais. Esse projeto acontece em praças e outros espaços públicos, gratuitamente, e está aberto a todos”, afirma Luciana Levacov, sócia da Carioca DNA.

Segundo Eucanaã Ferraz, a obra de Clarice Lispector tem um raro poder de atração, não importando a idade e outros traços particulares de quem a lê. "Sua palavra é, nesse sentido, universal. Não há dúvida de que associar a escrita com a materialidade das artes visuais e as experiências propriamente lúdicas será impactante para todos que passarem pela ‘Casa que anda’. Também é importante observar que a maior parte das narrativas de Clarice se passa nos ambientes domésticos e, desse modo, criar um ambiente de experiências sensoriais e estéticas numa ‘casa’ trará para mais perto do público o mundo mágico e atraente da autora”, ressalta o curador.

O encantamento começa com o próprio baú do caminhão, totalmente adesivado com primorosas ilustrações de autoria de Mariana Valente, neta de Clarice, que abordam vários aspectos de sua vida, com imagens de cidades e países que visitou ou onde viveu, como Recife, Rio de Janeiro, Pisa, Genebra, e Washington, intercaladas com imagens da escritora cercada de crianças, jardins e animais. Instalações artísticas e interativas apresentam dois ambientes da casa: interno e externo. Quem guia o visitante por esse universo é a “própria” Clarice, com mediadoras caracterizadas que incorporam a personagem, dando a ideia de que a autora os recebe em sua própria casa.

Daniela Thomas, que recriou o espaço interno da casa de Clarice a partir de fotos da residência da autora, reflete sobre como conduziu essa experiência. "Clarice tem a capacidade de revelar a profundidade da experiência humana nas situações mais banais e corriqueiras da vida. Com isso, nos desperta da alienação diária e somos tomados de uma hipersensibilidade para a nossa própria vida. Nosso objetivo é que os visitantes possam ter a experiência de olhar as mesmas coisas que sempre olham, só que agora com a sensibilidade renovada, surpreendendo-se com o que a literatura pode oferecer para a ampliar nossas perspectivas e nossa própria vida".

Além da reprodução do ambiente onde viveu a escritora, que abriga inclusive sua mesa de trabalho, onde repousam manuscritos e uma máquina de escrever com um texto em andamento, o espaço inclui referências e curiosidades dos três livros abordados na exposição, como um aquário vazio - já que os peixes morreram por falta de alimento, quadros da galinha Laura, do Coelho e do peixe, além de vídeo gravado com câmera em primeira pessoa na visão dos animais - assim como fazia a escritora, que criava as histórias a partir da perspectiva dos bichos.

“Busquei replicar a experiência da leitura dessas obras recriando seu apartamento e povoando-o com suas reflexões escritas, cuidadosamente selecionadas por Eucanaã. Clarice, sentadinha em seu sofá com a máquina de escrever apoiada nos joelhos, digitava seus textos extraordinários, enquanto seu olhar não via mais do que as mesmas mobílias e animaizinhos que a cercavam, dia após dia. Uma imaginação fulgurante! Já do lado de fora, o quintal da casa foi reinterpretado por artistas contemporâneos. Também foi criado um filme, que me surgiu com furor quando li os livros pela primeira vez. Pensei: precisamos ver o mundo dos bichos como Clarice apontou, do ponto de vista deles”, ressalta Daniela.  

Do lado externo, as três histórias se unem com diversas atividades de referência aos animais retratados, como o cercado do coelho - que dá algumas pistas para que as pessoas tentem descobrir como sua fuga ocorreu. A Casa do Coelho, projeto do artista Raul Mourão, é representada por uma pequena casa de aço criada para retratar o misterioso desaparecimento do coelho da ficção de Clarice. “Uma gaiola/escultura sobre confinamento e fuga, confeccionada com o mesmo material das grades de segurança que nos acompanham nas grandes cidades brasileiras”, afirma o artista. 

Um lindo tapete, desenhado pela artista plástica Maria Klabin, transmite a sensação do piso de um quintal, com caracóis, tatus-bola, folhas, restos de comida, que podem ser explorados com o auxílio de lupas de aumento. “Esses três livros fazem parte das minhas melhores lembranças com meus filhos crianças”, conta Maria. “Líamos os três em série. É nítida a memória do momento em que eu abria a capa de ‘A mulher que matou os peixes’. A capa era dura, como um pequeno portão. E éramos conduzidos dos risos, gargalhadas à confusão, tristeza, ternura, apreensão, e algumas emoções cuja existência só descobrimos pelos livros da Clarice.  É um privilégio visitar esse quintal pelo qual já devo ter passado muitas vezes, dessa vez, olhando para o chão que deu origem a tantos voos”, completa a artista, sobre a experiência de criar o piso.

Ainda no quintal, o ovo da Galinha Laura, criado por Marcela Cantuária, leva os visitantes a uma reflexão sobre o mistério da vida e a promessa de futuro. "Simboliza de maneira lúdica a gestação e as inúmeras possibilidades que a existência nos traz", explica Marcela. "Eu me senti honrada com o convite para participar da exposição, pois admiro imensamente o legado de Clarice. Uma mostra de arte circulante e interativa, como é o caso do Caminhão de Histórias, reforça o compromisso da arte com o coletivo, além de ser um movimento interessante e inovador", completa a artista.

A experiência traz práticas educativas que remetem ao ofício da escritora, como o espaço de leitura, atividades com máquinas de escrever, oficinas criativas inspiradas nos enigmas das histórias, produção e envio de cartão postal entre outras dinâmicas a serem conduzidas por educadores formados pela equipe da Percebe - consultoria especializada em educativos de museus e exposições.  Os estudantes que visitarem a exposição receberão um caderno de atividades para continuarem a experiência na escola, orientados por seus professores, ou mesmo em casa com seus familiares.

Contando de forma lúdica e participativa a história e obras de Lispector para as crianças, a exposição busca democratizar o acesso à arte e à literatura em diversas localidades do País.  Em 2024, “A Casa que Anda” passará por São Paulo (Parque Horto Florestal e Parque Linera Bruno Covas), Paraná (Londrina e Curitiba), Santa Catarina (Joinville), Goiás (Goiânia), Maranhão (Imperatriz), Bahia (Salvador), Minas Gerais (Belo Horizonte) e Rio de Janeiro (Rio de Janeiro e Niterói). A expectativa é que mais de 60 mil pessoas passem pelo Caminhão de Histórias nessa temporada.

Sobre os livros infantojuvenis de Clarice Lispector
Eucanaã Ferraz nos oferece um panorama sobre os livros de Clarice Lispector para a infância. “Os livros de Clarice Lispector para a infância – como suas obras para o público adulto – são inquietantes. Se a linguagem é acessível e próxima do universo infantil, lá estão as perplexidades, as dúvidas, as perguntas, os mistérios da vida e da morte. Os textos conversam com o leitor e, assim, criam uma intimidade que desarma seu olhar e lhe possibilita viver experiências nas quais a natureza e os animais são parte fundamental. Não são, de modo algum, textos que buscam educar pelo viés da obviedade ou da complacência, como se o leitor-criança fosse imaturo ou intelectual e existencialmente despreparado. Pelo contrário, no convívio do humano com a natureza há traumas, choques, incompreensões, tristezas, mas também amor, humor, alegrias, enfim, múltiplos afetos. O resultado é o exercício estético e vital que se exige de toda e qualquer literatura. E, isso, claro, faz com que esses textos sejam atraentes também para público adulto”.

A exposição é inspirada em três livros infanto-juvenis de Clarice
"A Vida Íntima de Laura" (compre o livro neste link):
conta a história de Laura, a galinha que mais bota ovos em todo o galinheiro. Compondo uma personalidade cheia de nuances para sua personagem, Clarice diverte os pequenos sem subestimar sua inteligência.

"O Mistério do Coelho Pensante" (compre o livro neste link): o sumiço de um simples coelhinho branco – quem diria! – inspira uma das mais instigantes histórias infantojuvenis de Clarice Lispector. Nesse livro a escritora discorre sobre profundas questões existenciais, na dose certa para a apreciação dos pequenos leitores. Qual a diferença entre "natureza humana" e "natureza de coelho"? Como a gente sai do terreno da necessidade para o da vontade e da criatividade? É possível um pensamento que seja também um sentimento e uma sensação?

"A Mulher que Matou os Peixes" (compre o livro neste link): aqui a sintonia com os leitores é obtida a partir do endereçamento direto, e o texto anuncia-se como uma confissão da narradora (“Essa mulher que matou os peixes infelizmente sou eu”) e um pedido de perdão à humanidade. Suspenses são encontrados a partir de pequenas tramas, em que perdão e culpa se sucedem. A união das obras busca explorar temas como mistério - o sumiço do coelho, culpa - matou o peixe, autoestima - galinha Laura que se acha feia, o mistério da vida - o ovo - e da morte - o peixe.


Serviço
Caminhão das Histórias em São Paulo
“A Casa que anda. Que mistérios tem Clarice?”
Parque Linear Bruno Covas (Av. Magalhães De Castro, R. Pedro Avancine - Jardim Panorama, São Paulo - https://maps.app.goo.gl/AVMEV67Ve81LQczB6?g_st=iw)
Datas e horário: até terça-feira, dia 13 de agosto, das 9h00 às 17h00
*Entrada gratuita
**A exposição não funciona na segunda-feira.

quarta-feira, 31 de julho de 2024

.: "Terra Estranha": relações inter-raciais e bissexualidade no centro da discussão


Tendo como pano de fundo a agitada cena musical de Nova York dos anos 1950, o romance "Terra Estranha", escrito por James Baldwin, é um retrato franco sobre bissexualidade e relações inter-raciais, publicado em uma época em que esses assuntos eram tabu. Na terra estranha que é Nova York nos anos 50-60, a questão racial tratada permeia todos os aspectos na vida dos personagens e nas relações humanas vividas por eles. Um grande mosaico humano em que tudo resvala em uma literatura de primeira categoria. 

Este livro de tirar o fôlego, publicado em 1962, tem como pano de fundo os clubes de jazz de Greenwich Village, em Nova York, na década de 1950. Rufus, um baterista negro em decadência, se envolve com Leona, uma mulher branca nascida no sul dos Estados Unidos. Dessa relação complexa em sua origem, desdobram-se temas caros a James Baldwin, como raça, nacionalismo, identidade, depressão e bissexualidade.

Em "Terra Estranha", o celebrado autor de "O Quarto de Giovanni" (compre o livro neste link) constrói uma obra comovente, violenta e apaixonada, cujos personagens tentam reverter a todo custo as barreiras da segregação racial e das convenções burguesas em busca da felicidade e de si mesmos.

Sobre o autor
James Baldwin nasceu em Nova York em 2 de agosto de 1924 e é um dos maiores nomes da literatura norte-americana do século XX. Entre seus principais temas, sobressaem a luta racial e questões relacionadas à sexualidade e à identidade. É autor de "O Quarto de Giovanni", "Terra Estranha", "Se a Rua Beale Falasse", "Notas de Um Filho Nativo" e "Da Próxima Vez, o Fogo", entre outros títulos. Morreu em Saint-Paul-de-Vence, no sul da França, em 1987. Compre os livros de James Baldwin neste link.


"Terra Estranha"
James Baldwin (autor)
Rogério W. Galindo (tradutor)
Daniel Trench (arte de capa)
544 páginas
Companhia das Letras
Compre o livro neste link

.: Dossiê James Baldwin: cancro cala a voz mais representativa do século XX


Negro, gay e oriundo de família religiosa, James Baldwin era uma mente extraordinária que negava rótulos e os caminhos mais fáceis. Foto: Getty Images


Escritor negro e gay, James Baldwin andava meio esquecido no meio literário, mas voltou com força nos últimos tempos, especialmente no Brasil, onde a Companhia das Letras vem lançando de tempos em tempos as principais obras dele em edições que respeitam o legado do autor. No dia 2 de agosto de 2024, ele completa 100 anos de nascimento. Romancista, ensaísta, dramaturgo, poeta, ativista e crítico social norte-americano, Baldwin morreu de cancro do estômago, tendo sido enterrado ao lado da mãe, Emma Berdis Jones. Os dois repousam na Campa 1203 do Ferncliff Cemetery and Mausoleum, Hartsdale, em Nova York.

Amigo de Baldwin desde o início dos anos 1970, Fred Nall Hollis cuidou do escritor em seu leito de morte. Baldwin lhe pagava bebidas no Café de Flore. Nall lembrou-se de uma conversa com Baldwin pouco antes de ele morrer. Falaram sobre racismo no Alabama. Nall disse a Baldwin: "Através de seus livros, você me libertou da minha culpa por ser tão intolerante vindo do Alabama e por causa da minha homossexualidade". Baldwin insistiu: "Não, você me libertou ao revelar isso para mim".

Na época da morte de Baldwin, em 1° de dezembro de 1987, ele trabalhava em um manuscrito inacabado chamado "Remember This House", um livro de memórias de suas lembranças pessoais dos líderes dos direitos civis Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King Jr.  Após a morte de Baldwin em Saint-Paul-de-Vence, a editora McGraw-Hill deu um passo sem precedentes: processar o espólio do autor para recuperar o adiantamento de 200 mil dólares que havia pago pelo livro. O processo foi arquivado em 1990. 

O manuscrito forma a base para o documentário de 2016 de Raoul Peck, "Eu Não Sou Seu Negro" (2016), que foi indicado para Melhor Documentário na cerimônia de entrega do Oscar de 2017. Compre os livros de James Baldwin neste link.


Leia +

.: "Da Próxima Vez, o Fogo" é lançado na semana dos 100 anos de Baldwin

.: Dossiê James Baldwin 100 anos: autor falava abertamente sobre sexualidade

terça-feira, 30 de julho de 2024

.: "Notas de Um Filho Nativo": obra-prima de Baldwin sobre raça e identidade


Na nota introdutória de "Notas de Um Filho Nativo" (compre o livro neste link), o escritor James Baldwin, aos 31 anos, se dá conta do momento mais importante de sua formação, quando se viu obrigado a perceber que a linha do seu passado não levava à Europa, e sim à África. Foi então que ele se deparou com uma revelação chocante: Shakespeare, Bach e Rembrandt não eram criações realmente dele, não abrigavam sua história. "Seria inútil procurar nelas algum reflexo de mim. Eu era um intruso; aquele legado não era meu”, afirmou o autor. 

Lançada pela Companhia das Letras, esta edição inclui o prefácio à edição de 1984, assinado por Edward P. Jones, posfácios de Teju Cole e Paulo Roberto Pires e um alentado “Sobre o autor”, por Marcio Macedo. A arte da capa é de Daniel Trench. Publicada originalmente em 1955, esta reunião de ensaios escritos entre as décadas de 1940 e 1950 é a primeira obra de não-ficção do autor de "O Quarto de Giovanni" (compre o livro neste link).

O que mais impressiona nesses testemunhos - narrados com inteligência, sensibilidade e estilo extraordinário - é a atualidade dos textos. Ao usar como matéria-prima sua própria experiência para refletir sobre o que representa ser um escritor negro e homossexual nos Estados Unidos, seu país de origem, e em Paris, cidade onde viveu por muitos anos, Baldwin oferece um poderoso e urgente depoimento sobre direitos civis.


Sobre o autor

James Baldwin nasceu em Nova York em 2 de agosto de 1924 e é um dos maiores nomes da literatura norte-americana do século XX. Entre seus principais temas, sobressaem a luta racial e questões relacionadas à sexualidade e à identidade. É autor de "O Quarto de Giovanni", "Terra Estranha", "Se a Rua Beale Falasse", "Notas de Um Filho Nativo" e "Da Próxima Vez, o Fogo", entre outros títulos. Morreu em Saint-Paul-de-Vence, no sul da França, em 1987. Compre os livros de James Baldwin neste link.


"Notas de Um Filho Nativo"
James Baldwin (autor)
Paulo Henriques Britto (tradução)
Daniel Trench (arte de capa)
248 páginas
Companhia das Letras
Compre o livro neste link.

.: Dossiê James Baldwin 100 anos: autor falava abertamente sobre sexualidade


Os romances e peças do escritor transformam em ficção perguntas pessoais fundamentais e dilemas em meio a pressões sociais e psicológicas complexas. Foto: Ulf Andersen/Getty Images

Os textos de James Baldwin, tal como o "Notas de Um Filho Nativo" (1955), exploram complexidades palpáveis ainda não ditas sobre a sexualidade e as distinções de classes raciais nas sociedades ocidentais, principalmente na América da metade do século 20, e suas inevitáveis tensões. Alguns textos do escritor, que completa 100 anos de nascimento no dia 2 de agosto, são do comprimento de um livro, como por exemplo "Da Próxima Vez, o Fogo" (1963), recém-lançado pela Companhia das Letras, "No Name in the Street" (1972), e "The Devil Finds Work" (1976).

Os romances e peças do escritor transformam em ficção perguntas pessoais fundamentais e dilemas em meio a pressões sociais e psicológicas complexas frustrando a integração equitativa, não só de negros, mas também de homens homossexuais e bissexuais, enquanto descrevem alguns obstáculos internalizados nas buscas de tais indivíduos à aceitação. Essa dinâmica é proeminente no segundo romance de Baldwin, "O Quarto de Giovanni" (compre o livro neste link), escrito em 1956, bem antes dos direitos dos homossexuais serem amplamente defendidos nos Estados Unidos.

Baldwin era filho de Emma Berdis Jones, que teria abandonado o pai biológico dele por causa de abuso de drogas e mudou-se para o Harlem, na cidade de Nova York. Lá, ela se casou com um pastor, David Baldwin. A família era muito pobre. O escritor passou muito tempo cuidando de vários irmãos e irmãs mais novos. Aos dez anos de idade, Baldwin foi provocado e abusado por dois policiais de Nova Iorque, um caso de assédio racista pelo Departamento de Polícia de Nova Iorque que ele iria experimentar mais tarde quando adolescente e viria a documentar em seus textos. O pai adotivo, ao qual Baldwin se referia nos textos simplesmente como "pai", parece tê-lo tratado - em comparação com os irmãos - com grande dureza.

O padrasto morreu de tuberculose no verão de 1943, pouco antes de Baldwin completar 19 anos. O dia do aniversário de 19 anos de Baldwin foi o dia do funeral de seu pai, o dia que a última criança de seu pai nasceu, e o dia do motim do Harlem de 1943, que foi retratado no início de seu texto "Notas de Um Filho Nativo". A busca para responder ou explicar a rejeição familiar e social - e alcançar um senso de individualidade, coerente e benevolente - tornou-se um motivo condutor nos escritos de Baldwin. Compre os livros de James Baldwin neste link.

Leia +

.: Dossiê James Baldwin 100 anos: escritor, revolucionário e maldito

.: "Da Próxima Vez, o Fogo" é lançado na semana dos 100 anos de Baldwin

Postagens mais antigas → Página inicial
Tecnologia do Blogger.