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sábado, 25 de janeiro de 2020

.: Tudo sobre Mikhail Bakhtin, o filósofo de muitas vozes e do sujeito em si


Mikhail Mikhailovich Bakhtin nasceu em 17 de novembro de 1895, em Oriol, e morreu em 7 de março de 1975, em Moscou, aos 79 anos. Foi um filósofo e pensador russo, teórico da cultura europeia e das artes.

Bakhtin foi um verdadeiro pesquisador da linguagem humana, seus escritos, em uma variedade de assuntos, inspiraram trabalhos de estudiosos em um número de diferentes tradições (o marxismo, a semiótica, estruturalismo, a crítica religiosa) e em disciplinas tão diversas como a crítica literária, história, filosofia, antropologia e psicologia. 

Embora Bakhtin fosse ativo nos debates sobre estética e literatura que tiveram lugar na União Soviética na década de 1920, sua posição de destaque não se tornou bem conhecida até que ele foi redescoberto por estudiosos russos na década de 1960. É criador de uma nova teoria sobre o romance europeu, incluindo o conceito de polifonia em uma obra literária. 

Explorando os princípios artísticos do romance, François Rabelais, Bakhtin desenvolveu a teoria de uma cultura universal de humor popular. Ele é dono de conceitos literários como polifonia e cultura cômica, cronotopo, carnavalização, menippea (um eufemismo em relação à linha principal e levando o desenvolvimento do romance europeu no "grande momento"). Bakhtin é autor de diversas obras sobre questões teóricas gerais, o estilo e a teoria de gêneros do discurso. Ele é o líder intelectual de estudos científicos e filosóficos desenvolvidos por um grupo de estudiosos russos, que ficou conhecido como o "Círculo de Bakhtin".

Biografia
Nascido em Oriol, localidade a sul de Moscovo, de família aristocrática em decadência, cresceu entre Vínius e Odessa, cidades fronteiriças com grande variedade de línguas e culturas. Mais tarde, estudou Filosofia e Letras na Universidade de São Petersburgo, abordando em profundidade a formação em filosofia alemã.

Viveu em Leningrado após a vitória da revolução em 1917. Entre os anos 24 e 29 conheceu os principais expoentes do Formalismo russo e publicou "Freudismo" (1927), "O Método Formal nos Estudos Literários" (1928) e "Marxismo e Filosofia da Linguagem" (1929), sendo esta última talvez a sua obra mais célebre. Assinada com o nome de seu amigo e discípulo Voloshinov, só a partir dos anos 70 teve difusão e reconhecimento importantes, e apenas recentemente é que veio a ser confirmada a sua autoria (Bakhtin concedeu a atribuição de diversos de seus textos a colegas). Em 1929, foi obrigado ao exílio interno no Cazaquistão acusado de envolvimento em atividades ilegais ligadas à Igreja Ortodoxa, o que nunca viria a ser demonstrado. Ficaria no Cazaquistão até 1936.

Mais tarde, ver-se-ia forçado ao exílio a Saransk (capital da Mordóvia) durante a purga de 1937. Em 1941 lê a tese de doutoramento no Instituto Gorki, de Moscovo, voltando a Saransk como catedrático após a Segunda Guerra Mundial, e sendo redescoberto como teórico por estudantes da capital russa depois da morte de Stalin (1953) e sobretudo na década de 1960. Os seus trabalhos só foram conhecidos no Ocidente progressivamente a partir da década de 1980, atingindo grande prestígio e referencialidade póstuma na década de 1990 e até a atualidade.

Seu trabalho é considerado influente na área de teoria literária, crítica literária, sociolinguística, análise do discurso e semiótica. Bakhtin é, na verdade, um filósofo da linguagem e sua linguística é considerada uma "translinguística" porque ela ultrapassa a visão de língua como sistema. Isso porque, para Bakhtin, não se pode entender a língua isoladamente, mas qualquer análise linguística deve incluir fatores extralinguísticos como contexto de fala, a relação do falante com o ouvinte, momento histórico, etc.

Marxismo e Filosofia da Linguagem


Círculo de Bakhtin. Sentados, da esq. à dir.: Bakhtin, Maria Yúdina, Valentin Voloshinov, Lev Pumpianski, Pável Medvédev. Em pé Constantino Váguinov e esposa (Petrogrado por volta da metade da década de 1920)

A pretensão exprimida por Valentin Voloshinov em "Marxismo e Filosofia da Linguagem" é a de dotar a teoria marxista de uma formulação coerente em relação à ideologia e à psicologia, superando em simultâneo o objetivismo abstrato ou positivista e o subjetivismo idealista. Para tal, descobre no signo linguístico um signo social e ideológico, que põe em relação a consciência individual com a interação social. 

O pensamento individual não cria ideologia, é a ideologia que cria pensamento individual. Literalmente, afirma que "Uma das tarefas mais essenciais e urgentes do marxismo é constituir uma psicologia verdadeiramente objetiva. No entanto, seus fundamentos não devem ser nem fisiológicos nem biológicos, mas sociológicos".

Apesar de ter sido escrito no fim da década de 1920, a obra mantém uma atualidade espantosa e faz parte dos fundamentos da mais atual teoria textual e semiótica. De caráter interdisciplinar, abre portas para uma nova interpretação do signo, da linguagem, da comunicação e da ideologia, de base social e material mas não mecânica nem positivista. Aplica o materialismo dialético ao campo da linguística de maneira fértil e original.

De fato, Bakhtin professa uma abordagem que transcende a abordagem marxista da língua e da linguística, combinando-o com o freudismo, o estruturalismo, o evolucionismo, a física relativista e a biologia. Para ele “a palavra é o signo ideológico por excelência” e também "uma ponte entre mim e o outro".

Teoria literária
Conceitos fundamentais associados à obra de Bakhtin incluem o dialogismo, a polifonia (linguística), a heteroglossia e o carnavalesco. Todos eles se afirmam na sua teoria literária, formulada principalmente na sua tese de doutoramento: "A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento: o Contexto de François Rabelais" (1941), em que rechaça a norma unívoca e a rigidez dos padrões e estilos. Reivindica a ambivalência, o discurso carnavalesco, amplo, polifônico e dialógico. Opõe-se à unidirecionalidade da retórica clássica e reivindica uma interpretação participativa, integradora, social, diversa e múltipla na construção da obra literária.

"A Estética da Criação Verbal"
Em "A Estética da Criação Verbal", Mikhail Bakhtin traz conceitos de polifonia e dialogismo. Polifonia, em síntese, diz respeito à existência de múltiplas vozes que constituem um ser, mas sobretudo qualquer atividade estética. Dialogismo é a constituição de qualquer um de nós pela auteridade.  Auteridade é a capacidade de se colocar no lugar do outro na relação interpessoal (relação com grupos, família, trabalho)... Empatia.

A literatura pode manifestar a polifonia e o dialogismo sem se submeter a elas, é o que afirma Mikhail Bakhtin. Mikhail Bakhtin dá um outro status para o estudo da linguagem, que não seria só estudar a gramática, a regra, mas estudar o modo como se usa no cotidiano, em grupos distintos.

Palavras podem significar coisas em grupos distintos. Mikhail Bakhtin fala sobre a abertura de se pensar nos usos da linguagem em contextos específicos, com estratificações sociais específicas. Ele é contra muitas das correntes que estavam circulando naquele momento, extremamente focadas na estrutura, que não tem sujeito e, se tem sujeito, não tem ação. Mikhail Bakhtin critica uma ideia de se pensar o social apartada do sujeito.

Principais obras de 
Mikhail Bakhtin
  • "Freudismo". SP: Perspectiva, 2004.
  • "Marxismo e Filosofia da Linguagem". SP: Hucitec, 2009.
  • "Cultura Popular na Idade Média: o Contexto de François Rabelais". SP: Hucitec, 2010.
  • "Estética da Criação Verbal". SP: Martins Fontes, 2010.
  • "Problemas da Poética de Dostoiévski". SP: Forense, 2010.
  • "Questões de Literatura e de Estética". SP: Hucitec, 2010.
  • "Para Uma Filosofia do Ato Responsável". SP: Pedro & João Editores, 2012.
Bibliografia
BRAIT, Beth (Org.). Bakhtin: conceitos-chave. SP: Contexto, 2005. ISBN 978-85-7244-290-9
BRAIT, Beth (Org.). Bakhtin: outros conceitos-chave. SP: Contexto, 2006. ISBN 85-7244-332-0
BRAIT, Beth (Org.). Bakhtin: dialogismo e polifonia. SP: Contexto, 2009. ISBN 978-85-7244-439-2
BRAIT, Beth (Org.). Bakhtin e o Círculo. SP: Contexto, 2009. ISBN 978-85-7244-435-4
PAULA & STAFUZZA (Orgs). Círculo de Bakhtin: pensamento interacional. Campinas: Mercado das Letras, 2013 (Série Bakhtin: inclassificável; v. 3). ISBN 978-857891-207-2
PONZIO, Augusto. A Revolução Bakhtiniana. SP: Contexto, 2008. ISBN 978-85-7244-409-5
VOLOSHINOV, Valentin. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. São Paulo: Editora 34, 2017. ISBN 978-85-7326-661-0

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

.: Resumo do sistema educacional brasileiro para concursos públicos


Conteúdo que tem caído em provas de concursos públicos voltados para a educação, o sistema educacional brasileiro, que tem gerado muitas críticas até hoje. Desde o Brasil República, o país tem tentado criar um sistema educacional a partir de políticas públicas, de infraestrutura, de legislação, mas os resultados nem sempre são os desejados. Talvez porque esse sistema, de fato, não exista.

Quando se fala em sistema, fala-se também de ideias, conjunto, unidade, recursos, ou seja, tudo o que se une  em torno de uma intenção, de uma unidade e que faz existir uma relação entre esses elementos forma um sistema. Quais são as ideias e as instituições que existem no Brasil em termos educacionais? De que forma todas estão unidas para que se possa dizer que existe um sistema educacional? O professor Dermeval Saviani afirma que, para que exista um sistema e se fale nele, pelo menos três condições têm que existir. 

Primeira condição: o Brasil é um país de grandes dimensões, por esse motivo é preciso existir conhecimento da realidade e das dificuldades de cada região. Regiões sul e nordeste, sul e norte, sudeste e nordeste são diferentes. Cada região tem suas dificuldades particulares. Cada região tem uma sociedade diferente, costumes, condições sociais, aspectos econômicos. Não vamos nos esquecer que o sistema educacional brasileiro é muito influenciado pelo fator econômico, pela economia do Brasil. Principalmente no estado neoliberal, em que investir em educação é, muitas vezes, é investir em estrutura. Esse fator econômico vai ser fundamental para nós consolidarmos o sistema educacional no Brasil.

A segunda condição é analisar a realidade da estrutura que nós temos e dos recursos disponíveis. É preciso analisar que tipo de tecnologia se tem no Brasil. Tecnologia é um dos fatores que influenciam na construção desse sistema, assim como a formação do professor. Isso tudo representa o que eu tenho em mãos: que estrutura eu tenho disponível para trabalhar e criar o sistema educacional?

Terceira condição: ter conhecimento teórico sobre educação. Essas condições são necessárias para que seja criado o sistema educacional. O que o Brasil tem criado em termos educacionais? O que nós temos desenvolvido do ponto de vista teórico, do ponto de vista do currículo, do ponto de vista da legislação e das diretrizes?

Quando nós integramos essas condições, é possível falar sobre a criação de um sistema educacional. Mas se o Brasil não tem um sistema educacional, o que de fato o Brasil tem? De acordo com o professor Saviani, o Brasil ainda não construiu um sistema educacional brasileiro. O Brasil tem construído uma estrutura educacional. A gente fala de níveis, de modalidade, de inclusão, mas para o professor Saviani, isso tudo o que o Brasil construiu até hoje representa uma estrutura educacional, mas não um sistema.

Diferenças entre sistema educacional e estrutura educacional
A estrutura educacional brasileira é composta, principalmente, por leis que criam programas, normas, procedimentos, currículos. Tudo o que nós temos na educação brasileira hoje faz parte de um conjunto de leis. Aliás,  a coluna vertebral da educação no Brasil é a Constituição Federal de 1988 e a LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que é de 1996. Mas o que que falta, segundo o próprio Saviani?

Para Saviani, faltam alguns elementos que caracterizam a construção de um sistema e não simplesmente a de uma estrutura. Falta intenção (todos trabalhando pelo mesmo propósito), unidade (diferenças muito grandes do padrão nacional país afora, educação de qualidade em uma região e escolas precárias em outras, temos um profissional da educação em um lugar e outro totalmente diferente em outro lugar. 

As variações e as regionalidades são fundamentais, mas falta essa unidade para a educação brasileira), coerência interna e coerência externa. São elementos que faltam para que a estrutura da educação brasileira formada até hoje deixe de ser uma simples estrutura e passe a ser um sistema educacional, algo que funciona, algo que se move positivamente. Que não sofre com os entraves com os quais se convive na educação brasileira.

Espinhas dorsais da educação brasileira
A Constituição Federal de 1988 e a LDB representam a espinha dorsal da educação brasileira. Dentro delas, nós temos princípios. A Constituição Federal vai trazer, por exemplo, a colaboração. 

A própria LDB no artigo 8º fala disso também. Nesse regime de colaboração, a União, juntamente a Estados e municípios e Distrito Federal vão desenvolver políticas eduacionais em regime de colaboração. Não tem aquela coisa de "a União faz e todos os Estados, municípios e Distrito Federal simplesmente reproduzem aquilo que a União desenvolveu". O sistema de desenvolvimento de educação é em regime de colaboração. Esse regime de colaboração vale também para o financiamento da educação. Há um sistema de colaboração no financiamento da educação, como acontece, por exemplo, com o Fundeb. 

A Constituição Federal afirma que a educação é um direito subjetivo do aluno. É um direito dele enquanto pessoa, enquanto ser humano. É um direito que não pode, de forma alguma, ser retirado do aluno. A criança, o adolescente e até mesmo o adulto, se a educação de jovens e adulto for considerada, do aluno com deficiência, todos tem acesso à educação de qualidade para que possam exercer o acesso à cidadania e participar dela. Igualdade de condições de acesso e permanência na escola.

Um dos objetivos do PDE - Plano de Desenvolvimento de Educação do Programa de Educação Para Todos é manter o aluno na escola, diminuir a evasão escolar, diminuir a defasagem entre idade e série (aquele aluno que está com 15 anos e está no 8º ano, por exemplo), eliminar o problema de desistência, de evasão, em todos os estados do Brasil.  

Mas o artigo 3º da LDB traz princípios que vão reger esse sistema educacional brasileiro. No inciso 1 deste artigo, tem igualdade de condições para o acesso e permanência na escola. Esse inciso 1 diz respeito a uma questão chamada universalização do acesso e também da qualidade. Nós temos que ter escola para todos e com a mesma qualidade. No inciso 2, liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber (dentro dos currículos, diretrizes e parâmetros). 

Inciso 3: pluralismo de ideias e concepções pedagógicas (a partir do momento em que o Brasil se tornou um estado laico, não mais confessional, e deixou de ter uma religião oficial, pode preparar o currículo com base em valores diversificados - até porque isso caracteriza bem o que é a sociedade brasileira: uma sociedade miscigenada e pluralista no sentido das ideias, porque muitas culturas contribuíram com a  cultura brasileira). Inciso 4: respeito à liberdade e apreço à tolerância (se for imaginado os pilares da educação: 1. saber fazer; 2. saber aprender; 3. saber ser, muitos autores consideram que a palavra tolerância diz respeito a saber conviver, ou seja, apreço à convivência). Ou seja, o papel de todo cidadão a partir da educação é saber conviver. É reconhecer as diferenças e respeitar e valorizá-las. Inciso 5: coexistência de instituições públicas e privadas de ensino. 

Outras: gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais. Valorização do profissional da educação escolar (de toda equipe pedagógica e de toda equipe escolar, e não só de professores e diretores). Gestão pedagógica do ensino público na forma desta lei e da legislação dos sistemas de ensino. Gestão democrática: não apenas a postura do diretor, mas a existência de uma estrutura democrática na escola, por exemplo, a existência de um conselho de escola, a atuação da APM (Associação de Pais e Mestres), a relação escola-comunidade, a construção do projeto político-pedagógico, tudo isso caracteriza uma gestão democrática.

Garantia de padrão de qualidade (o Estado precisa realizar anualmente um diagnóstico sobre a educação brasileira, por isso existe a avaliação do aluno, a avaliação institucional e a avaliação em larga escala). Valorização da experiência extraescolar (considerar aquilo que o aluno traga de fora da escola, para que seja, a partir de um processo mediador do professor, para que isso gere uma síntese, na visão do professor Saviani, em que o aluno traz as experiências, sofre a mediação do professor, e ocorre um processo de síntese, que é a formação do aluno com base naquilo o que se quer para o nosso país e a nossa cultura).Vinculação entre a educação, o trabalho e as práticas sociais: a finalidade da educação é preparar cidadão não apenas para o exercício da cidadania, mas também para o trabalho, para os seus deveres e para a vida em sociedade. 

Esses princípios irão dar um norte para tudo aquilo que se construir na educação brasileira. Toda vez que for falado em sistema educacional brasileiro, fala-se, na verdade, da intenção de todos os profissionais da educação e até mesmo do Estado, da esfera pública, em aplicar todos esses princípios e toda e qualquer iniciativa em prol da educação. O professor Saviani afirma que não adianta só existir a lei e princípios, tem que haver uma intenção, tem que haver uma unidade, uma coerência para que esses elementos sejam aplicados.   

Esfera administrativa
No âmbito federal, nós temos o MEC, que é o Ministério da Educação, e o CNE (Conselho Nacional da Educação). No âmbito estadual, temos as Secretarias de Educação (Sed, ou Seed, em alguns lugares), os CEE (Conselhos Estaduais de educação), as DRE (Delegacias Regionais de Educação). No âmbito municipal, as SME (Secretarias Municipais de Educação) e os CME (Conselhos Municipais de Educação). Dentro desses órgãos, nós temos uma comunicação e essa comunicação é a que precisa estar cada vez mais afiada para que o Brasil deixe de ter uma mera estrutura de ensino e passe a ter um sistema educacional. 

O MEC tem uma série de recomendações que são enviadas para os estados e municípios, mas os municípios também podem contribuir a partir de projetos, a partir do seu trabalho pedagógico, e enviar também dados e informações que orientem as políticas que serão produzidas no âmbito federal. Até porque o MEC e o Conselho Nacional de Educação trabalham com a questão de produção de currículo, de diretrizes, e essas diretrizes para existir precisam de uma legislação. Ou seja, o poder público é o legislador, e é orientado pelo Ministério da Educação e Conselho Nacional de Educação para  legislar, muitas vezes, sobre educação. Esse diálogo é fundamental entre essas estruturas.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

.: O que é psicologia da aprendizagem e como funciona na prática


A aprendizagem é o processo pelo qual a criança se apropria do conteúdo da experiência humana, daquilo em que o grupo social em que está inserida conhece. Para que uma criança aprenda, precisará interagir com outros seres humanos, principalmente com os adultos e com outras crianças mais experientes. 

Nas inúmeras interações desde o nascimento, a criança vai ampliando, de maneira gradativa, as formas de lidar com o mundo e, ao mesmo tempo, construindo significados para as ações e para as experiências que vive. A partir do uso da linguagem, esses significados ganham mais abrangência, dando origem a significados compartilhados por grande parte de um grupo social e fará parte do pensamento, formando uma importante base sobre a qual se desenvolverá o funcionamento intelectual. O pensamento pode ser entendido como um diálogo interno.

Objetos e conceitos existem, inicialmente, sob a forma de eventos externos aos indivíduos. Para se apropriar desses objetos e conceitos é preciso que a criança identifique as características, propriedades, e objetivos. A apropriação pressupõe, portanto, gradativa interiorização. Por meio desse processo, é possível aprender o significado da própria atividade humana, que está resumida em objetos e conceitos. 

Assim, ao se analisar uma mesa, pode-se notar que ela resume, em si, anos de trabalho e tecnologia: é preciso maquinário apropriado para lixar a madeira, instrumentos como o martelo e chaves de fenda para montá-la, apetrechos para refiná-la, como lixa e verniz. Entender o que se significa uma mesa implica conhecer as suas principais características e finalidades – mesa para jogar, comer, estudar etc. -, compreendendo o quanto de esforço foi necessário para concebê-la e realizá-la.

A Psicologia da Aprendizagem estuda o complexo processo pelo qual as formas de pensar e os conhecimentos existentes numa sociedade são apropriados pela criança. Para que se possa entender esse processo é necessário reconhecer a natureza social da aprendizagem. As operações cognitivas, envolvidas no processo de conhecer, são construídas na interação com outros indivíduos.

O adulto ou a criança mais experiente fornece ajuda direta à criança mais nova, orientando-a e mostrando-lhe como proceder por meio de gestos e instruções verbais, em situações de interação. Na troca entre o adulto e a criança, gradativamente, a fala social trazida pelo adulto vai sendo incorporada pela criança e o seu comportamento passa a ser, então, orientado por uma fala interna, que planeja a sua ação. Logo, a fala está misturada com o pensamento da criança, e está integrada às operações intelectuais.

Reconhece-se, dessa maneira, que as pessoas, em especial as crianças, aprendem pelas ações partilhadas mediadas pela linguagem e pela instrução. A interação entre adultos e crianças, portanto, é fundamental na aprendizagem. A Psicologia da Aprendizagem, aplicada à educação e ao ensino, busca mostrar como, pela interação entre professor e alunos, é possível a aquisição do saber e da cultura acumulados.

O papel do professor nesse processo é fundamental. Ele deve estruturar condições para ocorrência de interações professor-alunos-objeto de estudo, que levem à apropriação do conhecimento. Essa visão de aprendizagem reconhece a natureza social da aquisição do conhecimento e o papel preponderante que tem o adulto. Parte, na aprendizagem, do social para o individual, a partir de sucessivos estágios de internalização, com o auxílio de adultos ou de companheiros mais experientes.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

.: Resumo do livro "Formação e Classes de Palavras no Português do Brasil"


No livro  "Formação e Classes de Palavras no Português do Brasil", publicado pela editora Contexto, a autora Margarida Basílio, professora titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, descreve os padrões gerais e dos principais processos de formação de palavras na variedade brasileira da língua portuguesa.

A intenção da autora é oferecer ao público leitor, estudiosos da língua e professores de português uma visão articulada dos principais processos de formação de palavras, tendo como ponto central a questão da mudança de classe e suas funções na constituição do léxico. A autora quer mostrar que a morfologia derivacional não existe por acaso. De acordo com ela: “as estruturas morfológicas constituem um instrumento fundamental na aquisição e expansão do léxico individual ou coletivo, assim como de seu uso na produção e compreensão de diferentes tipos de texto em nossa língua”, afirma na introdução da página 7.

Para isso, ela desenvolve o assunto em dez capítulos, terminando todos eles com um conjunto que varia entre dez e 18 exercícios para que os leitores possam praticar ou testar o conhecimento no que acabaram de estudar a cada capítulo.

O primeiro capítulo, “Para que serve o léxico?”, entre as páginas 9 e 12, reflete sobre léxico e língua, constituição e expansão do léxico, léxico externo e léxico mental, processos de formação de palavras, o léxico é “ecologicamente correto”, léxico virtual e léxico real. 

O segundo capítulo, “Dissecando a palavra”,entre as páginas 13 a 19, é sobre a palavra gráfica, palavra e dicionário, palavra estrutural, a palavra e suas flexões; palavra, vocábulo e lexema; palavra, homonímia e polissemia; palavra fonológica, clíticos, locuções, a palavra como forma livre mínima, formas dependentes, problemas remanescentes. 

O terceiro capítulo, “Classes de palavras e categorias lexicais”, entre as páginas 21 a 25, trata de noções gerais, critérios de classificação, um critério ou um conjunto de critérios?, principais categorias lexicais: breve definição, formação e classes de palavras. 

O quarto capítulo, “Derivação e mudança de classe: padrões gerais e motivações”, entre as páginas 27 a 32, expõe padrões lexicais regulares, derivação e mudança de classe, por que mudança de classe?, motivações não são exclusivas, quadros mais complexos, motivação expressiva na mudança de classe, motivação textual e motivação sintática, motivações múltiplas. 

O quinto capítulo, “Principais processos de mudança de classe: formação de verbos”, entre as páginas 33 a 38, gira em torno da formação de verbos a partir de substantivos, processos de formação de verbos a partir de adjetivos, mudança de estado em verbos formados a partir de substantivos, principais processos de formação, formações parassintéticas. 

O sexto capítulo, “Principais processos de mudança de classe: formação de substantivos”, entre as páginas 39 a 51, remete à formação de substantivos a partir de verbos, função denotativa, motivação gramatical, motivação textual, desverbalização, principais processos de formação; derivação regressiva, formação de nomes de agente e instrumento, aspectos gramaticais, principais processos de formação; formação de substantivos a partir de adjetivos, função denotativa, outras motivações, principais processos de formação. 

O sétimo capítulo, “Principais processos de mudança de classe: formação de adjetivos”, entre as páginas 53 a 60, falará sobre a formação de adjetivos a partir de substantivos, principais processos de formação; formação de adjetivos a partir de verbos, motivação gramatical, principais processos de formação; vestígios categoriais em adjetivos formados de verbos. 

O oitavo capítulo, “Principais processos de mudança de classe: formação de advérbios”, entre as páginas 61 a 65, trata da formação de advérbios por derivação, problemas de análise morfológica na derivação de advérbios, as diferentes funções das formações em -mente, a formação de advérbios por conversão.

Nos últimos capítulos, a autora reflete sobre processos de formação de palavras que não estão ligados à mudança de classe. No nono capítulo, “Sufixação sem mudança de classe”, páginas 67 a 77, trata da expressão do grau (aumentativo e principais processos de formação; o diminutivo e seus valores e principais processos de formação; aspectos morfológicos; prefixos diminutivos; superlativo) e nomes de agente denominais (formações em -ista, formações em -eiro, além de outras formações). 

No décimo capítulo, “Adjetivo ou substantivo?”, páginas 79 a 93, sobre conversão e derivação imprópria, adjetivo e substantivo: as dificuldades de classificação; nomes pátrios e nomes de cores; os três critérios de classificação e sua relação com a flutuação substantivo/adjetivo; adjetivos substantivados; substantivos com função adjetiva: nomes de agente, casos típicos e casos marginais, substantivos podem qualificar substantivos?, substantivos como qualificadores, substantivos como complementos de substantivos, substantivos como especificadores.

Margarida Basílio também é autora de "Teoria Lexical" (São Paulo: Ática, 1987) e "Estruturas Lexicais do Português: Uma Abordagem Gerativa" (Petrópolis: Vozes, 1980).

Referência bibliográfica
BASILIO, Margarida. Formação e classes de palavras no português do Brasil. – 3ª ed. – São Paulo: Contexto, 2011. 


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