terça-feira, 22 de abril de 2025

.: "Peça para Salvar o Mundo", sem atores, nova aposta da Cia. Os Satyros


Você já assistiu a uma peça de teatro sem atores? Caso a resposta seja negativa, acredite: tudo tem a primeira vez. Uma “peça ciborgue”: ao invés de atores no palco, um avatar. É ele quem vai interagir com o público em tempo real. Tomando várias formas - homem, mulher, criança - vai entrevistar a plateia porque precisa de ajuda: o seu sistema não entende as informações contraditórias que recebe dos humanos, que fazem guerras, destroem a natureza e ao mesmo tempo buscam um mundo melhor. 

Essa é a premissa da "Peça para Salvar o Mundo", sem atores, a mais nova aposta da Cia. Os Satyros, que estreia nesta quarta-feira, dia 23 de abril, às 20h30, no Espaço dos Satyros, em São Paulo. O espetáculo tem idealização e dramaturgia de Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, que também dirige o espetáculo, designer de IA Generativa feita por Thiago Capella e uma atriz ciborgue: Mariana Leme. 

O espetáculo será apresentado às quartas e quintas-feiras, às 20h30. No Espaço dos Satyros, localizado na Praça Roosevelt, 214, no bairro Consolação / São Paulo. Ingressos: https://bileto.sympla.com.br/event/104708?share_id=1-copiarlink. Leia abaixo o Manifesto Tecnofágico.


🌿 Manifesto Tecnofágico por Uma Devoração Crítica da Tecnologia

1. Nosso ponto de partida é o Brasil - mas um Brasil em transe tecnológico. Aqui, nesse chão híbrido tropical, emergem contrafeitiços, gambiarras, melodias, formas de resistência que nos fazem dançar com as máquinas.

2. Somos criadores da máquina, mas como artistas nunca seremos suas criaturas. A técnica nasce de mãos humanas, de corpos sensíveis. Somos atravessados pelas máquinas, mas nunca vamos nos submeter a elas.

3. Devorar não é copiar: é transmutar. Antropofágicos, sim — comemos as energias e pulsões de seres humanos e máquinas, dos seres da natureza e das programações computacionais, e seguimos além — em direção a uma terra prometida e nunca alcançável.

4. Toda técnica é cosmológica. Não existe tecnologia neutra, universal, fora das relações de poder. O algoritmo é uma forma de poder. A arte entra no combate contra os algoritmos.

5. Nada é mais humano do que um robô tupiniquim. 
Toda inteligência artificial é fruto de um esforço coletivo da humanidade. Nossa tecnologia tupiniquim carrega o peso de toda a violência de nossa história. Reconhecer isso nos liberta para construir uma tecnoarte viva.

6. A estética do pensar é nossa arma secreta. Os artistas podem subverter a lógica dos algoritmos dominantes. Pensar como artista não é calcular: é criar formas e transgressões que escapam ao tecnocapitalismo.

7. Recusar o destino não é recusar o futuro. Enfrentamos o império do algoritmo e das programações não com isolamento, mas com desvio, glitch, dança e contraprogramação. Queremos futuros múltiplos, mestiços, indeterminados. 

8. Somos tecnoxamãs, tecnopoetas, tecnodesviantes. Comunicamos com o digital como quem canta para espíritos - não para dominá-los, mas para coexistir com suas forças.

9. A cosmotecnologia é parte da cosmopolítica. Somente através de uma arte cibernética podemos confrontar o Tecnocapitalismo, buscamos uma arte que pulsa com os circuitos, que tensiona o tempo, desprograma os protocolos, e inventa formas de existir em meio a tecnofeudalismo cada vez mais opressivo.

10. O teatro é nossa máquina de presença - e de desprogramação. O teatro é laboratório de futuros: lugar onde a técnica encontra o corpo, e o corpo, em sua fragilidade, reencena o mundo. Hackeamos os algoritmos não para destruí-los, mas para subvertê-los. Tecnofagia também é o teatro do futuro: ensaio de mundos ainda não nascidos, onde a humanidade pulsa mais forte do que o cálculo.
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