“O que é uma pessoa? Quando é que uma pessoa está completa? Uma mulher sem cara é já uma mulher? Um escritor sem livro - o que é? Um livro que não chegou a ser escrito será um livro?”. É com indagações nesse teor - a um só tempo profundas e afetuosas - que Djaimilia Pereira de Almeida, uma das vozes mais originais da literatura de língua portuguesa, constrói este inclassificável e sempre cativante "O Livro do Meu Pai", lançado no Brasil pela editora Todavia. A capa é de Luciana Facchini.
O impulso original da obra deu-se quando, após a morte do pai da autora durante a pandemia de covid, Djaimilia foi buscar um proverbial (e já lendário na família) romance que o pai alardeou estar a escrever com entusiasmo infatigável durante décadas. Uma obra total, capaz de retraçar uma vida com toda a amplitude, oferecendo um depoimento literário e pessoal sobre o século que viu o império colonial português esfarelar de vez após as revoltas por independência em diversos países africanos.
A partir daí - da experiência do luto e da busca imaginativa pelas palavras do pai -, a narradora deste livro único empreende uma meditação sobre a finitude e aquilo que não é acabado, os laços familiares e os sentimentos coletivos, as doenças da alma e a resistência pessoal em períodos turbulentos. Como que para abarcar e fixar por meios das palavras (muitas vezes fugidias) o mundo íntimo do pai e o universo inteiro. Um painel pessoal e humano em vários registros e modalidades de escrita, tendo a imaginação com centro irradiador.
É a por meio desse movimento que "O Livro do Meu Pai" revela ao leitor, atônito com a engenhosidade da autora, que não esconde a própria emoção, a sua intenção desmesurada: a de ser ele também um livro total a abarcar toda a experiência humana. Ou, como escreve a narradora: “Quanto mais o livro cresce, menor o mundo para lá dele”. Apoie o Resenhando.com e compre "O Livro do Meu Pai" neste link.
Sobre a autora
Nascida em Luanda, em 1982, Djaimilia Pereira de Almeida é autora de, entre outros, "Esse Cabelo", "A Visão das Plantas" (Prêmio Oceanos 2020) e "O que É Ser Uma Escritora Negra Hoje, de Acordo Comigo", publicados no Brasil pela Todavia. Em 2025 foi agraciada com o Prêmio Vergílio Ferreira de romance por sua contribuição à literatura portuguesa. Apoie o Resenhando.com e compre "O Livro do Meu Pai" neste link.
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