Em cartaz na Itaú Cultural Play – plataforma de streaming gratuita de cinema brasileiro – a série documental "Futuro da Terra", que explora diferentes aspectos da cultura dos povos originários brasileiros de vários estados do país. Realizada pelo Itaú Cultural, Futuro da Terra é uma das primeiras séries dirigidas por uma pessoa indígena, Alberto Alvares, cineasta da etnia Guarani Nhandewa e um dos principais nomes do cinema indígena do Brasil. Ele compartilha a direção com o jornalista Claudiney Ferreira.
Na plataforma, os espectadores podem assistir à primeira temporada, com três episódios. Gravados no Distrito Federal, em Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais, os capítulos têm depoimentos de líderes indígenas como Ailton Krenak, Cacique Raoni Metuktire, Daniel Munduruku, Célia Xakriabá, Olinda Tupinambá, Denilson Baniwa, entre outras lideranças.
O lançamento de "Futuro da Terra" acontece em sinergia com o Dia da Terra, comemorado em 22 de abril. A produção-executiva é da Filmes de Quintal, associação responsável, entre outras ações, pelo forumdoc.bh – Festival do Filme Documentário e Etnográfico, Fórum de Antropologia e Cinema, importante festival do gênero. O acesso à Itaú Cultural Play é gratuito, disponível em www.itauculturalplay.com.br, nas smart TVs da Samsung, LG e Apple TV, nos aplicativos para dispositivos móveis (Android e iOS) e Chromecast.
Sobre a série
Hoje, o Brasil soma mais de 305 etnias indígenas, falantes de cerca de 270 diferentes línguas. Apesar de numerosos, estes povos ainda são pouco conhecidos e compreendidos na sociedade brasileira. Em depoimento ao primeiro episódio, Ailton Krenak ressalta: “Se fôssemos contar que os povos nativos são todos ‘índios’, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a Unesco e a Organização Mundial da Saúde (OMS), nós seríamos uma população estimada de 400 milhões de pessoas, espalhadas pelo mundo. Talvez isso seja uma garantia para a gente continuar vivendo. Não estamos mais enclausurados em um lugar, aonde alguém pode ir e nos aniquilar. Estamos no mundo”.
Nesse contexto, "Futuro da Terra" pretende ser uma ponte entre a cultura, os costumes e as cosmologias dessa riqueza humana e os não-indígenas. Para isso, dentro de um recorte temático, cada episódio cruza os pontos de vista e as vivências de vários povos, moradores de locais distintos, mostrando suas semelhanças e divergências no modo de pensar e sentir o mundo.
“O futuro da Terra não tem como ser separado das nossas histórias. Um dos objetivos centrais da Itaú Cultural Play é justamente mostrar os muitos modos de ser, ver e sentir as diferentes histórias de cada um e imaginar outros mundos que possam continuar sendo possíveis”, diz André Furtado, gerente do núcleo de Criação e Plataformas do Itaú Cultural. “A necessária série 'Futuro da Terra' se une, agora, a outros filmes e documentários do nosso catálogo que ecoam territórios e povos diversos, lembrando que contar histórias é também uma forma de cuidar da Terra”, conclui.
Além das estreias frequentes, a IC Play possui duas coleções permanentes dedicadas ao tema, "Um Outro Olhar: cineastas Indígenas" e "Sob o Olhar delas: novas Perspectivas do Cinema Indígena", que traz títulos recentes dirigidos por mulheres. Outro destaque de "Futuro da Terra" é que todas as entrevistas são feitas somente com pessoas indígenas, boa parte delas nas línguas originais de cada etnia. A produção também dá voz às lideranças femininas, como Jerá Poty Mirim, moradora da Terra Indígena Tenondé Porã, na capital paulista, e a deputada federal Célia Xakriabá.
“'Futuro da Terra' nasce como uma urgência para mim, para o meu povo e para outros povos indígenas brasileiros. É uma forma de salvaguardar nossas memórias”, diz Alberto Alvares. “Muitos filmes e séries sobre povos indígenas tratam de apenas uma etnia. Nesta série, cada episódio traz histórias e depoimentos de vários povos”, completa Claudiney Ferreira, roteirista e parceiro de Alvares na direção.
Alvares também assina a direção de fotografia e a série conta com desenhos exclusivos do artista visual Wapichana Gustavo Caboco, um dos nomes mais representativos da arte indígena contemporânea – o catálogo da IC Play oferece uma animação dirigida por "Caboco, Kanau'kyba" (Roraima, 2021).
A primeira temporada foi gravada no Acampamento Terra Livre, no Distrito Federal, e em território Guarani, em São Paulo; Xingu, no Mato Grosso; e Krenak e Maxacali, em Minas Gerais. O primeiro episódio, Território, retrata justamente a noção de território entre esses povos, que ultrapassa o simples conceito de espaço físico, englobando a relação com corpo, língua e diversidade étnica.
“No estado de São Paulo, por exemplo, nós gravamos em aldeias diferentes, mas habitadas pelas mesmas etnias, caso dos Guarani. É impressionante ver como o conceito de território muda de acordo com o local onde o povo está, do quão próximo está do meio urbano”, conta Júnia Torres, diretora de produção e uma das idealizadoras de Futuro da Terra.
Para o cineasta Takumã Kuikuro, morador da aldeia Ipatse, no Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso, por exemplo, a terra pertence a todos os humanos, indígenas ou não. “Nós não pensamos em mercadoria como os não-indígenas, que disputam a terra. Não transformamos a terra, a água e os peixes em dinheiro, mas sim em sustento da vida, para todo mundo”, diz em entrevista, no episódio.
Perspectivas sustentáveis
Tanto o segundo quanto o terceiro episódio abordam um tema que, segundo Júnia, se impôs durante as gravações e a captação de material: a sustentabilidade. O segundo, intitulado "Revivências da Mãe-Terra", retrata, principalmente, as iniciativas de preservação e recuperação ambiental dos povos originários, como o projeto de reflorestamento em aldeias Maxacali, em Minas Gerais, além da restauração de sementes e abelhas nativas pelos Guaranis. De acordo com ela, esses dois povos são os únicos do Sudeste que ainda falam sua língua originária.
"Terra e Corpo, Natureza e Espiritualidade", o terceiro episódio, por sua vez, debate a sustentabilidade de um modo mais amplo, aludindo às noções de manutenção do corpo, da alimentação, das culturas e tradições, da língua e da espiritualidade.
Esse episódio guarda uma das cenas mais emocionantes da série: o momento em que Vitorino, pajé de uma aldeia Maxacali, que é cercada por fazendas, lamenta o incêndio criminoso que varre a floresta próxima. “Naquele momento, enquanto olhávamos a mata devastada pelo fogo, ele não demonstrava, mas estava chorando por dentro. Para os Maxacali, não era apenas uma terra sendo queimada, era um corpo”, lembra Alvares.
Serviço
Série original "Futuro da Terra", de Alberto Alvares e Claudiney Ferreira
Na Itaú Cultural Play www.itauculturalplay.com.br
Sinopses dos episódios
T1:E1 | "Território" | "Futuro da Terra"
De Alberto Alvares e Claudiney Ferreira (60 min, Distrito Federal, Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais, 2023)
Classificação indicativa: AL – livre (drogas lícitas)
Sinopse: a concepção indígena de território transcende a simples noção de espaço físico, engloba a relação com corpo, língua, diversidade étnica e cosmovisões. A partir deste conceito, são abordados neste episódio a relação com a natureza, a estrutura do cotidiano nas aldeias, o papel dos pajés e caciques, das lideranças e a importância da educação formal para as novas gerações indígenas.
T1:E2 | "Revivências da Mãe-Terra" | "Futuro da Terra"
De Alberto Alvares e Claudiney Ferreira (60 min, Distrito Federal, Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais, 2023)
Classificação indicativa: AL – livre (drogas lícitas)
Sinopse: o episódio apresenta a percepção da sustentabilidade e da questão ambiental para os povos originários, que estão relacionadas à ideia de compartilhamento entre toda a aldeia do que se tira da terra. Juntos, com participação importante das mulheres, defendem e tentam proteger as terras-florestas das invasões, protegendo a vida.
T1:E3 | "Terra e Corpo, Natureza e Espiritualidade" | "Futuro da Terra"
De Alberto Alvares e Claudiney Ferreira (55 min, Distrito Federal, Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais, 2023)
Classificação indicativa: AL – livre
Sinopse: para os povos originários, não se vive das várias naturezas, mas sim com as naturezas. A partir desta perspectiva, o episódio aborda a sustentabilidade de modo amplo, as noções de manutenção do corpo, da alimentação, das culturas e tradições, da língua e da espiritualidade.
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