segunda-feira, 14 de abril de 2025

.: "Carga Viva" entrelaça poesia, crise climática e ecos da redemocratização


No romance, que combina realismo e elementos fantásticos, passado e presente se conectam através de um livro de poesias, resgatando marcos históricos do Brasil e narrando o país de hoje. Na imagem, capa de Carga Viva ao lado da autora. Ana Rüsche. Foto: Luiza Sigulem


A premiada escritora Ana Rüsche lança o romance "Carga Viva". Além de marcar os 40 anos da eleição de Tancredo Neves, a obra integra os lançamentos que comemoram os 50 anos de atividades da editora Rocco. Com uma linguagem densa, o livro alterna entre diferentes núcleos narrativos e explora a paisagem e a natureza como elementos centrais. 

"Carga Viva" entrelaça dois núcleos narrativos conectados por um livro de poesias. O primeiro, ambientado em 1985, apresenta uma história de amor entre dois homens isolados em Ubatuba. Um deles, advogado e poeta, vive seus últimos dias após contrair o vírus HIV, enquanto o Brasil vive o conturbado período da eleição indireta de Tancredo Neves (1910 - 1985), presidente da república eleito em um Colégio Eleitoral, mas não empossado por circunstância de sua morte. 

O segundo núcleo se passa nos dias atuais, em São Paulo, onde duas irmãs afastadas precisam viver juntas por força das circunstâncias — um marido agressor e uma gravidez em curso em meio ao agravamento da crise climática e o fantasma do vírus da Covid-19. O elo entre esses dois núcleos é um livro de poesia escrito pelo poeta em 1985 e estudado no futuro por uma das irmãs.

O tratamento dado à trama é realista, mas incorpora elementos insólitos, o que é comum na bibliografia de Ana Rüsche, autora que discute por meio de literatura e textos não-ficcionais sustentabilidade e o agravamento da crise climática mundial. Em "Carga Viva", o elemento insólito é o “prata viva”, substância que, quando ingerida, provoca alucinações, fortalece o sistema imunológico e altera o sonho. Esse elemento dá ao poeta uma vida mais longa e, no presente, é consumido por uma das irmãs, despertando reações sociais preconceituosas. 

A história se completa com um amigo alemão, dono da casa de praia onde o casal de 1985 se abriga. Ao ser demitido, ele desce a serra para viver uma temporada consumindo o "prata viva" e tendo contato com poesia pela primeira vez. Essa interseção entre o insólito e o estrangeiro cria um suspense narrativo que altera os rumos das histórias conhecidas, abrindo a imaginação a desfechos alternativos.

O livro terá lançamentos presenciais ao longo de 2025 em cidades como Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. A agenda da escritora começa com o lançamento do livro em Brasília, dia 25 de abril, sexta-feira, às 19h00, na Livraria Circulares (Comércio Local Norte 113, BL A, loja 7 - Asa Norte). No dia 8 de maio, quinta-feira, 19h00, segue para São Paulo, com evento na Livraria da Tarde (R. Cônego Eugênio Leite, 956 - Pinheiros). Compre o livro "Carga Viva" neste link.

Referências estéticas
A obra é baseada em eventos políticos expressivos, como a morte de Tancredo Neves em 1985, as Diretas Já, manifestações ocorridas entre 1983 e 1894; e as motociatas bolsonaristas, iniciadas em 2021. Essa abordagem dialoga com a literatura contemporânea de autores, que revisitam acontecimentos históricos, como Maria Valéria Rezende, Mariana Enriquez e Maryse Condé. 

Na construção da narrativa homoafetiva, referências importantes foram os textos de Alberto Guzik, Caio Fernando Abreu e João Silvério Trevisan, além da pesquisa histórica de Renan Quinalha e dos ensaios de Eduardo Jardim e Susan Sontag sobre a representação literária sobre HIV/AIDS. 


Sinopse de "Carga Viva"
Um livro de poesia une duas histórias: a de um poeta com HIV à beira da morte em 1985 e a de sua leitora, uma professora grávida de um namorado violento. Do início da redemocratização à crise climática, um livro com elementos fantásticos une duas histórias para narrar o Brasil atual.

Sobre a autora
Ana Rüsche é finalista do Prêmio Jabuti com "A Telepatia São os Outros" (Monomito, 2019), livro vencedor do prêmio Odisseia de Literatura Fantástica. O livro foi publicado na Itália pela FutureFiction com o título "Telempatia" (2023), com lançamento no Salão do Livro de Turim. À época da publicação, mesmo com a Flip, o Estadão incluiu o livro como um dos “dez livros essenciais” em julho de 2019. Recentemente, um colunista da Folha da área de ciência, Reinaldo José Lopes, sublinhou a hipótese e a pesquisa feita na obra.

Estreou em 2005, publicando poesia, gênero no qual possui quatro títulos. O primeiro foi também publicado no México e uma seleção do Furiosa, publicada nos EUA de forma independente. A prosa poética "Do amor: o Dia em que Rimbaud Decidiu Vender Armas" (Quelônio, 2018) foi finalista do Prêmio Nascente USP. 

Foi uma das escritoras convidadas da última WorldCon - World Science Fiction Convention, em Chengdu, China. Possui contos publicados na Coreia do Sul, Colômbia, México, Itália e no Brasil, destacando-se “Canção da Autora”, publicado na antologia "O Dia Escuro: contos Inquietantes de Autoras Brasileiras", organizado por Fabiane Secches e Socorro Acioli (Companhia das Letras, 2024). 

Concluiu o Pós-Doutorado em Teoria Literária da FFLCH-USP sobre crise climática e literatura. Realiza o segundo Doutorado na UnB — Universidade de Brasília, na área de ecocrítica . É doutora em Letras pela USP com a tese “Utopia, Feminismo e Resignação em 'The Left Hand of Darkness' (de Ursula Le Guin) e 'The Handmaid’s Tale' (de Margaret Atwood)”. É formada em Letras e também em Direito pela USP, sendo mestre em Direito Internacional. Ministra cursos para diferentes instituições, como o Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, a Poiesis e CLACSO - Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales. Colaborou com o Suplemento de Pernambuco e com a Revista 451 com resenhas e artigos de crítica, entre outros veículos. Garanta o seu exemplar de "Carga Viva" neste link.

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