Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.
Há 50 anos, um grupo de jovens músicos começava nos Estados Unidos uma incrível jornada pelo jazz instrumental, influenciado pelo estilo fusion que estava em alta na época. E a receita deles trazia um certo tempero pop ao som, que acabou se tornando sua irresistível marca registrada e conquistou centenas de fãs pelo mundo afora. Mundo esse que não se cansou nunca de presenciar o som mágico da banda Spyro Gyra em todos os seus continentes. E mesmo com as mudanças na formação, a sonoridade se manteve intacta.
Líder e fundador do grupo, o saxofonista Jay Beckenstein, continua tocando seu instrumento com a mesma vitalidade do início, contando com Julio Fernandez (guitarra), Scott Ambush (baixo), Lionel Cordew (bateria) e Chris Fisher (teclados) como integrantes fixos atuais. Em entrevista para o Resenhando, Jay Beckenstein conta como foi seu início na música, comenta sobre o panorama atual do jazz e não descarta lançar mais um álbum com canções inéditas. “Espero que a gente crie um conceito para outro disco no futuro”.
Resenhando.com - Como e quando foi que a música chegou até você?
Jay Beckenstein - Nasci em 14 de maio de 1951 no Brooklyn, Nova York, e cresci cercado por música. Minha mãe era cantora de ópera e o amor do meu pai pelo jazz me apresentou a Charlie Parker e Lester Young antes que eu pudesse falar. Comecei a tocar piano aos cinco anos de idade, quando minha família se mudou para Farmingdale. Ganhei meu primeiro saxofone por meio do programa de música na escola primária aos sete anos de idade. No meu primeiro ano na faculdade, comecei a trabalhar em clubes em Buffalo e, quando me formei, tinha um trabalho estável nos clubes. Os próximos anos foram gastos tocando em algumas grandes bandas de blues e Rhythm & Blues.
Resenhando.com -Nesses 50 anos, você viu muitas mudanças no mundo da música. Como avalia o momento atual?
Jay Beckenstein - Acho que há tanta coisa que foi feita musicalmente que muito do que está acontecendo parece ser uma repetição de ideias antigas. Não parece haver muito espaço para novas descobertas e música agora, mas é claro que ainda há ótima música sendo feita. Mas muito disso parece ser uma repetição do passado.
Resenhando.com - Apesar das mudanças na formação, o som do Spyro Gyra continua intacto. Qual é o segredo da longevidade?
Jay Beckenstein - Permanecendo fiéis a nós mesmos. Sabe, nunca perseguimos um estilo. Sempre fizemos o que parecia natural, o que era natural e acho que nosso estilo foi formulado em uma época na música em que havia muita riqueza e ecletismo. Havia tantos tipos diferentes de música dos quais se basear na época. Então, esse amálgama particular de música nos moldou.
Resenhando.com - Em 1992, você tocou na gravação da música "Another Day", com o grupo Dream Theater. Como foi essa experiência?
Jay Beckenstein - Primeiro de tudo, eu gostei muito. Eu era dono de um estúdio de gravação, o BearTracks, e o Dream Theater estava gravando lá. Então foi tudo muito, muito casual. Eles estavam lá em cima gravando e alguém disse: "Você quer tentar um solo de sax?" Então eu subi e levou cerca de 15 minutos. Pareceu muito natural, foi ótimo. Essa foi minha introdução inicial a eles. Aquele solo de sax entrou no disco deles e estou orgulhoso disso. É um solo muito legal. Mas então fomos um pouco mais longe com isso e eu me apresentei com eles algumas vezes. E ainda sou amigo de Jordan Rudess (o tecladista do Dream Theater), que mora na minha área.
Resenhando.com - Desde o começo, a influência da música brasileira pode ser notada no som do Spyro Gyra. Fale sobre a relação com a nossa música.
Jay Beckenstein - Como um jovem que estava apenas desenvolvendo meu som, eu estava imensamente interessado em Samba. Era simplesmente a música mais bonita, alegre e ainda incrivelmente sofisticada. Acho que fui apresentado a ela pela colaboração de Stan Getz, João Gilberto e Tom Jobim. Mas sim, meu apego à música brasileira remonta a quando eu tinha 14 e 15 anos, com aquelas coisas maravilhosas de jazz samba acontecendo.
Resenhando.com - Qual é a sua opinião sobre o momento atual do jazz?
Jay Beckenstein - O jazz é uma forma de arte grande demais para desaparecer. Quer ele permaneça em algum tipo de estado puro ou não, sua influência continuará sendo imensa. Eu sinto que o jazz, junto com a música clássica, são os pináculos da musicalidade. Eles exigem tanta dedicação. Eles exigem tanto trabalho que são realmente uma arte elevada no mundo da música. E esse é o tipo de coisa que não desaparece. Bach não desaparece e nem 'Trane” (apelido dado ao renomado músico de jazz John Coltrane).
Resenhando.com - A banda já está em turnê para comemorar seu 50º aniversário. Há alguma intenção de gravar um novo álbum?
Jay Beckenstein - Essa é uma pergunta muito boa. Eu acho que eu consideraria gravar um novo álbum se eu sentisse que tenho algo novo a dizer. Qualquer reticência de que eu teria que não fazê-lo é mais que, agora, eu não tenho uma ideia totalmente nova para onde ir. Não valeria a pena apenas refazer o que fizemos em mais de 30 discos. Por outro lado, no passado, quando começamos a gravar projetos, eles me energizaram e energizaram a banda. Então, espero que a gente crie um conceito para outro álbum no futuro.
"Morning Dance"
"Catching The Sun"
"Shaker Song"
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