sábado, 21 de setembro de 2024

.: “Acústico: Novos Horizontes”, álbum cultuado ganha edição em vinil duplo


Por Pedro Só, em setembro de 2024

Cultuado pelos fãs, “Acústico: Novos Horizontes”, da banda Engenheiros do Hawaii, é daqueles discos que ganha melhor avaliação a cada década que passa. Editado originalmente em CD e DVD, em 2007, ele ressurge agora, 17 anos depois, em vinil duplo, via Universal Music. O álbum está disponível na UMusic Store neste link. Curiosamente, o formato permite um corte narrativo interessante na experiência do ouvinte, bastante em sintonia com as concepções progressivas/classic rock de Humberto Gessinger, líder da banda. Ele recentemente elogiou o trabalho nos seguintes termos: “Se tivesse que rever todas as obras do grupo, ‘Novos Horizonte’ é a única em que eu não mexeria em nada”.

“Acústico Novos Horizontes” coroou uma fase predominantemente “desplugada” do grupo - mais que uma fase, toda uma parte importante da essência do trabalho dos Engenheiros. Depois do grande sucesso de “Acústico MTV”, que saiu no fim de 2004, eles seguiram promovendo o disco com um show naquele formato por dois anos. Ao longo desse tempo, Humberto Gessinger se aprofundou nas investigações com bandolim e piano, comprou uma viola caipira e, empolgado, montou um repertório novo, usando tudo que aprendeu.

Com Humberto em voz, violão (seu Di Giorgio “de estimação”), viola caipira, piano, bandolim e harmônica (gaita no Rio Grande do Sul é outra coisa), a formação da banda em 2007 incluía Fernando Aranha no violão, Bernardo Fonseca ao baixo, Gláucio Ayala na bateria e nos vocais de apoio e Pedro Augusto nos teclados. A gravação aconteceu em 30 e 31 de maio de 2007, no antigo Palace (na época Citibank Hall), na capital paulista, diante de fãs, sem celebridades na plateia.

O repertório traz nove temas até então inéditos e nove releituras. A faixa-título, “Novos Horizontes”, dá nova chance a uma balada lançada em 2000 (no álbum “10.000 Destinos”). Entre as novas, se destacam a groovada “Vertical”, o lamento folk de perplexidade “Guantánamo”, com gaitinha dylaniana, “No Meio de Tudo, Você” e “Não Consigo Odiar Ninguém”, esta última inspirada pelo começo da era das redes sociais. Na atualíssima “Cinza”, sobre aquecimento global, Carlos Maltz, ex-baterista e cofundador da banda, participa, arriscando-se num rap. Com levada de rock básico, “A Onda”, gravada originalmente no disco “Humberto Gessinger Trio” (1996), traz outra participação especial, a filha de Humberto, Clara Gessinger. Ela canta também o número seguinte, o sucesso “Parabólica”, que inspirou quando era bebê (lançada em 1992).

Humberto costuma dizer que vê as canções como formas vivas, e curte muito mexer nos arranjos. Mas seus experimentos seguem uma linha conceitual com ourivesaria, distantes dos exercícios de desconstrução à moda de Bob Dylan. “Toda Forma de Poder”, por exemplo, é reinventada em outro punch, mas não desfigurada, em mistura com “Chuva de Containers” no recheio e na finalização. As intervenções à harmônica (aí, sim, dylanianas) são trunfos em “Simples de Coração”. “Alívio Imediato” e “Piano Bar” também ressurgem em ótimas versões. No encerramento, fiel ao plano gessingeriano de colocar o público no centro do trabalho dos Engenheiros, “Pra Ser Sincero” se descortina para o coro dos fãs, buscando a emoção máxima da experiência de quem estava lá. Como devem ser todos os discos ao vivo.

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