Com direção artística de Claudio Cretti, o II Ciclo Expositivo apresenta obras de Carla Chaim, Marcelo Amorim, Nino Cais, Lenora de Barros, Rosângela Rennó, Leda Catunda, Flora Leite e Mano Penalva. Na imagem, Rosângela Rennó apresenta "Nuptias Penelope Dick" (2017). Foto: Gabriela Carrera
A exposição "A Vingança do Arquivo", na Galeria da Casa de Cultura do Parque, é uma convite dos artistas Carla Chaim, Marcelo Amorim e Nino Cais que, como curadores, convidam as artistas Lenora de Barros, Rosângela Rennó e Leda Catunda para um grande diálogo entre suas produções. A mostra é acompanhada por um texto crítico inédito da curadora e pesquisadora Ana Roman. As práticas de Carla Chaim, Marcelo Amorim e Nino Cais, embora diversas em suas trajetórias, compartilham uma sensibilidade comum aos objetos do mundo, unindo-os pela apropriação.
Nesta exposição, o arquivo é o ponto de partida, e cada artista também atua como curador, convidando outro artista para expandir o diálogo. Nino Cais convida Leda Catunda, que ressignifica objetos cotidianos; Carla Chaim convida Lenora de Barros, explorando corpo e escrita; e Marcelo Amorim convida Rosângela Rennó, que recontextualiza imagens. Juntas, suas obras questionam a autoridade documental dos arquivos e expressam a contínua busca dos artistas por ressignificações, iluminando vestígios do passado sob novas perspectivas.
Ana Roman observa: "'A Vingança dos Arquivos' se apresenta, em certa medida, como uma mistura entre a apropriação e a dobra de elementos inscritos no passado, que se tornam objetos de fabulação de futuro; ou ainda pode ser compreendida como o desaprendizado das práticas e das categorias fundamentais às lógicas de dominação que regem os arquivos. Os artistas reunidos na exposição são, de alguma maneira, desobedientes a essas lógicas e posicionam-se como investigadores da nossa cultura visual. Eles trabalham a partir do desvio". "A Vingança do Arquivo" propõe uma reflexão profunda sobre a memória, o esquecimento e a reinvenção, convidando o público a reconsiderar a natureza dos arquivos e a autoridade das narrativas históricas.
"Sonâmbula” ocupa o Gabinete da Casa de Cultura do Parque e revela a poética singular de Flora Leite através de obras que exploram os limites entre matéria, objeto e a intangibilidade. Com trabalhos que capturam a atenção para o que é aparentemente invisível e efêmero, a individual de Flora Leite inclui obras como "Chaminé", uma torre de cigarros Marlboro empilhados, e "Celeste", um aparelho óptico que projeta a luz atmosférica no chão. Em "Alguma coisa, coisa nenhuma", a artista transforma a poeira recolhida em uma galáxia no piso da Casa, invertendo a célebre frase "Somos Todos Poeira de Estrelas". A mostra também inclui "Núcleo, magma, crosta", onde um pedaço de pão percorre o elevador da casa, em um movimento que reflete a combinação de repouso e deslocamento.
A poeta Julia de Souza, em seu texto crítico que acompanha a mostra, observa que as obras de Flora Leite transitam entre o concreto e o abstrato, provocando reflexões sobre a natureza das coisas e a linguagem. Ela escreve: "O sentido das coisas nunca é estanque - e tampouco são estanques as próprias coisas". "Sonâmbula" é um convite à imersão no universo poético de Flora Leite, que desafía o espectador a olhar para o cotidiano com novos olhos, a perceber a beleza e a poesia nos detalhes mais sutis e a refletir sobre as fronteiras entre o tangível e o intangível.
Inspirado pela memória afetiva de sua avó, que lhe ensinou a fazer flores de papel crepom, Mano Penalva celebra os saberes transmitidos pelo corpo e pelo afeto. A instalação "Crepom", criada especialmente para o “Projeto 280x1020” da Casa de Cultura do Parque, é composta por uma videoperformance, um canal sonoro e dois grandes murais que lembram lousas, adornados com babados de crepom branco.
Penalva evoca a educação convencional, com elementos que remetem à autoridade do professor e à organização normativa do alfabeto, para, em seguida, questionar essa estrutura. A instalação sugere que o conhecimento é transmitido também pela matéria, desafiando a separação entre intelecto e corpo, arte e artesanato, masculino e feminino, escrita e oralidade. A curadora e pesquisadora Mariana Leme, em seu texto crítico que acompanha a mostra, contextualiza "Crepom" dentro da história da arte ocidental, marcada pela divisão entre natureza e cultura, arte e artesanato.
“Uma educação pela pedra, ou pelas flores, pode significar uma bem-vinda contaminação cultural, para que possamos aprender da matéria, e reconhecer que também somos feitos dela”. Mariana Leme ressalta que a instalação de Penalva busca reparar essa fratura, resgatando uma educação pela materialidade e pela beleza das coisas. Através de suas flores de crepom, Penalva chama a atenção para a importância de uma educação que valoriza o contato com a matéria e a beleza, em contraste com a primazia do intelecto que dominou a história da arte ocidental.
Penalva nos convida a aprender com a matéria, a reconhecer nossa conexão com ela e a valorizar os saberes que atravessam gerações. A exposição é uma oportunidade de refletir sobre nossas próprias práticas educacionais e culturais, promovendo uma contaminação cultural bem-vinda e necessária.
Sobre a Casa de Cultura do Parque
A Casa de Cultura do Parque é um novo centro cultural que busca aprofundar o vínculo das pessoas com a cultura contemporânea através de oportunidades de aprendizado e vivências criativas. A partir das exposições de artes visuais, a Casa promove uma série de atividades educativas. De shows a debates, de visitas escolares a mostras de cinema, a Casa de Cultura do Parque tem como seu propósito contribuir para uma sociedade mais cidadã, mais diversa e mais inclusiva.
Serviço
II Ciclo Expositivo 2024
"A Vingança do Arquivo"
Curadoria: Carla Chaim, Marcelo Amorim e Nino Cais
Artistas: Carla Chaim, Marcelo Amorim, Nino Cais, Leda Catunda, Lenora de Barros e Rosângela Rennó
Texto crítico: Ana Roman
"Sonâmbula"
Artista: Flora Leite
Texto crítico: Julia de Souza
"Crepom"
Artista: Mano Penalva
Texto crítico: Mariana Leme
Aberturas: sábado, 3 de agosto, das 14h00 às 18h00
Visitação: de 3 de agosto a 13 de outubro de 2024
Horário: quarta a domingo, incluindo feriados, das 11h00 às 18h00
Endereço: Casa de Cultura do Parque | Av. Prof. Fonseca Rodrigues, 1300 – Alto de Pinheiros / São Paulo
Realização: Casa de Cultura do Parque
Direção artística: Claudio Cretti
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