domingo, 30 de junho de 2024

.: Jorge Farjalla dirige "Álbum de Família", de Nelson Rodrigues, no Teatro Estúdio


Encenação celebra os 80 anos da obra mais polêmica e controversa de Nelson Rodrigues. A trama mergulha nos conflitos e segredos obscuros de uma tradicional família patriarcal, e permaneceu censurada por 19 anos, recorde na trajetória do dramaturgo. A estreia marca a inauguração do Teatro Estúdio, localizado nos Campos Elíseos. Foto: João Kehl


Clássico do teatro brasileiro, que passou quase duas décadas interditado pela polícia, o texto teve papel decisivo para consolidar a reputação de “autor maldito” frequentemente associada a Nelson Rodrigues (1912-1980). Oitenta anos após sua turbulenta criação, a tragédia "Álbum de Família" ganha nova montagem na visão de Jorge Farjalla. O espetáculo estreia no dia 6 de julho, sábado, às 20h, e inaugura o Teatro Estúdio, localizado nos Campos Elíseos, zona central da cidade de São Paulo. A temporada vai até 18 de agosto com sessões sempre sextas e sábados, às 20h00, e domingos, às 18h00. O elenco é formado por Agmar Beirigo, Alexandre Galindo, Daniel Marano, Fernanda Gidali, Helena Cury, Iuri Saraiva, Jullia Leite, Lakís Farias, Lara Paulauskas, Lídia Engelberg, Mariana Barioni e Roberto Borenstein.

A história desvenda os segredos e as tensões de uma família aparentemente tradicional brasileira, no interior de Minas Gerais, na década de 1920. A trama gira em torno do patriarca Jonas (Alexandre Galindo) - um fazendeiro de convicções religiosas fervorosas -, sua esposa, Senhorinha (Mariana Barioni) e seus quatro filhos: Guilherme (Daniel Marano), Edmundo (Iuri Saraiva), Nonô (Agmar Beirigo) e Glória (Fernanda Gidali). Com o tumultuado retorno à casa dos pais, tem início uma série de revelações chocantes sobre a moralidade distorcida dos membros da família, conduzindo a um desfecho trágico e perturbador. A obra é um retrato visceral das disfunções familiares e das hipocrisias sociais, característica do provocador universo rodriguiano.

Para o diretor, uma das características principais da história são as relações humanas. O espetáculo é uma forma de denunciar o retrato de nossa sociedade e suas monstruosidades em evidência dos noticiários. “Este texto escrito por Nelson Rodrigues, talvez seja o que mais se aproxima do universo de Antonin Artaud (dramaturgo francês da década de 1930) e de seu teatro da crueldade, por desmistificar as relações de uma família e sua estrutura instituída pela Igreja. Os personagens desse teatro desagradável sempre querem mais, passam de seus limites para alcançar o que desejam revelando que estão ligados uns aos outros pela cumplicidade, todos sabem o que acontece e o que os espera”.

Além da direção, Jorge Farjalla também assina cenografia, figurinos e adereços. Os figurinos refletem o microcosmo de uma sociedade falida do interior de Minas Gerais dos anos 20, vinda da tradição do café, tanto nas cores quanto nas texturas. Na encenação, todo o elenco permanece em cena, onde um corredor de terra vermelha divide a plateia que fica de frente uma à outra, gerando um jogo de espelhos e proximidade com os atores. A música de Cartola marca a trilha sonora e pontua as cenas do texto de Nelson Rodrigues.

“Todos os personagens do Nelson ganham corpo em cena, inclusive os que estão mais à deriva. Eu trouxe à cena personagens que eram apenas citados na obra, como Nonô e Totinha - a mulher grávida interpretada por Lara Paulauskas. Os símbolos e signos da obra são aqui reforçados na encenação:  a terra vermelha do cenário que representa o útero e ressignifica as mortes do texto, o ritual do banho e a água trazendo a purificação desse nicho familiar, tanto no âmbito do profano como no sagrado; quanto mais banho a família toma, mais sujos eles vão ficando”, enfatiza Farjalla.


Trajetória de "Álbum de Família"
Escrita por Nelson Rodrigues há quase 80 anos, em 1945, "Álbum de Família" é reputada como uma das mais polêmicas e controversas peças da dramaturgia brasileira em todos os tempos. O texto veio à luz logo após sua consagração com "Vestido de Noiva" (1943), que desconcertou o meio intelectual da época com sua linguagem ousada e inovadora, estabelecendo um padrão de excelência inédito. No entanto, "Álbum de Família" subverteu todas as expectativas da opinião pública, que encampou uma intensa campanha difamatória contra o autor e a obra. 

A repercussão negativa rendeu a Nelson a reputação de “autor maldito”, que o acompanharia durante toda sua carreira. Apesar do desgaste, o dramaturgo não recuou e escreveu, em sequência, ainda nos anos 1940, outros três textos tão incendiários quanto "Álbum de Família": "Anjo Negro" (1946), "Senhora dos Afogados" (1947) e "Dorotéia" (1949).

O autor atribuiu a esse conjunto de quatro peças o rótulo de “teatro desagradável” - devido à sua abordagem direta e chocante de temas considerados tabus na sociedade brasileira. Já os estudiosos denominam esse ciclo temático de "peças míticas", por serem textos marcados por uma profundidade psicológica e uma intensidade dramática que revelam as complexidades da condição humana em sua forma mais crua e visceral.

A primeira produção de "Álbum de Família" estreou em 1965, no Rio de Janeiro, trazendo no elenco, entre outros, José Wilker, no papel do filho Edmundo - que na montagem de Jorge Farjalla, será interpretado por Iuri Saraiva. O diretor tem uma relação forte com Nelson Rodrigues, em sua trajetória estão montagens de "Doroteia" (2017), "Senhora dos Afogados" (2018) e uma versão de "Álbum de Família" (2005), onde integrou o elenco e fez temporadas em lugares como Rio de Janeiro e Minas Gerais.


Ficha técnica
Texto: Nelson Rodrigues | Direção e encenação: Jorge Farjalla | Elenco: Agmar Beirigo, Alexandre Galindo, Daniel Marano, Fernanda Gidali, Helena Cury, Iuri Saraiva, Jullia Leite, Lakís Farias, Lara Paulauskas, Lídia Engelberg, Mariana Barioni, Roberto Borenstein | Iluminação: Aline Santini | Cenografia, Figurinos e Adereços:  Jorge Farjalla | Assistência de Figurino: Allan Ferc | Visagista: Eliseu Cabral | Assistentes de Visagismo: Camila Santos e Silvia Rocha | Costureira:  Denise Evangelista | Direção de Arte: Jorge Farjalla e Mariana Barioni | Trilha sonora: Jorge Farjalla | Desenho de som: Raul Teixeira | Preparação vocal: Lara Córdulla | Operação de Som: May Manão | Cenotécnico: Alício Silva | Fotos: João Kehl | Teaser e Making off: May Manão | Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes | Produção Executiva: Lara Paulauskas e Gabi Manaia | Direção de Produção: Mariana Barioni e Alexandre Galindo | Realização: Teatro Estúdio.


Serviço
Teatro Estúdio
Endereço: Rua Conselheiro Nébias, 891 – Campos Elíseos
Capacidade: 142 lugares
Temporada: De 6 de julho a 18 de agosto
Horário: sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 18h
Ingressos: Inteira R$ 80,00 | Meia R$ 40,00
Vendas online: Sympla.com.br
Classificação indicativa: 18 anos. Tempo de duração: 90 minutos.
Teatro Estúdio é inaugurado no centro de São Paulo com estreia de texto de Nelson Rodrigues

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