Um dos expoentes da literatura contemporânea argentina, Betina González é uma das autoras confirmadas na terceira edição de A Feira do Livro, festival literário organizado pela Associação Quatro Cinco Um que começa no dia 29 de junho, terá nove dias de duração e reunirá alguns dos principais destaques da cena literária brasileira e internacional para debates gratuitos na Praça Charles Miller, Pacaembu, em São Paulo.
Cheia de sensibilidade e acidez, a escrita de Betina reflete a vida e os dilemas reais sem se dissociar da poética do cotidiano. O primeiro romance, "Arte Menor", que conta a história policial de uma filha em busca da memória da figura indescritível do pai falecido – ganhou o Prêmio Clarín e foi elogiado até pelo escritor português José Saramago: "Pode-se dizer que apenas o seu título é arte menor. O que vem depois do título é arte erudita”, afirmou o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura.
Nascida em Villa Ballester, na Grande Buenos Aires, Betina González estudou Comunicação Social na universidade da capital argentina, onde mais tarde atuaria como professora e pesquisadora. O reconhecimento internacional veio quando ganhou o Prémio Tusquets com o romance de iniciação "Las Poseídas", escrito em Pittsburgh sobre a “perda da inocência”, quando um grupo de mulheres “descobre com horror o que tinha acontecido no país” com os crimes da Junta Militar.
No Brasil, lançou pela editora Bazar do Tempo o livro "A Obrigação de Ser Genial", que propõe uma série de ensaios para desvendar os mistérios da criação literária."Não basta ser boa: é preciso ser genial", afirma. Nesta entrevista exclusiva, Betina González fala sobre as expectativas para o evento em São Paulo e dá opiniões contundentes sobre a vida, a literatura e de que maneira esses dois temas se misturam. Compre os livros de Betina González neste link.
Resenhando.com - Quais as suas expectativas para o evento A Feira do Livro?
Betina González - Nunca estive em São Paulo, então minhas expectativas são altas, sei que é uma cidade cheia de eventos culturais e estou muito animada para ir à Feira. Ainda não decidi sobre o tema da minha palestra, mas certamente terá a ver com como o patriarcado silenciou a escrita das mulheres e como algumas dessas operações ainda estão em vigor, mas com novos disfarces.
Resenhando.com - Por que entende que as pessoas hoje têm a obrigação de serem geniais?
Betina González - Não é isso que o título do meu livro significa. Só as mulheres têm a obrigação de ser grandes, os homens não. Os homens têm garantidos seus lugares, nas profissões, na literatura, só porque são homens. Podem dar-se ao luxo de ser medíocres, ainda vão chegar. As mulheres, não.
Resenhando.com - Que diferenças e semelhanças você percebe entre as literaturas contemporâneas argentina e brasileira?
Betina González - Não conheço literatura brasileira contemporânea o suficiente para julgar de forma tão enfática. Vejo muitas semelhanças entre autores latino-americanos em geral: um movimento ancorado na autoficção que vem acontecendo há décadas e, em paralelo, autores que seguem o caminho da invenção e do humor. Dito isso, o Brasil sempre se caracterizou por ter seus próprios movimentos. Basta pensar nas três fases do modernismo brasileiro para ver que o país tem uma literatura absolutamente única, com escritores maravilhosos como Machado de Assis, Guimarães Rosa e tantos outros. Dos contemporâneos, admiro muito Andrea del Fuego. "As Miniaturas" foi o primeiro livro que li por ela e me apaixonei por sua imaginação narrativa impressionante!
Resenhando.com - Eleja um autor argentino e um brasileiro que são seus favoritos.
Betina González - Clarice Lispector é, sem dúvida, uma das maiores escritoras não só do Brasil, mas do mundo. Sua escrita, seu universo eram únicos. Assim como Machado de Assis, sobre quem escrevi um dos capítulos de minha tese. Tem que escrever assim, textos que não se assemelham a nada. Se não, por que escrever?
Resenhando.com - No seu romance "Arte Menor" , você conta a história de uma filha em busca da memória da figura paterna. Que elementos você utiliza da sua vida real para criar histórias?
Betina González - Bem, eu "roubei" essa história de um amigo, cujo pai era artista e tinha muitas amantes. Ocorreu-me que era uma grande história para contar que a filha procura todos os amantes que seu pai tinha de uma pequena estátua que ele fez para todos os seus amantes. Claro, depois coloquei no romance muitas coisas que eram da história argentina e da minha posição como escritora na periferia de Buenos Aires.
Resenhando.com - Qual é a importância da memória para sermos o que nos tornamos?
Betina González - Memória é tudo, não é? Sem memória não somos pessoas nem países. O direito de contar a própria história é muito importante.
Resenhando.com - O título do seu livro "El amor Es Una Catástrofe Natural" faz uma afirmação contundente. Você concorda com isso?
Betina González - Você tem que ler essa história (risos). É mais esperançoso do que parece pelo título. Ainda acredito que o amor verdadeiro é catastrófico, sempre nos transforma. Catástrofe em grego significava algo como um fim imprevisto!
Resenhando.com - O que há de autobiográfico em sua escrita? Em que você se expõe mais, e em que protege mais?
Betina González - Pouco. Não estou interessada em contar a minha vida, não acho que seja um assunto interessante. Infelizmente, a vida ainda se esconde em sorrisos.
Resenhando.com - Quem é Betina González pela própria Betina González?
Betina González - Escrevo desde os oito anos de idade para não ser a Betina González, então, neste momento, posso dizer que não sou ninguém. Na verdade, esse é o nome do meu próximo livro: "Como se Tornar Ninguém".
Serviço
A Feira do Livro
De 29 de junho a 7 de julho de 2024
Local: Praça Charles Miller – Pacaembu / São Paulo
Entrada gratuita
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