Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.
O renomado violonista ibérico Manuel de Oliveira veio ao Brasil para se apresentar na capital paulista e em Illhabela. Natural de Guimarães, Portugal, o guitarrista contemporâneo tem sido presença destacada nos principais festivais de jazz europeus. Com mais de 20 anos de carreira, Manuel de Oliveira consolidou-se como um dos mais proeminentes violonistas contemporâneos. Autodidata, ele absorveu influências de diversas culturas musicais, incluindo flamenco, música sul-americana e fado, criando uma identidade sonora reconhecível em constante evolução.
Seus concertos e documentários foram lançados pela Qwest TV, canal do icônico Quincy Jones, ao lado de músicos como Brad Meldhau e Chick Corea, ele se estabeleceu como um dos pioneiros do estilo flamenco-jazz. Em entrevista para o Resenhando.com, ele conta como a nossa música brasileira imapctou em su formação e explica como preparou o seu "Looping Solo". “A música instrumental etno contemporânea, que dialoga entre várias culturas, é uma tendência global e de uma riqueza enorme”.
Resenhando.com - O Brasil tem uma relação muito próxima de Portugal com a música. Como a música brasileira impactou em sua formação musical?
Manuel de Oliveira - A música do Brasil é de uma riqueza infinita e depois tem uma natural identificação com a cultura portuguesa, mesmo para além da língua - artistas da área instrumental como Egberto Gismonti, Rafael Rabelo, Hermeto Pascoal, os grandes da MPB também, como Chico Buarque, Tom Jobim, Caetano Veloso, enfim, é ao mesmo tempo um espanto pela qualidade e um vislumbramento do potencial criativo de um diálogo cultural que não tem barreiras.
Resenhando.com - No Brasil há uma queixa recorrente dos músicos para ganhar mais espaço na mídia para a música instrumental. Como está o espaço em Portugal para esse estilo?
Manuel de Oliveira - É de fato um problema. Ainda bem que aqui há queixa. Em Portugal, acho que ainda nem sequer chegou a isso. A música instrumental no Brasil vai tendo alguns contatos importantes, como festivais e o próprio Sesc, apesar de ser muito pouco. Não só há poucos contextos no geral para a música instrumental, como os que existem são muitas vezes fechados a géneros como o jazz ou a clássica. A música instrumental etno contemporânea, que dialoga entre várias culturas, é uma tendência global e de uma riqueza enorme. É realmente necessário criar mais contatos e canais de comunicação para esta vertente.
Resenhando.com - O que é o “Looping Solo”?
Manuel de Oliveira - O "Looping Solo" é o nome que dei ao meu show a solo, com o uso uma tecnologia que me permite em tempo real gravar uma série de partes. Assim eu estabeleço no fundo um diálogo comigo mesmo.
Resenhando.com - O estilo flamenco ainda tem influência no jazz contemporâneo? Cite alguns exemplos.
Manuel de Oliveira - Muito. O flamenco e o jazz abriram um caminho sem retorno nos anos 80 com artistas como Paco de Lucia, Jorge Pardo, Carles Benavent, tem cada vez mais artistas a explorar esses caminhos - sendo uma música urbana por si, é um diálogo muito natural de estabelecer, como o fado com o flamenco, o tango com o fado, o blues com a bossa, enfim. Entre os exemplos de artistas do Flamenco Jazz, citaria Nino Josele, Josemi Carmona, Jorge Pardo, Ano Dominguez, entre muitos outros.
Resenhando.com - Quais os músicos que influênciaram na sua formação musical?
Manuel de Oliveira - Paco de Lucia, José Afonso e Egberto Gismonti, acho que assim como uma matriz, entre várias outras influências.
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