Ator fala sobre a emoção de fazer parte do projeto. Foto: divulgação/Globoplay
Uma reverência ao legado de artistas apaixonados por seu ofício. Com essa perspectiva, ‘Tributo’ reúne um grupo de pessoas cujas trajetórias profissionais se confundem intensamente com a própria história da televisão brasileira e deixam marcas profundas na cultura da nossa sociedade. A série documental, que já conta com seis episódios no Globoplay, terá uma leva de quatro deles exibida na TV Globo, a partir desta sexta-feira, dia 19, após o ‘Globo Repórter’. Desta vez, irão ao ar as homenagens a Lima Duarte, Laura Cardoso, Manoel Carlos e Zezé Motta. Os episódios dedicados a Fernanda Montenegro, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, e Ary Fontoura irão ao ar na TV aberta em outras datas.
Além de um criterioso processo de pesquisa em diversas fontes – como o acervo da TV Globo, jornais, revistas e películas – foram captadas cerca de 10 horas de gravações inéditas para cada um dos convidados. Diretora artística de ‘Tributo’, Antonia Prado comenta o desafio de equacionar esse conteúdo em episódios que têm, em média, 70 minutos: “Tínhamos material para uma temporada inteira com cada um dos entrevistados. Escolhemos os momentos mais emocionantes e relevantes, como relatos de bastidores e marcos históricos, além de depoimentos inéditos feitos para a série”. Outro ponto de destaque foi tentar ambientar cada episódio de acordo com o homenageado. "Cada episódio traduz a personalidade de seu dono. Queríamos que eles estivessem à vontade. Lima Duarte, por exemplo, nos recebeu em seu sítio com os pés descalços", conta o diretor Matheus Malafaia.
O primeiro homenageado na exibição "Tributo" na TV Globo é justamente o de Lima Duarte. Aos 20 anos de idade ele estava presente na cerimônia de inauguração da TV Tupi – a emissora pioneira no país –, em 18 de setembro de 1950. De lá para cá, esbanjou versatilidade como sonoplasta, apresentador, dublador e diretor. Mas foi como ator que conquistou de vez o carinho do grande público, na pele de tipos como o Zeca Diabo, de "O Bem-Amado" (1973); Sinhozinho Malta, de "Roque Santeiro" (1985); e Sassá Mutema, de "O Salvador da Pátria" (1988).
Entre os milhões de admiradores de Lima Duarte estão colegas de cena, como o amigo e vizinho Sergio Guizé, que, no especial, faz uma visita para o veterano em sua propriedade, localizada em Indaiatuba, no interior de São Paulo. “Quando conheci o Lima, ele já estava com seus 50 e poucos anos de profissão e falava que era o último trabalho dele. Até hoje ele diz isso. Mas aparece um personagem e ele fica doidinho. Não tem corpo mole. Você dá um papel e a pessoa vira o super-homem”, elogia.
O programa ainda traz vários 'causos' contados pelo próprio artista e conta com depoimentos de pessoas próximas a ele. O episódio será dedicado à filha do ator falecida este ano. ‘Tributo’ é uma série original Globoplay com redação de Isadora Wilkinson e Lalo Homrich, direção artística de Antonia Prado, direção de Matheus Malafaia e direção de gênero de Mariano Boni. Confira a entrevista com o ator Lima Duarte!
Como foi receber a notícia de que seria homenageado em ‘Tributo’?
Sou muito agradecido à Globo por me fazer participar de ‘Tributo’, afinal, são tantos anos. O momento mais surpreendente foi quando me permitiram falar da minha mãe e do meu pai. Pude falar dos meus entes mais queridos. Fiz com muito amor, mesmo porque, nesse momento da minha vida, só me restou a paixão pelas coisas finas. Como dizia Carlos Drummond de Andrade: “As coisas finas, essas ficarão”.
Conte um pouco sobre seu encontro com Sergio Guizé.
Foi muito agradável estar com ele mais uma vez. Nós fizemos uma parceria em ‘Caminho das Índias’ (2009), e depois em ‘O Outro Lado do Paraíso’ (2017), em que fomos para o Jalapão. Andávamos naquele calorão, naquela poeira imensa, esbatida sempre pelos sorrisos de compreensão e piadas que contávamos dia e noite. É muito prazeroso que eu, um velho ator, ouça o que pensam de mim os jovens. Pode ser muito bom, terrível ou surpreendente, mas sempre será útil e profundamente humano.
Qual o maior legado de sua obra? Como espera ser lembrado pelas futuras gerações?
Um cara que trabalhou muito, desde o primeiro dia de televisão. E até hoje está por aí fazendo umas caretas, em comunhão com o povo. Quero ser lembrado como um velho amigo que vem todas as noites contar, viver e ouvir histórias. Talvez, como dizia Fernando Pessoa: “As coisas que errei na vida / Sei que as terei na morte / Porque a vida é dividida / Entre quem sou e a sorte / As coisas que a sorte me deu, levou-as consigo / Mas as coisas que sou eu, guardei-as todas comigo”.
Em que ‘Tributo’ se diferencia de outras homenagens que você recebeu?
Acredito que uma das melhores coisas que a Globo faz, já fez e fará é o projeto ‘Tributo’. Não por minha causa, modéstia à parte, mas pelos meus companheiros que nos falarão de suas vidas, de suas histórias, de como vivem, de como chegaram até o coração de cada um dos telespectadores. Essa é uma conquista difícil: penetrar lá dentro. Cada um deles que você vai ver em ‘Tributo’ chegou até o coração do povo.
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