Escrito pelo principal historiador americano sobre o Oriente Médio, Rashid Khalidi, o livro de não-ficção "Palestina: um Século de Guerra e Resistência (1917-2017)" é um relato sóbrio e ao mesmo tempo pessoal desse conflito sistemático que se arrasta por mais de cem anos. Sem encobrir os erros dos líderes palestinos ou negar a emergência de movimentos nacionalistas de ambos os lados, este livro, lançado pela editora Todavia, reavalia as forças envolvidas e oferece uma visão esclarecedora de um conflito que parece não ter fim.
Assim Rashid Khalidi, o principal historiador americano sobre o Oriente Médio, herdeiro intelectual de Edward Said e igualmente reconhecido pelo seu enfoque humanista da disputa, inicia o seu relato sobre a guerra secular na Palestina. Com uma narrativa clara e equilibrada, Khalidi, descendente do autor da carta a Herzl, subverte as interpretações aceitas do conflito, que tendem, na melhor das hipóteses, a descrevê-lo como um confronto trágico entre dois povos que reivindicam o mesmo território. Para tanto, retraça os mais de cem anos da guerra, encampada primeiro pelo movimento sionista e depois por Israel, mas com o substancial (ainda que intermitente) aporte de Grã-Bretanha e Estados Unidos, as grandes potências do período.
Guiando os leitores pelos episódios-chave da campanha colonial, como a Declaração Balfour de 1917 (que comprometia a Inglaterra com o estabelecimento de uma nação judaica sem ao menos mencionar os palestinos) e os confrontos de 1948 e 1967, Khalidi se vale de pesquisas de arquivo, material de familiares — deputados, juízes, acadêmicos, diplomatas e jornalistas — e das próprias experiências para revelar o pano de fundo histórico que enquadra os acontecimentos atuais, explicando dinâmicas subjacentes decisivas para uma compreensão adequada do presente. Compre o livro "Palestina: um Século de Guerra e Resistência (1917-2017)", de Rashid Khalidi, neste link.
O que disseram sobre o livro
“Uma obra fascinante e original, a primeira a explorar a guerra contra os palestinos com base numa profunda imersão na sua luta.” — Noam Chomsky
“Rashid Khalidi, o herdeiro intelectual de Edward Said, escreveu um dos grandes livros sobre a questão palestina.” — Financial Times
“Informado e fervoroso, este livro é uma elegia aos palestinos, à sua expropriação, ao seu fracasso em resistir à conquista.” — The Guardian
Sobre o autor
Rashid Khalidi nasceu em 1948, em Nova Iorque. Publicou vários livros sobre o Oriente Médio e ocupa a cadeira Edward Said em estudos árabes modernos da Universidade Columbia. É autor de inúmeros ensaios sobre história e política do Oriente Médio, incluindo textos em The New York Times, The Boston Globe, LA Times, Chicago Tribune e em diversas revistas.
Trecho do livro
Dada essa cegueira, o conflito é retratado, na melhor das hipóteses, como um confronto nacional direto, ainda que trágico, entre dois povos com direitos sobre a mesma terra. Na pior, é descrito como o resultado do ódio fanático e arraigado de árabes e muçulmanos contra o povo judeu enquanto ele estabelece seu direito inalienável à sua terra natal eterna, dada por Deus. Na verdade, não há razão para que aquilo que vem acontecendo na Palestina faz mais de um século não possa ser entendido tanto como um conflito colonialista quanto como uma disputa entre nações. Mas nossa preocupação aqui é sua natureza colonialista, uma vez que esse aspecto central tem sido subestimado, embora essas qualidades típicas de outras campanhas colonialistas estejam evidentes na história moderna da Palestina.
De maneira característica, colonizadores europeus que procuravam suplantar ou dominar povos nativos, nas Américas, na África, na Ásia ou na Australásia (ou na Irlanda), sempre os descreveram em termos pejorativos. Eles também sempre alegam que vão melhorar as condições de vida da população nativa como resultado de seu domínio; a natureza “civilizadora” e “avançada” de seus projetos colonialistas serve para justificar qualquer maldade perpetrada contra os povos nativos para atingir seus objetivos. Basta mencionar a retórica de administradores franceses no Norte da África ou de vice-reis britânicos na Índia.
Sobre o Raj britânico, Lord Curzon disse: Sentir que em algum lugar entre esses milhões de pessoas se deixou um pouco de justiça ou felicidade ou prosperidade, um senso de hombridade ou dignidade moral, uma fonte de patriotismo, um alvorecer de iluminação intelectual ou uma noção de dever, onde antes isso não existia — é o que basta, essa é a justificativa do inglês na Índia.
As palavras “onde antes isso não existia” merecem ser repetidas. Para Curzon e outros de sua classe colonial, os nativos não sabiam o que era melhor para eles e não podiam alcançar essas coisas sozinhos: “Vocês não podem ficar sem nós”, afirmou Curzon em outro discurso. Há mais de um século, os palestinos têm sido descritos precisamente na mesma linguagem por seus colonizadores, como aconteceu com outros povos nativos. A retórica condescendente de Theodor Herzl e outros líderes sionistas não era diferente da usada por seus pares europeus.
O Estado judeu, escreveu Herzl, iria “formar uma parte de um muro de defesa para a Europa na Ásia, um posto avançado da civilização contra a barbárie”. Isso lembrava a linguagem usada na conquista da fronteira norte-americana, que acabou no século XIX com a erradicação ou submissão de toda a população nativa do continente. Como na América do Norte, a colonização da Palestina — como a da África do Sul, da Austrália, da Argélia e de partes da África Ocidental — tinha o objetivo de implantar uma colônia branca europeia. O mesmo tom em relação aos palestinos que caracteriza tanto a retórica de Curzon quanto a da carta de Herzl está replicado na maior parte do discurso sobre a Palestina nos Estados Unidos, na Europa e em Israel até hoje.
Alinhado com essa racionalização colonialista, há um amplo material literário dedicado a provar que, antes do advento da colonização sionista europeia, a Palestina era estéril, vazia e atrasada. A Palestina histórica já foi tema de inúmeras lendas depreciativas na cultura popular ocidental, bem como de escritos academicamente sem valor que se pretendem científicos e eruditos, mas que são cheios de erros históricos, retratos equivocados e, às vezes, total intolerância. No máximo, afirma essa literatura, o país era habitado por uma pequena população de beduínos sem raízes e nômades que não tinham identidade fixa e nenhum vínculo com a terra por onde passavam, de maneira essencialmente transitória.
O corolário dessa afirmação é que foram apenas o trabalho e o dinamismo dos novos imigrantes judeus que transformaram o país no jardim florido que supostamente é hoje, e que somente eles tinham uma identificação e um amor pela terra, bem como um direito a ela (concedido por Deus). Essa atitude é resumida no slogan “Uma terra sem povo para um povo sem terra”, usado por apoiadores cristãos de uma Palestina judaica, bem como pelos primeiros sionistas, como Israel Zangwill. A Palestina era terra nullius para aqueles que vieram se estabelecer nela, e aqueles que lá viviam não tinham nome e eram amorfos. Assim, a carta de Herzl a Yusuf Diya se referia a árabes palestinos, que então eram cerca de 95% dos habitantes do país, como sua “população não judaica”.
Em essência, o argumento era que os palestinos não existiam, ou não deveriam ser levados em conta, ou não mereciam habitar o país que tão tristemente negligenciaram. Se não existem, então mesmo as bem fundamentadas objeções palestinas aos planos do movimento sionista poderiam ser simplesmente ignoradas. Assim como Herzl ignorou a carta de Yusuf Diya al-Khalidi, a maioria dos esquemas para a disposição da Palestina era igualmente arrogante. A Declaração Balfour, que foi emitida em 1917 por um gabinete britânico e comprometia a Inglaterra com a criação de uma nação judaica, nem sequer mencionava os palestinos, a grande maioria da população do país na época, embora estivesse determinando o futuro da Palestina pelo século subsequente. Garanta o seu exemplar de "Palestina: um Século de Guerra e Resistência (1917-2017)", escrito por Rashid Khalidi, neste link.
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