Escrito às vésperas da guinada do autor rumo à música pop, em que se consagraria como um dos maiores compositores e intérpretes da segunda metade do século XX, "Belos Fracassados", romance de Leonard Cohen (1934-2016) agora relançado pela editora Todavia, chega pela primeira vez no Brasil como uma das obras mais experimentais da década de 1960. Mais do que isso: irreverente, por vezes chocante e alternando humor, erudição e acidez, o livro é um desabusado conto sobre desejo sexual e o fascínio por uma santa virgem e indígena do século XVII.
Obra inovadora de um dos grandes poetas do rock, este romance - que até então não tinha sido publicado no Brasil - fala de sexualidade, História e povos originários. Com capa de Felipe Braga, livro conta com tradução e posfácio escrito por Daniel de Mesquita Benevides.
Girando em torno de quatro personagens centrais — e intrinsecamente imperfeitos —, esta é a história franca e bem-humorada de um narrador sem nome, sua esposa Edith, seu amigo e mentor F., e Catherine Tekakwitha, uma mítica santa virgem do povo mohawk. As complexidades dessa relação a três aumentam em espiral com a morte de Edith e F., logo no início do romance, levando o narrador, devastado pelas perdas, a questionar a natureza do amor, da sexualidade e da espiritualidade, em uma série de flashbacks líricos e eróticos.
Tal como imaginado por Cohen, o inferno é um apartamento em Montréal, cidade no Canadá marcada pela cultura francesa, onde o narrador enlutado e atormentado pela luxúria reconstrói as relações com seus mortos. A memória confunde-se numa fantasia sexual blasfema — e a redenção assume a forma de uma iroquesa virgem tornada santa, morta há trezentos anos, mas que ainda tem o poder de salvar até o mais degradado dos seus pretendentes. Extraordinário e inimitável romance do cantor e compositor canadense, "Belos fracassados" ecoa a poesia sombria e o humor irônico de suas canções atemporais sobre perda, amor, sexo e religião. Engraçado, angustiante e comovente, este livro é uma tragédia erótica clássica, incandescente em sua prosa e estimulante por sua arrojada união entre sexualidade, memória e fé. Compre o livro "Belos Fracassados", de Leonard Cohen, neste link.
Sobre o autor
Leonard Cohen nasceu em Montréal em 1934 e morreu em Los Angeles em 2016. Estreou na música em 1967, gravando canções incontornáveis do rock e da música popular ao longo das cinco décadas seguintes. Antes disso, publicou aclamados livros de poesia e dois romances, hoje considerados clássicos do pós-modernismo em língua inglesa. Garanta o seu exemplar de "Belos Fracassados", escrito por Leonard Cohen, neste link.
O que disseram sobre o livro
“Acho que foi a melhor coisa que eu fiz.” — Leonard Cohen
“Escrito maravilhosamente.” — The New York Times
Trecho de "Belos Fracassados"
Catherine Tekakwitha, quem é você? Você é (1656-1680)? Isso é suficiente? Você é a Virgem Iroquesa? Você é o Lírio das Margens do Rio Mohawk? Posso te amar do meu jeito? Sou um velho acadêmico, mais bonito hoje do que antes. É o que acontece com quem nunca tira a bunda da cadeira. Vim te buscar, Catherine Tekakwitha. Quero saber o que se passa aí debaixo do seu manto cor-de-rosa.
Tenho esse direito? Fiquei apaixonado quando te vi num santinho. Você estava no meio de bétulas, minha árvore favorita. Só Deus sabe até onde iam os laços de seus mocassins. Atrás de você tinha um rio, com certeza o Mohawk. Na frente, à esquerda, dois pássaros pareciam loucos para receber um carinho seu nos pescocinhos brancos, ou que os usasse numa parábola. Tenho algum direito de ir atrás de você com a mente empoeirada e impregnada do conteúdo inútil de cinco mil livros? Logo eu, que quase nunca vou ao campo. Você me daria uma aula sobre as folhas? Sabe alguma coisa sobre cogumelos alucinógenos?
Lady Marilyn morreu há poucos anos. Posso dizer que, daqui a uns quatrocentos anos, algum velho acadêmico, talvez da minha linhagem, irá atrás dela do mesmo jeito que estou atrás de você? A essa altura você já deve conhecer bem o Paraíso. Por acaso parece um desses altares de plástico que brilham no escuro? Juro que não me importo se parecer. As estrelas são mesmo pequenas, no fim das contas? Será que um velho acadêmico ainda pode encontrar o amor em vez de ficar, todas as noites, batendo punheta na cama até dormir?
Eu nem odeio mais os livros. Já esqueci quase tudo o que li e, francamente, nem eu nem o mundo perdemos muito com isso. Meu amigo F. costumava dizer, com seu jeito alucinado: Precisamos aprender a nos deter bravamente na superfície. Precisamos aprender a amar as aparências. F. morreu numa cela acolchoada, com o cérebro apodrecido de tanta perversão sexual. Seu rosto ficou preto, vi com meus próprios olhos; disseram também que sobrou pouco de seu pau.
Uma enfermeira me contou que ficou parecendo a parte de dentro de um verme. À sua saúde, F., amigo louco e leal! Me pergunto se será lembrado no futuro. E se quer saber, Catherine Tekakwitha, sou tão humano que sofro de prisão de ventre, meu prêmio por uma vida sedentária. Entende por que meu coração está nessas bétulas? Entende agora por que um velho acadêmico que nunca ganhou muito dinheiro quer entrar no seu postal Technicolor?
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