segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

.: IMS lança e-book gratuito com ensaios sobre representações de pessoas negras


Disponível para download gratuito no site do IMS, a publicação traz dez textos assinados por nomes como Diane Lima, Janaina Damaceno, Vanicléia Silva Santos e Rafael Domingos Oliveira, entre outros.


Com o objetivo de difundir narrativas atualizadas pautadas em questões de raça e gênero, o Instituto Moreira Salles acaba de lançar o e-book "Negras Imagens - Formação a Partir do Acervo IMS". A publicação já está disponível para leitura e download gratuito neste link.

A publicação reúne dez ensaios que analisam, a partir de um viés crítico, imagens de mulheres, crianças e homens negros presentes nos acervos de fotografia e iconografia do IMS, além de obras de autoria negra. Os textos são assinados por Alexandre Araujo Bispo, Ana Beatriz Almeida, Diane Lima, Ione da Silva Jovino, Janaina Damaceno, Juliana Barreto Farias, Mônica Cardim, Rafael Domingos Oliveira, Roberto Conduru e Vanicléia Silva Santos.

Nos ensaios, os autores e autoras desenvolvem temas que abordaram em um ciclo de encontros on-line, organizado pelo IMS em 2022, em diálogo com a exposição "Walter Firmo: no Verbo do Silêncio a Síntese do Grito". Em suas análises, evidenciam narrativas pouco contadas, apontando possibilidades de construção de novos modos de interpretar a história afro-brasileira e o próprio conceito de patrimônio.

O material pode ser adotado como fonte de referência para pesquisadores e professores, contribuindo para reforçar o cumprimento da lei 10.639/03, que determina a abordagem da história e da cultura afro-brasileira no ensino.

A publicação evidencia ainda o compromisso do IMS com a construção de saberes críticos e plurais em torno de suas coleções, como pontua a diretora de educação do IMS, Renata Bittencourt: “Os ensaios agrupados aqui estimulam o IMS a apurar continuamente seu olhar sobre o patrimônio do qual é guardião, se valendo dessas perspectivas renovadoras para alimentar suas ações e projetos, sobretudo na área de educação”.

Mais sobre o e-book
O volume abre com o ensaio da pesquisadora Ana Beatriz Almeida, que analisa obras de três artistas contemplados pelo Convida, programa de incentivo lançado pelo IMS durante a pandemia: o coletivo Afrobapho, a cineasta Everlane Moraes e Dona Dalva Damiana. A autora adota conceitos do sistema lógico da Irmandade da Boa Morte, instituição a partir da qual se constituiu o candomblé, para aproximar as três obras.

No texto seguinte, a curadora Diane Lima parte de registros da I Bienal de São Paulo, feitos pelo fotógrafo Peter Scheier, para discutir como o concretismo e o neoconcretismo no Brasil criaram uma equação de valor que tenta obliterar a racialidade na cena ética e estética moderna no país. O ensaio subsequente, do historiador Roberto Conduru, também adota imagens do acervo do IMS − de nomes como Geraldo de Barros, José Medeiros e Marcel Gautherot − como fonte para discutir as relações entre arquitetura e africanismo no Brasil.

O núcleo seguinte da publicação trata das representações de crianças negras nas coleções do IMS. A educadora Ione da Silva Jovino examina duas imagens feitas pelo fotógrafo Vincenzo Pastore para tratar da criação e repetição de estereótipos associados aos corpos negros, além das dinâmicas de segregação na São Paulo do início do século XX. Já o historiador Rafael Domingos Oliveira cria diálogos e tensiona as representações de crianças negras em duas coleções do IMS: a de Marc Ferrez, sobretudo as fotos da década de 1880, e as de Walter Firmo, com ênfase nos registros de festas populares brasileiras.

As fotografias de Marc Ferrez também são objeto de análise no ensaio de Juliana Barreto Farias. A historiadora parte de registros de trabalhadores na praça do Mercado, feitos por Ferrez no fim do século XIX, para abordar as relações entre trabalho urbano, gênero e raça na cidade. Em seu artigo, a educadora Mônica Cardim, por sua vez, ressignifica a galeria de fotos de homens e mulheres negros produzida nos estúdios de Alberto Henschel no Brasil do século XIX. Ainda neste núcleo da publicação, a curadora Vanicléia Silva Santos investiga imagens de mulheres negras presentes nos trabalhos iconográficos de artistas brasileiros e estrangeiros oitocentistas.

O e-book traz também um texto do antropólogo Alexandre Araujo Bispo sobre um conjunto de retratos de crianças, homens e mulheres negros feitos no estúdio do fotógrafo Limercy Forlin, em Poços de Caldas (MG), entre as décadas de 1950 e 1980. A publicação encerra com um ensaio de Janaina Damaceno no qual ela trata da representação da família negra, em especial da figura do pai, nas fotografias de Walter Firmo, reafirmando sua importância em desafiar estereótipos.


Serviço
E-book "Negras imagens - Formação a Partir do Acervo IMS"
Disponível para leitura e download gratuito neste link.


Sobre os autores da publicação

Alexandre Araujo Bispo
Antropólogo, crítico de arte, curador e educador independente. Pesquisa práticas de memória, com ênfase em fotografia amadora, fotografia de família e arquivos pessoais, arte afro-brasileira e imaginários urbanos. Foi curador artístico e educativo de diversas exposições, e é coautor de Mulheres fotógrafas, mulheres fotografadas: fotografia e gênero na América Latina, entre outros. Publicou textos em revistas como ZUM, Contemporary And (C&), O Menelick 2º Ato e Art Bazaar.


Ana Beatriz Almeida
Mestra em história e estética da arte pelo MAC-USP, cofundadora da 01.01 Art Platform, artista visual e pesquisadora das manifestações africanas e da diáspora africana. É consultora curatorial do MAC-Niterói e professora do Black Feminism-Berkeley University Summer Program Abroad. Foi curadora convidada do Glasgow International 2020 (adiado pela covid-19). Desde 2009, realiza um rito de passagem de longa duração em homenagem aos que não sobreviveram ao tráfico de escravizados.


Diane Lima
Curadora independente, escritora e pesquisadora. Premiada em 2021 pelo Ford Foundation Global Fellowship, desenvolve projetos sobre as práticas artísticas e curatoriais em perspectiva decolonial no Brasil. Mestra em comunicação e semiótica pela PUC-SP, integra o time curatorial da 35ª Bienal de São Paulo (2023). Seus projetos anteriores incluem o projeto de educação radical AfroTranscendence e a residência PlusAfroT, na Villa Waldberta, na Alemanha. Seus textos integram diversos livros, catálogos e revistas.


Ione da Silva Jovino
Ione da Silva é preta, mãe e avó. Formada em letras pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), é mestra e doutora em educação pela Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), docente, pesquisadora e extensionista na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). É membra do Núcleo de Relações Etnicorraciais, Gênero e Sexualidade da UEPG e de grupos de pesquisa sobre relações raciais, crianças e infância. Integra a Associação Brasileira de Pesquisadores Negros e Negras.

 
Janaina Damaceno
Graduada em filosofia e mestra em educação pela Unicamp. Doutora em antropologia pela USP, atualmente é professora adjunta da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (Febf) da Uerj e do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Territorialidades (PPcult) da UFF, e coordena o Grupo de Pesquisas Afrovisualidades: Estéticas e Políticas da Imagem Negra. É uma das fundadoras do Fórum Itinerante do Cinema Negro (Ficine).

Juliana Barreto Farias
Professora na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) e do Programa de Mestrado em Estudos Africanos, Culturas Negras e Povos Indígenas da Uneb. Doutora em história social pela USP, fez estágio pós--doutoral em história da África na Universidade de Lisboa. É autora de Mercados minas: africanos ocidentais na praça do Mercado do Rio de Janeiro, 1830-1890 (2015) e coautora de A diáspora mina: africanos entre o Brasil e o golfo do Benim (2021).

Mônica Cardim
Doutoranda em artes pelo Programa de Pós-Graduação Interunidades em Estética e História da Arte da USP, educadora e fotógrafa, sua pesquisa e produção artística focam a relação entre identidade e poder em retratos fotográficos. Recebeu o Prêmio Vídeo USP TV Cultura 2020 e o Prêmio Histórico em Artes Visuais do Proac 2022. Como fotógrafa, desenvolve a série Protocolo diário e o projeto Identidades possíveis – Eu sou, nós somos. Em parceria com a Nave Gris Cia. Cênica, criou a exposição Mulheres negras na dança (2017).

Rafael Domingos Oliveira
Historiador e educador, é doutorando em história social pela USP e mestre em história pela Unifesp. Foi professor da rede pública de ensino do estado de São Paulo e coordenador do Núcleo de Educação do Museu Afro Brasil. É autor de artigos e do livro Vozes afro-atlânticas: autobiografias e memórias da escravidão e da liberdade (2021). É membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Afro-América (Nepafro) e coordenador do Núcleo de Acervo e Pesquisa do Theatro Municipal de São Paulo.

Roberto Conduru
Historiador da arte e professor na Southern Methodist University, especializado em história da arte e arquitetura, com ênfase em arte afro-brasileira e arte e arquitetura construtivista. Foi pesquisador convidado na Clark Art Institute e na The Getty Foundation. É autor de Arte afro-brasileira e encontros com a arte contemporânea, dentre outros.


Vanicléia Silva Santos
Curadora da Coleção Africana do Penn Museum/University of Pennsylvania e professora de história da África na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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