sábado, 20 de janeiro de 2024

.: Estreia “O Antipássaro”, peça baseada na obra e vida da poeta Orides Fontela


Nova temporada em São Paulo, de 20 de janeiro a 3 de março, na sala Paschoal Carlos Magno, sábados e domingos, às 18h. Foto: Rodrigo Chueri


"Quero morrer sem obedecer a ninguém, sou o próprio coração selvagem, a poesia ocupou todos os espaços da minha vida, não tenho mais nada, só os meus livrinhos, não conheci o amor, nunca amei ninguém. A gente faz poesia mas tem de viver de prosa, tem de cuidar da vida, transformar o verbo em verba. Muito além é o país do acolhimento, me trataram não como poeta mas como um caso humano e chegaram a falar mal de mim porque sou pobre. Estou cansada desse folclore. Meu maior fracasso é não ser ateia".


Uma das maiores poetas brasileiras, Orides Fontela reflete em sua obra um viés filosófico e profundo, seco e conciso da vida. Colocar em cena as palavras de Orides Fontela, sua poesia, seu olhar artístico e lúcido para que o universo feminino conquiste o protagonismo necessário foi tarefa de Elias Andreato e Nilton Bicudo, que celebram as mais de três décadas de parceria artística. O espetáculo abre a programação de 2024, da sala Paschoal Carlos Magno, do Teatro Sergio Cardoso, em temporada a partir deste sábado, dia 20 de janeiro, até 3 de março.

O espetáculo "O Antipássaro" nasceu da vontade do ator Nilton Bicudo experenciar a potente poesia de Orides. Pela parceria teatral formada com o ator e diretor Elias Andreato naturalmente nasceu o roteiro, de encenação simples focado na palavra, que usa uma escrivaninha e uma cadeira como cenário, luz funcional e trilha composta por Jonatan Harold.

O roteiro traz a poesia de Orides, a sua estrela, e também recortes biográficos a partir de entrevistas da poeta que apresentam ao público seu pensamento e criação, seu ideal de poesia. Nascida em São João da Boa Vista, interior de São Paulo, em 21 de abril de 1940, sua pequena e densa obra se sobressai pela radical modernidade e cortante lucidez de sua linguagem.

Embora tenha sido massacrada pelo mundo masculino acadêmico e estigmatizada por viver na solidão e na pobreza, foi reconhecida desde o início de sua carreira por intelectuais como Antonio Candido e Davi Arigucci Jr., publicou cinco volumes incontornáveis de poemas: "Transposição" (1969), "Helianto" (1973), "Alba" (1983, pelo qual recebeu o Prêmio Jabuti), "Rosácea" (1986) e "Teia" (1996), e algumas dezenas de poemas inéditos, unindo densidade e clareza, asperidade e beleza.

Morreu em 12 de outubro de 1998, de tuberculose, no Sanatorinhos de Campos do Jordão, e quase foi enterrada como indigente. Escapou desse destino por causa de um exemplar de seu livro "Teia", que mantinha entre seus poucos objetos e que foi achado por uma enfermeira da clínica. Filha de pai operário e analfabeto, começou a escrever aos sete anos, estudou filosofia na USP, foi professora primária mas detestava lecionar, morou no CRUSP e no diretório acadêmico 11 de agosto. Teve poucos amigos, era "de difícil convivência". Morou também na Cesário Mota ao lado Minhocão, e teve a luz cortada diversas vezes por falta de pagamento. "Morar perto de Avenidas não é tão ruim quanto se pensa. É só fechar a janela". Amou gatos, não amou pessoas e foi atropelada quatro vezes.

Elias foi professor de Teatro de Nilton e o convidou para ser seu assistente em Van Gogh (1993). De lá para cá foram vários espetáculos juntos: "A Comédia dos Homens" (2000), "Mãe é Karma" (2009), "Amigas Pero No Mucho" (2012 a 2019),  "Édipo" (2011), "A Garota do Adeus" (2012), "Coisa de Louco" (2012), Myrna Sou Eu (2013 a 2022), Dona Bete (2016) Comédia.com (2022) e agora "O Antipássaro", um vôo pra pensar o que é ser artista no Brasil.


Ficha técnica
Monólogo "O Antipássaro". Roteiro e direção de Elias Andreato baseado na obra e vida da poeta Orides Fontela. Com Nilton Bicudo. Luz e cenário de Elias Andreato. Música composta por Jonatan Harold. Assistência de direção: Zé Gui Bueno. Fotografia: Rodrigo Chueri. Designer gráfico: Keren Ora Karman. Figurino: Marcelo Leão. Produção: Rosa Vermelha Produções Artísticas;

Serviço
Monólogo "O Antipássaro".  Teatro Sergio Cardoso. Sala Paschoal Carlos Magno. Rui Barbosa ,153, Bela Vista - São Paulo. Sábado e domingos às 18h. Preços: R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia-entrada). Duração: 60 minutos. Classificação indicativa:  14 anos. Capacidade: 144 lugares. Compras pelo site https://site.bileto.sympla.com.br/teatrosergiocardoso/

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