"Nebulosas", de Narcisa Amália, é um dos livros cobrados pela Fuvest em 2026. Corajosa, erudita, sensível a questões humanitárias e ligadas ao universo feminino, a autora escreveu um único livro. À época de sua publicação, em 1872, pela mítica editora Garnier, essa obra fez com que seu talento fosse celebrado por ninguém menos que Machado de Assis e também pelo imperador Dom Pedro II.
A obra foi escrita pela autora quando ela tinha 20 anos. No livro, a “jovem e bela poetisa”, como definiu Machado de Assis, declama poemas de exaltação à natureza, à pátria e de lembranças da sua infância. O livro foi publicado pela mais famosa editora brasileira à época, a Garnier, que patrocinou todos os gastos da impressão.
A editora deu relevância ao livro, segundo Maria de Lourdes Eleutério, pelo fato incomum à época de uma mulher publicar um livro. Conforme relata Maria de Lourdes Eleutério “para as mulheres da República o sonho de publicar um livro era um projeto distante, a expressão feminina nesse período permanece circunscrita ao espaço privado”.
Em 1873, Narcisa recebeu o Prêmio Lira de Ouro por conta dessa obra. Em setembro de 1874, Narcisa recebeu o prêmio da Mocidade Acadêmica do Rio de Janeiro, uma pena de ouro entregue pelas mãos do conselheiro Saldanha Marinho. No livro, estão reunidos os 44 poemas originais. Alguns poemas líricos, com temas intimistas, femininos, e relacionados à natureza, outros de cunho social, em prol da abolição da escravatura. Compre o livro "Nebulosas", de Narcisa Amália, neste link.
Sobre a autora
Narcisa Amália de Campos foi tradutora, poeta, escritora, crítica literária, jornalista brasileira e professora. Foi a primeira mulher a trabalhar como jornalista profissional no Brasil, além de abolicionista, republicana e feminista. Movida por forte sensibilidade social, combateu a opressão da mulher e o regime escravista. Segundo Sílvia Paixão, “um dos raros nomes femininos que falam de identidade nacional" e busca sua própria identidade “numa poética uterina que imprime o retorno ao lugar de origem”. Colaborou na revista A Leitura (1894-1896) e, bem a frente de seu tempo, escreveu muitos artigos de cunho feminista e republicano.
Filha do poeta Jácome de Campos e da professora primária Narcisa Inácia de Campos, Narcisa Amália nasceu em São João da Barra, no Rio de Janeiro, em 3 de abril de 1852. Ainda em São João da Barra, estudou latim e francês com o padre Joaquim Francisco da Cruz Paula, e recebeu aulas de retórica de seu pai.
Aos 11 anos, mudou com a família para o município fluminense de Resende, onde, aos 14, se casa com João Batista da Silveira, artista ambulante de vida irregular, de quem se separou alguns anos mais tarde. Aos 28 anos, em 1880, se casou novamente com Francisco Cleto da Rocha, mas a união não durou e o casal se separou pouco tempo depois, obrigando-a a deixar Resende, em especial por conta dos boatos espalhados por seu marido na cidade. Por ter sido casada e divorciada em duas ocasiões, isso gerava forte estigma social na época.
O sucesso de Narcisa passou a incomodar o marido que, depois de separado, passou a difamar a escritora declarando que seus versos não eram de sua autoria, mas escritos por poetas com quem teria tido casos de amor. O escritor Múcio Teixeira fez coro à campanha contra Narcisa declarando que o livro “Nebulosas” tinha sido escrito por um homem com pseudônimo de mulher.
Narcisa iniciou sua carreira como tradutora de contos e ensaios de autores franceses, como a escritora George Sand (pseudônimo masculino da autora Amandine Aurore Lucile Dupin) e o paleobotânico Gaston de Saporta. Único livro da autora, "Nebulosas" foi publicado em 1872, em nova edição em 2017 pela Gradiva Editorial e a Fundação Biblioteca Nacional. A obra foi muito bem recebida na época de seu lançamento, tendo sido inclusive bastante comentado por Machado de Assis e Dom Pedro II. Em 1874, 1888 e 1917, ela contribui com o "Novo Almanaque de Lembranças", que era uma coletânea de textos diversos que tinha grande circulação em Portugal e no Brasil.
Com problema cardíaco e cansada das difamações em Resende, em 1888, com apenas 33 anos, foi para o Rio de Janeiro, no bairro de São Cristóvão. Ainda na vida carioca continuou a escrever, mas cada vez menos e foi lecionar em uma escola pública. Narcisa Amália faleceu aos 72 anos, em 24 de julho de 1924, no Rio de Janeiro, vitimada por um diabetes. Ela já estava cega, pobre e com problemas de mobilidade. Além disso, sua obra foi praticamente esquecida depois de sua morte.
Antes de sua morte, deixou um apelo: “Eu diria à mulher inteligente [...] molha a pena no sangue do teu coração e insufla nas tuas criações a alma enamorada que te anima. Assim deixarás como vestígio ressonância em todos os sentidos”. Garanta o seu exemplar de "Nebulosas", escrito por Narcisa Amália, neste link.
Fuvest 2026
"Opúsculo Humanitário" (1853) - Nísia Floresta Brasileira Augusta
"Nebulosas" (1872) - Narcisa Amália
"Memórias de Martha" (1899) – Julia Lopes de Almeida
"Caminho de Pedras" (1937) – Rachel de Queiroz
"O Cristo Cigano" (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen
"As Meninas" (1973) – Lygia Fagundes Telles
"Balada de Amor ao Vento" (1990) – Paulina Chiziane
"Canção para Ninar Menino Grande" (2018) – Conceição Evaristo
"A Visão das Plantas" (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
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