Com texto escrito por Tereza Freire espetáculo tem a atriz no papel de Patrícia Rehder Galvão, a Pagu e revela o resultado de uma investigação dos destroços mais profundos e pouco conhecidos da história da militante política e cultural, e uma das pioneiras do feminismo no Brasil. Há quatro anos, Thais Aguiar começou suas pesquisas para levar aos palcos a biografia de Pagu, uma das percursoras da luta feminista no Brasil.
O espetáculo “Pagu - Do Outro Lado do Muro”, com o texto de Tereza Freire que também é autora do livro em que o espetáculo foi inspirado. Em única apresentação exatamente no dia que completam exatos 61 anos de sua morte, 12 de dezembro, o local escolhido para esta homenagem à Patrícia Rehder Galvão foi a Cadeia Velha de Santos, que hoje é sede da Fábrica de Cultura 4.0 na cidade. Contudo, outrora, quando em atividade, foi onde a feminista ficou detida em uma das 23 vezes em que foi presa por seu ativismo político.
“Fazer esta homenagem a Pagu, na cidade em que ela escolheu viver, na cadeia onde esteve presa após o comício e assassinato de seu amigo Herculano de Souza, tem um significado e uma responsabilidade muito grande pra mim. Levar a arte através do teatro num lugar que por anos foi sinônimo de dor, abandono e desespero é poder honrar a função social que arte tem nesse país, a de ressignificar, de regenerar e transcender. As pessoas precisam saber que Pagu foi muito além de ser a ‘mulher de Oswald de Andrade’. Ela me ensinou com sua trajetória de vida que o título de mulher e mãe nos é dado como um prêmio pelo patriarcado e que infelizmente esse 'prêmio' nos serve mais como prisão e anulação dos nossos dons e escolhas. Os tempos mudaram”, explica Thais.
“Estamos nos fortalecendo como mulher, recuperando nosso espaço de fala, de direito e Pagu já nos mostrava que o caminho seria árduo, mas possível! Escolhi dar vida a Pagu e com a dramaturgia de Tereza Freire, sem nenhum romantismo ou histórias pessoais e paralelas o espetáculo faz uma provocação extremamente atual sobre a luta por justiça social e retomando uma cultura de papel transformador. As pessoas poderão vivenciar uma jornada cheia de detalhes para entender toda a complexidade dessa personalidade”.
A atriz traz ainda uma curiosidade: “pouca gente vai notar este detalhe, mas o horário do espetáculo foi escolhido de forma muito cuidadosa, pois ele termina exatamente no horário oficial do falecimento de Pagu. Traremos ela à vida na memória das pessoas enquanto ela, há 61 anos, nos deixava”. O texto é baseado no livro “Dos Escombros de Pagu”, resultado de uma tese de mestrado de Tereza Freire, que também assina o texto do espetáculo.
A pesquisa resgatou a vida e a obra dessa importante precursora de comportamentos político-sociocultural brasileiros de uma feminista, militante política, ilustradora, comunista e crítica literária e teatral. Ela marcou a história do Brasil, revolucionando e chocando a sociedade dos anos de 1930, com suas ações e pensamentos inovadores.
No espetáculo dirigido por Erika Moura e Natália Siuf, “Pagu - Do Outro Lado do Muro” a personagem volta para narrar sua trajetória de vida com todos os acontecimentos vividos e superados, sem qualquer sentimento de culpa e vitimização dos fatos. Uma interpretação que mergulha nas memórias da personagem e emociona pela veracidade dos acontecimentos vivenciados, deixando o público livre para interpretar a história como quiser e com isso a narração atinge uma amplitude para além da informação. Após a apresentação, haverá uma roda de conversa da atriz Thais Aguiar e das diretoras Erika Moura e Natália Siufi com o público. Compre o livro "Dos Escombros de Pagu", de Tereza Freire, neste link.
Sobre Patrícia Redher Galvão (Pagu)
Patrícia Rehder Galvão nasceu em São João da Boa Vista no dia 9 de junho de 1910 e morreu em Santos em 12 de dezembro de 1962. Foi autora do primeiro romance proletário brasileiro (Parque Industrial) e a primeira presa política deste país. Casada com Oswald de Andrade, destacou-se significativamente no movimento Modernista de 1922. Ainda jovem, trabalhou em fábricas e militou pelo Partido Comunista.
Escreveu contos policiais publicados pela revista Detective, dirigida pelo dramaturgo Nelson Rodrigues, que depois (1998) foram reunidos na obra Safra Macabra. Em trabalhos, junto a grupo teatrais, revelou e traduziu grandes autores, até então inéditos no Brasil, como James Joyce, Eugène Ionesco, Arrabal e Octavio Paz.
Fundou um jornal de esquerda com Oswald de Andrade, empastelado pela polícia repressora da época. Foi perseguida pela ditadura Vargas. Militou na França, foi presa e deportada para o Brasil. Antes, presenciou a coroação do Imperador Pu Yi, da Manchúria. Presa em 1935, permaneceu encarcerada por 5 anos. Foi torturada e, somente libertada por motivos de doença, pesando cerca 40 quilos. Tentou suicídio por conta de um tratamento de câncer mal sucedido. Em Santos, tornou-se uma das grandes incentivadoras do teatro amador, responsável pela descoberta de Plínio Marcos.
Morreu aos 52 anos, vítima de câncer no pulmão. Seu último marido foi Geraldo Ferraz, crítico do jornal “A Tribuna” (Santos), em que também foi colaboradora. Caiu no esquecimento da história oficial até que Augusto de Campos publicou sua antologia poética e “gritou”: quem resgatará Pagu? Garanta o seu exemplar do livro "Dos Escombros de Pagu", escrito por Tereza Freire, neste link.
Ficha técnica
Espetáculo "Pagu - Do Outro Lado Do Muro". Atuação: Thais Aguiar. Texto: Tereza Freire. Direção: Erika Moura e Natália Siufi. Trilha sonora original: Paulo Gianini. Iluminação: Tomate Saraiva. Fotografias: Arô Ribeiro. Assessoria de imprensa: Antonio Montano (Vetor.am). Produção: Espontânea Cultural. Co-produção: Lorenna Mesquita (Sultana Produções). Cenário e figurino orientados por Livia Loureiro. Design gráfico: Theo Siqueira.
Serviço
Espetáculo "Pagu - Do Outro Lado Do Muro". Dia 12 dezembro. Horário: 15h. Local: Fábrica de Cultura 4.0 – Cadeia Velha. Endereço: Praça dos Andradas s/nº, Centro – Santos (SP). Gênero: Drama. Duração: 70 minutos. Classificação: 14 anos. Após o espetáculo haverá uma roda de conversa com a a triz e as diretoras.
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