terça-feira, 21 de novembro de 2023

.: "A Visita", primeiro solo interpretado por Carol Duarte, estreia nesta sexta


Espetáculo faz curta temporada na Sala de Espetáculos I do Sesc Belenzinho e traz time de criação composto por Murillo Basso na direção e Aline Klein estreando na dramaturgia. Foto: Murillo Basso


Um conto de Aline Klein que apresenta uma mulher solitária em seu apartamento e nos faz refletir sobre o adoecimento psíquico coletivo e o avanço de movimentos ultra-conservadores de direita foi adaptado para sua  dramaturgia de estreia no espetáculo "A Visita", peça com direção de Murillo Basso - diretor de "Agnes de Deus", em cartaz atualmente - e interpretação de Carol Duarte, que está em fase de divulgação do filme italiano "La Chimera", drama protagonizado por Carol escrito e dirigido por Alice Rohrwacher e selecionado para concorrer à Palma de Ouro no 76º Festival de Cinema de Cannes. O espetáculo faz temporada no Sesc Belenzinho a partir de sexta-feira, dia 24 de novembro.

O conto que inspirou a peça foi escrito durante a pandemia e condensa de maneira crítica e bem-humorada aspectos pessoais e coletivos da experiência que a população atravessa ao longo dos últimos anos, como o ódio às diferenças que deu o tom da esfera pública e do cenário político, invadidos pela avalanche de retóricas intolerantes, até então restritas aos círculos radicalizados, encerrados em seu reacionarismo retraído. Os meios digitais, com sua disseminação e ausência de filtros, deram voz e poder de coesão aos execradores da pluralidade.

Dialogando criticamente com esse quadro, o espetáculo metaforiza o processo de “saída do armário” de personagens ultraconservadores caracterizados pela bizarrice e o faz situando seu enredo em um pequeno e caótico apartamento cuja conexão com o mundo se dá, sobretudo, por meio do aparelho celular, com as  bolhas e os vieses de confirmação gerados pelas mídias sociais e correntes de mensagens – produtoras de visões ensimesmadas e conspiratórias da realidade.

A Visita também marca a primeira participação de Carol Duarte em um solo. "A peça traz para a cena uma figura que embarca num processo de radicalização e fanatismo, levando sua narrativa ao limite entre ficção e realidade, porém propõe um recorte em que a protagonista vai pouco a pouco vomitando um ressentimento típico da elite decadente paulista, que sonha, pateticamente, ser algo que não é", diz a atriz sobre a personagem que interpreta.

No espetáculo, a mulher confinada recebe uma visita inesperada do trabalho. Ao tentar justificar sua situação, e atormentada por uma estranha presença, começa a falar ininterruptamente e se deixa levar por uma torrente de pensamentos até romper com a realidade e mergulhar num discurso ressentido, persecutório e delirante de superioridade. O público se depara a princípio com uma figura complexa, multifacetada, carismática e abjeta, difícil de capturar, difícil de definir, mas que pouco a pouco descortina um pensamento radical e conservador.

"O projeto conservador que se instalou no país segue entranhado no poder e não sairá sem um esforço coletivo de oposição permanente. É muito complexo elaborar os fatos históricos que estamos vivenciando, e parece que caímos todos num estado de consternação e incredulidade diante do absurdo", comenta Aline Klein sobre o contexto que inspirou a criação da peça.

A direção de Murillo Basso aposta numa imagem-síntese, enraíza a figura no palco, limita suas possibilidades de movimento e desloca a atenção para o trabalho minucioso da atriz Carol Duarte, que mobiliza seus recursos para navegar o sofisticado labirinto dramatúrgico criado pela autora. O espetáculo aposta no humor como chave para lidar com a aridez e a violência do discurso da figura central, deixando o público o tempo todo em estado de atenção.

"Sabemos da complexidade e da densidade dos temas que estamos abordando neste espetáculo, mas acreditamos plenamente no potencial da arte e do teatro como plataforma para se discutir a realidade e propor novos futuros. Depois destes últimos anos sob ameaça constante, celebremos a liberdade democrática de fazer arte e sigamos em frente com olhos e ouvidos bem abertos", diz Murillo, diretor da montagem.


Sinopse
Uma mulher confinada em seu pequeno apartamento, em estado de abandono, recebe inesperadamente uma visita do trabalho. Ao tentar justificar sua situação, e atormentada por uma estranha presença, entrega-se à torrente de seus pensamentos e rompe com a realidade, mergulhando em um transe delirante. 


Ficha técnica
Espetáculo "A Visita". Atuação: Carol Duarte. Direção: Murillo Basso. Dramaturgia:  Aline Klein. Assistência de direção: João Victor Toledo. Direção de produção: Canafístula. Assistente de produção: Gabs Ambròzia. Iluminação: Dimitri Luppi. Assistente de iluminação: Felipe Fly. Cenografia: Stéphanie Fretin. Composição/Trilha sonora: Muep Etmo. Técnicas de áudio: Viviane Barbosa e Carol Andrade. Figurino: Vive Almeida. Assistência de figurino/Acervo: Cay Minutti. Designer/Identidade Visual: Fernanda Zotovici. Assessoria de imprensa: Pevi (Angelina Colicchio e Diogo Locci).


Serviço
Espetáculo "A Visita". Data: 24 de novembro a 17 de dezembro. Sextas e sábados, 21h30. Domingos, 18h30. Local: Sala de Espetáculos I do Sesc Belenzinho (Rua Padre Adelino, 1.000, Belenzinho, São Paulo). Capacidade: 100 pessoas. Ingressos: R$ 40,00 (inteira), R$ 20,00 (meia) e R$ 12,00 (credencial plena). Duração: 50 minutos. Classificação indicativa: 14 anos. Estacionamento. De terça a sábado, das 9h às 21h. Domingos e feriados, das 9h às 18h. Valores: Credenciados plenos do Sesc: R$ 5,50 a primeira hora e R$ 2,00 por hora adicional. Não credenciados no Sesc: R$ 12,00 a primeira hora e R$ 3,00 por hora adicional. Transporte público. Metro Belém (550m) | Estação Tatuapé (1400m).

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