terça-feira, 17 de outubro de 2023

.: Peça "Babilônia Tropical - A Nostalgia do Açúcar" estreia no CCBB São Paulo


Criação do diretor Marcos Damigo, drama histórico real mistura passado e presente para falar sobre o período da invasão holandesa em Pernambuco no século XVII; em cena, a personagem Anna Paes é vivida pela atriz Carol Duarte, que divide o palco com Jamile Cazumbá, Ermi Panzo e Leonardo Ventura. Montagem tem recursos audiovisuais e música ao vivo executada pelo diretor musical Adriano Salhab. Cena de Babilônia Tropical - Crédito da Foto: Rodrigo Menezes

Segue em cartaz em São Paulo a peça "Babilônia Tropical - A Nostalgia do Açúcar", criação do diretor Marcos Damigo, com Carol Duarte, Jamile Cazumbá, Ermi Panzo e Leonardo Ventura no elenco. A temporada acontece no CCBB São Paulo, até dia 19 de novembro, às quintas e sextas-feiras, às 19h; sábados, domingos e feriado de 2 de novembro, às 17h. Os ingressos custam R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia-entrada).

O drama histórico real mistura passado e presente para falar sobre o período da invasão holandesa em Pernambuco no século XVII (quando a região era a maior produtora de açúcar do mundo). A peça mostra um grupo de quatro atores ensaiando um espetáculo a partir da tentativa de reproduzir o momento em que Anna Paes, dona de engenho da época, escreve um bilhete para o aristocrata neerlandês Maurício de Nassau, presenteando-o com seis caixas de açúcar em sua chegada ao Brasil. A peça explora a reconstrução desse período para revelar a existência do racismo como herança da escravidão, e suas implicações nos modos de nos relacionarmos com a própria ideia do trabalho. 

No palco estão: Carol Duarte, no papel de Anna Paes; Jamile Cazumbá, artista baiana que transita pelo audiovisual e performance; Ermi Panzo, artista angolano radicado há quase dez anos no Brasil, que também assina a dramaturgia da obra; e Leonardo Ventura, ator consagrado em obras dirigidas por Antunes Filho no Centro de Pesquisa Teatral; além de Adriano Salhab, que assina a direção musical do espetáculo e executa a trilha sonora ao vivo em cena, com músicas originais.  

Uma experiência rica e instigante
O grupo de quatro atores, inspirados no episódio da invasão holandesa em Pernambuco - quando a região era a maior produtora de açúcar do mundo - ensaia o espetáculo que mescla passado e presente e se desenrola a partir da tentativa de reproduzir o momento em que Anna Paes, dona de engenho da época, escreve um bilhete para o aristocrata neerlandês Maurício de Nassau, presenteando-o com seis caixas de açúcar em sua chegada ao Brasil. O bilhete está guardado até hoje no Arquivo  Nacional dos Países Baixos, em Haia.

Anna Paes, uma mulher considerada à frente de seu tempo, já que sabia ler e escrever (algo raro para a época), assumiu também a administração de um dos maiores engenhos de Pernambuco com a morte do marido. Valores positivos para esse início de modernidade, como liberdade e  emancipação, vão sendo desmontados, revelando a grande farsa do projeto que deu início a esse empreendimento açucareiro, que só existiu graças à escravidão.

O idealizador, dramaturgo e diretor da obra, Marcos Damigo, enfatiza: "É uma responsabilidade imensa dar vida às pessoas que vieram antes de nós, para que possamos transformar a forma como nos enxergamos e, assim, talvez, ativar nossa sensibilidade para uma melhor compreensão de nós mesmos."  

O produtor do espetáculo, Gabriel Bortolini, adianta que a peça provoca reflexões profundas. "A representação histórica, exemplificada pela personagem Anna Paes, reflete nossas escolhas sobre como perpetuar a história, a imagem e seus pares. A história brasileira foi feita de brancos para brancos. Aqui, questionamos não apenas os reconhecimentos em si, mas também seus privilégios e as barreiras que precisam ser superadas para alcançar um lugar diferente", afirma Bortolini.  

Com sucesso de público e crítica em sua estreia em Belo Horizonte/MG, o espetáculo tem "cenas que revelam lugares mais oblíquos do racismo, justamente por parte daquelas personagens que se veem como artistas 'antirracistas'", afirma a crítica Júlia Guimarães no site Horizonte da Cena. 

"Tem sido interessante ver como o espetáculo toca as pessoas de maneiras tão diferentes, dependendo de onde você se situa em relação às questões que emergem em cena", conta o diretor Marcos Damigo. Para a temporada paulista, as expectativas são positivas: "A peça traz uma diversidade de olhares, provocando o espectador o tempo inteiro, com a busca de um teatro mais contemporâneo e desconstruído", complementa. 

A atriz Carol Duarte, que interpreta o papel de Anna Paes, destaca a importância de abordar a barbárie histórica do país. E ressalta: "como podemos olhar para o passado sem reparar que os pilares desse país foram sustentados pela escravidão? Os vilões da nossa história devem ser nomeados para que, no presente, possamos erradicar qualquer indício dessa herança escravocrata, restaurando o lugar devido para aqueles que foram capturados e para aqueles que ainda são oprimidos", afirma a atriz.  

O elenco tem os atores Ermi Panzo, artista angolano radicado há quase dez anos no Brasil, que também assina a dramaturgia da obra; Jamile Cazumbá, artista baiana que transita pelo audiovisual e a performance; e Leonardo Ventura, ator consagrado em obras dirigidas por Antunes Filho no Centro de Pesquisa Teatral; além de Adriano Salhab, músico pernambucano que assina a direção musical do espetáculo e executa a trilha sonora ao vivo em cena, com músicas originais.  

Destacando-se tanto na atuação quanto na dramaturgia, o ator e poeta Ermi Panzo explora a reconstrução desse período para revelar a existência do racismo como herança da escravidão, e suas implicações nos modos de nos relacionarmos com a própria ideia do trabalho. "A obra traz uma representação vívida do cenário dinâmico do trabalho da época, que resulta em um conjunto de elementos que caracterizam a precariedade das condições de vida do trabalhador, atentando contra sua dignidade, especialmente para a maioria negra", explica Panzo.  

A permanência do racismo em todas as relações também é um dos destaques que a peça traz para a atriz Jamile Cazumbá. Ela destaca que sua personagem experimenta "cotidianamente os danos, a violência e as perversidades do racismo, e de todas e diversas categorias de subalternidades estabelecidas socialmente e politicamente para que meu corpo habite", e que a peça "é uma tentativa de abrirmos mão da suposta ingenuidade que o romantismo colonial insiste em coreografar".

"Babilônia Tropical" oferece ao público uma experiência rica e instigante, com música ao vivo e recursos audiovisuais, utilizando desde imagens de arquivos históricos até filmagens realizadas em estúdio por uma equipe audiovisual, com imagens de grande impacto e beleza. "Enfrentamos, aqui, a questão central diante do teatro contemporâneo: a chegada de temáticas antes ocultas ou apagadas que demandam novos engendramentos, tanto de relações formais, quanto de relações profissionais e pessoais; e a despeito de qualquer resposta, encontramos no caminho da escuta, da contracena e do acolhimento, nosso modo de relacionarmo-nos com tudo isso e uns com os outros; que o teatro seja canal para toda essa elaboração e que a cena possa cumprir o seu papel primordial, que é o da síntese poética", adianta Leonardo Ventura, ator.

O projeto recebeu apoio da Embaixada dos Países Baixos para o desenvolvimento da dramaturgia, o que possibilitou uma viagem do autor Marcos Damigo a Pernambuco, bem como a participação do historiador Daniel Breda no processo de pesquisa, além de uma primeira imersão com o elenco da peça em 2022. A peça estreou no CCBB Belo Horizonte, depois teve temporadas pelo CCBB Brasília e pelo CCBB Rio de Janeiro.  


Ficha técnica
Espetáculo "Babilônia Tropical - A Nostalgia do Açúcar". Idealização, concepção e direção geral: Marcos Damigo. Concepção e direção de produção: Gabriel Bortolini. Dramaturgia: Ermi Panzo e Marcos Damigo. Elenco:  Carol Duarte, Jamile Cazumbá, Ermi Panzo, Leonardo Ventura e Adriano Salhab.  Interlocução artística:  Lúcia Bronstein e Sol Miranda. Direção musical e canções originais: Adriano Salhab. Direção de arte:  Simone Mina. Iluminação:  Wagner Pinto. Preparação vocal e consultoria artística e dramatúrgica: Glaucia Verena. Preparação corporal: Pat Bergantin. Consultoria histórica:  Daniel Breda. Programação visual:  Rafa Saraiva e Mila Cavalcanti. Direção de fotografia: Coletivo Corpo Sobre Tela/Ricardo Aleixo e Julia Zakia.   Montagem e finalização de cor:  Coletivo Corpo Sobre Tela. Vídeo engenho em chamas:  Rafael Tenório. Coordenação de redes sociais:  Luiz Schiavinato Valente. Design para redes sociais:  Mayara Santana e Rafael Tenório. Assistência de direção:  Jackeline Stefanski Bernardes e Ví Silva. Assistência de produção:  Luiz Schiavinato Valente e Ví Silva. Assistência de direção de arte:  Rick Nagash. Assistência de cenografia:  Vinicius Cardoso. Assistência de figurino e adereços:  Amanda Pilla B e Hellige Sant'Anna. Assistência de iluminação: Carina Tavares. Cenotécnica cenário:  Wanderley Wagner e Fernando Zimolo. Cenotécnica filmagem:  Mauro José da Silva e Matheus Kaue Justino da Silva. Cabeleireira elenco:  Vivona. Making off:  Julia Zakia. Câmera adicional making off:  Luiza Zakia Leblanc.

Serviço
Espetáculo "Babilônia Tropical - A Nostalgia do Açúcar". Temporada: de 06 de outubro a 19 de novembro de 2023, sempre de quinta a domingo. Horário: quinta e sexta às 19 horas, sábado, domingo e feriado do cia 2 de novembro, às 17h. Local: Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo - CCBB SP. Endereço: Rua Álvares Penteado, 112 – Centro Histórico / São Paulo. Próximo à estação São Bento do Metrô . Entrada acessível: Pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida e outras pessoas que necessitem da rampa de acesso podem utilizar a porta lateral localizada à esquerda da entrada principal. Duração: 80 minutos. Recomendação: 14 anos. Ingressos: R$ 30,00 (inteira) / R$15,00 (meia-entrada). Vendas: bilheteria do CCBB SP ou pelo site bb.com.br/cultura.  Informações: (11) 4297-0600 | Redes Sociais: instagram.com/Ccbbsp | facebook.com/ccbbsp | twitter.com/ccbb_sp |  @oficcinamultimedia

CCBB SP
Funcionamento: aberto todos os dias, das 9h às 20h, exceto às terças. Estacionamento: O CCBB possui estacionamento conveniado na Rua da Consolação, 228 (R$ 14 pelo período de 6 horas - necessário validar o ticket na bilheteria do CCBB). O traslado é gratuito para o trajeto de ida e volta ao estacionamento e funciona das 12h às 21h. Van: ida e volta gratuita, saindo da Rua da Consolação, 228. No trajeto de volta, há também uma parada no metrô República. Das 12h às 21h. Transporte público: O Centro Cultural Banco do Brasil fica a 5 minutos da estação São Bento do Metrô. Pesquise linhas de ônibus com embarque e desembarque nas Ruas Líbero Badaró e Boa Vista. Táxi ou Aplicativo: Desembarque na Praça do Patriarca e siga a pé pela Rua da Quitanda até o CCBB (200 m).

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