quinta-feira, 14 de setembro de 2023

.: "O Arquiteto e o Imperador da Assíria" tem duas apresentações no Sesc Santos


Com assinatura do grupo Garagem 21 e atuação de Helio Cicero e Pedro Conrado, peça espanhola de Fernando Arrabal discute os caminhos do totalitarismo. Espetáculo conta com um cenário distópico e não facilmente identificado, por meio de uma estética contemporânea que remete a jogos eletrônicos. Foto: Bob Sousa


Após circulação em vários teatros da cidade de São Paulo, o espetáculo teatral "O Arquiteto e o Imperador da Assíria", do Grupo Garagem 21, chega a Santos com duas sessões, dias 15 e 16 de setembro de 2023, sexta e sábado, às 20h, no Teatro do Sesc Santos.

Mais recente montagem do clássico escrito em 1967 pelo dramaturgo espanhol Fernando Arrabal, a obra é uma das peças fundamentais da reflexão sobre o pós- guerra e o totalitarismo que culminou no confronto. Helio Cicero segue na interpretação do Imperador, enquanto o personagem do Arquiteto é interpretado pelo ator Pedro Conrado. A direção é de Cesar Ribeiro.

Situada em uma ilha deserta, a peça se inicia com um desastre aéreo que leva seu único sobrevivente a entrar em contato com um nativo que jamais teve contato com outro ser humano. A partir dessa interação, o sobrevivente busca impor ao outro suas ideias de cultura e civilização, retratando a violência cultural inserida no processo de formação da sociedade.

“Utilizando a cultura para seduzir o Arquiteto sobre as supostas maravilhas da civilização, além da construção da linguagem, há o processo de formação do Estado e do conhecimento de toda a estrutura social, em que entram conceitos como política, religião, família, relações afetivas, artes, filosofia e a própria noção de humano, termos desconhecidos pelo nativo e sempre apresentados pelo Imperador de modo distorcido, trazendo conexões com as ideias de fake news e pós-verdade”, analisa o diretor.

Apesar de preservar o texto original de Arrabal na adaptação, o grupo inseriu trechos de obras de outros autores, como do dramaturgo irlandês Samuel Beckett e o editorial do dia seguinte ao golpe militar de 1964. Segundo o diretor, trata-se de inserções pontuais que complementam frases de Arrabal e reforçam as semelhanças que regimes totalitários têm entre si.

O cenógrafo J. C. Serroni optou por criar um terreno distópico próximo a uma estética contemporânea que remete a jogos eletrônicos e HQs. O desastre também deixa rastros, a cabine e a poltrona do avião, que se tornam, respectivamente, a cabana e o trono do Imperador.

A inspiração para esse cenário apocalíptico é múltipla. Há elementos da saga japonesa Ghost In The Shell; do artista plástico suíço H. R. Giger, reconhecido pela estética metalizada e futurista de Alien; do cinema expressionista alemão; e das propostas cênicas do encenador polonês Tadeusz Kantor. O figurino de Telumi Hellen também responde à uma estética futurista fundida à moda elisabetana, com influências do estilista britânico Gareth Pugh.

Com elementos narrativos contra o autoritarismo e críticas ao governo de Jair Bolsonaro, o diretor Cesar Ribeiro pontua que a obra segue atual. O ponto central da encenação é abordar como determinados modos da narrativa, que representam uma visão da realidade, servem a um projeto totalitário de poder que se pretende salvador, mas que, para exercer essa ideia de salvação, constrói a destruição do outro, do divergente, seja por meio de crimes diretamente executados por agentes do Estado ou por diversos mecanismos de coerção e perseguição.

“Vivemos um momento de tentativa de superação do trauma e de reconstrução dos afetos e do país como um todo. Infelizmente, reestrear agora não modifica em nada a necessidade do texto do Arrabal porque, apesar da mudança de governo, ainda há uma grande parcela da população que opta pelo autoritarismo para que sua visão de mundo seja imposta ao outro. Imagino que serão quatro anos de busca de criação de uma nova perspectiva de país, mais includente e com um foco na diminuição da injustiça social, como no belo discurso de posse de Silvio Almeida”, pontua. Obra representa uma continuidade da proposta de Cesar Ribeiro em dirigir peças que abordam sistemas diversos de violência - Foto: Bob Sousa


Sobre o grupo Garagem 21 
O grupo Garagem 21 surgiu em 2009, na cidade de São Paulo, fundado por Cesar Ribeiro. Desde o princípio, centra suas pesquisas na investigação da ideia de poder e suas extensões no corpo social. Do ponto de vista estético, procura um híbrido do teatro com outras linguagens, como quadrinhos, videogames, desenhos animados e dança contemporânea, em busca de uma forma de fazer teatro relacionada à transformação social propiciada pelas novas tecnologias e capaz de fomentar um público contemporâneo e alheio ao teatro, além da continuidade do público usual.

Neste período, encenou as seguintes peças: “O Arquiteto e o Imperador da Assíria" (2021), “Esperando Godot” (2016), “Cigarro Frio em Noites Mornas” (2012), “Fim de Partida” (2011), “Fodorovska” (2010), “Somente os Uísques são Felizes” (2009) e “Sessenta Minutos para o Fim” (2009). “O Arquiteto e o Imperador da Assíria” foi selecionado no Prêmio Zé Renato de Produção do segundo semestre de 2019, no Prêmio Zé Renato de Circulação do primeiro semestre de 2022 e no edital ProAC de Circulação do mesmo ano. “Esperando Godot” foi indicado ao Prêmio Shell de Figurino e selecionado no Edital ProAC de Circulação de 2017. O Grupo Garagem 21 ainda prepara para 2023 a montagem de “Dias Felizes”, texto de Samuel Beckett com atuação de Lavínia Pannunzio e Helio Cicero.

A companhia apresentou-se também em diversos festivais, como: Festival Nacional de Teatro de Ribeirão Preto (SP), Festival de Teatro de Curitiba (PR), Funalfa – Festival Nacional de Teatro de Juiz de Fora (MG), Floripa Teatro (SC), Festival de Teatro de Lages (SC), Festival de Teatro de Campo Mourão (PR), Festival de Teatro de Catanduva (SP), FestCamp (Campo Grande/MS), Festival Nacional de Teatro Pontos de Cultura (Floriano/PI), Mostra Jacareiense de Artes Cênicas (Jacareí/SP), Festival de Teatro da Unicentro (Guarapuava/PR), Festivale – Festival Nacional de Teatro do Vale do Paraíba (São José dos Campos/SP) e Festival Nacional de Comédia (Alegre/ES). Apresentou-se ainda na primeira e na segunda edição da Festa do Teatro e na edição 2010 da Virada Cultural.


Ficha técnica
Espetáculo "O Arquiteto e o Imperador da Assíria".
Texto: Fernando Arrabal. Direção, tradução e adaptação: Cesar Ribeiro. Elenco: Helio Cicero e Pedro Conrado. Direção de produção: Edinho Rodrigues. Cenário: J. C. Serroni. Desenho de luz: Aline Santini. Figurinos: Telumi Hellen. Sonoplastia: Raul Teixeira e Mateus Capelo (efeitos sonoros) e Cesar Ribeiro (músicas). Visagismo: Louise Helène. Produção executiva: Vanessa Campanari e Lara Paulauskas. Arte gráfica: Fabrício Síndice. Fotos: Bob Sousa. Registro em vídeo: Nelson Kao. Assessoria de imprensa: Canal Aberto - Márcia Marques.


Serviço
Espetáculo "O Arquiteto e o Imperador da Assíria". Garagem 21. Dias 15 e 16 de setembro. Sexta e sábado, às 20h. Não recomendado para menores de 16 anos - Autoclassificação. Ingressos: R$10,00 (credencial plena). R$15,00 (meia). R$30,00 (inteira). Teatro. Duração: 120 minutos.

0 comments:

Postar um comentário

Deixe-nos uma mensagem.

Tecnologia do Blogger.