quarta-feira, 16 de agosto de 2023

.: Peça "Escola de Mulheres" revê clássico de Molière e atualiza contexto


Alterando o ponto de vista narrativo para as vozes femininas, espetáculo do Grupo Lunar de Teatro traz Escola de Mulheres para os dias atuais.


Molière Jean-Baptiste Poquelin é um dos grandes mestres da comédia satírica e marcou a dramaturgia francesa com suas críticas aos costumes da época. Porém, em 1662, o mundo era bem diferente e, ainda bem, muitas coisas mudaram. Foi em 1662 que Molière escreveu e encenou "Escola de Mulheres", uma peça que conta a história de Arnolfo e Inês, uma menina de quatro anos que será moldada para ser a esposa perfeita pelo burguês. Rever essa história com uma crítica ao machismo limitante é um dos objetivos de "Escola de Mulheres -  Um Sátira ao Patriarcado", em cartaz até dia 30 de agosto, no Teatro Itália. 

No original de Molière, Arnolfo, um quarentão machista, adota Inês, uma garota de quatro anos para criá-la, ou moldá-la, do jeito que ele acha que uma esposa deve ser. Tudo isso para evitar que não seja feito com ele o que ele faz ou adoraria fazer com o marido das mulheres bonitas e inteligentes: pôr-lhes um chifre. Na peça do século XVII, a história é contada do ponto de vista do homem. Porém, na versão de 2023, idealizada pela dupla Suzana Muniz e Mau Machado, o público terá contato com o ponto de vista da mulher. Na adaptação, ainda cômica, do Grupo Lunar, o foco é na personagem principal, Inês, e no corpo de mulheres, que se alternam entre um tom irônico e de companheirismo em relação à protagonista. 

Aqui, a comédia satírica e irônica, que pesa ainda mais a crítica num mundo moldado por uma estrutura extremamente machista, é a grande arma. É ela que torna possível o diálogo de um tema tão pesado com o público em geral. Suzana Muniz, diretora, atriz e responsável pela adaptação do texto, diz que, muitas vezes, esse é um riso nervoso, incômodo. “Infelizmente, como vimos recentemente nos noticiários, o homem ainda usa seu poder na sociedade para obrigar meninas a se casarem ou mesmo para tentar moldar mulheres, limitando sua liberdade. E isso não acontece só em culturas distantes, mas também num Brasil bem próximo do que vivemos nas grandes metrópoles”.

Suzana ainda diz que, mesmo com a comédia muito presente, a montagem mostra a importância da sororidade entre mulheres para derrubarem o patriarcado. “Sempre que vemos um caso de abuso de homem, por mais absurdo que seja, é preciso a voz de diversas mulheres para derrubá-lo e apontá-lo como culpado. Aqui isso não é diferente e fica claro que somente se unindo as mulheres conseguem uma existência mais próxima do possível”.

As canções compostas por Mau Machado para essa peça, com arranjos do Grupo Lunar e cantadas e tocadas ao vivo, provocam uma reflexão além da sátira e nos ajudam a mostrar ao público o quão surreal é uma história dessas. Elas são mais um elemento fundamental que compõe esse alerta crítico sobre o patriarcado, fazendo a ponte da história com os tempos atuais. Compre o livro "Escola de Mulheres", de Molière, neste link.


Brasil e Europa
A encenação mistura a cultura européia do século XVII com o folclore brasileiro e de tradições afro-brasileiras, trazendo elementos cênicos coloridos e momentos ritualísticos. Tudo isso dialogando com os personagens típicos da Commedia Dell’Arte. A fusão entre a linguagem européia do século XVII e o folclore brasileiro também se dá na música ao vivo, unindo o lírico e o popular. 

O espetáculo tem como base a linguagem de coro cênico. Nela, o elenco permanece no palco durante todo o tempo, compondo imagens, jogando com a cena e tocando instrumentos ao vivo. Todas as trocas de cenários e figurinos é feita ao vivo também. No figurino, fuxico, fitas e cores remetem à cultura brasileira e são aplicados em roupas do século XVII, numa releitura livre. As máscaras lembram a Commedia Dell’Arte e trazem também a influência do folclore. Compre o livro "Escola de Mulheres", de Molière, neste link. 


Ficha técnica
Espetáculo "Escola de Mulheres -  Um Sátira ao Patriarcado". Idealização: Suzana Muniz e Mau Machado. Texto: Molière. Direção geral e adaptação: Suzana Muniz. Direção musical, música e letra: Mau Machado. Arranjos: Grupo Lunar de Teatro. Elenco: Ana Clara Fischer, Angelina Miranda, Mau Machado, Pamella Bravo, Silvio Eduardo, Suzana Muniz, Tom Freire e Vitor Ugo. Preparação vocal: Ana Clara Fischer. Preparação corporal de Commedia Dell’Arte: Flávia Bertinelli. Preparação corporal de Coro Cênico: Mau Machado e Suzana Muniz. Consultoria de tradições afro-brasileiras: Cláudia Alexandre. Figurino: Daíse Neves. Cenografia e elementos cênicos: Vitor Ugo. Máscaras: Rafael Mariposa. Luz: Dida Genofre. Operação de luz: Jessica Estrela. Fotos: Ronaldo Gutierrez. Produção Executiva: Silvio Eduardo. Apoio: Centro Cultural Omoayê e Allemande Escola de Música.

Serviço
Espetáculo "Escola de Mulheres -  Um Sátira ao Patriarcado". Quartas, às 20h00, no Teatro Itália. Até dia 30 de agosto. Ingressos: R$ 40,00 (inteira) - compra antecipada pelo Sympla. Duração: 90 minutos. Indicado para maiores de 12 anos. Teatro Itália - Av. Ipiranga, 344 - República/São Paulo. Capacidade: 292 pessoas.

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