Alterando o ponto de vista narrativo para as vozes femininas, espetáculo do Grupo Lunar de Teatro traz Escola de Mulheres para os dias atuais.
No original de Molière, Arnolfo, um quarentão machista, adota Inês, uma garota de quatro anos para criá-la, ou moldá-la, do jeito que ele acha que uma esposa deve ser. Tudo isso para evitar que não seja feito com ele o que ele faz ou adoraria fazer com o marido das mulheres bonitas e inteligentes: pôr-lhes um chifre. Na peça do século XVII, a história é contada do ponto de vista do homem. Porém, na versão de 2023, idealizada pela dupla Suzana Muniz e Mau Machado, o público terá contato com o ponto de vista da mulher. Na adaptação, ainda cômica, do Grupo Lunar, o foco é na personagem principal, Inês, e no corpo de mulheres, que se alternam entre um tom irônico e de companheirismo em relação à protagonista.
Aqui, a comédia satírica e irônica, que pesa ainda mais a crítica num mundo moldado por uma estrutura extremamente machista, é a grande arma. É ela que torna possível o diálogo de um tema tão pesado com o público em geral. Suzana Muniz, diretora, atriz e responsável pela adaptação do texto, diz que, muitas vezes, esse é um riso nervoso, incômodo. “Infelizmente, como vimos recentemente nos noticiários, o homem ainda usa seu poder na sociedade para obrigar meninas a se casarem ou mesmo para tentar moldar mulheres, limitando sua liberdade. E isso não acontece só em culturas distantes, mas também num Brasil bem próximo do que vivemos nas grandes metrópoles”.
Suzana ainda diz que, mesmo com a comédia muito presente, a montagem mostra a importância da sororidade entre mulheres para derrubarem o patriarcado. “Sempre que vemos um caso de abuso de homem, por mais absurdo que seja, é preciso a voz de diversas mulheres para derrubá-lo e apontá-lo como culpado. Aqui isso não é diferente e fica claro que somente se unindo as mulheres conseguem uma existência mais próxima do possível”.
As canções compostas por Mau Machado para essa peça, com arranjos do Grupo Lunar e cantadas e tocadas ao vivo, provocam uma reflexão além da sátira e nos ajudam a mostrar ao público o quão surreal é uma história dessas. Elas são mais um elemento fundamental que compõe esse alerta crítico sobre o patriarcado, fazendo a ponte da história com os tempos atuais. Compre o livro "Escola de Mulheres", de Molière, neste link.
Brasil e Europa
A encenação mistura a cultura européia do século XVII com o folclore brasileiro e de tradições afro-brasileiras, trazendo elementos cênicos coloridos e momentos ritualísticos. Tudo isso dialogando com os personagens típicos da Commedia Dell’Arte. A fusão entre a linguagem européia do século XVII e o folclore brasileiro também se dá na música ao vivo, unindo o lírico e o popular.
O espetáculo tem como base a linguagem de coro cênico. Nela, o elenco permanece no palco durante todo o tempo, compondo imagens, jogando com a cena e tocando instrumentos ao vivo. Todas as trocas de cenários e figurinos é feita ao vivo também. No figurino, fuxico, fitas e cores remetem à cultura brasileira e são aplicados em roupas do século XVII, numa releitura livre. As máscaras lembram a Commedia Dell’Arte e trazem também a influência do folclore. Compre o livro "Escola de Mulheres", de Molière, neste link.
Ficha técnica
Espetáculo "Escola de Mulheres - Um Sátira ao Patriarcado". Idealização: Suzana Muniz e Mau Machado. Texto: Molière. Direção geral e adaptação: Suzana Muniz. Direção musical, música e letra: Mau Machado. Arranjos: Grupo Lunar de Teatro. Elenco: Ana Clara Fischer, Angelina Miranda, Mau Machado, Pamella Bravo, Silvio Eduardo, Suzana Muniz, Tom Freire e Vitor Ugo. Preparação vocal: Ana Clara Fischer. Preparação corporal de Commedia Dell’Arte: Flávia Bertinelli. Preparação corporal de Coro Cênico: Mau Machado e Suzana Muniz. Consultoria de tradições afro-brasileiras: Cláudia Alexandre. Figurino: Daíse Neves. Cenografia e elementos cênicos: Vitor Ugo. Máscaras: Rafael Mariposa. Luz: Dida Genofre. Operação de luz: Jessica Estrela. Fotos: Ronaldo Gutierrez. Produção Executiva: Silvio Eduardo. Apoio: Centro Cultural Omoayê e Allemande Escola de Música.
Serviço
Espetáculo "Escola de Mulheres - Um Sátira ao Patriarcado". Quartas, às 20h00, no Teatro Itália. Até dia 30 de agosto. Ingressos: R$ 40,00 (inteira) - compra antecipada pelo Sympla. Duração: 90 minutos. Indicado para maiores de 12 anos. Teatro Itália - Av. Ipiranga, 344 - República/São Paulo. Capacidade: 292 pessoas.
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