Estreia da psicóloga e poeta Marcela Alves, o livro “Da Costela do Impossível” trabalha a vida como ela é ao mesclar beleza e dor sob a ótica do sagrado e da poesia. Publicado pela editora Urutau, o livro conta com a orelha assinada pela escritora Aline Bei. Dividida em três seções, todas nomeadas com títulos relacionados com luz e sombra, a obra trabalha o amor, a perda, o tempo e os rastros desses três elementos na memória e na percepção de si e do mundo.
A partir da observação do cotidiano, a autora valoriza as sutilezas das relações humanas e assim consegue transformá-las em material para a poesia. E nessa estranha alquimia está a busca pelo sagrado que move a autora e seu eu-lírico. Marcela Alves nasceu em 1991, na cidade de Divinópolis, em Minas Gerais. É psicóloga formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), especialista em psicologia da saúde e atua na prática clínica em Belo Horizonte. Confira a entrevista completa com a autora abaixo.
Se você pudesse resumir os temas centrais da obra “Da Costela do Impossível”, quais seriam? Por que escolher esses temas?
Marcela Alves - O amor, a perda, o sagrado, o tempo. Porque são minhas obsessões, meu espinho na carne.
Em sua análise, quais as principais mensagens que podem ser transmitidas pelo livro?
Marcela Alves - De que na dor, na alegria, nas relações e na vida acontecendo com toda simplicidade e complexidade que tem, existe uma beleza e um mistério a ser reverenciado. Eu escrevo porque me espanto com a vida e queria que esse espanto chegasse aos leitores. Espero ter conseguido.
O que motivou a escrita do livro?
Marcela Alves - Escrevo, desde sempre, como forma de afirmar a vida em mim. Não apenas para documentar ou descrever minhas experiências, mas para vivê-las. Com 20 anos fiz um blog onde compartilhava alguns textos, em prosa. Não me aventurava a escrever poemas por ser este um terreno sagrado demais, para mim. A poesia é a minha ponte com o mistério, com tudo o que há. Então eu ficava como quem observa esse universo da janela. E aí, em 2016, com 25 anos, fiz um primeiro poema. Meio "do nada", em um momento de inspiração. Depois, vieram outros, ao longo dos anos, muito autobiográficos. Após um clube de escrita ministrado pela Aline Bei, passei a ter os poemas como projeto mesmo, e me dedicar a eles, visualizando um livro. Fiz um processo de preparação de original com a poeta Bruna Kalil Othero, já com a intenção de ter uma quantidade boa de poemas para um livro. Esse processo de acompanhamento com outras mulheres foi importante para eu ter coragem, perder o pudor e a vergonha. E assim nasceu.
Você escreve desde quando?
Marcela Alves - Escrevo desde a infância e esse início, esse "como", é meio borrado. Apenas me lembro de ter bastante facilidade com as palavras desde o processo de alfabetização, e de sempre ter sido muito incentivada pelas minhas professoras do ensino fundamental.
Como começou a escrever?
Marcela Alves - Escrevia redações para homenagens, participava de antologias na escola. Esses dias achei um exercício de história, num caderno, em que a gente precisava se apresentar. Nele eu falo: "Meu nome é Marcela, tenho 11 anos, sou tímida. Gosto de escrever...".
Como você definiria seu estilo de escrita?
Marcela Alves - Caótico e depois ordenado.
Como é o seu processo?
Marcela Alves - Anoto no celular e no papel alguns pensamentos ou frases que desenvolvo (ou não) depois. Quando estava no processo de escrita do livro eu me "forçava" a desenvolver, para não deixar a ideia sumir, perder força.
Como você se encontrou na poesia?
Marcela Alves - Percebi que tenho uma obsessão com a síntese. Quero dizer muito com pouco, atingir o coração da realidade num golpe só, com precisão. Obviamente, sempre falharei, porque a realidade vai me escapar. Mas essa falha, esse momento em que eu esbarro com a realidade, esse segundo de captura, é o que eu quero narrar. E a poesia pra mim é esse clarão de um encontro rápido mas irrepetível.
Já transitou em outros estilos?
Marcela Alves - Minha prosa é quase sempre poética, me importa muito a escolha das palavras, em frases que também digam muito sem precisar dizer tanto, com o rastro de beleza que a poesia deixa. Pensando em publicações, não sei se tenho fôlego para prosa, já comecei alguns romances que estão na gaveta. Quem sabe um dia?
Quais são as suas principais influências literárias?
Marcela Alves - Adélia Prado, Ana Martins Marques, Carlos Drummond de Andrade e Wislawa Szymborska.
Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Marcela Alves - Não tenho ritual.
Tem alguma meta diária de escrita?
Marcela Alves - Tenho como meta escrever, nem que seja um pouco, todos os dias.
Quais são os seus projetos atuais de escrita?
Marcela Alves - Ainda estou me entendendo com esse momento pós-livro e investigando o que quero dizer. O que tem sido esboçado é um novo livro de poemas, bastante entrelaçado no tempo, na dor, e na morte. Mas é um início, um embrião.
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