sábado, 12 de agosto de 2023

.: "Dolores - Minha Composição" faz sessões no Sesc Vila Mariana


Rosana Maris em cena no espetáculo "Dolores - Minha Composição". Foto: Águeda Amaral

Dolores Duran, parceira de grandes nomes da MPB - como Tom Jobim, Chico Anysio, Carlos Lyra e Billy Blanco, entre outros - morreu muito jovem aos 29 anos, mas é uma das cantora mais regravadas até hoje no Brasil. Sucesso de público e críticas quando esteve em temporada no Itaú Cultural, "Dolores - Minha Composição" faz apresentações no Sesc Vila Mariana - Teatro Antunes Filho neste sábado e domingo, dias 12 e 13 de agosto.

A peça tem em cena a atriz Rosana Maris, direção de Luiz Fernando Marques (Lubi), direção musical de Fernanda Maia e preparação de atriz por Denise Weinberg e passeia dramatúrgica e musicalmente sobre a vida e a obra de Dolores Duran, uma das compositoras brasileiras mais gravadas de todos os tempos. Uma mulher poderosa, à frente do seu tempo, uma artista fugaz, que produziu muito, morreu jovem e não teve o merecido reconhecimento. O espetáculo apresenta planos de realidade que se entrecruzam para compor uma trama, em que seja possível fazer dialogar, ficção e realidade, passado e presente. 

A cantora Dolores Duran (1930-1959) viveu seu auge nas décadas de 1940 e 1950, produzindo dezenas de significativas composições, mesmo convivendo em um universo masculino, branco, preconceituoso e extremamente conservador e conseguindo ser uma mulher independente sendo negra, artista e pobre. 

A concepção e dramaturgia é de Rosana Maris, na busca de resgatar e dar mais luz à trajetória da artista carioca. “Eu creio que a Dolores se comunica demais com as plateias de hoje, com tudo que ela representava lá nos anos 1940/50, por ela ser essa pessoa que estava muito à frente da época. Além disso, vamos fazer no espetáculo uma homenagem para a maior compositora do país”, explica ela.

E o encontro com o Lubi só fez potencializar a história, já que o diretor também tinha planejado, anos atrás, fazer uma criação teatral sobre Dolores. “Ela foi a primeira artista que eu pesquisei com um olhar para tentar fazer uma montagem, por ela ser esse primeiro eu lírico feminino na música brasileira, com um volume de produção, e nessa perspectiva da intimidade do feminino eu acho que Dolores é icônica”, lembra o diretor.

"Dolores - Minha Composição" contempla tanto a vida dela, sua história quanto seu relacionamento com grandes figuras da música brasileira como MaysaTom Jobim e Vinicius de Moraes. “Eu brinco como atriz na peça - uma atriz que conta para o público que teve um sonho com Dolores e a partir daí ela quer brincar com o sonho de ser Dolores Duran”, conta Rosana. 

A dramaturgia parte desse princípio: de uma atriz tentando ser essa monstra da música. “E a partir disso o que que se assemelha com a gente, quais são os lugares que se conectam comigo, quando você fala isso eu penso igual, essas instâncias. Quando você olha para um ídolo e parece que é uma continuação de pensamento, de vida e de história. Eu acho essa mulher extraordinária e todo mundo precisa conhecer Dolores Duran”, completa.

Para traduzir o universo da Dolores, a dramaturgia utilizou pontos da biografia da artista - uma mulher negra, que mesmo passando boa parte da vida artística solteira, conseguiu exercer e ocupar os lugares que ela ocupou. “Do ponto de vista da obra artística, é interessante porque de uma maneira geral é senso comum você colocá-la naquele lugar do samba-canção, da fossa. Mas se hoje olharmos com esses olhos da solidão da mulher negra, do patriarcado, do machismo estrutural, você começa a enxergar essas letras também como um protesto, como um grito ou de socorro, ou de alerta, ou de denúncia às vezes mesmo”, conta Lubi. “É interessante você pensar que ela é bossa nova, antes da bossa ser nova, ela já aponta na composição dela fundamentos e dinâmicas artísticas que depois foram se consolidar. E poucas vezes dão esse mérito para ela”, complementa o diretor.  


Sinopse do espetáculo
"Dolores - Minha Composição" conta a história de um dos maiores ícones da música popular brasileira: Dolores Duran. Mulher à frente de seu tempo que viveu seu auge na década de 1950, mesmo transitando em um universo masculino, preconceituoso e extremamente conservador e sendo negra, artista e pobre. O espetáculo mostra a trajetória da artista a partir de um encontro entre a atriz que a interpreta e a personagem representada, quando passam a eclodir entre elas questões que dizem respeito à solidão, ao amor, aos sonhos, à opressão e às questões ligadas à construção de identidade racial.

O espetáculo apresenta planos de realidade que se entrecruzam para compor uma trama, em que seja possível fazer dialogar, ficção e realidade, passado e presente, tendo como eixo principal a biografia dessa personagem, tão importante da música brasileira, que trará a cena tantas histórias emblemáticas que fizeram parte de sua vida, como as que cercam as canções compostas e interpretadas por ela, tudo acompanhado por um trio de músicos que tocarão seus grandes sucessos e parcerias.


Show espetáculo     
A ação se passa em três ambientes diferentes: em um bar, em um show e na casa da artista. Em cena, a atriz (Rosana Maris), a cantautora (Dolores) e a plateia têm um encontro para eclodir questões que dizem respeito ao amor, sonhos, a solidão nas grandes cidades, a opressão sofrida pelas mulheres, os entraves e preconceitos contra as mulheres livres, as questões ligadas à construção de identidade racial etc. Rosana interpreta canções compostas por Dolores ao vivo, acompanhada de um trio de músicos - Marcelo Farias, Pedro Macedo e Rodrigo Sanches.

O eixo principal é a biografia de Dolores, colocando em cena histórias emblemáticas que fizeram parte de sua vida, como as que cercam as canções compostas e interpretadas por ela, tudo acompanhado pelos músicos, seus grandes sucessos e parcerias. Além das canções mais conhecidas, como “A Noite do Meu Bem” e “Fim de Caso", há outras importantes na trajetória de Dolores, que falavam dos seus amores, da sua carreira, da sua vida e dos momentos importantes pelos quais passou.

“As canções vão costurando a história do espetáculo de acordo como elas se relacionam com a personalidade da Dolores e com os momentos da carreira dela. Em alguns momentos elas são mais ilustrativas, de momentos específicos da carreira dela, ou às vezes elas vão traduzir algum sentimento que a Dolores descrevia em suas letras”, conta Fernanda Maia que faz a Direção Musical do espetáculo.

“O processo de criação da Dolores - Minha Composição é um processo muito delicado, porque não é uma questão de copiar a Dolores Duran, porque isso é impossível. É mais uma apropriação do universo dela, de suas músicas, de seu temperamento”, explica Denise Weinberg, que faz a direção da preparação da atriz. “Nós estamos indo mais pelos estados emocionais do que propriamente fazendo uma cópia física da Dolores, o que eu acho muito perigoso, principalmente em teatro”, completa.

O espetáculo parte do desenvolvimento de linhas temáticas distintas, planos de realidade que se entrecruzam para compor uma trama, em que seja possível fazer dialogar, ficção e realidade, passado e presente, tendo como eixo principal a vida de Dolores.


Dolores Duran - Vivendo sem concessões
Nos anos 1950, uma artista negra, de origem humilde, que viveu a vida como quis, subvertendo padrões, revolucionou a música brasileira, com dezenas de canções que provocam até hoje sentimentos fortes que vão de saudades e espera à solidão e ternura, sempre carregando em seus versos amor e dor.

Adiléia da Silva Rocha, nasceu na periferia do Rio de Janeiro em 1930, filha de um sargento da Marinha (que faleceu quando ela tinha apenas 12 anos). O primeiro prêmio foi aos 10 anos de idade, no Programa de Ary Barroso, “Calouros em Desfile”. Aos 16 anos, adotou o nome artístico. Autodidata, cantou músicas em inglês, francês, italiano e espanhol - a versão dela para o clássico estadunidense “My Funny Valentine” ganhou elogios da compositora da canção, Ella Fitzgerald.

A estreia de Dolores em disco foi em 1952, gravando dois sambas para o Carnaval. Três anos depois casou-se com o radioator e músico Macedo Neto (1955) e foi vítima de um infarto e, ao não seguir as recomendações médicas, teve complicações de saúde. Foi uma das únicas parceiras mulheres a compor com Tom Jobim - “Estrada do Sol”, "Se é Por Falta de Adeus" e “Por Causa de Você”. Compositora e letrista, até hoje faz sucesso com canções como "A Noite do Meu Bem", “Castigo”, "Fim de Caso" e "Solidão". Mas também teve outros parceiros musicais, como Chico Anysio ("Prece de Vitalina"), Carlos Lyra ("Se Quiseres Chorar", "O Negócio É Amar") e Billy Blanco ("Céu Particular"). Morreu em 23 de outubro de 1959, com 29 anos, de ataque cardíaco.

Rosana Maris vivendo a compositora Dolores Duran
Quem dá vida à Dolores Duran é a atriz, produtora cultural, dubladora e locutora Rosana Maris. Começou a trabalhar como atriz em 2003 e desde então fez dez produções teatrais, trabalhando, principalmente, com os diretores Ewerton de Castro, Flavia Pucci, Gabriela Rabelo, Enio Gonçalves, Barbara Bruno, Lauro Cesar Muniz, Inês Aranha, entre outros. Como produtora cultural participou de mais de 12 produções teatrais, trabalhando com importantes grupos de SP e também em parceria com o Instituto Cultural Capobianco.

Em 2017, começou a trabalhar como atriz no audiovisual e nesse setor já fez mais de 13 trabalhos, entre os mais recentes se destacam a personagem Jussara na série “Sintonia”, que estreou a 4ª temporada, também esteve na série “Cidade Invisível’, de Carlos Saldanha, “Mal Me Quer”, de Ian SBF; em “Hard”, direção de Rodrigo Meirelles. Nos longa-metragens esteve em “Dez horas para o Natal", de Cris D’Amato; “Dois mais Dois", roteiro e direção de Marcelo Saback; “O Papai é Pop”, direção de Caíto Ortiz; “O Santo Maldito”, direção de Gustavo Bonafé e “Pedágio”, da Biônica Filmes, com direção de Carolina Marckovicz.


Ficha técnica
Espetáculo "Dolores - Minha Composição". Concepção e Dramaturgia: Rosana Maris. Direção e cenografia: Luiz Fernando Marques (Lubi). Direção musical: Fernanda Maia. Atriz: Rosana Maris. Preparação da atriz: Denise Weinberg. Figurinos: Yakini Rodrigues. Preparação vocal: Gilberto Chaves. Orientação corporal: Janette Santiago. Músicos: Wesley Barreto, Pedro Macedo, Rodrigo Sanches. Lighting design: Wagner Pinto. Assistência de direção: Gabi Costa. Design de som: João Baracho.Voz em off: Rodrigo Mercadante. Visagismo (cabelo e maquiagem): Dicko Lorenzo. Design gráfico: Fabio Viana. Direção de produção: Rosana Maris. Produção executiva: Tiago Barizon. Produção e idealização: Bem Te Vi Produções Artísticas.

Serviço
Espetáculo "Dolores - Minha Composição". De 11 a 13 de agosto de 2023. Sexta e sábado, às 21h e domingo, às 18h. Sesc Vila Mariana - Teatro Antunes Filho. Rua Pelotas, 141 - Vila Mariana/São Paulo. Ingressos: R$ 40,00 (inteira)/ R$ 20,00 (meia) e R$ 12,00 (credencial plena).

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