sexta-feira, 11 de agosto de 2023

.: Denise Del Vecchio em cartaz com a peça "O Lado Fatal", de Lya Luft


A atriz Denise Del Vecchio comemora o retorno aos palcos comemorando seus 52 anos de carreira com a estreia da montagem do texto inédito "O Lado Fatal", de Lya Luft, no Sesc Belenzinho. Foto: Danilo Apoena
 

A atriz Denise Del Vecchio comemora o retorno aos palcos comemorando seus 52 anos de carreira com a estreia da montagem do texto inédito "O Lado Fatal", de Lya Luft, em cartaz no Sesc Belenzinho. Adaptação, direção, cenário e trilha de Darson Ribeiro, o solo tem figurino de João Pimenta, luz de Ney Bonfante e voz em off do ator José Rubens Chachá. A adaptação do livro expõe a "elaboração" da perda de dois anos e três meses de relacionamento, focada e fincada no "coração - o fatal lado esquerdo", assim dito por Hélio Pellegrino - um dos maiores psicanalistas do país, com o qual a consagrada escritora viveu o tórrido romance.

"O Lado Fatal" vem frisar a importância da vivência do amor verdadeiro – que fez tremer Porto Alegre – e o país, e que, com coragem Lya Luft registrou em livro, e nunca foi montado nesses 35 anos de lançamento do livro. Uma história de amor e, ao mesmo tempo, de uma perda irreparável e devastadora. Principalmente num período pós-pandêmico, onde as relações se truncaram, como se o individualismo fosse a busca, não o compartilhamento afetuoso. Compre o livro "O Lado Fatal", de Lya Luft, neste link.


Sobre o livro
"O Lado Fatal" é o único livro autobiográfico de Lya Luft e expressa a dor vivida no luto pela perda de seu companheiro e grande amor, com quem viveu o desmedido amor com o psicanalista Hélio Pellegrino (1924 – 1988). Lançado em 1988, foi sucesso editorial até que, a pedido da própria Lya, teve sua publicação interrompida. Vinte e três anos depois, o distanciamento que o tempo trouxe e o novo olhar sobre sua obra deram à autora a compreensão de que o livro pertence ao leitor. Os 44 (quarenta e quatro poemas) do romance foram adaptados para 16 (dezesseis) cenas que vão da abertura com “Sem Palavras” (emprestado de um outro romance dela, "O Silêncio dos Amantes", à resplandescência de "Não Me Consolem"... narrando o cotidiano do casal desde as coisas mais simples até as mais ardentes.

Do projeto
Darson Ribeiro tinha lido apenas o best-seller "Perdas e Ganhos" quando conheceu a autora anos atrás, em Porto Alegre, num festival de teatro, e então, mergulhou nas obras da autora e, após a leitura de "O Lado Fatal", teve a certeza de querer montá-lo. Passaram então a se comunicar com a insistência dele para a montagem (que ela sempre negava) e, somente em 2021, a autora deu o sinal verde, acompanhando o processo de adaptação de seu texto para o palco. “Lya Luft liberou totalmente minha adaptação me deixando bem à vontade”, informa. 

“Para compor minha encenação, precisava de uma atriz consolidada, que fosse capaz de entender as entrelinhas da escrita de Lya e dar voz à uma escrita que reforcei entre repetições, trocadilhos e neuroses, convidei Denise Del Vecchiox, que duela com um analista invisívelv, afirma o diretor. “Para completar, o SESC SP abraçou a realização, e então pude buscar colaboradores que pudessem ‘viajar’ comigo nessa estética refinada valorando o ‘conjunto da obra’, como João Pimenta e Ney Bonfante.”


Sobre a atriz
“Como amante da língua portuguesa está sendo um enorme prazer poder dizer as palavras de Lya Luft. O livro é primoroso e o texto exige rigor e precisão na sua interpretação. Ousadia, coragem, amor, dor e morte estão presentes nessa visão tão feminina de Lya, mas também a simplicidade do cotidiano de cada um de nós está expressa na personagem”, conta a atriz. Denise Del Vecchio não conhecia esse livro em especial, “A adaptação do Darson é primorosa, respeitando o estilo e as palavras da autora”, diz Denise, longe dos palcos desde "Caixa de Memórias", encenação de Marcio Aurelio, de 2018. Mesmo já tendo encenado monólogos ao longo da carreira, a atriz já atuou algumas vezes sozinha no palco, mas... “sem dúvida esse é o que tem mais me exigido durante os ensaios”, relata, completando que “num solo é preciso primeiro vencer a solidão em cena para criar um jogo próprio no qual apenas o público é o parceiro e, nesse caso de O Lado Fatal, a solidão da atriz se soma perfeitamente à solidão da personagem”.


O diretor e sua encenação
A encenação de Darson Ribeiro brinca com o real, o imaginário e o simbólico. Darson adaptou o livro situando a personagem Lya Luft num consultório de psicanálise - homenagem a Hélio Pellegrino, conta. “Uni as perdas e, consequentemente, o amor tratado cotidianamente pelos dois - que se conheceram espontaneamente num congresso na capital gaúcha de Porto Alegre - e criei literalmente uma sessão de psicanálise de sessenta minutos”.  Uma tela de videomapping invade o realismo do consultório. 

No cenário, a cadeira do analista é uma réplica de uma cadeira "Gelli" - usada por Hélio Pellegrino em seu consultório na Av. NSa. Copacabana, no Rio, o lado de um divã clássico Chesterfield desenhado e confeccionado especialmente para a peça – para melhor acolher seu desenho de cena que põe a atriz em várias posições, além de um piso inspirado nas texturas alfásticas que cobre toda a área cênica de 8m X 6m.

No figurino, a ideia sugerida pelo diretor a João Pimenta é que a peça usada pela atriz revelasse as camadas psicanalíticas e neuróticas inerentes a todo ser humano. O único vestido em cena trará esses detalhes em caudas, caimentos e sobreposições. Entre cartas, relatos, depoimentos, e declarações pessoais, a personagem troca, narra, e argumenta ao psicanalista (voz em off do ator convidado José Rubens Chachá) em pequenos e grandiosos gestos – uma de suas principais perdas até os seus 83 anos. A trilha musical da peça foi inspirada na canção Prelude, do trio trip hop britânico London Grammar, cuja letra se adapta à encenação, versus a força do rock clássico de Patti Smith, com Because the Night, que traz o solar às possibilidades do viver de uma mulher-escritora-famosa e da mulher-comum, “com suas idiossincrasias e repressões como todos nós".

O encenador conta que suas montagens geralmente são calcadas em temáticas que avalia “necessárias serem ditas – encenadas – expostas. O fato de uma das maiores escritoras do país romper tradições e paradigmas largando sua terra para viver um amor avassalador com Hélio Pellegrino - célebre mineiro, que, além de escritor, levantou a bandeira da sociabilização e descentralização da psicanálise – lhe causou espanto. Resolveu então se embrenhar na força das ficções para entender seu único livro autobiográfico – afinal, “Lya era uma mulher altamente conhecida e respeitada que rompeu valores do conservadorismo e da tradição para buscar os seus por meio do amor”.


Ficha técnica
Monólogo "O Lado Fatal". Texto: Lya Luft. Adaptação e direção geral: Darson Ribeiro. Com Denise Del Vecchio. Ator convidado para voz em off de Hélio Pellegrino: José Rubens Chachá. Voz do analista: Darson Ribeiro. Assistência de direção: Guilherme Molaiqua. Cenografia e trilha: Darson Ribeiro. Figurinos: João Pimenta. Luz: Ney Bonfante. Assessoria de imprensa: M. Fernanda Teixeira e Macida Joachim/ Arteplural. Fotografia: Danilo Apoena. Design gráfico: Callegares. Vídeografismo e Mapping: Giuliano VJ Scan.


Serviço
Monólogo "O Lado Fatal". Sesc Belenzinho - Sala de Espetáculos II. R. Padre Adelino, 1000 - Belenzinho/São Paulo. Telefone: (11) 2076-9700.  Duração: 55 minutos.  Capacidade: 160 lugares. Classificação etária: livre. Compre o livro "O Lado Fatal", de Lya Luft, neste link.

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