sábado, 22 de julho de 2023

.: Revista "serrote 44" publica sobre a relação de Toni Morrison e Angela Davis


A revista "serrote #44" publica ensaio de Evandro Cruz Silva sobre os dilemas da classe média negra brasileira, texto de Natalia Carrillo e Pau Luque a respeito das distinções entre culpa e responsabilidade no engajamento político e artigo sobre a relação entre Toni Morrison e Angela Davis. A nova edição da revista de ensaios do Instituto Moreira Salles será lançada no dia 26 de julho, na Livraria Tamarindo, em São Paulo. Na ocasião, haverá um debate com Evandro Cruz Silva e a escritora Juliana Borges.

A 44ª edição da "serrote" já está disponível nas livrarias, com textos sobre as tensões entre raça e classe no Brasil, os riscos do engajamento de boas intenções, a dor do luto, as diferenças entre arte abstrata e representativa, entre outros temas. A publicação será lançada na próxima quarta-feira, 26 de julho, às 19h, na Livraria Tamarindo, que fica dentro da Galeria Metrópole, em São Paulo, em um bate-papo com o sociólogo e escritor Evandro Cruz Silva, autor do livro de contos praia artificial e pesquisador com ênfase nos temas da segurança e da desigualdade, e a escritora e pesquisadora Juliana Borges, autora do livro Encarceramento em massa. A entrada é gratuita.

Os dois conversarão sobre o ensaio de Evandro, “Eu, Minhas Convicções e Um Moleque Preto com Arma na Mão”, que abre a nova edição da revista. A partir de um assalto que sofreu em Salvador, o autor reflete sobre as tensões entre ascensão social, racismo e o discurso da segurança: “A defesa dos direitos de ‘nós negros’, quando enunciada, serve para mim e para aquele moleque preto com uma arma na mão? Entre o intelectual e o assaltante, temos dois jovens negros brasileiros e dois projetos políticos de difícil acomodação. No drama característico dos episódios de violência, a pretensão de uma ‘classe média negra’ forjada pelo acesso ao ensino superior se confrontava com o mundo do crime”, afirma.

Outro destaque da publicação é o ensaio “Hipocondria Moral”, assinado pela pesquisadora mexicana Natalia Carrillo e pelo espanhol Pau Luque. Os dois analisam como, em nome dos supostos bons sentimentos, parte das classes médias progressistas ocidentais se engaja na política de forma narcisista, não distinguindo entre culpa e responsabilidade. Segundo os autores, a hipocondria moral “trata-se da ideia segundo a qual, se nos sentimos culpados pelos males e doenças do mundo social e político, é porque eles de fato são culpa nossa, embora muitas vezes não esteja nada claro o que isso significa. Em poucas palavras, hipocondria moral é acreditar que sentir culpa nos torna culpados. Essa forma de falsa consciência revela um narcisismo patológico desconcertante, que mescla uma presença excessiva do ego e uma bússola moral bem imantada”.

A autora zambiana Namwali Serpell, por sua vez, escreve sobre como a figura da prostituta é constantemente retratada no meio artístico, tanto na pintura quanto no teatro, passando pela literatura e pelo cinema e, mais recentemente, pela internet. Ainda que com mudanças na forma de representação, sua imagem continua gerando desconfortos na sociedade, como pontua a autora: “Hoje, nossa interpretação ainda é incerta: a puta é alguém que faz sexo por prazer, por dinheiro ou pelo prazer do dinheiro. Também há uma suspeita de que a piranha gosta de seu trabalho, o que faz dela um exemplo raro de trabalhadora inalienada”.

Melina Moe, curadora de literatura na Biblioteca de Manuscritos e Livros Raros da Universidade Columbia, retoma como a consagrada escritora Toni Morrison conseguiu convencer a ativista Angela Davis a publicar seu livro de memória pela Random House, em 1974. Em seu ensaio, Moe narra as trocas e os diálogos entre as duas no processo de edição do livro, mas principalmente os esforços de Morrison dentro da editora para conseguir manter o tom politizado e militante de Davis no texto final.

Ainda no campo da cultura e das lutas do movimento negro, o poeta americano Ishmael Reed relembra os encontros do Black Arts Movement, grupo de artistas negros que redefiniu a cena cultural e política dos EUA nos anos 1960, do qual era um dos integrantes. Reed relata, com afeto e sinceridade, as trocas entre os membros, as experimentações com a linguagem, as buscas por novas referências para além do cânone de autores brancos e também as disputas e discordâncias, políticas e estéticas, que marcaram o movimento, num balanço sobre sua trajetória e legado.

As artes visuais e suas opções estéticas são tema do ensaio de Jed Perl. O crítico norte-americano alega que as diferenças entre abstração e representação, debate presente ao longo de todo século XX, ainda são aspectos relevantes, que devem ser considerados pelos artistas. Sem defender que se trata de ideologias, ou que uma seria mais adequada que a outra, o autor pontua, no entanto, que tanto a representação quanto a abstração são formas de interpretar o mundo e não apenas veículos de expressão. “Chega um momento em que certas perguntas devem ser feitas. Quais são as tradições artísticas mais significativas para você? Qual é a sua herança artística? Como você se posiciona?”, indaga.

A revista publica também um ensaio sobre o luto escrito por Joseph Epstein. Partindo de sua própria experiência com a morte de seu filho, o autor norte-americano propõe que a dor da perda “assume tantas formas que é impossível de ser capturada satisfatoriamente pela filosofia ou pela psicologia”, podendo se manifestar tanto pela raiva quanto pela tristeza profunda ou mesmo pelo alívio. Para o escritor, “a natureza da dor é tão diversa quanto suas causas. Como o diabo, a dor está nos detalhes”.

Também com tom intimista, Paloma Vidal assina o ensaio “Pra Onde a Gente Tá Indo”, no qual intercala fotografias, mapas e frames de vídeos com reflexões sobre a volta às salas de aula depois da pandemia, o ensino da literatura e a história de sua família, marcada pela ditadura argentina. O ensaio foi apresentado originalmente na serrote ao vivo, durante o Festival Serrote 2023.

A "serrote #44" traz também o texto “Cadernos de Campo”, em que o antropólogo australiano Michael Taussig trata do hábito de fazer anotações mantido por intelectuais como Walter Benjamin e Le Corbusier, e o ensaio visual “Papéis de Um Dia”, da artista Leila Danziger. E ilustrações de Lia D Castro, Julie Mehretu, André Penteado, Talles Lopes, Andrés Sandoval e Wadsworth Jarrell. 

Serviço
Debate de lançamento da serrote #44, com Evandro Cruz Silva e Juliana Borges. Quarta-feira, dia 26 de julho, às 19h. Livraria Tamarindo. Galeria Metrópole, L.19 - 1° andar, Av. São Luís, 187, em São Paulo. Entrada gratuita.

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