sexta-feira, 21 de julho de 2023

.: Entrevista: a bossa de Menescal com Ricardo Bacelar e Diogo Monzo

Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Já imaginou produzir e tocar em um disco homenageando a obra de um ídolo, e contar com o próprio na gravação e elaboração do mesmo? Pois foi o que aconteceu com Ricardo Bacelar e Diogo Monzo, que revisitaram a obra de Roberto Menescal, um dos principais nomes da Bossa Nova nos anos 50 e 60. E o homenageado além de tocar o seu inconfundível violão, ainda soltou a voz pela primeira vez em disco em duas composições: "O Barquinho" e "Ah Se Eu Pudesse". 

Em entrevista para o Resenhando.com, o músico Ricardo Bacelar explica como se deu essa produção do disco intitulado "Nós e o Mar" e revela detalhes de sua trajetória na música, que inclui passagem pela banda Hanoi Hanoi nos anos 80 e trabalhos em parceria com nomes como Tonho Horta. “A música que me interessa é sempre a próxima que vou fazer ou tocar”.


Resenhando.com – Como foi tocar a música de Menescal ao lado do próprio?
Ricardo Bacelar –
Foi um privilégio enorme. Mas ao mesmo tempo foi algo tranquilo e natural. Ele é uma pessoa que eu já conhecia e que conhece o meu trabalho. Deixou-nos muito a vontade para produzir. Ele toca um violâo que tem um som inconfundível. Na Bossa Nova você não pode mudar muito os arranjos. Mas, ao mesmo tempo, ela tem possibilidades de algumas texturas sonoras que podem ser inseridas. Acabamos deixando a obra dele com um ar contemporâneo. Foi muito emocionante ouvir o resultado final


Resenhando.com – E coincidiu com os 85 anos que ele completará em outubro.
Ricardo Bacelar – 
Isso tornou o disco ainda mais especial. Trata-se de uma obra muito rica. Toda vez que revisitamos ela, encontramos novas texturas e possibilidades. Porque ela permite que o músico abra horizontes de várias formas.


Resenhando.com – Fale mais sobre essa produção, "Nós e o Mar".
Ricardo Bacelar – 
Uma coisa bem significativa foi o fato de o Menescal ter cantado duas canções, pela primeira vez, em disco. Segundo ele próprio, isso só tinha acontecido uma única vez nos anos 60, no antológico show do Carnegie Hall, em Nova York. Mas posso citar a participação da Leila Pinheiro que canta divinamente "Bye Bye Brasil", cujo arranjo foi sugerido pelo Menescal. A ideia inicial era um disco instrumental. Mas acabamos agregando vocais em algumas faixas e creio que acabou ficando muito bom. Ouvir o violão do Menescal é mais que uma benção. É uma aula prática de como tocar bossa nova em sua essência.


Resenhando.com – Você também integrou a formação da banda Hanoi Hanoi nos anos 80. Cmo foi essa experiência?
Ricardo Bacelar – 
Integrei a banda por 12 anos. Foi muito gratificante. A banda era liderada pelo Artnaldo Brandão, que tocou o Caetano Veloso. Naquele período chegou a emplacar hits nas paradas, como Totalmente Demais, que foi até tema de novela da Rede Globo.


Resenhando.com – Seu trabalho como artista solo é bastante eclético, com parcerias de nomes como a Delia Fischer. Você prefere a música instrumental ou cantada?
Ricardo Bacelar – 
Eu sigo aquele mantra que o Egberto Gismonti costuma dizer: a música que me interessa é sempre a próxima que vou elaborar ou tocar. Gosto da ideia de estar sempre em movimento. Como sou um multi-instrumentista, sempre acabo tendo ideias novas para a produção, arranjo, etc.


Resenhando.com - Falando da Delia Fischer, o trabalho que vocês fizeram com canções de Gilberto Gil foi outro momento marcante.
Ricardo Bacelar – 
E que também coincidiu com as comemorações dos 80 anos dele. Tivemos a honra de contar com ele nos vocais de Andar com Fé e Prece. Essa última inclusive acabou emocionando o Gil. A Délia é outra intérprete incrível.

Resenhando.com – Como você vê o uso de recursos como o da Inteligência Artificial na música?
Ricardo Bacelar – 
Vejo com reservas. A música não pode se tornar um mero algorítmo, uma ciência exata e fria. Para se ter uma canção ainda é preciso uma boa dose de inspiração e sensibilidade. Ou seja, coisas que a IA não é capaz de oferecer. Mas se ela for usada como algo para agregar na música, será sempre bem-vinda.

Resenhando.com – Como estão os planos para divulgação desse trabalho mais recente?
Ricardo Bacelar – 
Neste primeiro momento vamos fazer a divulgação do disco e nas plaformas de streaming. Mas gostaria muito de levar esse trabalho para o palco. Por conta da obra do Menescal, acreditamos que, além do Brasil, possamos levar uma eventual turnê para o Japão e a Europa. Em países onde a bossa nova ainda é admirada pelos amantes da boa música.

 "O Barquinho"

"Bye Bye Brasil"

 "Copacabana de Sempre"

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