Rivais na ficção, Marcos Veras e George Sauma brilham no espetáculo que revela ao público o melhor de suas interpretações. Foto: Caio Gallucci
Por Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com.
"Há algo de podre no reino da Dinamarca". Essa frase de "Hamlet", escrita há mais de 400 anos por William Shakespeare, dá o tom de "Alguma Coisa Podre", mais que um musical, um fenômeno pop, que está em cartaz até dia 6 de agosto no Teatro Porto. Há um momento sublime no fenômeno espetáculo, que é nítido - e ao mesmo tempo, chocante - ao público. É quando Marcos Veras canta pela primeira vez e entoa uma canção que parece sair de um espaço sutil entre a alma e o inatingível. Como um grito parado no escuro.
É algo que que, aparentemente, estava escondido durante muito tempo ou que somente poucos, os íntimos, conheciam. Esqueçam tudo o que já se sabe sobre ele, toda a trajetória de sucesso e toda a fama conquistada na televisão. É no teatro, mais precisamente no momento da primeira música que ele canta no espetáculo, é que se enxerga o artista como um todo em um momento de glória. É algo grandioso porque mistura sensibilidade, entrega e muita exposição.
Sob a direção competente de Gustavo Barchilon, o quadro pintado por Marcos Veras na pele de Nick do Rêgo Soutto remete a Stephen Dedalus, alter ego literário de James Joyce no romance "Retrato de Um Artista Quando Jovem", que mostra um jovem em busca de identidade, seja ela artística, política ou pessoal. É esse encontro do artista com a sua arte que costura todo o espetáculo pautado pelos bastidores fictícios da escrita de "Hamlet", peça teatral mais célebre de William Shakespeare, escrita há mais de 400 anos. Ou, na ficção, a história de como surgiu o primeiro espetáculo do teatro musical.
Essa é a premissa de "Something Rotten" nome original do musical escrito por Karey Kirkpatrick e John O’Farrell com músicas de Karey e Wayne Korkpatrick, cuja versão brasileira é assinada por Claudio Botelho. Além do protagonista Marcos Veras, destacam-se vários artistas. Faz contraponto com ele o comediante George Sauma, explêndido no papel de um afetadíssimo William Shakespeare, em uma interpretação que soa como uma homenagem a Ney Latorraca nos tempos de "Vamp". Histriônico, provocativo, megalomaníaco e imenso no palco como o personagem requer. Mas nessa mistura de referências também há um George Sauma no seu auge artístico.
Todas as interpretações fazem de "Alguma Coisa Podre" um espetáculo delicioso. Laila Garin, indiscutivelmente uma sumidade no teatro, interpreta a esposa de Veras que busca, enquanto mulher na era da Renascença, um lugar no mundo. É um papel leve, que destaca todo o carisma da artista, em um musical que segue em um crescente para um final épico. Bel Lima, que já se destacou em "Pippin" (crítica neste link), brilha como a doce Portia, ao lado de Leo Bahia, Nigel do Rêgo Soutto. No teatro, eles formam um casal que esbanja química e grandes momentos deste musical.
Sempre carismática e com uma voz que acolhe e encanta, Bel Lima vem se destacando como um dos grandes nomes do teatro musical e merece cada vez mais atenção. Wendell Bendelack, como o vidente Nostradamus, e Rodrigo Miallaret, como o irmão Jeremias, aparecem em interpretações memoráveis e completam a experiência desse espetáculo que têm algo a mais.
"Alguma Coisa Podre" é solar, para cima e não perde a energia em um só momento - nem quando a ação se passa no segundo ato, quando os espetáculos tendem a cair. Há músicas muito boas e chega a ser irônico que um espetáculo que marca o período da renascença marque, de alguma maneira, o renascimento do teatro depois de uma pandemia em que a arte respirava sobre aparelhos. "Alguma Coisa Podre" é o teatro voltando a lotar mas, sobretudo, é o Brasil voltando a sorrir.
Ficha técnica:
"Alguma Coisa Podre". Elenco: Marcos Veras (Nick do Rêgo Soutto). Leo Bahia (Nigel do Rêgo Soutto). George Sauma (Shakespeare). Wendell Bendelack (Nostradamus). Rodrigo Miallaret (Irmão Jeremias). Bel Lima (Portia). Participação especial de Laila Garin (Bea). Produtores Executivos: Renata Borges e Thiago Hofman. Direção Artística: Gustavo Barchilon. Versão Brasileira: Cláudio Botelho. Coreografia/Direção Movimento: Alonso Barros. Direção Musical: Thiago Gimenes. Figurino: Fábio Namatame. Cenário: Duda Arruk. Design de Som: Tocko Michelazzo e Gabriel Bocutti. Design de Luz: Maneco Quinderé. Visagismo e Perucaria: Feliciano San Roman. Diretora Residente: Vanessa Costa. Assessoria de Imprensa: Trigo Casa de Comunicação. Marketing Cultural: R+Marketing. Fotógrafo: Caio Galucci. Direção de Arte: Gustavo Perrella. Gestão de Projetos: Natalia Egler.
Serviço:
"Alguma Coisa Podre". Até dia 6 de agosto. Sextas, às 20h. Sábados, às 16h e 20h. Domingos, às 15h e 19h. Ingressos: Plateia: R$ 250 (inteira)/ R$125 (meia-entrada). Balcão e frisas: R$150/ R$75 (meia-entrada). Balcão preço popular R$ 50 (inteira)/ R$ 25 (meia-entrada). Duração: 130 minutos. Classificação: 14 anos. Link vendas: https://bileto.sympla.com.br/event/82003
Teatro Porto
Al. Barão de Piracicaba, 740 – Campos Elíseos - São Paulo. Telefone (11) 3366.8700. Bilheteria: aberta somente nos dias de espetáculo, duas horas antes da atração. Clientes Porto Seguro Bank mais acompanhante têm 50% de desconto. Clientes Porto mais acompanhante têm 30% de desconto. Vendas: www.sympla.com.br/teatroporto. Capacidade: 484 lugares. Formas de pagamento: Cartão de crédito e débito (Visa, Mastercard, Elo e Diners). Acessibilidade: 10 lugares para cadeirantes e 5 cadeiras para obesos. Estacionamento no local: Gratuito para clientes do Teatro Porto.
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