Sucesso de crítica e público, texto inspirado no ataque homofóbico que aconteceu no bar Pulse, em Orlando, retorna aos palcos na Sala Bravos Multi. Espetáculo, já montado em diversos países do mundo, discute a liberdade, diversidade e a aceitação. Foto: Odilon Wagner
“O que nos torna humanos?". Para Amélia, personagem de Tânia Bondezan, a resposta encontra-se na capacidade de sentir a dor dos outros "como se fosse nossa”. Este sentimento é a espinha dorsal de "A Golondrina". Com texto do premiado autor barcelonês Guillem Clua e direção de Gabriel Fontes Paiva, o espetáculo no elenco Tania Bondezan (que também assina a tradução) e Luciano Andrey. O espetáculo já foi montado em Londres, Espanha, Grécia, Porto Rico, Peru, Uruguai entre outros países.
O texto é inspirado no ataque terrorista ao bar Pulse, que aconteceu em Orlando (EUA), em junho de 2016, mas nele também ecoam as tragédias do bar Bataclan, em Paris (França), do calçadão em Nice, Las Ramblas de Barcelona. É uma tentativa de compreender a insensatez do horror, as consequências do ódio e as estratégias que usamos para que eles não nos destruam a alma.
Baseado em uma história real
Inspirado no ataque terrorista homofóbico que aconteceu no bar Pulse, em Orlando (EUA), em junho de 2016, o espetáculo mostra o emocionante encontro de Ramón (Luciano Andrey), sobrevivente de um ataque semelhante, com Amélia (Tania Bondezan), uma severa professora de canto, que também tem sua história ligada a esse trágico evento. Os personagens vão revelando detalhes de suas histórias, que se entrelaçam como num quebra-cabeças.
”A obra me encantou de tal maneira que, enquanto lia o texto pela primeira vez, parecia que aquelas palavras cabiam na minha boca, como se eu tivesse vivido tudo aquilo. Foi amor à primeira vista. Minha personagem Amélia, que, por coincidência, é o nome da minha mãe, é uma mulher severa e sofrida, sobrevivente de uma tragédia. A vida foi mais generosa comigo, mas somos ambas mães que amam e protegem suas crias, que tentam acertar e carregam culpa o tempo todo, o que nos aproxima. Representá-la é um exercício de mergulhar nas minhas emoções”, conta Tania Bondezan.
“A Golondrina é uma das peças mais comemoradas de Guillem Clua. É uma obra que fala sobre liberdade, diversidade e, sobretudo, sobre aceitação, temas tão caros nos dias que vivemos em todos os lugares do mundo e especialmente aqui no Brasil. O ataque ao Bar Pulse deixou 49 vítimas do preconceito e da homofobia. Mas aqui no nosso país, este tipo de ataque ocorre quase que diariamente e mais grave ainda, de maneira silenciosa. Isso justifica a necessidade de montar este texto atualíssimo, que fala de relações humanas, familiares e da necessidade do entendimento e do perdão. Quando os dois personagens se encontram, eles têm dois caminhos a seguir: podem optar pelo ódio ou caminhar juntos. Ambos têm razões para causarem ainda mais danos além do que sofreram ou se reconhecer na dor um do outro para não permitir que vença o instinto animal”, completa a atriz e tradutora.
Já o diretor Gabriel Fontes Paiva considera Guillem Clua um dos melhores autores contemporâneos. “Ele me impressionou muito porque tem uma escrita muito eficiente, objetiva e surpreendente; consegue prender a atenção o tempo todo com maestria. Fiquei muito feliz com o convite dos produtores Ronaldo Diaféria, Tania Bondezan e Odilon Wagner para dirigir essa peça maravilhosa. Tania é uma atriz intensa, madura, cheia de talentos e Luciano é um ator extremamente sensível e dedicado”, revela Gabriel.
Seus últimos trabalhos como diretor foram “Marte Você Está Aí? ”, em 2017, texto de Silvia Gomez, com Selma Egrei, Michelle Ferreira e Jorge Emil no elenco, e em 2015 dirigiu “Uma Espécie de Alasca”, de Harold Pinter, com Yara de Novaes, Mirian Rinaldi e Jorge Emil. Gabriel também é co - fundador do Grupo 3 de Teatro, ao lado de Yara de Novaes e Débora Falabella.
O espetáculo trata de temas universais e isto é o que mais fascinou o ator Luciano Andrey. “O texto poderia se passar em qualquer grande cidade do mundo. Os temas que ele trata - sem maniqueísmos - são absolutamente pertinentes ao momento atual. Expõe o ponto de vista completamente distinto de dois personagens sobre determinado fato, mas sem julgamentos. Ambos têm razão em suas questões. Ao invés de assumir a posição de um deles, o autor propõe uma reflexão sobre a nossa capacidade de se colocar no lugar do outro e sermos empáticos, que acredito ser a chave para as mazelas humanas”, diz. O texto já ganhou diversos prêmios pelo mundo, como o Prêmio MAX 2019, Off West End London Theater Award 2017, Queer Theater 2018 (Atenas, Grécia).
Sobre Guillem Clua
Nascido em 1973 em Barcelona, Guillem Clua é dramaturgo, roteirista e diretor teatral, formado em jornalismo pela Universidade Autônoma de Barcelona. Ele também morou em Nova Iorque e na Inglaterra, quando estudou na London Guildhall University com uma bolsa de estudos Erasmus. Clua baseia seu trabalho em suas experiências pessoais para abordar temas atemporais (como a questão da identidade) e contemporâneos (como a Guerra do Iraque). Suas obras têm trajetória internacional, tendo sido traduzidas para o inglês, italiano, alemão e francês. Entre os vários prêmios que o autor recebeu, estão o Butaca 2011, o Time Out 2013 e o Max 2017.
Os críticos descreveram o trabalho do dramaturgo como multidisciplinar e eclético, e como tendo uma preocupação especial pela estrutura narrativa e o argumento. Algumas de suas peças são "A Pele em Chamas", "O Gosto das Cinzas", "A Golondrina", "Marburg", "Invasão", "Assassino", "73 Razões Para Deixar-te", "Morte em Veneza", "No Deserto", "Smiley" e "Al Damunt Dels Nostres Cants".
Ficha técnica
"A Golondrina". Texto: Guillem Clua, um dos mais premiados autores da atualidade. Direção: Gabriel Fontes Paiva. Elenco: Tania Bondezan (Vencedora melhor atriz -Prêmio Shell 2019) e Luciano Andrey (Premiado ator e tradutor de Teatro Musical). Tradução: Tania Bondezan. Idealização: Ronaldo Diaféria. Cenógrafo e figurinista: Fabio Namatame. Assistente de direção: Ana Paula Lopez. Desenho de luz: André Prado e Gabriel Fontes Paiva. Trilha sonora: Luisa Maita. Preparação vocal: Jonatan Harold. Montagem/Direção de cena/Contrarregra: Tadeu Tosta. Arte gráfica: Rodolfo Juliani. Produção: Ronaldo Diaféria, Odilon Wagner e Tania Bondezan. Produção executiva: Jade Minarelli. Temporada: até dia 30 julho. Classificação: 14 anos. Duração: 100 minutos
Serviço
"A Golondrina". Horários: sextas e sábados, às 20h00, e domingos às 18h00. Ingressos: entre R$ 40 e R$ 80. Ingressos on-line: www.golondrina.art.br. Horário da bilheteria: de terça a domingo, das 13h às 19h, ou até o início do último espetáculo. Formas de pagamentos aceitas na bilheteria: aceitamos todos os cartões de crédito, débito e dinheiro. Não aceitam cheques. Crianças menores de dois anos de idade (1 ano, 11 meses e 30 dias) não pagam entrada desde que assistam o espetáculo/show no colo do responsável. Sala Bravos Multi | 150 lugares. Complexo Aché Cultural. Rua Coropé, 88 - Pinheiros - São Paulo. Complexo Aché Cultural, entre as Avenidas Faria Lima e Pedroso de Morais. Abertura da casa: uma hora antes do espetáculo. Café no 3º andar. Acessibilidade para deficiente físico e obesos. Estacionamento: MultiPark - R$ 39,00 (até 3 horas).
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