Com orientação de Luiz Fernando Marques, espetáculo nasceu como desdobramento da pesquisa realizada pela atriz sobre as diferentes formas de solidão inerentes ao universo feminino. Após uma circulação independente por 10 estados, a atriz fará duas apresentações no Sesc Carmo nos dias 15 e 16 de junho. Foto: Carolina Santaella
A “solidão acompanhada” experimentada por tantas mulheres casadas é discutida no espetáculo "Almarrotada", com dramaturgia, direção e atuação de Melina Marchetti e orientação de Luiz Fernando Marques - o Lubi, do Grupo XIX de Teatro. O espetáculo terá duas apresentações no Sesc Carmo, dias 15 e 16 de junho, quinta e sexta, às 19h.
O trabalho estreou em 2018 como um desdobramento de uma pesquisa de Melina Marchetti sobre sexismo, machismo estrutural, as várias formas de solidão e as construções sociais sobre o amor romântico. Em 2022, Melina rodou sozinha o país, sem patrocínio, em um Ford Ka azul ano 2008 chamado carinhosamente por Kazão, durante 13 meses.
A circulação independente teve início no litoral de São Paulo e seguiu para Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Ceará, Piauí e Maranhão. Foram mais de 20.000 km rodados e várias experiências diferentes desde apresentações nas capitais até povoado de 800 habitantes. Neste trajeto participou de vários festivais onde o espetáculo foi sempre premiado em diversas categorias.
A peça retrata os sentimentos contraditórios de angústia e de ânsia por liberdade vividos por uma mulher diante da iminência de morte de seu marido, de quem cuidou a vida toda e agora está internado no hospital. O público acompanha as histórias, medos, desejos e comportamentos dessa mulher, a quem foi imposta a condição de cuidadora e que acabou se transformando em uma coadjuvante da própria vida.
“Historicamente é nítido como esse papel de cuidadora é ocupado massivamente por mulheres. Uma coisa é querer compartilhar o cuidado com o outro. Outra é essa função ser imposta a você desde criança. A montagem traz a figura da mulher cuidadora, que nutre, acolhe e alimenta, no papel de figurante de sua própria existência”, conta a atriz e diretora.
A dramaturgia foi construída a partir do mote de pesquisa “é preciso ser mulher por muitos anos para desaprender as coisas pelas quais ensinaram você a se desculpar”, livremente inspirado no conto O Cesto, de Mia Couto, e amparada pelos livros Um Teto Todo Seu, de Virgínia Woolf; O Feminismo é para todo mundo, de Bell Hooks; e O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir.
A ideia da encenação, que assume o tom tragicômico, é mostrar a busca dessa personagem pelo resgate de seu protagonismo de vida e pela realização dos próprios desejos. Dessa maneira, a atriz e dramaturga estabelece um diálogo com mulheres e homens de diferentes gerações sobre a necessidade de se romper com as estruturas aprisionantes.
“Hoje, depois de ter feito esse espetáculo, desenvolvi maior entendimento e um profundo respeito e admiração pelas mulheres de outras gerações que passaram por todo esse anulamento e, ainda assim, resistiram e existiram transformando realidades, dentro do possível”, reflete Marchetti.
O solo ainda defende o reencontro da mulher consigo mesma. “É um trabalho de escutar os nossos desejos e impulsos reais. Parece simples, mas mesmo hoje em dia, quando temos mais consciência para essas imposições do patriarcado, elas ainda pautam as nossas relações amorosas, familiares e até as amizades. Com a peça, não quero sanar as minhas dores, mas estabelecer um diálogo com o público, tanto com mulheres como com os homens, para criar pequenas fissuras nessas carapaças que criamos para sobreviver à sociedade machista”, acrescenta a artista.
Sobre Melina Marchetti
Dramaturga, atriz, diretora e roteirista bacharel em Artes Cênicas pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com 15 anos de trajetória artística. É criadora do projeto Almarrotada, onde foi autora dos espetáculos Almarrotada (2018), Rosário de Desamores (2021) e do livro infantil A Menina e o Esperar. Também é fundadora e diretora artística da Cia. Teatral Circo Delas, onde concebeu os espetáculos Dia de Praia, As Clássicas, a micro-série Calma, ainda não pode sair e os curtas O Bombom, O Sol é para todes e A Vizinha.
Recebeu os prêmios de Melhor Espetáculo, Melhor Atriz e Melhor Texto, Melhor Cenário e Melhor Iluminação no 9º Festival de Teatro de Sarapuí pelo monólogo Almarrotada, além de indicação à Melhor Direção. Foi Prêmio Destaque na Pesquisa de Palhaçaria pelo 8º Festival de Teatro de Sarapuí pelo espetáculo solo Dia de Praia.
Ficha técnica:
Dramaturgia, Direção e Atuação: Melina Marchetti. Orientação: Luiz Fernando Marques Lubi. Provocação Cênica: Bruna Betito. Figurino: Nagila Sanchês. Cenotécnico: Bira Nogueira. Iluminação: Melina Marchetti. Operação de Som e Luz: Denise Hyginio. Produção Executiva: Nayara Meneghelli. Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli. Fotos: Carolina Santarella e Arô Ribeiro. Arte: Magnólia Cultural.
Serviço:
Espetáculo "Almarrotada". Dias 15 e 16 de junho no Sesc Carmo. Ingressos: R$30 (inteira), R$15 (meia-entrada) e R$10 (credencial plena) – Vendas online a partir de 6/06 às 12h e presencial a partir das 17h. Duração: 40 minutos. Classificação etária: 14 anos.
Sesc Carmo
Rua do Carmo, 147 - Centro - São Paulo. Horário de funcionamento: de segunda a sexta, das 9h às 20h. Telefone: (11) 3111-7000. Local da apresentação: Espaço Múltiplo - 1º andar. https://www.sescsp.org.br/programacao/almarrotada/
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