quinta-feira, 29 de junho de 2023

.: Édouard Louis lança, pela Todavia, "Lutas e Metamorfoses de Uma Mulher"


Nos últimos anos, o escritor Édouard Louis se estabeleceu como um dos mais importantes escritores políticos da atualidade. Em sua obra, inscrita em uma tradição que remonta a Annie Ernaux e Didier Eribon, a homossexualidade e as injustiças de classe são retratadas através de uma escrita a um só tempo honesta e afiada, marcada por altas doses de crítica social e política.

No livro "Lutas e Metamorfoses de Uma Mulher", o autor conta a história de libertação da mãe, “que lutava pelo direito de ser mulher contra a não existência que lhe impunham”. É um retrato sensível de uma mulher que se rebela contra uma vida degradante. A capa é de Luciana Facchini, e a tradução, de Marília Scalzo.

Depois de encontrar uma foto da mãe ainda jovem, com uma alegria transbordante estampada no rosto, o autor se pergunta como aquilo algum dia pôde acontecer, já que a vida dela sempre lhe parecera um quadro triste e sombrio. Através dessa foto, traçando a arqueologia da destruição da mãe, ele descobre uma mulher vigorosa que sobreviveu àquilo que deveria tê-la destroçado. É só aos 45 anos, quando decide abandonar o segundo marido - “Pronto. Eu consegui” -, que ela enfim pode se declarar livre.

Mas este livro não é apenas um retrato sobre a crueldade do sistema que governa nossas vidas. À medida que conhecemos as transformações da mãe - e, com elas, as do filho -, somos apresentados à possibilidade heroica de escapar de um mundo dominado por homens, um mundo de lutas aparentemente sem esperanças, porém sujeito às mais extraordinárias metamorfoses. Compre o livro "Lutas e Metamorfoses de Uma Mulher" neste link.


O que disseram sobre o livro
“A história de uma mulher oprimida por um sistema econômico e patriarcal.” — Le Monde


Sobre o autor
Édouard Louis nasceu em Hallencourt (França), em 1992. Estreou na literatura com "O Fim de Eddy" (2014). Dele, a Todavia publica também "Quem Matou Meu Pai" (2023).


Trecho do livro
Tudo começou com uma foto. Eu não sabia que essa imagem existia nem que estava comigo - quem me deu, e quando? A foto fora tirada por ela quando tinha vinte anos. Imagino que ela tenha precisado segurar a máquina fotográfica ao contrário para enquadrar o próprio rosto na objetiva. Na época, os celulares não existiam e fotografar a si mesmo não era uma coisa óbvia.

Ela estava com a cabeça inclinada para o lado e sorria um pouco, o cabelo penteado e liso sobre a testa, impecável, seu cabelo loiro em volta de seus olhos verdes. Como se quisesse seduzir. Não encontro palavras para explicar, mas tudo nessa foto, sua pose, seu olhar, o movimento do cabelo, evoca liberdade, uma infinidade de possibilidades à sua frente, e talvez, também, felicidade.

Eu tinha me esquecido, acho, de que ela era livre antes do meu nascimento - feliz? Devo ter pensado nisso algumas vezes quando ainda morava com ela, que um dia ela deve ter sido forçosamente jovem e cheia de sonhos, mas quando encontrei essa foto fazia muito tempo que eu já não pensava nisso, era uma compreensão, uma consciência abstrata demais. Nada ou quase nada do que eu soube dela na minha infância, em contato com seu corpo por quinze anos, poderia me lembrar isso.

Olhando essa imagem, senti as palavras fugirem de mim. Vê-la livre, projetada com todo o seu corpo para o futuro, me trouxe de novo à cabeça os anos da sua vida compartilhados com meu pai, as humilhações impostas por ele, a pobreza, vinte anos da sua vida mutilados e quase destruídos pela violência masculina e pela miséria, entre vinte e cinco e quarenta e cinco anos, idade em que as pessoas experimentam a vida, a liberdade, as viagens, o autoconhecimento.

Ver essa foto me lembrou que esses vinte anos de vida destruídos não foram uma coisa natural, aconteceram pela ação de forças externas a ela — a sociedade, a masculinidade, meu pai —, e que, portanto, as coisas poderiam ter sido diferentes. A visão da felicidade me fez sentir a injustiça de sua destruição. Chorei diante dessa imagem porque fui, querer, ou talvez, melhor dizendo, com ela e às vezes contra ela, um dos atores dessa destruição. Garanta o seu exemplar de "Lutas e Metamorfoses de Uma Mulher" neste link.

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