domingo, 9 de abril de 2023

.: “Um Jardim para Educar as Bestas” ao ar livre no topo do Sesc Vila Mariana


Depois de estrear nacionalmente na 8a. MITsp - Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, em 2022, e realizar sessões em cidades do interior paulista, espetáculo criado coletivamente por Eduardo Okamoto, Isa Kopelman, Marcelo Onofri e Daniele Sampaio realiza temporada na capital. Foto: de Nina Pires


“Um Jardim para Educar as Bestas”, criação coletiva dos artistas Eduardo Okamoto, Isa Kopelman, Marcelo Onofri e da produtora Daniele Sampaio entra em cartaz no Sesc Vila Mariana em curta temporada. Trata-se de um duo para piano e atuação que reescreve um dos 36 do livro “Homens Imprudentemente Poéticos”, de Valter Hugo Mãe: “A Lenda do Oleiro Saburo e da Senhora Fuyu”. Originalmente ambientada no Japão, a trama é transposta para o sertão brasileiro, em diálogo com textos de Ariano Suassuna, Guimarães Rosa e Euclides da Cunha.

Na fábula, o Seu Inhês constrói um jardim de pedras, depois de advertido pelo vizinho vidente de que uma onça Caetana mataria sua esposa. O jardim seria uma espécie de lição aos bichos, então educados pela beleza. Depois de estrear na Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, em 2022, e realizar uma série de apresentações pelo interior paulista, o trabalho entra em cartaz no Solarium do SESC Vila Mariana. Assim, diferentemente do que aconteceu na MITsp, agora, o público paulistano poderá conhecer a versão ao livre da obra - o trabalho, com o ator Eduardo Okamoto e músico Marcelo Onofri em cena, pode ser apresentado em praças, jardins, parque, salas de concerto e teatros.

O impulso para o processo criativo reside em estudos de Okamoto sobre a cultura japonesa e, em especial, a dança butô - manifestação criada a partir de 1959. Em 2019, depois da eleição da ultradireita no Brasil, um professor desta dança, em um festival na Alemanha, provocou o ator: “É hora de criar a sua própria revolta na carne”, referindo-se a um dos trabalhos icônicos de Hijikata, criador fundamental do butô.

“Naquele momento, eu pensei que, num contexto de barulho, exposição nas redes, disputas de narrativas, poderia haver revolta no silêncio. Seria possível não reagir ao que está dado, por princípio, para tentar imaginar outra coisa?”, perguntou-se o ator. A inquietação remeteu-o a personagens de “Homens Imprudentemente Poéticos”, de Valter Hugo Mãe. Estes são artesão de leques e oleiro: homens que se dedicam à arte com recolhimento e como forma de cultivo de si. Assim, reuniu o grupo de trabalho, que logo tornou a empreitada coletiva.

Valter Hugo Mãe escreveu a obra com referências diversas da cultura japonesa. Porém, dedica a epígrafe do livro reconhece uma espécie de homenagem a um escritor em particular: Yasunari Kawabata (1899-1972). Assim, há proximidade, ainda que considerando suas singularidades, nas obras desses escritores: textos curtos, com orações igualmente curtas que, no seu acúmulo, produzem fábula e sentido. "Para mim, é como se Kawabata estivesse escrevendo em português”, declara Okamoto.

Considerando a inspiração de Valter Hugo Mãe e outra reescritura de obra de Kawabata - "Memórias de Minhas Putas Tristes”, de Gabriel Garcia Márquez - a equipe decidiu recriar a história original, numa versão própria do texto: alteraram-se a paisagem, as circunstâncias e a linguagem, assim como o desfecho da fábula.

Outras obras, como “Orientação”, de Guimarães Rosa, bem como outros narradores do sertão, foram referência no processo. Além disso, a dramaturgia homenageia a imigração japonesa no sertão da Paraíba, especialmente dois de seus personagens fundamentais: o Seu Inhês e a sua esposa, Marly.

O processo se deu a partir de estudo literário, mas não só. Deu-se na cena. Por exemplo, a música original de Marcelo Onofri, “Bem-te-vi e o Jardim Japonês”, desempenha função narrativa equiparável às palavras redigidas no papel. Por isso, é difícil saber onde começa a dramaturgia: nas proposições de Isa Kopelman, como olhar externo; na música de Marcelo Onofri; na organização do projeto, realizada por Daniele Sampaio; na atuação e ou no movimento de Okamoto. Por isso, a criação é assinada coletivamente e as funções da ficha técnica são diluídas. A forma "duo para piano e atuação" enfatiza, justamente, esta dramaturgia multilinguagem.

“Nosso jardim é, enfim, a narrativa de um modo nipo-sertanejo de resiliência diante da incivilidade: misto de manifesto, paciência ativa, aposta na beleza e na poesia como modo de trabalho e lapidação do espírito”, concluem os criadores. O espetáculo conta ainda com a colaboracão de Yumiko Yoshioka, Nina Pires, Fernando Stankuns, Binho Signorelli e Yasmim Amorim.


Bio do espetáculo
Em março de 2021, "Um Jardim para Educar as Bestas" realizou uma abertura de processo criativo na Mostra Internacional de Teatro de São Paulo - que, naquela ocasião, por conta das restrições sanitárias, realizou a apresentação virtual de um conjunto de trabalhos na sua plataforma MIT+ (www.mitmais.com).

Entre abril e maio de 2022, o espetáculo compôs uma Residência Artística no SESC Jundiaí e no SESC Campinas. Esta mostra foi composta de sessões do espetáculo a título de ensaios abertos e oficinas: "Práticas Corporais para o Cultivo de Si", com Eduardo Okamoto; "Escrita Dramatúrgica: Uma Situação Singular", com Isa Kopelman; "Produção e Invenção de Mundos", com Daniele Sampaio. O espetáculo estreou oficialmente na Mostra Internacional de Teatro de São Paulo nos dias 4, 5, 11 e 12 de junho de 2022, às 17h. O trabalho foi uma das três estreias nacionais a compor a grade do evento.

Durante a MIT, no dia 5 de junho, o trabalho foi tema de mesa com a participação dos professores Eduardo Okamoto e Cassiano Sydow Quilici, ambos da Unicamp, e de José Fernando de Azevedo, da Escola de Artes Dramáticas da USP. O trabalho foi ainda apresentado no SESC São José dos Campos e no SESC Santos e tem sessão agendada no Sesc São José do Rio Preto.


A equipe de criação
Eduardo Okamoto é ator, Bacharel em Artes Cênicas, Mestre e Doutor em Artes e Livre Docente pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde leciona. Realizou estágio de pós-doutorado na Goldsmiths University of London.

Apresentou-se na Espanha, Suíça, Alemanha, Marrocos, Kosovo, Escócia e Polônia. Em sua trajetória, destacam-se, os espetáculos: “Agora e na Hora de Nossa Hora” (2006 ); “Eldorado” (2009 ); "Recusa" (2012 ); “OE” (2015 ); “O Dragão de Fogo” (2017). Foi duas vezes indicado ao Prêmio Shell (2009 e 2012) e recebeu o Prêmio APCA (2012).

Isa Kopelman é atriz, diretora, dramaturga, tradutora e pesquisadora teatral. Graduada em Letras-Inglês pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da PUC e formada pela Escola de Arte Dramática de São Paulo, é professora do Departamento de Artes Cênicas da Unicamp.

Marcelo Onofri é pianista, cantor, compositor e arranjador. Estudou na Escola de Música de Brasília, no Conservatório Carlos Gomes, na Unicamp e na Escola Superior de Música de Viena (Áustria). Regeu o JedwederKüchenChor, fez direção musical do Serapions Theater e foi ator e compositor no Studio-BühneVillach (Áustria). É professor no Departamento de Artes Cênicas da Unicamp.

Daniele Sampaio é produtora, curadora, pesquisadora de políticas culturais e fundadora da SIM! Cultura. Doutoranda em Artes Cênicas pela USP e autora de Agentes Invisíveis e Modos de Produção nos Primeiros Anos do Workcenter of Jerzy Grotowski (2020) e Elaboração de Projetos para o Desenvolvimento de Agentes e Agendas (2021), ambos pela editora Javali.


Ficha técnica
Uma criação de Eduardo Okamoto, Isa Kopelman, Marcelo Onofri e Daniele Sampaio. Com a colaboração de Yumiko Yoshioka, Nina Pires, Binho Signorelli e Yasmim Amorim. Assessoria de Imprensa: Adriana Monteiro | Ofício das Letras. Apoio institucional: Laboratório de Dramaturgia e Escritas Performativas, Laboratório de Linguagens Materiais & Oficinas da Cena, Museu Exploratório de Ciências da Unicamp. Apoio: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Fundo de Apoio ao Ensino, à Pesquisa e à Extensão da Unicamp - Faepex e Fundação Japão. Produção: SIM! Cultura (que completa este ano uma década de vida).


Serviço:
"Um Jardim para Educar as Bestas". Duo para piano e atuação com Eduardo Okamoto e Marcelo Onofri. Dias 9, 15, 16, 22 e 23 de abril de 2023, sábado e domingo, das 17h às 18h. Duração: 55 minutos. Classificação indicativa: 12 anos. Solarium do Sesc Vila Mariana. Rua Pelotas, 141, Vila Mariana - São Paulo (em caso de chuva, a sessão será transferida para a Sala Corpo & Artes). Informações: https://www.eduardookamoto.com/jardim-garden.

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