Uma nova narrativa instigante e bem-humorada da autora de "Meu Ano de Descanso e Relaxamento". Lançado pela editora Todavia, o romance "Morte em Suas Mãos", de Ottessa Moshfegh, conduz o leitor em uma jornada investigativa que mistura humor, horror e mistério. A tradução é de Bruno Cobalchini Mattos.
No livro, Vesta Gul fez o que pôde para viver dias de calmaria. Exausta e abatida após ter acompanhado a agonia final de seu marido, vítima de um câncer, ela decide encerrar o período de sofrimento com uma mudança de ares. Para isso, vende a residência do casal e passa a morar em uma cabana à beira de um lago, em outro canto do país.
De início, a previsibilidade da nova rotina é reconfortante. Vesta desperta no mesmo horário todos os dias, passeia com seu cão exatamente pelo mesmo caminho em meio ao bosque, come refeições idênticas às do dia anterior e, uma vez por semana, vai até o centro de Levant para reabastecer-se de suprimentos e pegar livros emprestados na biblioteca. Levant para reabastecer-se de suprimentos e pegar livros emprestados na biblioteca.
Esse cotidiano pacato é interrompido abruptamente quando ela encontra um bilhete revelando a morte de uma garota chamada Magda. Embora não conheça ninguém com esse nome, não consegue evitar as perguntas óbvias. Quem foi Magda? Por que, e por quem, foi assassinada? Foi mesmo um assassinato, ou ela morreu por acidente? Por que seu corpo foi abandonado? Como é possível que ninguém tenha percebido seu desaparecimento?
O mistério de Magda lançará Vesta em uma jornada investigativa na qual ela irá se guiar pelo conhecimento acumulado de romances policiais e filmes baseados em obras de Agatha Christie, e também por algumas dicas que encontra na internet.
Todavia, enquanto ela tenta recriar a vida e os passos de uma Magda hipotética, as fronteiras entre ficção e realidade começam a ruir, trazendo à tona os fantasmas e enigmas da própria Vesta. Tão imprevisível quanto sua protagonista, este romance de Ottessa Moshfegh apresenta uma rara combinação de suspense, comédia e horror. Morte em suas mãos é, também, uma história sobre identidade e sobre as histórias que
contamos a nós mesmos para suportar o mundo. Compre o livro "Morte em Suas Mãos" neste link.
Sobre a autora
Ottessa Moshfegh nasceu em Boston, em 1981, filha de mãe croata e pai iraniano. Já publicou contos nas revistas Paris Review, New Yorker e Granta. Dela, a Todavia publicou "Meu Nome Era Eileen" (finalista do Booker Prize) e "Meu Ano de Descanso e Relaxamento".
Seu nome era Magda. Ninguém jamais saberá quem a matou. Não fui eu. Aqui está seu corpo. Mas não havia corpo nenhum. Nenhuma mancha de sangue. Nenhum emaranhado de fios de cabelo preso nos galhos grossos caídos, nenhum cachecol de lã vermelha umedecido pelo orvalho da manhã adornava os arbustos. Havia apenas o bilhete no chão, sacolejando aos meus pés ao ritmo do vento suave de maio. Encontrei-o durante minha caminhada matutina com Charlie, meu cachorro, pelo bosque de bétulas.
Eu tinha descoberto a trilha na primavera anterior, logo após Charlie e eu nos mudarmos para Levant. Passamos por ela durante toda a primavera, todo o verão e todo o outono, mas a abandonamos no inverno. As árvores brancas e esguias ficaram quase invisíveis contra a neve. Nas manhãs de neblina, as bétulas desapareciam inteiras na cerração. Desde o início do degelo, Charlie me acordava todas as manhãs ao nascer do sol. Atravessávamos a estrada de terra e nos arrastávamos pelos aclives e declives suaves de uma pequena colina, ziguezagueando por entre as bétulas. Naquela manhã, quando encontrei o bilhete caído no meio da trilha, havíamos avançado pouco mais de um quilômetro bosque adentro.
Charlie não reduziu a velocidade, não inclinou a cabeça, nem sequer baixou o focinho para farejar o chão. Achei tão estranho ele ignorá-lo - logo meu Charlie, que uma vez arrebentou a guia e cruzou correndo a via expressa para buscar um pássaro morto, tão forte era seu instinto de perseguir os mortos. Não, ele não olhou duas vezes para o bilhete. Pedrinhas pretas prendiam-no ao chão posicionadas com cuidado sobre as margens superior e inferior do papel. Inclinei-me para ler outra vez. Sob minhas mãos, a terra estava quase morna, a grama pálida e tímida despontava em alguns cantos do chão preto e farelento, e o sol acabava de começar a clarear em tons que iam do prateado para o amarelo.
Seu nome era Magda. Era uma piada, pensei, uma pegadinha, uma armação. Alguém estava fazendo uma brincadeira. Essa foi minha impressão inicial. Olhando em retrospecto, não é fofo ver como a minha mente foi direto à conclusão mais inócua? Que, após tantos anos, aos setenta e dois, minha imaginação ainda fosse tão ingênua? A experiência deveria ter me ensinado que muitas vezes as primeiras impressões enganam. Ajoelhei-me sobre a terra, estudei os detalhes: era uma página de caderno pautado e espiralado cuja extremidade perfurada fora removida com precisão, sem deixar fiapos desgrenhados no local do rasgo; letrinhas escritas em caneta esferográfica azul. Ficava difícil inferir alguma coisa a partir da caligrafia, o que parecia proposital. Era uma escrita clara e impessoal, do tipo que utilizamos para escrever cartazes anunciando uma venda de garagem ou preencher uma ficha no dentista.
Sábio, pensei. Esperto. Quem quer que tenha escrito o bilhete entendia que, mascarando suas peculiaridades, evocaria autoridade. Não há nada tão imponente quanto o anonimato. Mas as palavras em si, quando as proferi em voz alta, pareciam sagazes — um atributo raro em Levant, onde a maioria da população era de trabalhadores braçais e de estúpidos. Li o bilhete outra vez e quase ri da penúltima frase, Não fui eu. Claro que não. Garanta o seu exemplar de "Morte em Suas Mãos" neste link.
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