sexta-feira, 7 de abril de 2023

.: Clara Nunes eterna: há 40 anos, Brasil presenciava a partida da guerreira


Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Há 40 anos, o Brasil perdia uma de suas maiores intérpretes. Clara Nunes não só deixou uma obra musical impecável, como também foi importante na divulgação de nossos ritmos tradicionais, que se fundiam com as influências das religiões de matiz africana e com a cultura afro-brasileira.

Clara Nunes nasceu em 12 de agosto de 1942 em Minas Gerais, na antiga cidade de Cedro (atual Caetanópolis). Ficou órfã de pai e mãe com apenas seis anos de idade e foi criada pelos irmãos mais velhos. Anos mais tarde, passou a trabalhar como tecelã para ajudar nas despesas de casa.

Após se mudar para a capital, Belo Horizonte, passou a cursar o normal para se formar professora. E começou a cantar no coro da igreja do bairro. Foi nessa época que conheceu Aurino Araújo, que a apresentou para diversos artistas da cidade. Nesse período participou de vários eventos musicais e adotou o nome artístico de Clara Nunes, por sugestão do produtor musical Cid Carvalho. A partir de 1965, sua carreira teve um impulso ao se mudar para o Rio de Janeiro e gravar seu primeiro LP. Participou de festivais e se destacou classificando canções em alguns deles.

Sua carreira deslanchou depois do quarto disco, no início dos anos 70. Ela emplacou vários hits que tocaram bastante nas rádios na época. "Conto de Areia", "O Mar Serenou", "Tristeza Pé no Chão", "Quando Vim de Minas", "Meu Sapato Furou", "Canto das Três Raças", "Coração Leviano", "Guerreira" e "Feira de Mangaio" são apenas alguns exemplos de canções marcantes de sua trajetória.

Engana-se quem imagina Clara Nunes apenas como uma intérprete de sambas. Ela era extremamente versátil. Sua voz era afinada e potente, mas também transmitia um ar de suavidade. Ela era capaz de interpretar outros estilos com extrema maestria.

Também ajudou a popularizar temas relacionados com o candomblé e umbanda, incluindo várias canções como esse tipo de temática. Canções como "Deusa dos Orixás", "Coroa de Areia" e "Guerreira" têm uma relação direta com as religiões de matiz africana.

Quando cantava um samba, transformava a canção de tal forma, que parecia sempre uma exaltação ao tema citado pelos compositores. Em "Nação", canção de João Bosco e Aldir Blanc, ela parecia transformar o samba em uma obra que lembrava os grandes momentos de Ary Barroso nos anos 40 e 50. "Canção das Três Raças", de Paulo Cesar Pinheiro, parece até um inspirado samba enredo de escola de samba em sua voz.

No início dos anos 80 ela lançaria ainda outras canções com sucesso nas rádios, como "Portela na Avenida", "Morena de Angola" e "Ijexá". E só interrompeu a carreira de forma precoce ao falecer no dia 2 de abril de 1983, depois de sofrer um choque anafilático antes de uma simples cirurgia de varizes. Uma fatalidade que acabou calando uma das vozes mais bonitas da nossa MPB.

Felizmente sua obra permanece viva, permitindo que novas gerações pudessem ter acesso a sua genialidade como intérprete. Sua influência é notada em nomes da nova geração como Luciana Mello e Vanessa da Mata. Para mim, a voz de Clara Nunes traduz as forças da natureza de tal forma, que é impossível ficar alheio a sua interpretação. Conto de Areia, por exemplo, até hoje mexe com a memória afetiva de minha adolescência. E somente os grandes intérpretes conseguem isso.

"Tristeza Pé no Chão"

"Canto das Três Raças"

"Ijexá"

Um comentário:

  1. Clara Nunes é inesquecível. Está consagrada no cancioneiro popular brasileiro. Salve Clara🙌

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