quarta-feira, 8 de março de 2023

.: Sesc Santos: "Pagú - Até Onde Chega a Sonda", monólogo com Martha Nowill


Com direção de Elias Andreato, a dramaturgia, assinada por Martha, foi escrita a partir de um manuscrito inédito que Pagú produziu enquanto estava presa. Duas mulheres, uma em 1939 na Casa de detenção, outra mãe de gêmeos em plena pandemia, contam suas histórias. Foto: Rodrigo Chueri

Um manuscrito, ainda inédito, deixado pela escritora, poeta, feminista, desenhista, jornalista e militante Patrícia Rehder Galvão (1910-1962) é o ponto de partida para "Pagú - Até Onde Chega a Sonda". O espetáculo tem direção de Elias Andreato e atuação de Martha Nowill - que também assina o texto. Dia 25 de março, sábado, às 20h, no Teatro do Sesc Santos.

Os fragmentos escritos por Pagú na cela de uma prisão, reúnem diálogos imaginários com um personagem masculino, confissões e análises profundas sobre sua dor e seu papel no mundo. Sua prosa fluida e sem filtros, passeia pelos seus sonhos e reflexões, alternando ternura e desespero, desejo e niilismo. 

No fim do manuscrito encontra-se uma lista de "coisas para o ninho", que pode ter sido deixada ao acaso ou foi ali colocada propositadamente. Em paralelo, Martha Nowill, mãe de gêmeos, traz seus relatos pós-pandêmicos nesse misto de narrativa onde Martha e Pagú se mesclam, num centenário de histórias. Após o espetáculo, haverá bate-papo com Martha Nowill e Dani Angelotti, sobre o processo de criação da obra.


A história desta história
Em maio de 2018, a atriz e escritora Martha Nowill conheceu Rafael Moraes, um colecionador de arte, que lhe apresentou um manuscrito inédito de Patricia Rehder Galvão, a Pagú, escrito na casa de detenção em 1939, durante a ditadura de Getúlio Vargas. Rafael havia comprado o manuscrito e outros objetos pertencentes à artista, de um leiloeiro, 20 anos antes.

Martha Nowill viu ali potencial para a realização de um espetáculo, mas havia dificuldade em transformar o texto de Pagú, tão denso, poético e pouco narrativo, em teatro. Ela se associou à produtora Dani Angelotti e juntas, o projeto começou a ganhar forma. Martha então desenvolveu uma escrita biográfica, na qual ela, mãe de gêmeos nascidos na pandemia, se mistura com Pagú e seu manuscrito. Desse processo surgiu a dramaturgia, que traz trechos do manuscrito original de Pagú, entrecortados por relatos pessoais, resultando em um encontro improvável e cheio de pontos de diálogo entre mundos separados por mais de 60 anos. 

Elias Andreato chegou ao processo para que com sua cuidadosa direção, e extensa experiência com solos, conduzisse a encenação.  Em cena, os dois femininos dividem e se misturam no espaço, o da atriz e o de Pagú. As personagens compartilham temas como o machismo, a maternidade, o feminismo, angústias, alegrias e processos criativos. Dentro destes temas, Martha desenha com humor em seus relatos pessoais e com um olhar sarcástico uma “lente de aumento” para os fatos cotidianos que ainda carregam heranças do patriarcado.

Um pouco sobre Pagú
Jornalista, feminista, artista, escritora e desenhista, Patrícia Rehder Galvão (1910-1962) nasceu em uma família burguesa paulista, mas depois, seguindo as orientações do Partido Comunista se proletarizou e foi viver em Santos e no Rio de Janeiro. Dedicou boa parte de sua vida à militância política em Santos, São Paulo, Rio de Janeiro, além de ter viajado o mundo. Desde bem cedo, ela questionava os padrões patriarcais. 

Pagú, apelido dado pelo poeta Raul Bopp, começou a escrever críticas contra o governo ainda na adolescência, aos 15 anos, quando se tornou colaboradora do Brás Jornal e assinava uma coluna sob o pseudônimo de Patsy. Sua estreia artística aconteceu em 1929, ao publicar seus desenhos politizados nas páginas da “Revista da Antropofagia”.

Apesar de Pagú só possuir 12 anos quando aconteceu a Semana de Arte Moderna, ela é considerada uma das grandes forças do Movimento Antropofágico – seu envolvimento começou sob a influência de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Junto com Oswald, ela entrou para o Partido Comunista Brasileiro em 1931, quando foi presa pela primeira vez (ela foi presa mais de 20 vezes ao longo de sua vida). Ela e Oswald tiveram um filho, Rudá. 

A autora fez importantes contribuições para o movimento feminista. No tabloide “O Homem do Povo”, por exemplo, questionava o papel da mulher na sociedade por meio de suas ilustrações. E no livro “Parque Industrial” (1933), denuncia mulheres exploradas por sua condição de gênero. 

Publicou ainda o livro “A Famosa Revista” (1945), em colaboração com Geraldo Ferraz (com quem também teve um filho), e sua autobiografia “Paixão Pagu: A Autobiografia Precoce de Patrícia Galvão”, lançada em 2005 a partir de um texto até então inédito escrito em 1940. E “Safra Macabra”, uma coletânea de seus contos policiais escritos para a revista “Detective” em 1944, sob o pseudônimo de King Shelter, foi publicada em 1998.

Alguns trechos do espetáculo:
"É muito ruim, depois que eu fui mãe, eu esqueço. Eu leio as coisas e esqueço. Eu leio, eu entendo. Falo: nossa, que legal isso, que coisa importante que eu acabei de ler. Depois eu esqueço. Eu queria que minha vida tivesse aquele previously das séries, que algumas têm, sabe? Que toda vez que você vai começar um novo capítulo, ele te dá um mini resumo de tudo o que aconteceu antes? Eu estou precisando de um previously porque, nossa, eu não lembro de nada." Trecho da dramaturgia escrito por Martha.


“Como subtrair desta avalanche que é o meu mundo, algo coerente, direitinho, com sequência. As ideias me escapam, escorrem dos meus dedos, elas ultrapassam a própria capacidade. Tudo é tão rápido que deve haver coincidência no tempo ou não deve haver tempo. No mesmo instante penso de diversas formas e sinto de diversos modos.”
 Trecho do manuscrito original de Pagú.

Ficha técnica
"Pagú - Até Onde Chega a Sonda"
Dramaturgia:
Martha Nowill a partir do manuscrito de Patricia Galvão – Pagu
Direção: Elias Andreato
Com: Martha Nowill
Cenografia: Marina Quintanilha
Trilha sonora: Ed Côrtes
Iluminação: Elias Andreato e Junior Docini
Preparador corporal: Roberto Alencar
Figurino: Marichilene Artisevskis
Assistente de direção e fotografia: Rodrigo Chueri
Coordenação técnica: Junior Docini
Preparação vocal: Lucia Gayotto
Visagismo: Louise Helene
Designer: Luciano Angelotti
Produção executiva: Fani Feldman
Assessoria de imprensa: Pombo Correio – Helô Cintra e Douglas Picchetti
Operação: Henrique Sanchez
Direção de produção: Dani Angelotti
Idealização: Martha Nowill
Realização: Mil Folhas e Cubo Produções
@a_sonda_da_pagu

Serviço
"Pagú - Até Onde Chega a Sonda"
Dia 25 de março, sábado, às 20h
Teatro  Sesc Santos
Ingresso:  R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia) e R$ 10 (credencial plena)
Duração: 70 minutos
Classificação: 12 anos


Leia mais!
Você encontra algumas obras da plural Pagú na rede de biblioteca Sesc SP. Em Santos, o espaço de leitura conta com um acervo de 3.000 títulos para empréstimo domiciliar, sobre temas e narrativas variadas (literatura brasileira e estrangeira, infantil e juvenil, HQ e geek, artes, humanidades, saúde, meio ambiente), revistas e jornais diários, com disponibilidade de equipamentos para pessoas com deficiência visual [total ou parcial] para leitura na unidade. Oferece também uma programação literária diversificada: clube de leitura, encontro com escritores, contação de história, oficinas, saraus e intervenções.

O serviço é gratuito, com a necessidade de apresentação da Credencial Plena ou um documento oficial com foto para cadastro. Mais informações e renovações de empréstimos ou consulta de títulos, pelo e mail: biblioteca.santos@sescsp.org.br. Compre as obras de Pagú neste link.

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