Escrito por Samir Machado de Machado, o romance "O Crime do Bom Nazista", lançado pela editora Todavia, é uma releitura e uma homenagem irresistível ao gênero policial. O ano é 1933 e um dirigível deixa Pernambuco em direção ao Rio de Janeiro. O zepelim vinha da Alemanha, onde poucos meses antes o agitador de cervejarias que se autodenominava o “Führer” havia recebido do Parlamento poderes absolutos de chanceler.
O mundo estava se transformando, e o desbunde do pós-guerra dava lugar a nacionalismos, autoritarismos e perseguições. Em meio a isso, o enorme lz 127 Graf Zeppelin seguia como um retrato do que havia de mais moderno e otimista na Europa, além de ser a única maneira de se cruzar o Atlântico sem uma longa travessia marítima.
A viagem em nada devia a cruzeiros e trens de luxo, como o célebre Expresso do Oriente, e seus passageiros eram comerciantes, médicos, herdeiros, enfim, aqueles que podiam arcar com os preços altos da Luftschiffbau Zeppelin, a fabricante e operadora dos dirigíveis. Das cabines ao jantar, passando pelo impecável mordomo que atendia os passageiros, tudo era pensado para uma clientela acostumada com o que havia de melhor. Tudo, menos um misterioso e terrível assassinato ocorrido no meio da noite. Há um policial a bordo e um criminoso à solta, e todos — o médico eugenista, o crítico de arte, o comissário de bordo - são suspeitos.
A partir de clássicos da literatura policial, como Agatha Christie e Arthur Conan Doyle, o autor Samir Machado de Machado faz ao mesmo tempo uma releitura e uma homenagem ao gênero, numa trama que traz baronesas misteriosas e espiões comunistas em meio à ascensão do Terceiro Reich e à perseguição nazista aos gays da Berlim dos anos 1930. A isso, O crime do bom nazista combina temas do Brasil contemporâneo, mostrando como questões tristemente atuais podem perdurar ao longo de décadas.
É no cruzamento entre mistério, história e crítica social que o autor povoa este romance extraordinário, cheio de graça e ironia, além de uma reconstrução histórica feita com os olhos de quem enxerga os reflexos de hoje no passado. Entre as portas fechadas do Graf Zeppelin, Samir Machado de Machado desenrola um drama humano que capta os grandes movimentos do mundo e os pequenos acontecimentos que transformam nossas vidas. Compre "O Crime do Bom Nazista" neste link.
O que disseram sobre o livro:
“Política e crime numa aventura irônica pela história — dos personagens, do século XX, do Brasil atual. Um romance com a leveza de Agatha Christie e a densidade dos grandes temas históricos.” Michel Laub, autor de "Diário da Queda" e "O Tribunal da Quinta-feira".
Um trecho:
Surgiu nos céus de Recife feito uma valquíria, avançando por entre as nuvens com uma serenidade que disfarçava sua marcha veloz. Visto de frente era apenas um disco de prata, um escudo cintilante. No entanto, conforme progredia era modelado pela luz que o atingia em todas as faces, e suas formas longilíneas disfarçavam a assombrosa realidade: naquele momento, sessenta e sete toneladas flutuavam com elegância sobre Pernambuco.
Três anos antes, sua primeira passagem pela cidade motivara um feriado municipal e levara multidões às ruas. Mas essa não era mais a primeira nem tampouco seria a última de suas muitas viagens para o Brasil — ao todo dez por ano —, entre os meses de junho e outubro, feitas com regularidade germânica sem que jamais ocorresse algum acidente. E, ainda que não houvesse mais feriado nem multidões, mesmo assim permanecia o olhar fascinado das pessoas às janelas das casas, dos meninos à rua, de qualquer um que tivesse sua rotina atravessada pela visão daquele colosso de duzentos e trinta metros.
Eram quatro da tarde quando as amarras foram presas à torre de atracação, e o LZ 127 Graf Zeppelin tocou o chão do Campo do Jiquiá, em Recife. Primeiro entrou o pessoal da alfândega, da polícia marítima e da saúde do porto, para a inspeção de praxe. Em seguida, os passageiros desceram. Para alguns, era o destino final. Para outros, levados de carro até o Hotel Central, era a última oportunidade, depois de quase três dias de travessia atlântica, de esticar as pernas ou de fumar (o que, naturalmente, não era permitido a bordo), antes de seguirem caminho por mais um dia e meio de viagem, até o Rio de Janeiro.
O Hotel Central era o prédio mais alto da cidade, uma torre amarelo ovo no estilo que apenas nos últimos tempos se convencionara chamar art déco. Seu restaurante se localizava no sétimo andar. Ali, com uma vista panorâmica para a cidade, um conjunto de mesas era reservado aos passageiros da Luftschiffbau Zeppelin, tanto para os que estavam em trânsito quanto para aqueles que ainda aguardavam para embarcar.
E dentre eles, sentado sozinho em uma mesa, estava Bruno Brückner. Uma olhadela na data de nascimento em seu passaporte nos diria sua idade: trinta e dois anos. Estatura: mediana. Formato do rosto: oval. Cor dos olhos: cinzentos. Naturalidade: Berlim. Trabalho: Kriminalpolizei, polícia criminal. Uma cicatriz recente no lado direito da face, que ia da têmpora até a metade da bochecha, dava certo ar de perigo a sua figura, que, de resto, ostentava um olhar neutro e distante de indiferença. O pingente com a suástica afixado no terno indicava sua filiação ao partido que, aos poucos, ia se entranhando em cada aspecto da vida cotidiana alemã.
Bruno bebia sozinho seu uísque com soda enquanto lia entediado um exemplar recente do Aurora Alemã, semanário do partido nazista publicado em São Paulo pela embaixada. As notícias, que datavam já de alguns meses, davam conta de que, um ano depois de terem conquistado a maioria no Parlamento, e assim consagrado seu líder como chanceler, os nazistas agora aprovavam a Lei de Concessão de Plenos Poderes, dando poder absoluto ao Führer para criar leis, sem ser incomodado pelo Parlamento ou por tribunais de justiça. Garanta o seu exemplar de "O Crime do Bom Nazista" neste link.
Sobre o autor
Samir Machado de Machado nasceu em Porto Alegre, em 1981. É escritor, tradutor e mestre em escrita criativa. É autor, entre outros, do premiado "Tupinilândia" (Todavia, 2019).
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