Lançamento da editora Todavia, o livro "Escrever É Muito Perigoso", da escritora polonesa Olga Tokarczuk, reúne ensaios e conferências que apresentam uma incursão pela mente provocativa e afiada da escritora. São 12 textos, incluindo o celebrado discurso do Prêmio Nobel da autora, que convidam o leitor a testemunhar o processo artístico, o compartilhamento da visão humana e inconformista acerca das grandes questões do mundo contemporâneo. A autora abre para visita o próprio laboratório de leitura e escrita de ficção, revelando, com inaudita franqueza, como foram concebidos os incomparáveis livros e personagens assinados por ela.
Os ensaios funcionam como histórias em si mesmas e também fornecem uma compreensão fascinante da obra de Tokarczuk. Como ela constrói as histórias? Que motivos realistas e fantásticos utiliza? Como dá vida a personagens que evocam sentimentos tão diferentes e profundos nos leitores? Além disso, cada uma dessas incursões ensaísticas é um esforço para compreender o mundo em sua enorme complexidade e dar um novo significado às coisas supostamente cotidianas como as redes sociais e a nossa ligação com a natureza.
“A crise climática e política em que procuramos hoje nos posicionar e que queremos enfrentar, salvando o mundo, não surgiu do nada. Muitas vezes esquecemos que não é resultado de nenhum fado ou golpe do destino, mas de ações e decisões econômicas, sociais, ideológicas (inclusive religiosas) muito concretas. A ganância, o desrespeito à natureza, o egoísmo, a falta de imaginação, a constante concorrência, a irresponsabilidade reduziram o mundo à condição de um objeto que pode ser desmembrado, explorado e destruído”, escreve Olga Tokarczuk em “O Narrador Sensível”, seu discurso à Academia Sueca. Uma celebração da literatura — que nos coloca em contato com a inteligência incisiva e a rica imaginação de uma das maiores autoras contemporâneas. Compre o livro "Escrever É Muito Perigoso" neste link.
Trecho do livro
O mundo é um tecido que urdimos a cada dia com enormes teares de informações, discussões, filmes, livros, fofocas, histórias. Hoje, o alcance desses teares é gigantesco. Através da internet, quase todos podem participar desse processo, de forma responsável e irresponsável, com amor e com ódio, para o bem e para o mal, para a vida e para a morte. Quando a narrativa muda, o mundo muda também. Nesse sentido, o mundo é feito de palavras.
A maneira como pensamos o mundo e — o que parece mais significativo — como o narramos tem, portanto, enorme importância. Algo que acontece, mas não é contado, deixa de existir e morre. Quem sabe muito bem disso são não apenas historiadores, mas também (ou sobretudo) todos os tipos de políticos e tiranos. Quem tiver uma história e souber narrá-la, estará no poder.
Hoje, parece que o problema consiste no fato de que ainda não temos narrativas prontas, não só no que diz respeito ao futuro, mas também no que concerne ao “agora” concreto, às mudanças velozes do mundo atual. Falta-nos linguagem, faltam pontos de vista, metáforas, mitos e novas fábulas. Somos testemunhas, porém, de como as narrativas antigas, inadequadas, enferrujadas e anacrônicas são introduzidas à força em uma visão do futuro, talvez partindo do princípio de que algo antigo é melhor do que um nada novo, ou procurando dessa forma lidar com a limitação dos seus próprios horizontes. Em poucas palavras: faltam-nos novas maneiras de narrar o mundo. Garanta o seu exemplar do livro "Escrever É Muito Perigoso" neste link.
Sobre a autora
Prêmio Nobel de Literatura, Olga Tokarczuk, nascida em 1962, é autora de "Sobre os Ossos dos Mortos", "Correntes" e "A Alma Perdida", publicados no Brasil pela editora Todavia.
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