sábado, 18 de março de 2023

.: Entrevista: Duca Rachid fala sobre as emoções da próxima novela das seis


Autora de "Amor Perfeito" conta sobre o que o público pode esperar da próxima novela das seis. Na imagem, Duca Rachid entre Júlio Fisher e 
 Elisio Lopes Jr.. Foto: Globo/Paulo Belote


Nesta segunda-feira, dia 20 de março, começa "Amor Perfeito", a próxima novela das seis. E a autora Duca Rachid fala sobre as emoções e tramas que prometem fazer da cidade fictícia de Águas de São Jacinto um lugar onde o mais sublime dos sentimentos transborda em suas variadas formas. Ela divide a autoria com Júlio Fischer e Elísio Lopes Jr.

A nova novela apresenta uma história sobre o mais sublime dos sentimentos - o amor e suas diferentes manifestações. A trama se passa nas décadas de 1930 e 1940 em Águas de São Jacinto, uma fictícia cidade do interior de Minas Gerais, e é livremente inspirada na obra “Marcelino Pão e Vinho”, de José María Sánchez Silva, publicada pela primeira vez no começo dos anos 50. 

Duca Rachid é paulista, nascida em Mogi das Cruzes, São Paulo. Estreou na TV Globo como colaboradora de Walcyr Carrasco, em "O Cravo e a Rosa" (2000) e "A Padroeira" (2001). Em 2005, assinou a temporada de "Sítio do Picapau Amarelo", ao lado de Júlio Fischer e Alessandro Marson. Iniciou a bem-sucedida parceria com Thelma Guedes, em 2006, com a novela das seis, "O Profeta". 

As duas assinaram juntas, na sequência, as novelas "Cama de Gato" (2008), "Cordel Encantado" (2011), "Joia Rara" (2013) e "Órfãos da Terra" (2019), sendo as duas últimas vencedoras do Emmy Internacional de Melhor Telenovela. Em 2016, Duca supervisionou Manuela Dias na minissérie "Ligações Perigosas". Confira abaixo a entrevista.


Na sinopse vocês falam sobre uma trama baseada no “amor filial”, o que, de certa forma, vai atravessar todos os núcleos. Como vocês conceituam essa novela?   
Duca Rachid - 
Nosso primeiro desejo foi mesmo falar de amor, não só do amor romântico, mas desse amor fraternal, amor entre pais e filhos. A gente tem várias histórias que falam dessa relação, principalmente porque a gente vai falar muito de mulheres nessa novela, da condição da mulher, que estava submetida a uma legislação muito patriarcal, uma sociedade muito machista, em que as mulheres ainda tinham a responsabilidade da criação dos filhos, a educação ficava a cargo das mulheres.  Praticamente só elas se responsabilizavam pelos filhos. A novela parte do melodrama, do folhetim, do conto de fadas, com a história de uma mulher que é presa injustamente, porque cai em uma armadilha da madrasta. Esse é um ponto de partida para falar sobre questões como diversidade, machismo, preconceito, das relações entre mãe e filho, pai e filhos. A própria Marê se vê grávida sem o pai do filho dela, que volta e só depois vai assumir essa paternidade plena, e esse amor também, por ela. A gente tem o caso da Verônica (Ana Cecília Costa), que é a amante do prefeito Anselmo Evaristo (Paulo Betti) e que cria o filho que teve com esse homem, Júlio (Daniel Rangel). Tem a Lívia (Lucy Ramos), que não pode ter filhos e adota uma criança, mesmo contra a vontade do marido. Então a gente quer falar muito dessa ausência do pai. Ausência física e afetiva.    
   

Então podemos falar que “Marcelino Pão e Vinho” é uma das principais, se não a principal referência pra novela? Qual a relação de vocês com essa história?   
Duca Rachid - A primeira vez que eu fui ao cinema foi com a minha avó, uma imigrante portuguesa, analfabeta, foi para assistir ao filme “Marcelino Pão e Vinho”. Eu tenho uma relação muito afetiva com essa história. Devia ter uns seis ou sete anos de idade e foi muito marcante para mim. Júlio e eu fizemos essa sinopse há muitos anos, a gente escrevia juntos o "Sítio do Picapau Amarelo". Eu acho que todas as novelas que eu escrevi até hoje tinham um propósito, desde “Cama de Gato” (2008), por exemplo, a gente se inspirou muito, eu e a Thelma (Guedes), na tese de Fernando Braga da Costa, um psicólogo social, que falava sobre trabalhadores invisíveis. A personagem principal era uma faxineira, que nunca tinha sido vista pelo herói da trama, que era o personagem do Marcos Palmeira, e é a mulher que vai testemunhar a favor dele, quando ele é acusado de um crime, vai salvar a vida dele. Fizemos uma novela, "Cordel Encantado" (2011), em que o propósito era falar do nordeste “heráldico”, mostra a riqueza da cultura popular nordestina. Depois "Órfãos da Terra" (2019), que trata do tema do refúgio, e "Joia Rara", (2013) que fala de budismo. Agora o nosso propósito é dar luz para a essa excelência negra que sempre existiu no Brasil, e que ficou escondida.


Vocês já destacaram que a Marê (Camila Queiroz) não será uma mocinha e sim uma heroína romântica. Podem falar mais sobre as nuances da personagem?
Duca Rachid - Ela, por exemplo, quer proteger o filho e foge da cadeia. Ela tem atitudes bem corajosas, ousadas.

O que o público pode esperar dos antagonistas da novela? Que tipo de vilões serão Gilda (Mariana Ximenes) e Gaspar (Thiago Lacerda)? Qual o limite da maldade deles?   
Duca Rachid - Ninguém é totalmente mau, nem totalmente bom. Assim como o nosso herói, Orlando (Diogo Almeida), que começa pisando na bola.      


Como vocês chegaram nessa configuração da Irmandade dos Clérigos de São Jacinto?   
Duca Rachid - 
A gente é absolutamente encantado com essa ideologia (franciscana), é uma ordem que está muito mais próxima das religiões orientais, do budismo, das próprias religiões africanas. Eles têm uma leveza, uma alegria, relação prazerosa com a vida. Uma outra abordagem da fé, da religião. Um amor pelas pessoas, pelos animais e a natureza. Isso encantou a gente. Achamos importante falar disso nesse momento. Originalmente, era como no livro (“Marcelino Pão e Vinho”). Um convento franciscano. Mas a gente acabou pensando numa irmandade, com religiosos de diferentes ordens. Fomos pesquisar e vimos que existiam algumas irmandades de religiosos, que acolhiam padres idosos. E a gente falou: “por que não?”. E uma criança, um menino, sendo criado por esses padres, sendo cuidado, acolhido. É uma nova configuração de família. 


Fale um pouco sobre nosso protagonista, o pequeno Marcelino (Levi Asaf)? Como vai ser abordada a relação dele com Cristo (Jorge Florêncio)?   
Duca Rachid - Nesse ponto, a gente está sendo bastante fiel ao livro. Na verdade, a grande busca desse personagem, na nossa história, isso não é do livro, é pela mãe. Tudo que ele quer do Cristo (Jorge Florêncio) é saber onde está a mãe dele, e a fé dele é tão grande que em nenhum momento ele acredita que não vai encontrar a mãe. Uma hora ele desconfia que a mãe está morta, mas ele continua insistindo. O contato com Cristo faz parte da busca dele.  Agora, a maneira como ele encontra o Cristo e como eles se relacionam, é bem fiel ao livro. Sobre o nosso protagonista, foi um verdadeiro achado o Levi. Fomos ao teatro, fomos vê-lo atuando na peça “O Pequeno Príncipe” e ficamos encantados com ele. 


A cidade de Águas de São Jacinto é inspirada em Poços de Caldas. Essa inspiração se mantém? Você tem relação com essa cidade?   
Duca Rachid - 
A minha mãe passou a lua de mel e provavelmente eu fui concebida em Poços de Caldas, porque eu nasci nove meses depois. É uma inspiração, mas na verdade a gente colocou essa cidade por ser uma cidade de águas termais que tem aquele glamour de época, que tinha Poços. E o café-concerto do Grande Hotel ocupa um pouco esse lugar de glamour porque recebe as atrações nacionais e internacionais, como Poços. Águas de São Jacinto é uma cidade que a gente imagina sendo um pouquinho mais para o interior de Minas, justamente por ter essa população miscigenada, mestiça, negra, muito presente, e ocupando todos os lugares sociais.


Em "Amor Perfeito" teremos um núcleo cômico ou isso vai passear por diversos personagens?   
Duca Rachid - Os padres têm esse traço, sim. Eles se implicam, são engraçados muitas vezes, agem um pouco como os sete anões da Branca de Neve. Tem um mais rabugento, tem um mais “caduquinho”, tem um mais alegrinho. No armazém, a Ione (Carol Badra) é o coro da novela. Ela comenta as situações, espalha as notícias. Mas ela também vai ter um momento de drama.   


O que você destacaria como diferencial dessa novela?
Duca Rachid - 
Acho que o grande diferencial da novela é a tentativa de apresentar personagens negros, inspirados em pessoas e histórias que sofreram apagamento.


O que significa para você estar nesse projeto?
Duca Rachid - 
Eu acho que a gente está sempre honrando alguém. Sinto um pouco isso escrevendo essa novela, inspirada nessa história que era muito cara à minha avó. Tenho essa vontade de espalhar um pouco de amor, empatia, essa ideia de solidariedade e fraternidade, de que a gente está tão carente. Sobre meus parceiros de jornada, o Elísio me faz uma pessoa e autora melhor. E não conheço ninguém mais franciscano que o Júlio.  Ninguém faz novela sozinho. É um trabalho coletivo, que tem muitos pais e mães.

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